domingo, 12 de fevereiro de 2017

Nosso lar: o estudo

Coloquei a palavra “prefácios” a fim de sinalizar que neste livro, de acordo com as palavras de Emmanuel:

Os prefácios, em geral, apresentam autores, exaltando-lhes o mérito e comentando-lhes a personalidade.
Aqui, porém, a situação é diferente.
Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção.
Por vezes, o anonimato é filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor. Para redimirmos o passado escabroso, modificam-se tabelas da nomenclatura usual na reencarnação. Funciona o esquecimento temporário como bênção da Divina Misericórdia.
André precisou, igualmente, cerrar a cortina sobre si mesmo.
É por isso que não podemos apresentar o médico terrestre e autor humano, mas sim o novo amigo e irmão na eternidade.
Por trazer valiosas impressões aos companheiros do mundo, necessitou despojar-se de todas as convenções, inclusive a do próprio nome, para não ferir corações amados, envolvidos ainda nos velhos mantos da ilusão. Os que colhem as espigas maduras, não devem ofender os que plantam a distância, nem perturbar a lavoura verde, ainda em flor.”

Vou aproveitar estas palavras para pontuar o pequeno ensinamento contido nesta passagem (pelo menos, é o que acredito existir em virtude da maioria das leituras realizadas por mim: aprendi que tem sempre algo mais a ser informado do que está escrito ou pode ser visto).
Neste trecho, há a demonstração da humildade necessária para abrirmos mão de nós mesmos em prol do amor sublime e bem de todos. O decodificador, através de um simples comentário, apresenta-nos o que a maioria do que nós fazemos: não só “exaltamos” o outro; mas, principalmente, a nós mesmos. Na realidade, elevamo-nos muito mais do que os outros. É sempre o eu, eu, eu, eu...
Será que poderíamos identificar, nesta, a seguinte bem aventurança do capítulo XIII: que a vossa mão esquerda não saiba o que dá a vossa mão direita; ou ainda, a do capítulo VII: no tema “Todo aquele que se eleva será rebaixado”; ou mais ainda do capítulo X: no tema “O sacrifício mais agradável a Deus”?

O conhecimento a ser adquirido ao apreender as informações contidas nestas palavras é:

“Reconhecemos que este livro não é único. Outras entidades já comentaram as condições da vida, além-túmulo...
Entretanto, de há muito desejamos trazer ao nosso círculo espiritual alguém que possa transmitir a outrem o valor da experiência própria, com todos os detalhes possíveis à legítima compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados laboriosos e bem-intencionados, nas esferas invisíveis ao olhar humano, embora intimamente ligadas ao planeta.

Aqui, o decodificador assinala que sempre, sempre, mais sempre, o plano espiritual nos chama, nos orienta... sempre; traz diversas formas de esclarecimento, ou seja, há sempre um mecanismo de comunicação entre os desencarnados e os encarnados; e, é através dos acontecimentos narrados e vividos pelo irmão André Luiz, que há uma forma de transmissão das informações precisas para a evolução dos encarnados. Apesar disso, nem sempre isso se realizou conforme o desejado, já que as informações transmitidas, ainda, não se efetuavam apresentando “o valor da experiência própria” tão necessária para a nossa compreensão e vivência no planeta Terra, como este irmão apresenta neste livro.


Na passagem:

Certamente que numerosos amigos sorrirão ao contato de determinadas passagens das narrativas. O inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos.
Quem não sorriria, na Terra, anos atrás, quando se lhe falasse da aviação, da eletricidade, da radiofonia?
A surpresa, a perplexidade e a dúvida são de todos os aprendizes que ainda não passaram pela lição. É mais que natural, é justíssimo. Não comentaríamos, desse modo, qualquer impressão alheia. Todo leitor precisa analisar o que lê.”

Emmanuel elucida a importância de verificarmos a veracidade das comunicações chegadas até nós.
Quando estudamos o Livro dos Médiuns, Allan Kardec assinala e explica o motivo e como carecemos de exercer este “pequeno” ato para o nosso próprio existir e bem estar quando encarnado. Veja o capítulo XXIV – Da identidade dos espíritos.

A seguinte enunciação de Emmanuel serve de reflexão:

“Reportamo-nos, pois, tão somente ao objetivo essencial do trabalho. O Espiritismo ganha expressão numérica. Milhares de criaturas interessam-se pelos seus trabalhos, modalidades, experiências. Nesse campo imenso de novidades, todavia, não deve o homem descurar de si mesmo.
Não basta investigar fenômenos, aderir verbalmente, melhorar a estatística, doutrinar consciências alheias, fazer proselitismo e conquistar favores da opinião, por mais respeitável que seja, no plano físico. É indispensável cogitar do conhecimento de nossos infinitos potenciais, aplicando-os, por nossa vez, nos serviços do bem.

Nesta elocução, o nosso irmão nos apresenta não só a importância do estudo/conhecimento como também para colocarmos em prática aquilo que, realmente, aprendemos. Precisamos, atentar que o “colocarmos em prática” nem sempre é de acordo com o que cada um de nós desejamos realizar ao nosso bel prazer; e, sim, conforme aquilo verdadeiramente apreendido nas mensagens contidas e enviadas pelos nossos irmãos desencarnados e muito mais esclarecidos e evoluídos que nós. Precisamos, aprender a ser pobres de espírito, mansos e pacíficos, misericordiosos e puros de coração; enfim, trabalhar por nós e pelo bem de todos.

Ainda enfocando o tema anterior e acrescentando mais esta passagem do prefácio:

O homem terrestre não é um deserdado. É filho de Deus, em trabalho construtivo, envergando a roupagem da carne; aluno de escola benemérita, onde precisa aprender a elevar-se.
A luta humana é a sua oportunidade, a sua ferramenta, o seu livro.
O intercâmbio com o invisível é um movimento sagrado, em função restauradora do Cristianismo puro; que ninguém, todavia, se descuide das necessidades próprias, no lugar que ocupa pela vontade do Senhor.”

Nestas palavras, o benfeitor assegura a respeito da nossa filiação com o Criador e a demonstração do amor puro e verdadeiro Dele para conosco, auxiliando-nos através da reencarnação a fim de modificarmo-nos aprendendo a nos elevar.
Nenhum de nossos irmãos desencarnados declara a facilidade do percurso pelo qual devemos seguir; pelo contrário, sempre salientam a dificuldade da reforma íntima; contudo, sempre, sustentam a ideia de que nunca estamos sós e de que precisamos aproveitar o momento e a “ferramenta” (reencarnação) para prosseguir na nossa jornada de evolução e serviço do bem.


As linhas a seguir têm mais alguns esclarecimentos:

André Luiz vem contar a você, leitor amigo, que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal; vem lembrar que a Terra é oficina sagrada e que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do terrível engano a que submeteu o próprio coração.
Guarde a experiência dele no livro d'alma. Ela diz bem alto que não basta à criatura apegar-se à existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do cristão, em qualquer escola religiosa, devem dirigir-se verdadeiramente ao Cristo, e que, em nosso campo doutrinário, precisamos, em verdade, do “Espiritismo” e do “Espiritualismo”, mas, muito mais, de “Espiritualidade”.”

