Nosso lar: o estudo
Coloquei a palavra
“prefácios” a fim de sinalizar que neste
livro, de acordo com as palavras de Emmanuel:
“Os prefácios, em geral,
apresentam autores, exaltando-lhes o mérito e comentando-lhes a personalidade.
Aqui, porém, a
situação é diferente.
Embalde os
companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da
convenção.
Por vezes, o anonimato
é filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor. Para redimirmos o
passado escabroso, modificam-se tabelas da nomenclatura usual na reencarnação.
Funciona o esquecimento temporário como bênção da Divina Misericórdia.
André precisou,
igualmente, cerrar a cortina sobre si mesmo.
É por isso que não
podemos apresentar o médico terrestre e autor humano, mas sim o novo amigo e
irmão na eternidade.
Por trazer valiosas
impressões aos companheiros do mundo, necessitou despojar-se de todas as convenções,
inclusive a do próprio nome, para não ferir corações amados, envolvidos ainda
nos velhos mantos da ilusão. Os que colhem as espigas maduras, não devem
ofender os que plantam a distância, nem perturbar a lavoura verde, ainda em
flor.”
Vou aproveitar estas
palavras para pontuar o pequeno ensinamento contido nesta passagem (pelo menos,
é o que acredito existir em virtude da maioria das leituras realizadas por mim:
aprendi que tem sempre algo mais a ser informado do que está escrito ou pode
ser visto).
Neste trecho, há a
demonstração da humildade necessária para abrirmos mão de nós mesmos em prol do
amor sublime e bem de todos. O decodificador, através de um simples comentário,
apresenta-nos o que a maioria do que nós fazemos: não só “exaltamos” o outro;
mas, principalmente, a nós mesmos.
Na realidade, elevamo-nos muito mais do que os outros. É sempre o eu, eu, eu,
eu...
Será que poderíamos
identificar, nesta, a seguinte bem aventurança do capítulo XIII: que a vossa
mão esquerda não saiba o que dá a vossa mão direita; ou ainda, a do capítulo
VII: no tema “Todo aquele que se eleva será rebaixado”; ou mais ainda do
capítulo X: no tema “O sacrifício mais agradável a Deus”?
O conhecimento a ser
adquirido ao apreender as informações contidas nestas palavras é:
“Reconhecemos que
este livro não é único. Outras entidades já comentaram as condições da vida,
além-túmulo...
Entretanto, de há
muito desejamos trazer ao nosso círculo espiritual alguém que possa transmitir
a outrem o valor da experiência própria, com todos os detalhes possíveis à
legítima compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados
laboriosos e bem-intencionados, nas esferas invisíveis ao olhar humano, embora
intimamente ligadas ao planeta.”
Aqui, o decodificador
assinala que sempre, sempre, mais sempre, o plano espiritual nos chama, nos
orienta... sempre; traz diversas formas de esclarecimento, ou seja, há sempre
um mecanismo de comunicação entre os desencarnados e os encarnados; e, é
através dos acontecimentos narrados e vividos pelo irmão André Luiz, que há uma
forma de transmissão das informações precisas para a evolução dos encarnados. Apesar
disso, nem sempre isso se realizou conforme o desejado, já que as informações
transmitidas, ainda, não se efetuavam apresentando “o valor da experiência própria” tão necessária para a nossa
compreensão e vivência no planeta Terra, como este irmão apresenta neste livro.
Na passagem:
“Certamente que numerosos
amigos sorrirão ao contato de determinadas passagens das narrativas. O
inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos.
Quem não sorriria,
na Terra, anos atrás, quando se lhe falasse da aviação, da eletricidade, da
radiofonia?
A surpresa, a
perplexidade e a dúvida são de todos os aprendizes que ainda não passaram pela
lição. É mais que natural, é justíssimo. Não comentaríamos, desse modo,
qualquer impressão alheia. Todo leitor precisa analisar o que lê.”
Emmanuel elucida a
importância de verificarmos a veracidade das comunicações chegadas até nós.
Quando estudamos o
Livro dos Médiuns, Allan Kardec assinala e explica o motivo e como carecemos de
exercer este “pequeno” ato para o nosso próprio existir e bem estar quando
encarnado. Veja o capítulo XXIV – Da identidade dos espíritos.
A seguinte
enunciação de Emmanuel serve de reflexão:
“Reportamo-nos,
pois, tão somente ao objetivo essencial do trabalho. O Espiritismo ganha
expressão numérica. Milhares de criaturas interessam-se pelos seus trabalhos,
modalidades, experiências. Nesse campo imenso de novidades, todavia, não deve o
homem descurar de si mesmo.
Não basta investigar
fenômenos, aderir verbalmente, melhorar a estatística, doutrinar consciências
alheias, fazer proselitismo e conquistar favores da opinião, por mais
respeitável que seja, no plano físico. É indispensável cogitar do conhecimento
de nossos infinitos potenciais, aplicando-os, por nossa vez, nos serviços do
bem.”
Nesta elocução, o
nosso irmão nos apresenta não só a importância do estudo/conhecimento como
também para colocarmos em prática aquilo que, realmente, aprendemos.
Precisamos, atentar que o “colocarmos em prática” nem sempre é de acordo com o
que cada um de nós desejamos realizar ao nosso bel prazer; e, sim, conforme
aquilo verdadeiramente apreendido nas mensagens contidas e enviadas pelos
nossos irmãos desencarnados e muito mais esclarecidos e evoluídos que nós.
