Introdução
ITEM IV
Sócrates
e Platão, precursores da ideia crista e do Espiritismo
Supondo-se que Jesus conheceu a seita dos essênios, seria
errado concluir-se que foi dela que Ele tirou a sua doutrina, e que, se tivesse
vivido em outro meio, teria professado outros princípios.
As grandes ideias nunca aparecem subitamente; aquelas que
têm por base a verdade, sempre apresentam precursores que lhes preparam
parcialmente o caminho. Depois, quando os tempos são chegados, Deus envia um
homem com a missão de resumir, coordenar e completar esses elementos esparsos,
e com eles formar uma base. Desta maneira, não chegando bruscamente, ela
encontra, ao aparecer, espíritos inteiramente dispostos a aceitá-la. Assim
ocorreu com a ideia cristã, que foi pressentida muitos séculos antes de Jesus e
dos essênios e da qual Sócrates[1] e Platão[2] foram os
principais precursores.
Sócrates, da mesma forma que o Cristo, nada escreveu, ou,
pelo menos, não deixou nenhum escrito. Como o Cristo, teve a morte dos
criminosos, vítima do fanatismo, por haver atacado as crenças existentes e
posto a virtude real acima da hipocrisia e da aparência das formas, em uma
palavra, por haver combatido os preconceitos religiosos. Como Jesus, foi
acusado pelos fariseus de corromper o povo com os seus ensinamentos. Sócrates
também foi acusado pelos fariseus do seu tempo, porque eles existiram em todas
as épocas de corromper a juventude, ao proclamar o dogma da unidade de Deus, a
imortalidade da alma e a vida futura. Assim como nós conhecemos a doutrina de
Jesus somente pelos escritos de seus discípulos, conhecemos a de Sócrates pelos
escritos do seu discípulo Platão. Cremos que será útil resumir aqui os pontos
mais importantes da doutrina socrática para demonstrar a sua concordância com
os princípios do Cristianismo.
Àqueles que olharem este paralelo como uma profanação,
e considerarem que não pode haver semelhança entre a doutrina de um pagão e a
de Cristo, responderemos que a doutrina de Sócrates não era pagã, porquanto ela
possuía como objetivo combater o paganismo; que a doutrina de Jesus, mais
completa e mais depurada que a de Sócrates, nada tem a perder com a comparação;
que a grandeza de missão divina do Cristo não poderia ser diminuída e que a história
não pode ser sufocada. O homem chegou a um ponto em que a luz sai por si mesma
de debaixo do alqueire[3], e ele está
pronto para olhá-la de frente, tanto pior para aqueles que não ousarem abrir os
olhos. É chegado o tempo de encarar as coisas amplamente, do alto, e não sob o
ponto de vista mesquinho e estreito dos interesses de seitas e de castas.
Por outro lado, estas citações provarão que, se Sócrates
e Platão pressentiram a ideia cristã, encontra-se, igualmente, na sua doutrina
os princípios fundamentais do Espiritismo.
Resumo
da Doutrina de Sócrates e Platão
I. O
homem é uma alma encarnada. Antes da sua encarnação ela existia unida aos tipos
primordiais, às ideias da verdade, do bem e do belo; encarnando, separou-se deles,
e, lembrando-se do seu passado ela fica mais ou menos atormentada pelo desejo
de a ele voltar.
Não se pode explicar mais claramente a diferença e a independência
entre o princípio inteligente, ou seja, a alma, e o princípio material, isto é,
o corpo. Além disso, é a doutrina da preexistência da alma, da vaga intuição
que ela conserva de um outro mundo ao qual ela aspira, da sua sobrevivência ao
corpo, da sua saída do mundo espiritual para encarnar e da sua volta a esse
mesmo mundo após a morte, é, enfim, o gérmen da doutrina dos anjos decaídos.
II. A
alma se extravia e se perturba quando se serve do corpo para estudar qualquer
assunto; tem vertigens como se estivesse ébria, porque ela se liga a coisas que
são, por sua natureza, sujeitas a mudanças; ao passo que, quando contempla sua
própria essência, ela se volta para o que é puro, eterno, imortal, e, sendo da
mesma natureza, aí permanece ligada tanto tempo quanto possa. Então, findam as suas
perturbações, porque ela está unida ao que é imutável, e a esse estado de alma
é o que se chama sabedoria.