Então o que podemos extrair destas últimas palavras expostas pelo benfeitor?
Acredito que cada um de nós possa ter um olhar diferenciado. É óbvio.
Eu, por minha vez, percebo, mais uma vez, que, apesar de nunca estarmos sós, nossa evolução depende das escolhas realizadas; e, quando voltamos para a pátria verdadeiramente espiritual, carecemos de refletir, analisar o que conseguimos realizar para o nosso progresso em prol do bem maior.
Depreendo que aquilo que planto, é o que colho. E quando a desencarnação ocorre, careço de olhar no meu próprio espelho, dando uma de Narciso, defrontando com defeitos e qualidades que necessitam ser aprimoradas; e, na maioria das vezes, diferentes oportunidades fornecidas foram perdidas. O que fazer então? Cada um tem a sua resposta.
Em virtude disso, ao adentrar no caminho da(o) leitura/estudo deste livro, precisamos não só ler e estudar cada mensagem, cada parágrafo, cada frase, cada palavra; porém, colocarmos em prática aquilo que assimilarmos para nosso próprio bem e de todos a nossa volta.


A mensagem de André Luiz no prefácio diz-nos:

“A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.”

O que ele quer nos dizer com isso?
Ratificar-nos da existência da vida. Que a morte propriamente dita só é fantasia.
Nossa! Que choque! Tudo que apreendemos durante a nossa vida corporal é mentira?!
Pois é, infelizmente a maioria de nós; aliás, nós, também, por muito tempo, - diversas e diversas encarnações - pensávamos desta forma. O importante, neste momento, é termos a certeza de que: “A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.”


Prosseguindo com o estudo, pode-se perceber a confirmação da encarnação e da desencarnação nas seguintes mensagens de nosso irmão André Luiz:

“O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.

Além delas, ele afirma que mesmo realizando esta viagem de ida e de volta, nada, mas nada fica estacionado, nada retrocede, sempre há evolução, sempre há aprimoramento, sempre há conhecimento, sempre há crescimento: é o objetivo de todo ser espiritual.


O que se pode analisar nas linhas a seguir?:

Cerrar os olhos carnais constitui operação demasiadamente simples.
Permutar a roupagem física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de vestidos nada tem que ver com as soluções profundas do destino e do ser.
Oh! Caminhos das almas, misteriosos caminhos do coração! É mister percorrer-vos, antes de tentar a suprema equação da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama, conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento espiritual!...
Seria extremamente infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse transcendentes questões do Infinito.

Cerrar os olhos” = morrer
Mais uma vez, o irmão assevera o tema encarnação x desencarnação, ou melhor, encarnação + desencarnação. Sim, é soma. Por quê? Porque precisamos da “roupagem física” para nos iluminarmos e precisamos retornar a morada espiritual a fim de somar, subtrair, dividir, somar; enfim, reavaliar a todo e a cada momento como melhor prosseguir ao bem para “aperfeiçoamento espiritual”.


Na passagem a seguir, André nos evoca a refletir a respeito do tempo que perdemos quando teimamos a NÃO tentarmos nos modificar:

Uma existência é um ato.
Um corpo – uma veste.
Um século – um dia.
Um serviço – uma experiência.
Um triunfo – uma aquisição.
Uma morte – um sopro renovador.
Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?

Muitos de nós pensamos e ficamos a esperar o milagre que irá modificar as nossas vidas e não conseguimos verificar que SÓ depende unicamente de NÓS a mudança renovadora de evolução de paz e amor em nós mesmos.
Precisamos para de olhar para o nosso próprio umbigo e arregaçarmos nossas mangas a fim de galgarmos os degraus do crescimento de nós mesmos e parar de nos prejudicar cada vez mais.

O irmão, no trecho abaixo, diz:

“E o letrado em filosofia religiosa fala de deliberações finais e posições definitivas!
Ai! Por toda parte, os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!
É preciso muito esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso que se verifica, quase sempre, de estranha maneira ele só, na companhia do Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.
Muito longa, portanto, nossa jornada laboriosa.
Nosso esforço pobre quer traduzir apenas uma ideia dessa verdade fundamental.

Mais uma vez, ele apresenta a necessidade de nós nos esforçarmos para conseguir fazer parte da caravana de amor de Jesus. Não basta ficarmos estudando e ouvindo. É preciso trabalhar, batalhar a fim de tentar não errar mais, sofrer mais, enganar-nos mais e mais. É preciso mudar a nós mesmos para o bem de nós mesmos.
Ninguém está dizendo que será fácil ou difícil, só está pontuando a necessidade de prosseguirmos em nossa jornada através de nosso aprimoramento com estudo, força e muito, mais muito trabalho, mesmo que contrário aos nossos mais ínfimos desejos diverso daquele necessário e melhor para nós.
Carecemos de deixar nossa preguiça, nossa vaidade, nosso egoísmo, nosso comodismo de lado e começarmos a vivenciar a palavra divina de mente e coração abertos.
É claro que o labor será árduo, mas cada um de nós precisa levantar a bandeira do amor universal através da construção íntima de renovação mesma que seja penosa, longa, íngreme.

O abnegado amigo, no final traz, enfim, a seguinte mensagem:

Grato, pois, meus amigos!
Manifestamo-nos, junto a vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a experiência profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a ideia da eternidade. Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar.
Forneceremos, somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que “o espírito sopra onde quer”.
E, agora, amigos, que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da simpatia e da gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma. Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário do coração.
Que o Senhor nos abençoe.

No término desta missiva, pode-se perceber a confirmação do anonimato de André indicado na de Emmanuel, além do reconhecimento das fragilidades dos encarnados no que tange o caminho da evolução de si próprios.
Ademais, ratifica e traz não só notícias a respeito da existência além túmulo como também a respeito do respeito do livre arbítrio de cada um de nós.

Em determinado momento do estudo algumas obras foram mencionadas, tal como o capítulo XXIV do Livro dos Médiuns; em virtude disso, foi proposto uma leitura destas indicações para melhor esclarecimento.
Além disso, convém abordar uma posição nossa a respeito das obras de André Luiz ser "fantasiosas" ou não.
Como se pode identificar a veracidade das comunicações?
Antes de cada um se preocupar com a fidedignidade das obras desse espírito, convém, como os próprios espíritos elucidam no Livro dos Médiuns, constatar a aprendizagem contida nas palavras escritas dos livros deles.
Corresponde realizar uma aprendizagem com estas informações e associá-las a codificação, reunindo conteúdos da decodificação ou com outros livros tão esclarecedores como foram citados por alguns irmãos, também.
De outro modo, a maioria das pessoas reclama que não consegue entender as mensagens contidas na codificação, que dirá no livro dos médiuns; porém, muitas dessas palavras escritas são de fácil assimilação. Veja logo no início do capítulo no item 255:


255. A questão da identidade dos Espíritos é uma das mais controvertidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo. Porque os Espíritos de fato não trazem nenhum documento de identificação e sabe-se com que facilidade alguns deles usam nomes emprestados. Esta é, portanto, depois obsessão, uma das maiores dificuldades da prática espírita. Mas em muitos casos a questão da identidade absoluta é secundária e desprovida de importância real.
A mais difícil de se constatar é a identidade de personagens antigas, que muitas vezes se torna mesmo impossível, reduzindo-se uma possibilidade de apreciação puramente intelectual. Julgamos Espíritos, como os homens, pela linguagem. Se um Espírito se apresenta, por exemplo, com o nome de Fénelon, dizendo trivialidades puerilidades, é evidente que não pode ser ele. Mas se as coisas que diz são dignas do caráter de Fénelon e não o contradizem, temos um prova, senão material, pelos menos de grande possibilidade moral que seja ele. É sobretudo nesses casos que a identidade real se torna uma questão secundária: desde que o Espírito só diz boas coisa pouco importa o nome que esteja usando.
Há sem dúvida a objeção de que um Espírito que tomasse nome suposto, mesmo que só para o bem, não deixaria de cometer uma fraude e por isso não poderia ser bom. É neste ponto que surge questões delicadas, difíceis de se compreender, e que vamos tentar desenvolver”

Devido a isso, com esta associação Nosso Lar x Livro dos Médiuns, possivelmente, o ser humano ao ler ou estudar a codificação kardecista consegue entender as mensagens e esclarecimentos contidos nas obras espíritas a fim de utilizá-los no seu caminhar em direção a evolução espiritual.