Precisamos, aprender a ser pobres de espírito, mansos e pacíficos,
misericordiosos e puros de coração; enfim, trabalhar por nós e pelo bem de
todos.
Ainda enfocando o
tema anterior e acrescentando mais esta passagem do prefácio:
“O homem terrestre não é um
deserdado. É filho de Deus, em trabalho construtivo, envergando a roupagem da
carne; aluno de escola
benemérita, onde precisa
aprender a elevar-se.
A luta humana é a
sua oportunidade, a sua ferramenta, o seu livro.
O intercâmbio com o
invisível é um movimento sagrado, em função restauradora do Cristianismo puro; que ninguém, todavia, se
descuide das necessidades próprias, no lugar que
ocupa pela vontade do Senhor.”
Nestas palavras, o
benfeitor assegura a respeito da nossa filiação com o Criador e a demonstração
do amor puro e verdadeiro Dele para conosco, auxiliando-nos através da
reencarnação a fim de modificarmo-nos aprendendo a nos elevar.
Nenhum de nossos
irmãos desencarnados declara a facilidade do percurso pelo qual devemos seguir;
pelo contrário, sempre salientam a dificuldade da reforma íntima; contudo,
sempre, sustentam a ideia de que nunca estamos sós e de que precisamos
aproveitar o momento e a “ferramenta” (reencarnação) para prosseguir na nossa
jornada de evolução e serviço do bem.
As linhas a seguir têm
mais alguns esclarecimentos:
“André Luiz vem contar a
você, leitor amigo, que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar
face a face com a própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no
purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal; vem lembrar que a
Terra é oficina sagrada e
que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do terrível engano a que
submeteu o próprio coração.
Guarde a experiência
dele no livro d'alma. Ela diz bem alto que não basta à criatura apegar-se à
existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente; que os passos do
cristão, em qualquer escola religiosa, devem dirigir-se verdadeiramente ao
Cristo, e que, em nosso campo doutrinário, precisamos, em verdade, do
“Espiritismo” e do “Espiritualismo”, mas, muito mais, de “Espiritualidade”.”
Então o que podemos
extrair destas últimas palavras expostas pelo benfeitor?
Acredito que cada um
de nós possa ter um olhar diferenciado. É óbvio.
Eu, por minha vez,
percebo, mais uma vez, que, apesar de nunca estarmos sós, nossa evolução
depende das escolhas realizadas; e, quando voltamos para a pátria
verdadeiramente espiritual, carecemos de refletir, analisar o que conseguimos
realizar para o nosso progresso em prol do bem maior.
Depreendo que aquilo
que planto, é o que colho. E quando a desencarnação ocorre, careço de olhar no
meu próprio espelho, dando uma de Narciso, defrontando com defeitos e
qualidades que necessitam ser aprimoradas; e, na maioria das vezes, diferentes
oportunidades fornecidas foram perdidas. O que fazer então? Cada um tem a sua
resposta.
Em virtude disso, ao
adentrar no caminho da(o) leitura/estudo deste livro, precisamos não só ler e
estudar cada mensagem, cada parágrafo, cada frase, cada palavra; porém,
colocarmos em prática aquilo que assimilarmos para nosso próprio bem e de todos
a nossa volta.
A mensagem de André
Luiz no prefácio diz-nos:
“A vida não cessa. A
vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.”
O que ele quer nos
dizer com isso?
Ratificar-nos da
existência da vida. Que a morte propriamente dita só é fantasia.
Nossa! Que choque!
Tudo que apreendemos durante a nossa vida corporal é mentira?!
Pois é, infelizmente
a maioria de nós; aliás, nós, também, por muito tempo, - diversas e diversas
encarnações - pensávamos desta forma. O importante, neste momento, é termos a
certeza de que: “A vida não cessa. A vida
é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.”
Prosseguindo com o estudo,
pode-se perceber a confirmação da encarnação e da desencarnação nas seguintes
mensagens de nosso irmão André Luiz:
“O grande rio tem
seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-lhe a expressão, a alma percorre
igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de
conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade,
antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria.”
Além delas, ele
afirma que mesmo realizando esta viagem de ida e de volta, nada, mas nada fica
estacionado, nada retrocede, sempre há evolução, sempre há aprimoramento,
sempre há conhecimento, sempre há crescimento: é o objetivo de todo ser
espiritual.
O que se pode
analisar nas linhas a seguir?:
“Cerrar os olhos carnais
constitui operação demasiadamente simples.
Permutar a roupagem
física não decide o problema fundamental da iluminação, como a troca de
vestidos nada tem que ver com as soluções profundas do destino e do ser.
Oh! Caminhos das
almas, misteriosos caminhos do coração! É mister percorrer-vos, antes de tentar
a suprema equação da Vida Eterna! É indispensável viver o vosso drama,
conhecer-vos detalhe a detalhe, no longo processo do aperfeiçoamento
espiritual!...
Seria extremamente
infantil a crença de que o simples "baixar do pano" resolvesse
transcendentes questões do Infinito.”
“Cerrar os olhos” = morrer
Mais uma vez, o
irmão assevera o tema encarnação x desencarnação, ou melhor, encarnação + desencarnação.
Sim, é soma. Por quê? Porque precisamos da “roupagem
física” para nos iluminarmos e precisamos retornar a morada espiritual a
fim de somar, subtrair, dividir, somar; enfim, reavaliar a todo e a cada
momento como melhor prosseguir ao bem para “aperfeiçoamento
espiritual”.