Assim, ilude-se o homem que considera as coisas por baixo,
terra-a-terra, sob o ponto de vista material; para apreciá-las com precisão, é
preciso vê-las do alto, isto é, do ponto de vista espiritual. Portanto, o
verdadeiro sábio deve, de algum modo, isolar a alma do corpo, para ver com os
olhos do espírito. É isso que o Espiritismo ensina. (Cap. II, item 5.)
III. Enquanto
tivermos o nosso corpo, e a alma se encontrar mergulhada nessa corrupção,
jamais, possuiremos o objeto dos nossos desejos: a verdade. De fato, o corpo nos
oferece mil obstáculos pela necessidade que temos de cuidar dele; além disso,
ele nos enche de desejos, de apetites, de temores, de mil quimeras e de mil
tolices, de maneira que, com ele, é impossível sermos sábios ao menos por um
instante, porém, se é impossível conhecer alguma coisa com pureza, enquanto a
alma está unida ao corpo, de duas coisas temos que concluir por uma: ou não se
conhecer á jamais a verdade, ou ela só será conhecida após a morte. Libertos da
loucura do corpo, então conversaremos, é lógico que se espere, com homens
igualmente livres, e conheceremos, por nós mesmos, a essência das coisas. Eis por
que os verdadeiros filósofos se preparam para morrer, e a morte não lhes
parece, de maneira alguma, temível. (O Céu e o Inferno, 1a parte,
cap. II; 2a parte, cap. I.)
Aqui temos o princípio das faculdades da alma,
obscurecidas por terem como intermediários os órgãos corporais, e o da expansão
dessas faculdades após a morte. Trata-se, porém, das almas de elite, já
depuradas, não ocorre o mesmo com as almas impuras.
IV. A
alma impura, nesse estado, está entorpecida e é arrastada novamente para o
mundo visível pelo horror do que é invisível e imaterial. Então, ela perambula,
segundo dizem, ao redor dos monumentos e dos túmulos, perto dos quais se tem
visto, às vezes, fantasmas tenebrosos, como devem ser as imagens das almas que
deixaram o corpo sem estarem inteiramente puras, e que ainda conservam alguma coisa
da forma material, o que faz com que os olhos humanos possam percebê-las. Não
são as almas dos bons, mas as dos maus que são forçadas a vagar nesses lugares,
onde carregam as penas de sua vida passada, e onde continuam a vagar até que os
desejos inerentes à forma material, que os atraem, as devolvam a um outro
corpo, e então elas retomam, sem dúvida, os mesmos costumes que, durante sua
vida anterior, eram motivo de suas predileções.
Não é somente o princípio da reencarnação que aqui está
claramente expresso; o estado das almas que ainda estão sob o domínio da matéria
também é descrito tal como o Espiritismo o demonstra nas evocações.[4] E há mais, ali
se diz que a reencarnação em um corpo material é uma consequência da impureza
da alma, enquanto as almas purificadas estão livres dela. O Espiritismo não diz
outra coisa; somente acrescenta que a alma que tomou boas resoluções na erraticidade,[5] e que adquiriu
conhecimentos, traz, ao nascer, menos defeitos, mais virtudes e mais ideias
intuitivas do que as que possuía em sua existência anterior, e que assim cada
existência marca um progresso intelectual e moral para ela. (O Céu e o Inferno,
2a parte, .Exemplos.)
V. Após
nossa morte, o gênio (daïmon, demônio), que nos havia sido designado durante a
vida, nos leva a um lugar onde se reúnem todos aqueles que devem ser conduzidos
ao Hades,[6] para
ali serem julgados. As almas, após terem permanecido no Hades o tempo
necessário, são reconduzidas a esta vida por numerosos e longos períodos.
Esta é a doutrina dos Anjos Guardiães ou Espíritos Protetores,
e das reencarnações sucessivas, após intervalos mais ou menos longos na
erraticidade.
VI. Os
demônios ocupam o espaço que separa o céu da Terra; são o elo que une o Grande
Todo a si mesmo. A divindade não entra nunca em comunicação direta com o homem;
é por intermédio dos demônios que os deuses se relacionam e conversam com ele,
seja durante a vigília, seja durante o sono.