Outra passagem do Livro dos Médiuns de fácil compreensão e que está concernente a abordagem realizada nos prefácios do Nosso Lar é:

256. À medida que os Espíritos se purificam e se elevam na hierarquia, as características distintivas de sua personalidade desaparecem de certa maneira, na uniformidade da perfeição, mas nem por isso os deixam de conservar a sua individualidade. É o que se verifica com os Espíritos superiores e os Espíritos puros. Nessa posição, nome que tiveram na Terra, numa das mil existências corporais efêmeras por que passaram, nada mais significa. Notemos ainda que os Espíritos se atraem mutuamente pela semelhança de suas qualidades, constituindo grupos ou famílias simpáticas. Se considerarmos, por outro lado, o número imenso de Espíritos que, desde a origem dos tempos, devem haver atingido os planos mais elevados, e se compararmos ao número tão restrito de homens que deixaram na Terra um grande nome, compreenderemos que entre os Espíritos superiores que podem comunicar-se a maioria não deve ter nomes para nós. Mas, como precisamos de nomes para fixar as nossas ideias, eles podem tomar o de um personagem conhecido, cuja natureza mais se identifique com a deles. É assim que o nossos anjos guardiões se fazem conhecer, na maioria das vezes, pelo nome de um santo que veneramos, escolhendo geralmente o do santo de nossa preferência. Dessa maneira, se o anjo guardião de uma pessoa dá o nome de São Pedro, por exemplo, não há nenhuma prova material de tratar-se do apóstolo. Tanto pode ser ele como um Espírito inteiramente desconhecido, pertencente à família de Espíritos a que São Pedro pertence. Acontece ainda que, seja qual for o nome pelo qual se invoque o anjo guardião, ele atenderá ao chamado porque é atraído pelo pensamento e o nome lhe é indiferente.[1]
O mesmo se verifica todas as vezes que um Espírito superior se comunica usando o nome de um personagem conhecido. Nada prova que seja precisamente o Espírito desse personagem. Mas se ele nada diz, no seu ditado espontâneo, que desminta a elevação espiritual do nome citado, existe a presunção de que seja ele. E em todos esses casos se pode dizer que, se não é ele, deve ser um Espírito do mesmo grau ou talvez mesmo um seu enviado. Em resumo: a questão do nome é secundária, podendo-se considerar o nome como simples indício do lugar que o Espírito ocupa na Escala Espírita. (Ver o n° 100 de O Livro dos Espíritos.)
A situação é outra quando um Espírito de ordem inferior se enfeita com um nome respeitável para se fazer acreditar. E esse caso é tão comum que não seria demais manter-se em guarda contra esses embustes. Porque é graças a nomes emprestados, e sobretudo com a ajuda da fascinação, que certos Espíritos sistemáticos, mais orgulhosos do que sábios, procuram impingir as ideias mais ridículas[2].
Assim a questão da identidade, como dissemos, é mais ou menos indiferente quando se trata de instruções gerais, desde que os Espíritos mais elevados podem substituir-se mutuamente sem que isso acarrete consequências. Os Espíritos superiores constituem, por assim dizer, uma coletividade, cujas individualidades nos são, com poucas exceções, completamente desconhecidas. O que nos interessa não são as pessoas, mas o ensino. Ora, se o ensino é bom, pouco importa que venha de Pedro ou de Paulo. Devemos julgá-lo pela qualidade e não pelo nome. Se um vinho é mau, não é a etiqueta que o faz melhor. Mas já é diferente nas comunicações íntimas, porque então é o indivíduo, ou sua pessoa mesma que nos interessa. É, pois com razão que, nessa circunstância, se procure assegurar de que o Espírito manifestante é realmente o que se deseja.”

257. A identidade é muito mais fácil de constatar quando se trata de Espíritos contemporâneos, cujos hábitos e caráter são conhecidos. Porque são precisamente esses hábitos, de que ainda não tiveram tempo de se livrar, que nos permitem reconhecê-los. E digamos logo que são eles um dos sinais mais certos de identidade.[3]
O Espírito pode, sem dúvida, dar suas provas através das perguntas que lhe fazem, mas isso quando lhe convém. Em geral o pedido nesse sentido o magoa, pelo que devemos evitar fazê-lo. Deixando o corpo o Espírito não se despoja da sua suscetibilidade. Toda pergunta para pô-lo à prova o aborrece.
Há perguntas que ninguém lhe faria em vida, com medo de faltar ás conveniências. Porque tratá-lo com menos consideração após a morte? Se um homem se apresenta num salão declinando o seu nome, irá alguém lhe pedir documentos à queima-roupa, sob o pretexto de que há impostores? Esse homem teria o direito de lembrar ao interrogante as regras de civilidade. É o que fazem os Espíritos que não respondem ou que se retiram. Tomemos um exemplo, para comparação. Suponhamos que o astrônomo Arago, quando vivo, se apresentasse numa casa em que não o conheciam e fosse recebido assim: "Dizeis que sois Arago, mas como não vos conhecemos, desejamos que o proveis respondendo às nossas perguntas: resolvei este problema de astronomia; dai-nos o vosso nome, prenome e os de vossos filhos; dizei o que fazeis em tal dia, a tal hora etc." O que ele responderia? Pois bem, como Espírito fará o que faria quando vivo, e os outros Espíritos farão o mesmo.

258. Recusando-se a responder perguntas pueris e absurdas que não lhes fariam quando vivos, os Espíritos, entretanto, frequentemente dão provas espontâneas e irrecusáveis de sua identidade. Isso pela revelação do próprio caráter através da linguagem, pelo emprego de expressões que lhes eram familiares, pela referência a alguns fatos significativos e de particularidades de sua vida, às vezes desconhecidas dos assistentes, cuja veracidade se pode verificar. As provas de identidade ressaltam ainda de muitas circunstâncias imprevistas que nem sempre surgem no primeiro momento mas na sequência das manifestações. É conveniente, pois, esperá-las ao invés de provocá-las, observando-se cuidadosamente todas as que possam provir da natureza das comunicações. (Ver o caso relatado no n° 70)

259. Um meio às vezes usado com sucesso para assegurar a identidade, quando o Espírito se torna suspeito, é o de fazê-lo afirmar em nome de Deus todo-poderoso que é ele mesmo. Acontece muitas vezes que o usurpador recua diante do sacrilégio. Depois de haver começado a escrever: Afirmo em nome de... pára e risca encolerizado traços sem significação ou quebra o lápis. Sendo mais hipócrita, contorna o problema através de uma omissão, escrevendo, por exemplo: Eu vos certifico que digo a verdade; ou ainda: Atesto, em nome de Deus, que sou eu mesmo quem vos falo etc. Mas há os que não são assim escrupulosos e juram por tudo o que se quiser. Um deles se comunicava com um médium dizendo-se o próprio Deus, e o médium, muito honrado com tão elevada graça, não hesitou em acreditar. Evocado por nós, não ousou sustentar a impostura e disse: Eu não sou Deus, mas sou seu filho. - Então sois Jesus? Isso não é provável porque Jesus está muito elevado para empregar subterfúgios. Ousais afirmar, em nome de Deus, que és o Cristo? - Eu não disse que sou Jesus, disse que sou filho de Deus porque sou uma das suas criaturas. Deve-se concluir disso que a recusa de um Espírito em afirmar a sua identidade em nome de Deus é sempre uma prova de que usa de impostura, mas que a afirmação nos dá apenas a presunção e não a prova da identidade.