Na passagem a
seguir, André nos evoca a refletir a respeito do tempo que perdemos quando
teimamos a NÃO tentarmos nos modificar:
“Uma existência é um ato.
Um corpo – uma
veste.
Um século – um dia.
Um serviço – uma
experiência.
Um triunfo – uma
aquisição.
Uma morte – um sopro
renovador.
Quantas existências,
quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas
mortes necessitamos ainda?”
Muitos de nós
pensamos e ficamos a esperar o milagre que irá modificar as nossas vidas e não
conseguimos verificar que SÓ depende unicamente de NÓS a mudança renovadora de
evolução de paz e amor em nós mesmos.
Precisamos para de
olhar para o nosso próprio umbigo e arregaçarmos nossas mangas a fim de
galgarmos os degraus do crescimento de nós mesmos e parar de nos prejudicar
cada vez mais.
O irmão, no trecho
abaixo, diz:
“E o letrado em
filosofia religiosa fala de deliberações finais e posições definitivas!
Ai! Por toda parte,
os cultos em doutrina e os analfabetos do espírito!
É preciso muito
esforço do homem para ingressar na academia do Evangelho do Cristo, ingresso
que se verifica, quase sempre, de estranha maneira ele só, na companhia do
Mestre, efetuando o curso difícil, recebendo lições sem cátedras visíveis e
ouvindo vastas dissertações sem palavras articuladas.
Muito longa,
portanto, nossa jornada laboriosa.
Nosso esforço pobre
quer traduzir apenas uma ideia dessa verdade fundamental.”
Mais uma vez, ele
apresenta a necessidade de nós nos esforçarmos para conseguir fazer parte da
caravana de amor de Jesus. Não basta ficarmos estudando e ouvindo. É preciso
trabalhar, batalhar a fim de tentar não errar mais, sofrer mais, enganar-nos
mais e mais. É preciso mudar a nós mesmos para o bem de nós mesmos.
Ninguém está dizendo
que será fácil ou difícil, só está pontuando a necessidade de prosseguirmos em
nossa jornada através de nosso aprimoramento com estudo, força e muito, mais
muito trabalho, mesmo que contrário aos nossos mais ínfimos desejos diverso
daquele necessário e melhor para nós.
Carecemos de deixar
nossa preguiça, nossa vaidade, nosso egoísmo, nosso comodismo de lado e
começarmos a vivenciar a palavra divina de mente e coração abertos.
É claro que o labor
será árduo, mas cada um de nós precisa levantar a bandeira do amor universal
através da construção íntima de renovação mesma que seja penosa, longa,
íngreme.
O abnegado amigo, no
final traz, enfim, a seguinte mensagem:
“Grato, pois, meus amigos!
Manifestamo-nos, junto
a vós outros, no anonimato que obedece à caridade fraternal. A existência
humana apresenta grande maioria de vasos frágeis, que não podem conter ainda
toda a verdade. Aliás, não nos interessaria, agora, senão a experiência
profunda, com os seus valores coletivos. Não atormentaremos alguém com a ideia
da eternidade. Que os vasos se fortaleçam, em primeiro lugar.
Forneceremos,
somente, algumas ligeiras notícias ao espírito sequioso dos nossos irmãos na
senda de realização espiritual, e que compreendem conosco que “o espírito sopra
onde quer”.
E, agora, amigos,
que meus agradecimentos se calem no papel, recolhendo-se ao grande silêncio da
simpatia e da gratidão. Atração e reconhecimento, amor e júbilo moram na alma.
Crede que guardarei semelhantes valores comigo, a vosso respeito, no santuário
do coração.
Que o Senhor nos
abençoe.”
No término desta
missiva, pode-se perceber a confirmação do anonimato de André indicado na de
Emmanuel, além do reconhecimento das fragilidades dos encarnados no que tange o
caminho da evolução de si próprios.
Ademais, ratifica e
traz não só notícias a respeito da existência além túmulo como também a
respeito do respeito do livre arbítrio de cada um de nós.
Em determinado
momento do estudo algumas obras foram mencionadas, tal como o capítulo XXIV do Livro
dos Médiuns; em virtude disso, foi proposto uma leitura destas indicações para
melhor esclarecimento.
Além disso, convém
abordar uma posição nossa a respeito das obras de André Luiz ser
"fantasiosas" ou não.
Como se pode
identificar a veracidade das comunicações?
Antes de cada um se
preocupar com a fidedignidade das obras desse espírito, convém, como os
próprios espíritos elucidam no Livro dos Médiuns, constatar a aprendizagem
contida nas palavras escritas dos livros deles.
Corresponde realizar
uma aprendizagem com estas informações e associá-las a codificação, reunindo
conteúdos da decodificação ou com outros livros tão esclarecedores como foram
citados por alguns irmãos, também.
De outro modo, a
maioria das pessoas reclama que não consegue entender as mensagens contidas na
codificação, que dirá no livro dos médiuns; porém, muitas dessas palavras
escritas são de fácil assimilação. Veja logo no início do capítulo no item 255:
“255. A questão da identidade dos Espíritos é
uma das mais controvertidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo. Porque os
Espíritos de fato não trazem nenhum documento de identificação e sabe-se com
que facilidade alguns deles usam nomes emprestados. Esta é, portanto, depois
obsessão, uma das maiores dificuldades da prática espírita. Mas em muitos casos
a questão da identidade absoluta é secundária e desprovida de importância real.