A palavra daïmon, da qual se originou demônio, não era
levada em mau sentido na antiguidade como o é nos tempos modernos; o termo não
designava, de forma alguma, seres malfazejos, mas os seres em geral, entre os
quais se distinguiam os espíritos superiores, chamados deuses, e os espíritos
menos elevados, ou demônios propriamente ditos, que se comunicavam diretamente
com os homens. O Espiritismo também diz que os espíritos povoam o espaço; que
Deus só se comunica com os homens por intermédio dos espíritos puros,
encarregados de transmitir suas vontades; que os espíritos se comunicam com
eles durante o estado de vigília e durante o sono. Se substituirmos a palavra
demônio pela palavra espírito, teremos a Doutrina Espírita, se a substituirmos
pela palavra anjo, teremos a doutrina cristã.
VII. A
preocupação constante do filósofo (tal como Sócrates e Platão a compreendiam) é
a de tomar o maior cuidado com a alma, e menos com esta vida, que não
representa mais que um instante perante a eternidade. Se a alma é imortal, não
é sábio viver tendo em vista a eternidade?
O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.
VIII. Se
a alma é imaterial, ela deve passar, após esta vida, para um mundo igualmente
invisível e imaterial, da mesma forma que o corpo, ao se decompor, retorna à matéria.
Somente importa distinguir bem a alma pura, verdadeiramente imaterial, que se
alimenta, como Deus, da Ciência e de pensamentos, da alma mais ou menos
manchada de impurezas materiais que a impedem de se elevar ao divino, e a retêm
nos lugares da sua estada terrestre.
Sócrates e Platão, como se vê, compreendiam
perfeitamente os diferentes graus de desmaterialização da alma; eles insistem
na diferença de situação que resulta para ela da sua maior ou menor pureza. O
que eles dizem por intuição, o Espiritismo o prova pelos numerosos exemplos que
apresenta aos nossos olhos. (O Céu e o Inferno, 2a parte.)
IX. Se
a morte fosse a dissolução integral do homem, isso seria uma grande vantagem
para os maus; após a morte eles se livrariam, ao mesmo tempo, de seu corpo, de
sua alma e de seus vícios. Aquele que adornou sua alma, não com enfeites
estranhos, mas com aqueles que lhe são próprios, somente poderá aguardar tranquilamente
a hora da sua partida para o outro mundo.
Em outras palavras, isto equivale a dizer que o
materialismo, que proclama o nada após a morte, seria a anulação de toda a
responsabilidade moral posterior, e, por consequência, um incentivo ao mal; que
as pessoas más têm tudo a ganhar com o nada; que somente aquele que se livrou
de seus vícios, e se enriqueceu de virtudes, pode esperar, tranquilamente, o
despertar na outra vida. O Espiritismo nos mostra, pelos exemplos que
diariamente põe diante de nós, quanto é penoso para os maus a passagem de uma
vida para a outra, a entrada na vida futura. (O Céu e o Inferno, 2a parte, cap.
I.)
X. O
corpo conserva os vestígios bem marcados dos cuidados que se tomou com ele ou
dos acidentes que sofreu. O mesmo ocorre com a alma; quando ela se liberta do
corpo, traz os traços evidentes do seu caráter, das suas afeições e as
impressões que cada um dos atos da sua vida lhe deixou. Assim, o maior mal que
pode acontecer a um homem, é ir para o outro mundo com a alma carregada de
crimes. Tu vês, Cálicles, que nem tu, nem Pólus, nem Gorgias, saberiam provar
que se deve levar uma outra vida que nos será útil quando formos para lá. De
tantas opiniões diversas, a única que permanece inabalável é a de que mais vale
receber que cometer uma injustiça, e que, acima de todas as coisas, devemos nos
dedicar, não a parecer, mas a ser um homem de bem. (Diálogos de Sócrates com
seus discípulos, na prisão.)
Aqui encontramos este outro ponto capital, confirmado atualmente
pela experiência, o de que a alma não depurada conserva as ideias, as
tendências, o caráter e as paixões que ela possuía na Terra. Esta máxima: “Mais
vale receber que cometer uma injustiça?” não é totalmente cristã? É o mesmo
pensamento que Jesus exprime nestas palavras: “Se alguém te bater em uma face,
oferece-lhe também a outra”. (Cap. XII, itens 7 e 8.)