260. Pode-se também colocar entre as provas de identidade a semelhança de caligrafia e de assinatura. Mas além de não ser dado a todos os médiuns obter esse resultado, ele nem sempre representa uma garantia suficiente. Há falsários no mundo dos Espíritos, como no nosso. Essa semelhança não representa mais do que uma presunção de identidade, que só adquire valor dentro das circunstâncias em que se produziu. O mesmo se dá com todos os sinais materiais que alguns dão como talismãs inimitáveis pelos Espíritos mentirosos. Para aqueles que ousam perjurar em nome de Deus ou imitar uma assinatura, nenhum signo material pode representar obstáculo maior. A melhor de todas as provas de identidade está na linguagem e nas circunstâncias imprevistas.

261. Certamente se dirá que se um Espírito pode imitar uma assinatura, pode também imitar a linguagem. É verdade. Temos visto os que tomam afrontosamente o nome do Cristo e para melhor enganar imitam o estilo evangélico excedendo-se nas expressões mais conhecidas: Em verdade, em verdade vos digo. Mas quando se estuda o texto sem se deixar influenciar, perscrutando o fundo dos pensamentos e o alcance das expressões, vendo-se ao lado das belas máximas de caridade recomendações pueris e ridículas, seria preciso que se estivesse fascinado para se enganar. Sim, certos aspectos formais da linguagem podem ser imitados, mas não o pensamento. A ignorância jamais imitará o verdadeiro saber, como jamais o vício imitará a verdadeira virtude. Sempre aparecerá de algum lado a ponta da orelha. É então que o médium e o evocador devem usar de toda a sua perspicácia e raciocínio para separar a verdade da mentira. Devem persuadir-se de que os Espíritos perversos são capazes de todas as trapaças e de que, quanto mais elevado for o nome usado, mais desconfiança deve provocar. Quantos médiuns têm recebido comunicações apócrifas assinadas por Jesus, Maria ou algum santo venerado[4]!


O item 256 faz referência a questão do Livro dos Espíritos

Escala Espírita
100. Observações preliminares. — A classificação dos Espíritos está baseada no grau de adiantamento deles, nas qualidades que adquiriram e nas imperfeições de que ainda têm que se despojar. Esta classificação, aliás, nada tem de absoluta; cada categoria, apenas no seu conjunto, apresenta um caráter distinto; porém, de um grau a outro, a transição é insensível e, nos limites, o matiz se apaga como nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou ainda, como nos diferentes períodos da vida do homem. Portanto, pode ser formulado um maior ou menor número de classes, segundo o ponto de vista sob o qual se considere a coisa. Ocorre, com este, o mesmo que com todos os sistemas de classificações científicas; estes sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência. Porém, sejam quais forem, nada mudam na base da Ciência. Os Espíritos, interrogados sobre esse ponto, podem, portanto, ter divergido, quanto ao número das categorias, sem que isso tenha importância. Armaram-se com esta contradição aparente, sem refletir que eles nenhuma importância dão ao que é puramente convencional; para eles o pensamento é tudo: deixam para nós a forma, a escolha dos termos, as classificações, numa palavra, os sistemas.
Acrescentemos ainda esta consideração, que não se deve jamais perder de vista: é que, entre os Espíritos, assim como entre os homens, há os muito ignorantes e não seria demais acautelar-se contra a tendência a crer que todos devem tudo saber, porque são Espíritos. Qualquer classificação exige método, análise e o conhecimento aprofundado do assunto. Ora, no mundo dos Espíritos, os que possuem conhecimentos limitados são, como neste mundo, os ignorantes, incapazes de apreender um conjunto, de formular um sistema; só imperfeitamente conhecem ou compreendem qualquer classificação; para eles, todos os Espíritos que lhes são superiores pertencem à primeira ordem, pois não podem apreciar os matizes de saber, de capacidade e de moralidade que os distinguem, como entre nós, um homem rude, com relação a homens civilizados. Mesmo aqueles que são capazes disto, podem divergir quanto às particularidades, conforme sejam os seus pontos de vista, principalmente, quando uma divisão nada tem de absoluta. Linée, Jussieu, Tournefort, tiveram, cada um, o seu método, e a Botânica não mudou por isso; é que eles não inventaram as plantas, nem suas características; observaram as analogias, segundo as quais, formaram os grupos ou classes. Foi desta maneira que procedemos; não inventamos os Espíritos, nem seus caracteres; vimos e observamos, julgamo-los pelas suas palavras e seus atos, depois, os classificamos pelas semelhanças, baseando-nos em dados que eles próprios nos forneceram.
Geralmente, os Espíritos admitem três categorias principais ou três grandes divisões. Na última, a que fica na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o Espírito e a propensão para o mal. Os da segunda, caracterizam-se pela predominância do Espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons Espíritos. A primeira, enfim, compreende os puros Espíritos, os que atingiram o grau supremo de perfeição.
Esta divisão parece-nos perfeitamente racional, apresentando características bem distintas; só nos restava ressaltar, através de um número sufi ciente de subdivisões, os principais matizes do conjunto; foi o que fizemos, com o concurso dos Espíritos, cujas instruções benévolas jamais nos faltaram.
Com o auxílio desse quadro, será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos com os quais possamos nos relacionar e, por conseguinte, o grau de confiança e de estima que mereçam; é, de certo modo, a chave da ciência espírita, pois só ele pode explicar anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as desigualdades intelectuais e morais dos Espíritos. Ressaltaremos, entretanto, que os Espíritos não pertencem, definitivamente, a esta ou àquela classe; o progresso deles apenas gradualmente se efetua e, com frequência, mais num sentido do que num outro; podem reunir os caracteres de várias categorias, o que é fácil apreciar pela linguagem deles e pelos seus atos.


COMO DISTINGUIR OS ESPÍRITOS BONS E MAUS
262. Se a perfeita identificação dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão secundária, sem importância, não se dá o mesmo com a distinção entre os Espíritos bons e maus. Sua individualidade pode ser-nos; indiferente, mas a sua qualidade jamais. Em todas as comunicações instrutivas é sobre esse ponto que devemos concentrar nossa atenção, pois só ele pode nos dar a medida da confiança que podemos ter no Espírito manifestante, seja qual for o nome com que se apresente. O Espírito que se manifesta é bom ou mau? A que grau da escala espírita pertence? Essa a questão capital. (Ver Escala Espírita no item 100 de O Livro dos Espíritos).

263. Julgamos os Espíritos, já o dissemos, pela linguagem, como julgamos os homens. Suponhamos que um homem receba vinte cartas de pessoas que não conhece. Pelo estilo, pelas ideias, por numerosos indícios julgará quais são as instruídas e quais as ignorantes, educadas ou sem educação, profundas, frívolas, orgulhosas, sérias, levianas, sentimentais etc. Acontece o mesmo com os Espíritos. Devem considerá-los como correspondentes que nunca vimos e perguntar o que pensaríamos da cultura e do caráter de um homem que dissesse ou escrevesse aquelas coisas. Podemos tomar como regra invariável e sem exceção que a linguagem dos Espíritos corresponde sempre ao seu grau de elevação. Os Espíritos realmente superiores não se limitam apenas a dizer boas coisas, mas as dizem em termos que excluem absolutamente qualquer trivialidade. Por melhores que sejam essas coisas, se forem manchadas por única expressão de baixeza temos um sinal indubitável de inferioridade. E com mais forte razão se o conjunto da comunicação ferir as conveniências por sua grosseria. A linguagem revela sempre a sua origem, seja pelo pensamento ou pela forma. Assim, mesmo que um Espírito quisesse enganar-nos com a sua pretensa superioridade, bastaria conversarmos algum tempo com ele para o julgarmos.