A mais difícil de se
constatar é a identidade de personagens antigas, que muitas vezes se torna
mesmo impossível, reduzindo-se uma possibilidade de apreciação puramente
intelectual. Julgamos Espíritos, como os homens, pela linguagem. Se um Espírito
se apresenta, por exemplo, com o nome de Fénelon, dizendo trivialidades
puerilidades, é evidente que não pode ser ele. Mas se as coisas que diz são
dignas do caráter de Fénelon e não o contradizem, temos um prova, senão
material, pelos menos de grande possibilidade moral que seja ele. É sobretudo
nesses casos que a identidade real se torna uma questão secundária: desde que o
Espírito só diz boas coisa pouco importa o nome que esteja usando.
Há sem dúvida a
objeção de que um Espírito que tomasse nome suposto, mesmo que só para o bem,
não deixaria de cometer uma fraude e por isso não poderia ser bom. É neste
ponto que surge questões delicadas, difíceis de se compreender, e que vamos
tentar desenvolver”
Devido a isso, com
esta associação Nosso Lar x Livro dos Médiuns, possivelmente, o ser humano ao
ler ou estudar a codificação kardecista consegue entender as mensagens e
esclarecimentos contidos nas obras espíritas a fim de utilizá-los no seu
caminhar em direção a evolução espiritual.
Outra passagem do
Livro dos Médiuns de fácil compreensão e que está concernente a abordagem
realizada nos prefácios do Nosso Lar é:
“256. À medida que os Espíritos se purificam
e se elevam na hierarquia, as características distintivas de sua personalidade
desaparecem de certa maneira, na uniformidade da perfeição, mas nem por isso os
deixam de conservar a sua individualidade. É o que se verifica com os Espíritos
superiores e os Espíritos puros. Nessa posição, nome que tiveram na Terra, numa
das mil existências corporais efêmeras por que passaram, nada mais significa.
Notemos ainda que os Espíritos se atraem mutuamente pela semelhança de suas
qualidades, constituindo grupos ou famílias simpáticas. Se considerarmos, por
outro lado, o número imenso de Espíritos que, desde a origem dos tempos, devem
haver atingido os planos mais elevados, e se compararmos ao número tão restrito
de homens que deixaram na Terra um grande nome, compreenderemos que entre os
Espíritos superiores que podem comunicar-se a maioria não deve ter nomes para
nós. Mas, como precisamos de nomes para fixar as nossas ideias, eles podem
tomar o de um personagem conhecido, cuja natureza mais se identifique com a
deles. É assim que o nossos anjos guardiões se fazem conhecer, na maioria das
vezes, pelo nome de um santo que veneramos, escolhendo geralmente o do santo de
nossa preferência. Dessa maneira, se o anjo guardião de uma pessoa dá o nome de
São Pedro, por exemplo, não há nenhuma prova material de tratar-se do apóstolo.
Tanto pode ser ele como um Espírito inteiramente desconhecido, pertencente à
família de Espíritos a que São Pedro pertence. Acontece ainda que, seja qual
for o nome pelo qual se invoque o anjo guardião, ele atenderá ao chamado porque
é atraído pelo pensamento e o nome lhe é indiferente.[1]
O mesmo se verifica
todas as vezes que um Espírito superior se comunica usando o nome de um
personagem conhecido. Nada prova que seja precisamente o Espírito desse
personagem. Mas se ele nada diz, no seu ditado espontâneo, que desminta a
elevação espiritual do nome citado, existe a presunção de que seja ele. E em
todos esses casos se pode dizer que, se não é ele, deve ser um Espírito do
mesmo grau ou talvez mesmo um seu enviado. Em resumo: a questão do nome é
secundária, podendo-se considerar o nome como simples indício do lugar que o
Espírito ocupa na Escala Espírita. (Ver o n° 100 de O Livro dos Espíritos.)
A situação é outra
quando um Espírito de ordem inferior se enfeita com um nome respeitável para se
fazer acreditar. E esse caso é tão comum que não seria demais manter-se em
guarda contra esses embustes. Porque é graças a nomes emprestados, e sobretudo
com a ajuda da fascinação, que certos Espíritos sistemáticos, mais orgulhosos
do que sábios, procuram impingir as ideias mais ridículas[2].
Assim a questão da
identidade, como dissemos, é mais ou menos indiferente quando se trata de instruções
gerais, desde que os Espíritos mais elevados podem substituir-se mutuamente sem
que isso acarrete consequências. Os Espíritos superiores constituem, por assim
dizer, uma coletividade, cujas individualidades nos são, com poucas exceções,
completamente desconhecidas. O que nos interessa não são as pessoas, mas o
ensino. Ora, se o ensino é bom, pouco importa que venha de Pedro ou de Paulo.
Devemos julgá-lo pela qualidade e não pelo nome. Se um vinho é mau, não é a
etiqueta que o faz melhor. Mas já é diferente nas comunicações íntimas, porque
então é o indivíduo, ou sua pessoa mesma que nos interessa. É, pois com razão
que, nessa circunstância, se procure assegurar de que o Espírito manifestante é
realmente o que se deseja.”
257. A identidade é
muito mais fácil de constatar quando se trata de Espíritos contemporâneos,
cujos hábitos e caráter são conhecidos. Porque são precisamente esses hábitos,
de que ainda não tiveram tempo de se livrar, que nos permitem reconhecê-los. E
digamos logo que são eles um dos sinais mais certos de identidade.[3]
O Espírito pode, sem
dúvida, dar suas provas através das perguntas que lhe fazem, mas isso quando
lhe convém. Em geral o pedido nesse sentido o magoa, pelo que devemos evitar
fazê-lo. Deixando o corpo o Espírito não se despoja da sua suscetibilidade.