XI. De
duas coisas, uma: ou a morte é uma destruição absoluta ou é a passagem da alma
para outro lugar. Se tudo deve se extinguir, a morte será como uma dessas raras
noites que nós passamos sem sonhar e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Mas
se a morte é somente uma mudança de morada, a passagem para um lugar onde os
mortos devem se reunir, que felicidade é para nós ali reencontrarmos os nossos
conhecidos! Meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa morada
e de distinguir, como aqui, aqueles que são sábios daqueles que acreditam ser,
mas não o são. Mas é chegado o tempo de nos separarmos, eu para morrer, vocês
para viverem. (Sócrates e os seus juízes.)
Segundo Sócrates, os homens que viveram na Terra se
reencontram após a morte e se reconhecem. O Espiritismo nos mostra que as
relações que entre eles se estabeleceram continuam, de tal forma que a morte
não é uma interrupção, nem uma cessação da vida, mas uma transformação, sem
solução de continuidade.
Se Sócrates e Platão tivessem conhecido os
ensinamentos que Cristo daria quinhentos anos mais tarde, e aqueles que os
espíritos agora nos dão, não teriam falado de maneira diferente. Nisso não há
nada que possa surpreender, se considerarmos que as grandes verdades são
eternas, e que os espíritos adiantados tiveram conhecimento delas antes de
virem encarnar na Terra, para onde as trouxeram; que Sócrates, Platão e os
grandes filósofos de seu tempo, mais tarde puderam fazer parte do número
daqueles que secundaram Cristo na sua divina missão, e que eles foram
escolhidos precisamente porque já compreendiam, mais que os outros, seus
sublimes ensinamentos; e que eles podem, enfim, fazer parte, atualmente, do
grupo de espíritos encarregados de vir ensinar as mesmas verdades aos homens.
XII. Jamais
se deve retribuir injustiça com injustiça, nem fazer o mal a ninguém, qualquer
que seja o mal que nos tenham feito. Poucas pessoas, entretanto, admitem esse princípio,
e as que não concordam com ele, só podem desprezar-se umas às outras.
Não é esse o princípio da caridade que nos ensina a não
retribuir o mal com o mal e a perdoar os nossos inimigos?
XIII. É
pelos frutos que se reconhece a árvore. É preciso qualificar cada ação de
acordo com os seus efeitos; chamá-la de má quando suas consequências forem más,
e de boa quando dessa ação nascer o bem.
Esta máxima: “É pelos frutos que se reconhece a árvore”
encontra-se repetida, textualmente, várias vezes no Evangelho.
XIV. A
riqueza é um grande perigo. Todo homem que ama a riqueza não ama nem a si nem
ao que é seu, mas a uma coisa que lhe é mais estranha ainda do que aquilo que
lhe pertence.(Cap. XVI.)
XV. As
mais belas preces e os mais belos sacrifícios agradam menos à Divindade do que
uma alma virtuosa que se esforça para assemelhar-se a ela. Seria algo muito
grave se os deuses dessem mais atenção às nossas oferendas do que à nossa alma;
se assim fosse, os maiores culpados poderiam tornar os deuses favoráveis a
eles. Mas não, porquanto só são verdadeiramente sábios e justos aqueles que, por
suas palavras e por seus atos, se absolvam do que devem aos deuses e aos
homens. (Cap. X, itens 7 e 8.)
XVI. Chamo
de homem vicioso esse amante vulgar que ama o corpo mais do que a alma. O amor
está por toda a parte na Natureza e nos convida a exercer a nossa inteligência;
nós o encontramos até no movimento dos astros. É o amor que adorna a Natureza
com seus ricos tapetes verdes; ele se enfeita e fixa sua morada lá onde
encontra flores e perfumes. É ainda o amor que dá paz aos homens, calma ao mar,
silêncio aos ventos e sono à dor.
O amor, que deve unir os homens por um laço fraterno, é
uma consequência dessa teoria de Platão sobre o amor universal, como lei da
Natureza. Quando Sócrates disse que .o amor não é um deus nem um mortal, mas um
grande demônio., isto é, um grande espírito presidindo ao amor universal, essas
palavras lhe foram atribuídas como crime.
XVII. Não
se pode ensinar a virtude; ela vem por um dom de Deus para aqueles que a
possuem.