264. A bondade e a afabilidade são também atributos essenciais dos Espíritos depurados. Eles não alimentam ódio nem para com os homens nem para com os demais Espíritos. Lamentam as fraquezas e criticam os erros, mas sempre com moderação, sem amarguras nem animosidades. Se admitirmos que os Espíritos verdadeiramente bons só podem querer o bem e dizer boas coisas, concluiremos que tudo o que, na linguagem dos Espíritos, denote falta de bondade e afabilidade não pode provir de um Espírito bom.

265. A inteligência está longe de ser um sinal seguro de superioridade, porque a inteligência e a moral nem sempre andam juntas. Um Espírito pode ser bom, afável e ter conhecimentos limitados, enquanto um Espírito inteligente e instruído pode ser moralmente bastante inferio[5]r.
Geralmente se pensa que interrogando o Espírito de um homem que foi sábio na Terra, em certa especialidade, obtém-se a verdade com mais segurança. Isso é lógico, e não obstante nem sempre é certo. A experiência demonstra que os sábios, tanto quanto os outros homens, sobretudo os que deixaram a Terra há pouco, estão ainda sob o domínio dos preconceitos da vida corpórea, não se livrando imediatamente do espírito de sistema. Pode assim acontecer que, influenciados pelas ideias que alimentaram em vida e que lhes deram a glória, vejam com menos clareza do que supomos. Não damos este princípio como regra. Longe disso. Advertimos apenas que isso acontece e que, por conseguinte, sua sabedoria humana nem sempre é uma garantia de sua infalibilidade como Espíritos.

266. Submetendo-se todas as comunicações a rigoroso exame, sondando e analisando suas ideias e expressões, como se faz ao julgar uma obra literária e rejeitando sem hesitação tudo o que for contrário à lógica e ao bom senso, tudo o que desmente o caráter do Espírito que se pensa estar manifestando, consegue-se desencorajar os Espíritos mistificadores que acabam por se afastar, desde que se convençam de que não podem nos enganar. Repetimos que este é o único meio, mas é infalível porque não existe comunicação má que resista a uma crítica rigorosa[6]. Os Espíritos bons jamais se ofendem, pois eles mesmos nos aconselham a proceder assim e nada têm a temer do exame. Somente os maus se melindram e procuram dissuadir-nos, porque têm tudo a perder. E por essa mesma atitude provam o que são.
Eis o conselho dado por São Luís a respeito:
"Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes de vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente ao vos entregardes aos estudos: a de pesar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião".


267. Podemos resumir os meios de reconhecer a qualidade dos Espíritos nos seguintes princípios:
1°) Não há outro critério para se discernir o valor dos Espíritos senão o bom senso. Qualquer fórmula dada pelos próprios Espíritos, com esse fim, é absurda e não pode provir de Espíritos superiores.
2°) Julgamos os Espíritos pela sua linguagem e as suas ações. As ações dos Espíritos são os sentimentos que eles inspiram e os conselhos que dão.
3°) Admitido que os Espíritos bons só podem dizer e fazer o bem, tudo o que é mau não pode provir de um Espírito bom.
4°) A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de trivialidade. Eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, nunca se vangloriam, não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais. A linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares é sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, autossuficiência, arrogância, fanfarronice, mordacidade é sinal característico de inferioridade. E de mistificação, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado.
5°) Não devemos julgar os Espíritos pelo aspecto formal e a correção do seu estilo, mas sondar-lhes o íntimo, analisar suas palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Toda falta de lógica, de razão e de prudência não pode deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja o nome de que o Espírito se enfeite. (Ver n° 224.)
6°) A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, se não quanto à forma, pelo menos quanto à substância. As ideias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar. Podem ser mais ou menos desenvolvidas segundo as circunstâncias, as dificuldades ou a facilidade de se comunicar, mas não serão contraditórias. Se duas comunicações com o mesmo nome se contradizem, uma das duas é evidentemente apócrifa. A verdadeira será aquela em que nada desminta o caráter conhecido do personagem. Entre duas comunicações assinadas, por exemplo, por São Vicente de Paulo, uma pregando a união e a caridade e outra tendendo a semear a discórdia, não há pessoa sensata que possa enganar-se.
7°) Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.
8°) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação[7].
9°) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e das expressões, claro, inteligível a todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos inferiores ou pseudosábios escondem sob frases empoladas o vazio das ideias. Sua linguagem é sempre pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de parecer profunda.
10°) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição. São exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a razão lhes tiraria a máscara.
11°) Os Espíritos bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira prudente. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade, embora pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que desejam conquistar.
12°) Os Espíritos superiores mantêm-se, em todas as coisas, acima das puerilidades formais. Os Espíritos vulgares são os únicos que podem dar importância a detalhes mesquinhos, incompatíveis com as ideias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é sinal certo de inferioridade e mistificação de parte de um Espírito que toma um nome pomposo.
13°) Devemos desconfiar dos nomes bizarros e ridículos usados por certos Espíritos que desejam impor-se à credulidade. Seria extremamente absurdo tomar esses nomes a sério.
14°) Devemos igualmente desconfiar dos Espíritos que se apresentam com muita facilidade usando nomes bastante venerados, e só com; muita reserva aceitar o que dizem. Nesses casos, sobretudo, é que um controle severo se torna indispensável. Porque é frequentemente a máscara que usam para levar-nos a crer em pretensas relações íntimas como Espíritos excelsos. Dessa maneira eles lisonjeiam a vaidade do médium e se aproveitam dela para o induzirem a atos lamentáveis e ridículos.
15°) Os Espíritos bons são muito escrupulosos no tocante às providências que podem aconselhar. Em todos os casos têm apenas em vista um fim sério e eminentemente útil. Devemos pois encarar como suspeita todas aquelas que não tenham esse caráter ou seja condenáveis pela razão, refletindo maduramente antes de adotá-las, pois do contrário nos exporemos a mistificações desagradáveis.
16°) Os Espíritos bons são também reconhecíveis pela sua prudente reserva no tocante às coisas que possam comprometer-nos. Repugna-lhes desvendar o mal. Os Espíritos levianos ou malfazejos gostam de expô-lo. Enquanto os bons procuram abrandar os erros e pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a discórdia por meio de pérfidas insinuações.
17°) Os Espíritos bons só ensinam o bem. Toda máxima, todo conselho que não for estritamente conforme a mais pura caridade evangélica não pode provir de Espíritos bons.
18°) Os Espíritos bons só dão conselhos perfeitamente racionais. Toda recomendação que se afaste da linha reta do bom senso ou das leis imutáveis da Natureza acusa a presença de um Espírito estreito e portanto pouco digno de confiança.
19°) Os Espíritos maus ou simplesmente imperfeitos ainda se revelam por sinais materiais que a ninguém poderão enganar. A ação que exercem sobre o médium é às vezes violenta, provocando movimentos bruscos e sacudidos, uma agitação febril e convulsiva que contrasta com a calma e a suavidade dos Espíritos bons.
20°) Os Espíritos imperfeitos aproveitam-se frequentemente dos meios de comunicação de que dispõem para dar maus conselhos. Excitam a desconfiança e a animosidade entre os que lhes são antipáticos. Principalmente as pessoas que podem desmascarar a sua impostura são visadas pela sua maldade. As criaturas fracas, impressionáveis, tornam-se alvo do seu esforço para levá-las ao mal. Usam sucessivamente os sofismas, os sarcasmos, as injúrias e até as provas materiais do seu poder oculto para melhor convencê-las, empenhando-se em desviá-las do caminho da verdade.
21°) Os Espíritos dos que tiveram, na Terra, uma preocupação exclusiva, material ou moral, se ainda não conseguiram libertar-se da influência da matéria continuam dominados pelas ideias terrenas. Carregam parte dos preconceitos, das predileções e até mesmo das manias que tiveram aqui. Isso é fácil de se reconhecer pela sua linguagem.
22°) Os conhecimentos de que certos Espíritos muitas vezes se enfeitam, com uma espécie de ostentação, não são nenhum sinal de superioridade. A verdadeira pedra de toque para se verificar essa superioridade é a pureza inalterável dos sentimentos morais.
23°) Não basta interrogar um Espírito para se conhecer a verdade. Devemos, antes de tudo, saber a quem nos dirigimos. Porque os Espíritos inferiores, pela sua própria ignorância, tratam com leviandade as mais sérias questões. Também não basta que um Espírito tenha sido na Terra um grande homem para possuir no mundo espírita a soberana ciência. Só a virtude pode, purificando-o, aproximá-lo de Deus e ampliar os seus conhecimentos.
24°) Os gracejos dos Espíritos superiores são muitas vezes sutis e picantes, mas nunca banais. Entre os Espíritos zombeteiros, mas que não são grosseiros, a sátira mordaz é feita quase sempre muito a propósito.
25°) Estudando-se com atenção o caráter dos Espíritos que se manifestam, sobretudo sob o aspecto moral, reconhece-se a sua condição e o grau de confiança que devem merecer. O bom senso não se enganará.
26°) Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário antes saber julgar-se a si mesmo. Há infelizmente gente que toma a sua própria opinião por medida exclusiva do bem e do mal, do verdadeiro e do falso. Tudo o que contradiz a sua maneira de ver, as ideias, o sistema que inventaram ou adotaram é mau aos seus olhos. Falta a essas criaturas, evidentemente, a primeira condição para a reta apreciação: a retidão do juízo. Mas elas nem percebem. Esse defeito que mais enganos produz.[8]
Todas estas instruções decorrem da experiência e do ensino dos Espíritos. Completamo-las com as próprias respostas dadas por eles a respeito dos pontos mais importantes.[9]