Toda pergunta para pô-lo à prova o aborrece.
Há perguntas que
ninguém lhe faria em vida, com medo de faltar
ás conveniências. Porque tratá-lo com menos consideração após a morte? Se um
homem se apresenta num salão declinando o seu nome, irá alguém lhe pedir
documentos à queima-roupa, sob o pretexto de que há impostores? Esse homem
teria o direito de lembrar ao interrogante as regras de civilidade. É o que
fazem os Espíritos que não respondem ou que se retiram. Tomemos um exemplo,
para comparação. Suponhamos que o astrônomo Arago, quando vivo, se apresentasse
numa casa em que não o conheciam e fosse recebido assim: "Dizeis que sois Arago, mas como não
vos conhecemos, desejamos que o proveis respondendo às nossas perguntas:
resolvei este problema de astronomia; dai-nos o vosso nome, prenome e os de
vossos filhos; dizei o que fazeis em tal dia, a tal hora etc." O
que ele responderia? Pois bem, como Espírito fará o que faria quando vivo, e os
outros Espíritos farão o mesmo.
258. Recusando-se a
responder perguntas pueris e absurdas que não lhes fariam quando vivos, os
Espíritos, entretanto, frequentemente dão provas espontâneas e irrecusáveis de
sua identidade. Isso pela revelação do próprio caráter através da linguagem,
pelo emprego de expressões que lhes eram familiares, pela referência a alguns
fatos significativos e de particularidades de sua vida, às vezes desconhecidas
dos assistentes, cuja veracidade se pode verificar. As provas de identidade
ressaltam ainda de muitas circunstâncias imprevistas que nem sempre surgem no
primeiro momento mas na sequência das manifestações. É conveniente, pois, esperá-las
ao invés de provocá-las, observando-se cuidadosamente todas as que possam
provir da natureza das comunicações. (Ver o caso relatado no n° 70)
259. Um meio às
vezes usado com sucesso para assegurar a identidade, quando o Espírito se torna
suspeito, é o de fazê-lo afirmar em nome de Deus todo-poderoso que é ele mesmo.
Acontece muitas vezes que o usurpador recua diante do sacrilégio. Depois de haver
começado a escrever: Afirmo em nome de... pára e risca encolerizado traços sem
significação ou quebra o lápis. Sendo mais hipócrita, contorna o problema
através de uma omissão, escrevendo, por exemplo: Eu vos certifico que digo a
verdade; ou ainda: Atesto, em nome de Deus, que sou eu mesmo quem vos falo etc.
Mas há os que não são assim escrupulosos e juram por tudo o que se quiser. Um
deles se comunicava com um médium dizendo-se o próprio Deus, e o médium, muito
honrado com tão elevada graça, não hesitou em acreditar. Evocado por nós, não
ousou sustentar a impostura e disse: Eu não sou Deus, mas sou seu filho. - Então sois Jesus? Isso não é
provável porque Jesus está muito elevado para empregar subterfúgios. Ousais
afirmar, em nome de Deus, que és o Cristo? - Eu não disse que sou Jesus, disse
que sou filho de Deus porque sou uma das suas criaturas. Deve-se concluir disso
que a recusa de um Espírito em afirmar a sua identidade em nome de Deus é
sempre uma prova de que usa de impostura, mas que a afirmação nos dá apenas a
presunção e não a prova da identidade.
260. Pode-se também
colocar entre as provas de identidade a semelhança de caligrafia e de
assinatura. Mas além de não ser dado a todos os médiuns obter esse resultado,
ele nem sempre representa uma garantia suficiente. Há falsários no mundo dos
Espíritos, como no nosso. Essa semelhança não representa mais do que uma
presunção de identidade, que só adquire valor dentro das circunstâncias em que
se produziu. O mesmo se dá com todos os sinais materiais que alguns dão como
talismãs inimitáveis pelos Espíritos mentirosos. Para aqueles que ousam
perjurar em nome de Deus ou imitar uma assinatura, nenhum signo material pode
representar obstáculo maior. A melhor de todas as provas de identidade está na
linguagem e nas circunstâncias imprevistas.
261. Certamente se
dirá que se um Espírito pode imitar uma assinatura, pode também imitar a
linguagem. É verdade. Temos visto os que tomam afrontosamente o nome do Cristo
e para melhor enganar imitam o estilo evangélico excedendo-se nas expressões
mais conhecidas: Em verdade, em verdade vos digo. Mas quando se estuda o texto
sem se deixar influenciar, perscrutando o fundo dos pensamentos e o alcance das
expressões, vendo-se ao lado das belas máximas de caridade recomendações pueris
e ridículas, seria preciso que se estivesse fascinado para se enganar. Sim,
certos aspectos formais da linguagem podem ser imitados, mas não o pensamento.
A ignorância jamais imitará o verdadeiro saber, como jamais o vício imitará a
verdadeira virtude. Sempre aparecerá de algum lado a ponta da orelha. É então
que o médium e o evocador devem usar de toda a sua perspicácia e raciocínio
para separar a verdade da mentira. Devem persuadir-se de que os Espíritos
perversos são capazes de todas as trapaças e de que, quanto mais elevado for o
nome usado, mais desconfiança deve provocar. Quantos médiuns têm recebido
comunicações apócrifas assinadas por Jesus, Maria ou algum santo venerado[4]!