Isso é quase a doutrina cristã sobre a ajuda divina; mas
se a virtude é um dom de Deus, é um favor, então pode-se perguntar porque não
foi concedida a todas as pessoas. Por um outro lado, se ela é um dom, não traz
nenhum mérito para aquele que a possui. O Espiritismo é mais claro, ele diz que
aquele que possui a virtude consegue adquiri-la por seus esforços nas
sucessivas existências, livrando-se pouco a pouco das suas imperfeições. A
ajuda divina é a força com que Deus favorece toda criatura de boa vontade para
se livrar do mal e para fazer o bem.
XVIII. Existe
uma disposição natural em cada um de nós para percebermos muito mais os
defeitos dos outros do que os nossos.
O Evangelho diz: “Vês o argueiro no olho do teu irmão
e não vês a trave no teu”. (Cap. X, itens 9 e 10.)
XIX. Se
os médicos fracassam na maior parte das doenças, é porque tratam o corpo sem a
alma, e porque, o todo não estando em bom estado, é impossível que a parte esteja
bem.
O Espiritismo explica as relações que existem entre a
alma e o corpo, e prova que existe a reação incessante de um sobre o outro. Ele
abre, assim, um novo caminho para a Ciência, mostrando-lhe a verdadeira causa
de certas afecções e dando-lhe os meios de combatê-las. Quando a Ciência se der
conta da ação do elemento espiritual no organismo ela fracassará muito menos.
XX. Todos
os homens, a partir da infância, fazem mais o mal do que o bem.
Estas palavras de Sócrates se referem à importante questão
da predominância do mal sobre a Terra, questão insolúvel sem o conhecimento da
pluralidade dos mundos e da destinação da Terra, onde habita apenas uma pequena
fração da humanidade. Só o Espiritismo dá a esse assunto uma solução, que está
desenvolvida mais adiante, nos capítulos II, III e V.
XXI. A
sabedoria está em não acreditares que sabes o que não sabes.
Isto se destina às pessoas que criticam as coisas que,
muitas vezes, desconhecem inteiramente. Platão completa este pensamento de
Sócrates dizendo: “Tentemos, inicialmente, se possível, torná-los mais honestos
nas palavras; se não o conseguirmos, não nos preocupemos mais com eles e busquemos
apenas a verdade. Tratemos de nos instruir, mas não nos aborreçamos”. É assim
que devem agir os espíritas com relação aos seus contraditores de boa ou de
má-fé. Se Platão vivesse nos dias de hoje, encontraria as coisas parecidas com
as de seu tempo e poderia usar a mesma linguagem; Sócrates também acharia
pessoas que zombariam da sua crença nos espíritos e o chamariam de louco, assim
como ao seu discípulo, Platão.
Foi por haver professado esses princípios que Sócrates
foi inicialmente ridicularizado, depois, acusado de impiedade e condenado a
beber cicuta, um veneno. Tanto isto é certo que as novas grandes verdades, ao
levantarem contra si os interesses e os preconceitos que elas contrariam, não podem
ser estabelecidas sem lutas e sem fazer mártires.
[1] Sócrates: ilustre filósofo grego
(Ática, 470 . Antes, 399 a.C.), dedicou-se ao estudo moral do homem. Acusado de
impiedade foi preso e condenado a envenenar-se com cicuta. (N.T.)
[2] Platão: filósofo grego, discípulo
de Sócrates e mestre de Aristóteles (Atenas, 428 ou 427 . Atenas, 348 ou 347
a.C.) Escreveu os Diálogos, através dos quais os dados a respeito da
personalidade e da filosofia de Sócrates chegaram até nós. (N.T.)
[3] Alqueire: antiga unidade de medida
de capacidade para cereais, de conteúdo variável segundo a região (mais ou
menos 13 litros), cujo recipiente podia ser feito em barro ou em madeira, em
forma de caixa, daí a expressão .não colocar a candeia debaixo do alqueire..
(N.T.)
[4]
Evocação é o ato de evocar,
isto é, chamar por um espírito para que ele se manifeste. Não confundir com invocar,
que é pedir, rogar, suplicar proteção ou auxílio. Por intermédio da prece,
invoca-se um poder superior, invoca-se Deus. (N.T.)
[5]
Denomina-se erraticidade ao
estado dos espíritos não encarnados, ou errantes, ou erráticos, durante os
intervalos de suas diversas existências corporais. Ver O Livro dos Espíritos,
cap. VI, perguntas 223 a 233. (N.T.)
[6] Hades ou Ades: divindade grega dos
infernos, esposo de Prosérpina. Assim também se denomina a residência dos
mortos, os infernos.
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