268. Perguntas sobre a natureza e a identidade dos Espíritos:
1. Por qual sinais podemos reconhecer a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos?
- Pela sua linguagem, como distingues um estouvado de um homem sensato. Já dissemos que os Espíritos superiores nunca se contradizem e só tratam de boas coisas. Só querem o bem. Essa é a preocupação.
- Os Espíritos inferiores estão dominados pelas ideias materiais. Suas manifestações se ressentem da sua ignorância e da sua imperfeição. Só aos Espíritos superiores é dado conhecer todas as coisas e julgá-las sem paixão.
2. O conhecimento científico de um Espírito é sempre uma prova da sua elevação?
- Não, porque se ainda estiver sob a influência da matéria pode ter os vossos vícios e preconceitos. Há pessoas que são no vosso mundo excessivamente invejosas e orgulhosas. Pensas que ao deixá-lo perdem esses defeitos? Resta-lhes, depois que partem daí, principalmente as que alimentaram fortes paixões, uma espécie de atmosfera que as envolve e conserva todas essas coisas más.
- Esses Espíritos semi-imperfeitos são mais temíveis que os Espíritos maus, porque, na sua maioria, juntam a astúcia e o orgulho à inteligência. Pelo seu pretenso saber eles se impõem às pessoas simples e ignorantes, que aceitam sem exame as suas teorias absurdas e mentirosas. Embora essas teorias não possam prevalecer contra a verdade, não deixam de produzir um mal momentâneo porque entravam a marcha do Espiritismo e porque os médiuns se enganam ingenuamente quanto ao mérito das comunicações que recebem. Este o ponto que requer grande estudo de parte dos espíritas esclarecidos e dos médiuns. Para distinguir o verdadeiro do falso é que devemos convergir toda a nossa atenção.[10]
3. Muitos Espíritos protetores se apresentam com nomes de santos ou de personagens conhecidos. O que devemos pensar disso?
-Todos os nomes de santos e de personagens conhecidos não bastariam para designar o protetor de cada criatura. São poucos os Espíritos de nomes conhecidos na Terra. É por isso que quase sempre não dão os seus nomes. Mas na maioria das vezes quereis um nome. Então, para vos satisfazer eles usam o de um homem que conheceis e que respeitais.
4. Esse empréstimo de nome não pode ser considerado uma fraude?
- Seria fraude se feito por um Espírito mau que desejasse enganar. Mas sendo para o bem, Deus permite que se faça entre os Espíritos da mesma ordem, pois entre eles existe solidariedade e similitude de pensamentos.
5. Assim, quando um Espírito protetor se apresenta como São Paulo, por exemplo, não é certo que seja o Espírito ou a alma do apóstolo desse nome?
- De maneira alguma, pois se encontram milhares de pessoas às quais disseram que têm São Paulo como anjo guardião, ou outro santo. Mas que importa, se o Espírito que vos protege é da mesma elevação do apóstolo Paulo? Já vos disse: precisais de um nome e eles se servem de um para que os chameis e os reconheçais. É como fazeis com os nomes de batismo para vos distinguir dos demais membros da família. Eles podem também tomar os nomes dos arcanjos Rafael, Miguel, etc., sem que isso traga consequências.
- Aliás, quanto mais um Espírito é elevado, mais se multiplica o seu poder de irradiação. Sabei que um Espírito protetor de ordem superior pode tutelar centenas de encarnados. Entre vós, na Terra, tendes os notários que se encarregam dos negócios de cem ou duzentas famílias. Porque haveríamos de ser menos aptos, espiritualmente falando, na direção moral dos homens, do que aqueles na direção material de seus interesses?
6. Porque os Espíritos comunicantes tomam com tanta frequência nomes de santos?
- Identificam-se com os hábitos daqueles a quem se dirigem. Tomam os nomes mais aptos a melhor impressionar o homem, de acordo com as crenças deste.
7. Certos Espíritos superiores que se costumam evocar atendem sempre em pessoa? Ou, como pensam alguns mandatários para transmitir o seu pensamento?
- Porque não atenderiam em pessoa, se o podem? Mas se o Espírito não puder atender, em seu nome falará forçosamente um mandatário.
8. O mandatário é sempre suficientemente esclarecido para responder como o faria o próprio Espírito?
- Os Espíritos superiores sabem a quem confiam o encargo de os substituir. Aliás, quanto mais elevados são os Espíritos, mais se harmonizam num pensamento comum, e tal maneira que para eles a personalidade é diferente, como deve ser também para vós. Pensais então que no mundo dos Espíritos superiores só existem aqueles que conhecestes na Terra como capazes de vos instruir? Sois de tal modo levados a vos tomar por tipos universais que acreditais nada haver além do vosso mundo. Assemelhai-vos de fato aos selvagens que nunca saíram de sua ilha e pensam que o mundo não vai além dela.
9. Compreendemos que seja assim quando se trata de ensinamento sério. Mas como os Espíritos elevados permitem a Espíritos de baixa classe usarem nomes respeitáveis para semear o erro através de máximas muitas vezes perversas?
- Não é com a sua permissão que o fazem. Isso não acontece também entre vós? Os que assim enganam serão punidos, ficai certos disso, e a punição será proporcional à gravidade da impostura. Aliás, se não fosseis imperfeitos só teríeis Espíritos bons ao vosso redor. Se sois enganados, não o deveis senão a vós mesmos. Deus o permite para provar a vossa perseverança e o vosso discernimento, para vos ensinar a distinguir a verdade do erro. Se não o fazeis é porque não estais suficientemente elevados e necessitais inda das lições da experiência.
10. Espíritos pouco adiantados, mas animados de boas intenções e do desejo de progredir não são às vezes incumbidos de substituir um Espírito superior para se exercitarem na prática do ensino?
- Jamais nos Centros importantes. Quero dizer nos Centros sérios e para um ensino de ordem geral[11]. Os que o fazem é por sua própria conta e, como dizem, para se exercitarem. É por isso que as suas comunicações, embora boas, trazem sempre a marca da sua inferioridade. Recebem essa incumbência apenas para as comunicações de segunda importância e para as que podemos chamar de pessoais.
11. As comunicações espíritas ridículas são às vezes entremeadas de boas máximas. Como resolver essa anomalia, que parece indicar a presença simultânea de Espíritos bons e maus?
- Os Espíritos maus ou levianos se metem também a sentenciar, mas sem perceberem bem o alcance ou a significação do que dizem. Todos os que o fazem entre vós são homens superiores? Não, os Espíritos bons e maus não se misturam. É pela constante uniformidade das boas comunicações que reconhecereis a presença dos Espíritos bons.
12. Os Espíritos que induzem ao erro estão sempre conscientes do que fazem?
- Não. Há Espíritos bons, mas ignorantes; podem enganar-se de boa fé. Quando tomam consciência da sua falta de capacidade eles a reconhecem e só dizem o que sabem.
13. Ao dar uma falsa comunicação, o Espírito sempre o faz com má intenção?
- Não. Se for um Espírito leviano apenas se diverte a mistificar, sem outra finalidade.