O item 256 faz
referência a questão do Livro dos Espíritos
Escala Espírita
100. Observações
preliminares. — A classificação dos Espíritos está baseada no grau de
adiantamento deles, nas qualidades que adquiriram e nas imperfeições de que
ainda têm que se despojar. Esta classificação, aliás, nada tem de absoluta;
cada categoria, apenas no seu conjunto, apresenta um caráter distinto; porém,
de um grau a outro, a transição é insensível e, nos limites, o matiz se apaga como
nos reinos da Natureza, como nas cores do arco-íris, ou ainda, como nos diferentes
períodos da vida do homem. Portanto, pode ser formulado um maior ou menor
número de classes, segundo o ponto de vista sob o qual se considere a coisa.
Ocorre, com este, o mesmo que com todos os sistemas de classificações científicas;
estes sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais
ou menos cômodos para a inteligência. Porém, sejam quais forem, nada mudam na
base da Ciência. Os Espíritos, interrogados sobre esse ponto, podem, portanto,
ter divergido, quanto ao número das categorias, sem que isso tenha importância.
Armaram-se com esta contradição aparente, sem refletir que eles nenhuma
importância dão ao que é puramente convencional; para eles o pensamento é tudo:
deixam para nós a forma, a escolha dos termos, as classificações, numa palavra,
os sistemas.
Acrescentemos ainda
esta consideração, que não se deve jamais perder de vista: é que, entre os
Espíritos, assim como entre os homens, há os muito ignorantes e não seria
demais acautelar-se contra a tendência a crer que todos devem tudo saber, porque
são Espíritos. Qualquer classificação exige método, análise e o conhecimento
aprofundado do assunto. Ora, no mundo dos Espíritos, os que possuem
conhecimentos limitados são, como neste mundo, os ignorantes, incapazes de
apreender um conjunto, de formular um sistema; só imperfeitamente conhecem ou
compreendem qualquer classificação; para eles, todos os Espíritos que lhes são
superiores pertencem à primeira ordem, pois não podem apreciar os matizes de
saber, de capacidade e de moralidade que os distinguem, como entre nós, um
homem rude, com relação a homens civilizados. Mesmo aqueles que são capazes
disto, podem divergir quanto às particularidades, conforme sejam os seus pontos
de vista, principalmente, quando uma divisão nada tem de absoluta. Linée,
Jussieu, Tournefort, tiveram, cada um, o seu método, e a Botânica não mudou por
isso; é que eles não inventaram as plantas, nem suas características; observaram
as analogias, segundo as quais, formaram os grupos ou classes. Foi desta
maneira que procedemos; não inventamos os Espíritos, nem seus caracteres; vimos
e observamos, julgamo-los pelas suas palavras e seus atos, depois, os classificamos
pelas semelhanças, baseando-nos em dados que eles próprios nos forneceram.
Geralmente, os
Espíritos admitem três categorias principais ou três grandes divisões. Na
última, a que fica na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados
pela predominância da matéria sobre o Espírito e a propensão para o mal. Os da
segunda, caracterizam-se pela predominância do Espírito sobre a matéria e pelo
desejo do bem: são os bons Espíritos. A primeira, enfim, compreende os puros
Espíritos, os que atingiram o grau supremo de perfeição.
Esta divisão
parece-nos perfeitamente racional, apresentando características bem distintas;
só nos restava ressaltar, através de um número sufi ciente de subdivisões, os
principais matizes do conjunto; foi o que fizemos, com o concurso dos
Espíritos, cujas instruções benévolas jamais nos faltaram.
Com o auxílio desse
quadro, será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou de
inferioridade dos Espíritos com os quais possamos nos relacionar e, por
conseguinte, o grau de confiança e de estima que mereçam; é, de certo modo, a
chave da ciência espírita, pois só ele pode explicar anomalias que as
comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as desigualdades intelectuais e
morais dos Espíritos. Ressaltaremos, entretanto, que os Espíritos não
pertencem, definitivamente, a esta ou àquela classe; o progresso deles apenas
gradualmente se efetua e, com frequência, mais num sentido do que num outro;
podem reunir os caracteres de várias categorias, o que é fácil apreciar pela
linguagem deles e pelos seus atos.
COMO DISTINGUIR OS
ESPÍRITOS BONS E MAUS
262. Se a perfeita
identificação dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão secundária, sem
importância, não se dá o mesmo com a distinção entre os Espíritos bons e maus.
Sua individualidade pode ser-nos; indiferente, mas a sua qualidade jamais. Em
todas as comunicações instrutivas é sobre esse ponto que devemos concentrar
nossa atenção, pois só ele pode nos dar a medida da confiança que podemos ter
no Espírito manifestante, seja qual for o nome com que se apresente. O Espírito
que se manifesta é bom ou mau? A que grau da escala espírita pertence? Essa a
questão capital. (Ver Escala Espírita no item 100 de O Livro dos Espíritos).