14. Desde que certos Espíritos podem enganar pela linguagem, podem tomar também uma falsa aparência para os médiuns videntes?
- Isso acontece, mas é mais difícil. Em todos os casos isso somente se dá com uma finalidade que os próprios Espíritos maus desconhecem, pois servem de instrumentos para uma lição. O médium vidente pode ver os Espíritos levianos e mentirosos como os outros médiuns podem ouvi-los ou escrever sob sua influência. Os Espíritos levianos podem aproveitar-se da faculdade do médium para o enganar com uma falsa aparência. Isso depende das qualidades do próprio Espírito do médium[12].
15. É suficiente a boa intenção para não ser enganado, e nesse caso os homens realmente sérios, que não mesclam de curiosidade leviana os seus estudos, também estariam expostos à mistificação?
- Menos do que os outros, evidentemente. Mas o homem tem sempre algumas esquisitices que atraem os Espíritos zombeteiros. Julga-se forte e quase nunca o é. Deve desconfiar, por isso mesmo, da fraqueza proveniente do orgulho e dos preconceitos. Não se levam muito em conta essas duas causas de que os Espíritos se aproveitam, pois agradando-lhes as manias estão seguros de conseguir o que desejam.[13]
16. Porque Deus permite que os Espíritos maus se comuniquem e digam coisas más?
- Mesmo o que há de pior traz um ensinamento. Cabe a vós saber tirá-lo. É necessário que haja comunicações de toda espécie para vos ensinar a distinguir os Espíritos bons dos maus e para que vos sirvam de espelho.
17. Os Espíritos podem sugerir desconfianças injustas contra certas pessoas, por meio de comunicações escritas, e separar amigos?
- Os Espíritos perversos e invejosos podem praticar os males que os homens praticam. Eis porque precisamos estar sempre em guarda. Os Espíritos superiores são sempre prudentes e reservados quando censuram: nada dizem de mal, advertem com jeito. Se quiserem que duas pessoas, no próprio interesse delas, deixem de ver-se, provocarão incidentes que as separem de maneira natural. Uma linguagem que semeia discórdia e desconfiança provém sempre de um Espírito mau, seja qual for o nome de que se sirva. Assim, recebei sempre com reservas o que um Espírito disser de mal contra outro, sobretudo quando um Espírito bom já vos disse o contrário, e desconfiai também de vós mesmos, das vossas próprias aversões. Das comunicações espíritas aceitai somente o que for bom, grande, belo, racional e o que a vossa consciência aprove.
18. Pela facilidade com que os Espíritos maus se infiltram nas comunicações, parece que nunca se pode estar certo da verdade?
- Sim, podeis, desde que tendes a razão para os julgar. Ao ler uma carta sabeis reconhecer muito bem se foi um grosseirão ou um homem educado, um tolo ou um sábio que a escreveu. Se recebeis uma carta de um amigo distante, o que vos prova que é dele? A letra, direis. Mas não há farsantes que imitam todas as letras e tratantes que podem conhecer os vossos negócios? Não obstante, há indícios que não vos permitem enganar. O mesmo se dá com os Espíritos. Imaginai que é um amigo que vos escreve ou que se trata da obra de um escritor. E julgai da mesma maneira.
19. Os Espíritos superiores poderiam impedir os maus de tomarem nomes falsos?
- Certamente que o podem. Mas, quanto piores são os Espíritos, mais teimosos são e frequentemente resistem às injunções. Convém saber que há pessoas pelas quais os Espíritos superiores se interessam mais do que por outras, e quando julgam necessário sabem preservá-las da mentira. Contra essas pessoas os mistificadores são impotentes.
20. Qual a razão dessa parcialidade?
- Isso não é parcialidade, é justiça. Os Espíritos bons se interessam pelos que aproveitam os seus conselhos e se esforçam seriamente para melhorarem. São esses os seus preferidos e os ajudam, mas pouco se importam com aqueles que os fazem perder o seu tempo em belas palavras.
21. Porque Deus permite aos Espíritos o sacrilégio de usarem falsamente nomes veneráveis?
- Poderíeis perguntar também porque Deus permite aos homens mentir e blasfemar. Os Espíritos, como os homens, têm o seu livre-arbítrio para o bem e para o mal, mas nem uns nem outros escaparão à justiça de Deus.
22. Há fórmulas eficazes para expulsar Espíritos mentirosos?
- Fórmula é matéria. Vale mais um bom pensamento dirigido a Deus.
23. Certos Espíritos disseram possuir sinais gráficos inimitáveis, espécies de selos pelos quais se pode reconhecer e constatar a sua identidade. Isso é verdade?
- Os Espíritos superiores só possuem como sinais de sua identidade a elevação de suas ideias e de sua linguagem. Qualquer Espírito pode imitar um sinal material. Quanto aos Espíritos inferiores, traem-se de tantas maneiras que só um cego se deixa enganar por eles.
24. Os Espíritos inferiores não podem imitar também o pensamento?
- Imitam o pensamento como os cenários do teatro imitam a Natureza.
26. Há pessoas que se deixam seduzir por uma linguagem enfática, que se contentam mais com palavras do que com ideias, que chegam, mesmo a tomar ideias falsas e vulgares por sublimes. Como essas pessoas, inaptas para julgar os homens, podem julgar os Espíritos?
- Quando são bastante modestas para reconhecer a sua insuficiência não se fiam em si mesmas. Quando, por orgulho, se julgam mais capazes do que são, pagam pela sua tola vaidade. Os Espíritos mistificadores sabem a quem se dirigem. Há pessoas simples e pouco instruídas que são mais difíceis de enganar do que as espertas e sabidas. Agradando o amor-próprio eles fazem dos homens o que querem.[14]
27. Ao escrever, os Espíritos maus às vezes se traem por sinais materiais involuntários?
- Os habilidosos, não. Os inábeis se atrapalham. Qualquer sinal inútil e pueril é indício certo de inferioridade. Os Espíritos elevados não fazem nada inútil.
28. Muitos médiuns reconhecem os Espíritos bons e maus pela sensação agradável ou penosa que experimentam à sua aproximação. Perguntamos se a impressão desagradável, a agitação convulsiva, ou mal-estar enfim, são sempre indícios da natureza má dos Espíritos manifestantes.
- O médium experimenta as sensações do estado em que se encontra o Espírito manifestante. Quando o Espírito é feliz, seu estado é tranquilo, calmo; quando é infeliz, é agitado, febril e essa agitação se transmite naturalmente ao sistema nervoso do médium. Aliás, é assim. com o homem na Terra: aquele que é bom, mostra-se calmo e tranquilo; aquele que é mau está sempre agitado.
OBSERVAÇÃO - Há médiuns de maior ou menor impressionabilidade e; por isso não se pode considerar a agitação como regra absoluta. Nisto, como em tudo, devemos levar em conta as circunstâncias. A natureza penosa e desagradável da sensação é produzida pelo contraste, pois se o Espírito do médium simpatizar com o Espírito mau que se manifestar, será pouco ou nada afetado por este. Além disso, é necessário não confundir a rapidez da escrita, produzida pela extrema flexibilidade de certos médiuns, com a agitação convulsiva que os médiuns mais lentos podem sofrer ao contato dos Espíritos imperfeitos.




[1] Richet formulou a hipótese do condicionamento a crença para explicar os casos de aparições de santos, anjos, etc. Ricardo Musso (Argentina) explora essa hipótese, em seu livro En los Limites de Ia Psicologia, para explicar as relações de Espíritos protetores e familiares com médiuns e crentes no Espiritismo. Como vemos acima, faltou a Richet, como falta hoje a Musso e aos seus imitadores, um dado fundamental do problema. Rejeitando a existência do mundo espiritual, não sabem como as coisas realmente se passam. O leitor deve atentar para estas importantes explicações de Kardec, baseadas na experiência, na lógica e nos ensinos dos Espíritos superiores. (N. do T.)
[2] Encontramos na bibliografia espírita numerosos casos dessa espécie, tendo alguns conseguido infiltrar-se em respeitáveis setores da divulgação doutrinária, ocasionando graves prejuízos à aceitação do Espiritismo por pessoas sensatas e ilustradas. A fascinação foi tratada no n° 239 do cap. anterior. Como se vê ali, o Espírito mistificador paralisa a capacidade de julgamento do médium. O mesmo se dá com todas as pessoas que se deixam envolver. Essa a razão porque idéias absurdas e ridículas se espalham no meio doutrinário, defendidas por pessoas cultas, às vezes dedicadas ao movimento mas invigilantes e pouco atentas às advertências deste livro. (N. do T.)
[3] A identificação dos Espíritos é feita através da personalidade do falecido. Dados diversos podem ajudar essa identificação, mas são o seu caráter, os seus modos, os seus hábitos, todo esse conjunto pessoal que nos prova a sua presença. Exigir a identificação material é absurdo. Mas quando essa identificação é possível, como pelos sinais digitais, pela forma do rosto ou das mãos impressas no gesso, ou mesmo pela fotografia ou pela materialização do Espírito, ainda assim os negadores sistemáticos não a aceitam. Kardec tem razão ao acentuar a importância da identificação pela personalidade. (N. do T.)
[4] Hoje há também muito abuso com o próprio nome de Kardec. O remédio está bem indicado nesse item 261, que deve ser lido com atenção e ponderado pelos que querem pegar "a ponta da orelha". (N. do T.)
[5] Atenção para a advertência final de que isso não constitui regra. Certas pessoas entendem que só devemos crer nos Espíritos ignorantes ou que se fazem passar por tal. Isso é ir de um extremo ao outro. Os Espíritos realmente elevados são inteligentes e bons, realizaram ao mesmo tempo a evolução intelectual e moral, como se depreende da própria regra de identificação de sua elevação pela linguagem. (N. do T.)
[6] "Não existe comunicação má que resista a uma crítica rigorosa". Esta confiança de Kardec na análise racional das comunicações é acertada, mas depende do critério seguro de quem analisa. Por isso mesmo é conveniente fazer a análise em conjunto e recorrer, no caso de duvida, a outras pessoas de reconhecido bom senso. O Espírito farsante pode influir sobre um indivíduo e sobre o grupo, o que tem ocorrido com freqüência em virtude da vaidade, da pretensão ou do misticismo dominante. Comunicações avulsas e até obras mediúnicas alentadas, evidentemente falsas, têm sido publicadas, aceitas e até mesmo defendidas por grupos e instituições diversas. (N. do T.)
[7] As predições apocalípticas, com datas certas, de acontecimentos próximos têm sido feitas por espíritos pseudo-sábios nestes últimos anos. A linguagem dessas previsões seria suficiente para mostrar a falsidade das comunicações. Muitas outras ainda serão feitas, pois há sempre quem as aceite. O estudo atento deste resumo prevenirá as pessoas prudentes contra esses embustes, hoje tão numerosos e que pelo seu ridículo afastam muita gente das luzes da doutrina. (N. do T.)
[8] A afirmação de Kardec no n°. 25: "O bom senso não se enganará" se refere, como vemos, às pessoas dotadas de bom senso. Neste n° 26 ele nos adverte quanto ao perigo das pessoas que não possuem "a retidão do juízo". Por isso devemos recorrer com humildade ao juízo dos outros, não nos fechando orgulhosamente em nossas opiniões. (N. do T.)
[9] O próprio Kardec nos dá o exemplo do que ensina: completa as suas instruções com as respostas textuais dos Espíritos às suas consultas. Este é um exemplo vivo de como foi escrita a Codificação. Às suas experiências pessoais, aos resultados sensato de suas observações, Kardec junta a opinião esclarecida dos Espíritos superiores. (N. do T.)
[10] Muitos entendem que não devemos importar-nos com as mistificações, pois a verdade acaba prevalecendo. Kardec toca o nó da questão ao advertir que estes embustes entravam a marcha do Espiritismo e prejudicam a atividade dos médiuns, perturbando-lhes o discernimento necessário ao cumprimento de suas missões. Grande número de criaturas sofrem a desorientação proveniente das confusões semeadas no campo doutrinário e muitas chegam mesmo a perder oportunidades de uma encarnação ardentemente solicitada na vida espiritual. Dever dos espíritas, portanto, é combater as mistificações e desmascarar os Espíritos embusteiros, assegurando o progresso normal da doutrina que eles se empenham em ridicularizar com suas teorias absurdas. Esse é o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, em que os inimigos não são os Espíritos nem as pessoas por eles fascinadas, todos dignos do nosso amor, mas os erros semeados entre as criaturas ingênuas. (N. do T.)
[11] "Lês grands centres", como está no original, ou os Centros importantes, como diríamos em português, são as instituições responsáveis, pouco importando o seu tamanho ou número de adeptos. Para se compreender a razão dessa espécie de privilégio (ao menos aparente) confronte-se este item com os de n° 19 e 20. A justiça espírita é aplicada segundo os méritos reais de pessoas e instituições, visando sempre ao bem geral. (N. do T.)
[12] Passa-se exatamente como entre os encarnados: o trapaceiro só consegue êxito com as pessoas que lhe dão ouvidos. Daí o ensino evangélico de vigiar e orar. Na mediunidade esse ensino se aplica como verdadeira lei. O médium que não vigiar a si mesmo e não souber manter-se em oração está sujeito a todos os enganos. Mas cada engano será para ele uma lição, como é para os homens enganados por outros. (N. do T.)
[13] Todos temos as nossas manias e as nossas pretensões. Os Espíritos zombeteiros ou mistificadores, por simples diversão ou maldade se aproveitam delas, dizendo coisas que estão de acordo com essas fraquezas do nosso caráter. Com isso nos agradam e nos dominam. (N. do T.)
[14] A vaidade anula a inteligência e a instrução. A humildade supre através da vaidade que os mistificadores dominam os mais inteligentes e instruídos. Podemos ver isso ao nosso redor, e nos espantamos de que certas pessoas se deixem levar por mistificações evidentes. Os itens 25 e 26 esclarecem bem esse problema. Devemos meditar sobre esses itens. (N. do T.)