263. Julgamos os
Espíritos, já o dissemos, pela linguagem, como julgamos os homens. Suponhamos
que um homem receba vinte cartas de pessoas que não conhece. Pelo estilo, pelas
ideias, por numerosos indícios julgará quais são as instruídas e quais as
ignorantes, educadas ou sem educação, profundas, frívolas, orgulhosas, sérias,
levianas, sentimentais etc. Acontece o mesmo com os Espíritos. Devem
considerá-los como correspondentes que nunca vimos e perguntar o que
pensaríamos da cultura e do caráter de um homem que dissesse ou escrevesse
aquelas coisas. Podemos tomar como regra invariável e sem exceção que a
linguagem dos Espíritos corresponde sempre ao seu grau de elevação. Os
Espíritos realmente superiores não se limitam apenas a dizer boas coisas, mas
as dizem em termos que excluem absolutamente qualquer trivialidade. Por
melhores que sejam essas coisas, se forem manchadas por única expressão de
baixeza temos um sinal indubitável de inferioridade. E com mais forte razão se
o conjunto da comunicação ferir as conveniências por sua grosseria. A linguagem
revela sempre a sua origem, seja pelo pensamento ou pela forma. Assim, mesmo
que um Espírito quisesse enganar-nos com a sua pretensa superioridade, bastaria
conversarmos algum tempo com ele para o julgarmos.
264. A bondade e a
afabilidade são também atributos essenciais dos Espíritos depurados. Eles não
alimentam ódio nem para com os homens nem para com os demais Espíritos.
Lamentam as fraquezas e criticam os erros, mas sempre com moderação, sem
amarguras nem animosidades. Se admitirmos que os Espíritos verdadeiramente bons
só podem querer o bem e dizer boas coisas, concluiremos que tudo o que, na
linguagem dos Espíritos, denote falta de bondade e afabilidade não pode provir
de um Espírito bom.
265. A inteligência
está longe de ser um sinal seguro de superioridade, porque a inteligência e a
moral nem sempre andam juntas. Um Espírito pode ser bom, afável e ter
conhecimentos limitados, enquanto um Espírito inteligente e instruído pode ser
moralmente bastante inferio[5]r.
Geralmente se pensa
que interrogando o Espírito de um homem que foi sábio na Terra, em certa
especialidade, obtém-se a verdade com mais segurança. Isso é lógico, e não
obstante nem sempre é certo. A experiência demonstra que os sábios, tanto
quanto os outros homens, sobretudo os que deixaram a Terra há pouco, estão
ainda sob o domínio dos preconceitos da vida corpórea, não se livrando
imediatamente do espírito de sistema. Pode assim acontecer que, influenciados
pelas ideias que alimentaram em vida e que lhes deram a glória, vejam com menos
clareza do que supomos. Não damos este princípio como regra. Longe disso.
Advertimos apenas que isso acontece e que, por conseguinte, sua sabedoria
humana nem sempre é uma garantia de sua infalibilidade como Espíritos.
266. Submetendo-se
todas as comunicações a rigoroso exame, sondando e analisando suas ideias e
expressões, como se faz ao julgar uma obra literária e rejeitando sem hesitação
tudo o que for contrário à lógica e ao bom senso, tudo o que desmente o caráter
do Espírito que se pensa estar manifestando, consegue-se desencorajar os
Espíritos mistificadores que acabam por se afastar, desde que se convençam de
que não podem nos enganar. Repetimos que este é o único meio, mas é infalível
porque não existe comunicação má que resista a uma crítica rigorosa[6].
Os Espíritos bons jamais se ofendem, pois eles mesmos nos aconselham a proceder
assim e nada têm a temer do exame. Somente os maus se melindram e procuram
dissuadir-nos, porque têm tudo a perder. E por essa mesma atitude provam o que
são.
Eis o conselho dado
por São Luís a respeito:
"Por mais
legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes de vossos
trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter
sempre em mente ao vos entregardes aos estudos: a de pesar e analisar,
submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes;
a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro,
de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião".
267. Podemos resumir
os meios de reconhecer a qualidade dos Espíritos nos seguintes princípios:
1°) Não há outro
critério para se discernir o valor dos Espíritos senão o bom senso. Qualquer
fórmula dada pelos próprios Espíritos, com esse fim, é absurda e não pode
provir de Espíritos superiores.
2°) Julgamos os
Espíritos pela sua linguagem e as suas ações. As ações dos Espíritos são os
sentimentos que eles inspiram e os conselhos que dão.
3°) Admitido que os
Espíritos bons só podem dizer e fazer o bem, tudo o que é mau não pode provir
de um Espírito bom.
4°) A linguagem dos
Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de
trivialidade. Eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, nunca se vangloriam,
não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais. A
linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares é sempre algum reflexo das
paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, autossuficiência,
arrogância, fanfarronice, mordacidade é sinal característico de inferioridade.
E de mistificação, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e
venerado.
5°) Não devemos
julgar os Espíritos pelo aspecto formal e a correção do seu estilo, mas
sondar-lhes o íntimo, analisar suas palavras, pesá-las friamente, maduramente e
sem prevenção. Toda falta de lógica, de razão e de prudência não pode deixar
dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja o nome de que o Espírito se
enfeite. (Ver n° 224.)
6°) A linguagem dos
Espíritos elevados é sempre idêntica, se não quanto à forma, pelo menos quanto
à substância. As ideias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar.
Podem ser mais ou menos desenvolvidas segundo as circunstâncias, as
dificuldades ou a facilidade de se comunicar, mas não serão contraditórias. Se
duas comunicações com o mesmo nome se contradizem, uma das duas é evidentemente
apócrifa. A verdadeira será aquela em que nada desminta o caráter conhecido do
personagem. Entre duas comunicações assinadas, por exemplo, por São Vicente de
Paulo, uma pregando a união e a caridade e outra tendendo a semear a discórdia,
não há pessoa sensata que possa enganar-se.
7°) Os Espíritos
bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o
que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar com a
verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso
revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.
8°) Os Espíritos
levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se
referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos
bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for
útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma
época certa é indício de mistificação[7].
9°) Os Espíritos
superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é
conciso, sem excluir a poesia das ideias e das expressões, claro, inteligível a
todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer
muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos
inferiores ou pseudosábios escondem sob frases empoladas o vazio das ideias.
Sua linguagem é sempre pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de
parecer profunda.
10°) Os Espíritos
bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem
ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos
e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição.
São exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio
da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a
razão lhes tiraria a máscara.
11°) Os Espíritos
bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira
prudente. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade, embora
pregando a humildade, e procuram exaltar
a importância pessoal daqueles que desejam conquistar.
12°) Os Espíritos
superiores mantêm-se, em todas as
coisas, acima das puerilidades formais. Os Espíritos vulgares são os
únicos que podem dar importância a detalhes mesquinhos, incompatíveis com as
ideias verdadeiramente elevadas. Toda
prescrição meticulosa é sinal certo de inferioridade e mistificação de
parte de um Espírito que toma um nome pomposo.
13°) Devemos
desconfiar dos nomes bizarros e ridículos usados por certos Espíritos que
desejam impor-se à credulidade. Seria extremamente absurdo tomar esses nomes a
sério.
14°) Devemos
igualmente desconfiar dos Espíritos que se apresentam com muita facilidade
usando nomes bastante venerados, e só com; muita reserva aceitar o que dizem.
Nesses casos, sobretudo, é que um controle severo se torna indispensável.
Porque é frequentemente a máscara que usam para levar-nos a crer em pretensas
relações íntimas como Espíritos excelsos. Dessa maneira eles lisonjeiam a
vaidade do médium e se aproveitam dela para o induzirem a atos lamentáveis e
ridículos.
15°) Os Espíritos
bons são muito escrupulosos no tocante às providências que podem aconselhar. Em
todos os casos têm apenas em vista um
fim sério e eminentemente útil. Devemos pois encarar como suspeita todas
aquelas que não tenham esse caráter ou seja condenáveis pela razão, refletindo
maduramente antes de adotá-las, pois do contrário nos exporemos a mistificações
desagradáveis.
16°) Os Espíritos
bons são também reconhecíveis pela sua prudente reserva no tocante às coisas
que possam comprometer-nos. Repugna-lhes desvendar o mal. Os Espíritos levianos
ou malfazejos gostam de expô-lo. Enquanto os bons procuram abrandar os erros e
pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a discórdia por meio de
pérfidas insinuações.
17°) Os Espíritos
bons só ensinam o bem. Toda máxima, todo conselho que não for estritamente conforme a mais pura caridade
evangélica não pode provir de Espíritos bons.
18°) Os Espíritos bons
só dão conselhos perfeitamente racionais. Toda recomendação que se afaste da linha reta do bom senso ou das leis
imutáveis da Natureza acusa a presença de um Espírito estreito e
portanto pouco digno de confiança.
19°) Os Espíritos
maus ou simplesmente imperfeitos ainda se revelam por sinais materiais que a
ninguém poderão enganar. A ação que exercem sobre o médium é às vezes violenta,
provocando movimentos bruscos e sacudidos, uma agitação febril e convulsiva que
contrasta com a calma e a suavidade dos Espíritos bons.
20°) Os Espíritos
imperfeitos aproveitam-se frequentemente dos meios de comunicação de que
dispõem para dar maus conselhos. Excitam a desconfiança e a animosidade entre
os que lhes são antipáticos. Principalmente as pessoas que podem desmascarar a
sua impostura são visadas pela sua maldade. As criaturas fracas,
impressionáveis, tornam-se alvo do seu esforço para levá-las ao mal. Usam
sucessivamente os sofismas, os sarcasmos, as injúrias e até as provas materiais
do seu poder oculto para melhor convencê-las, empenhando-se em desviá-las do
caminho da verdade.
21°) Os Espíritos
dos que tiveram, na Terra, uma preocupação exclusiva, material ou moral, se
ainda não conseguiram libertar-se da influência da matéria continuam dominados
pelas ideias terrenas. Carregam parte dos preconceitos, das predileções e até mesmo das manias que tiveram
aqui. Isso é fácil de se reconhecer pela sua linguagem.
22°) Os
conhecimentos de que certos Espíritos muitas vezes se enfeitam, com uma espécie
de ostentação, não são nenhum sinal de superioridade. A verdadeira pedra de
toque para se verificar essa superioridade é a pureza inalterável dos
sentimentos morais.
23°) Não basta
interrogar um Espírito para se conhecer a verdade. Devemos, antes de tudo,
saber a quem nos dirigimos. Porque os Espíritos inferiores, pela sua própria
ignorância, tratam com leviandade as mais sérias questões. Também não basta que
um Espírito tenha sido na Terra um grande homem para possuir no mundo espírita
a soberana ciência. Só a virtude pode, purificando-o, aproximá-lo de Deus e
ampliar os seus conhecimentos.
24°) Os gracejos dos
Espíritos superiores são muitas vezes sutis e picantes, mas nunca banais. Entre
os Espíritos zombeteiros, mas que não são grosseiros, a sátira mordaz é feita
quase sempre muito a propósito.
25°) Estudando-se
com atenção o caráter dos Espíritos que se manifestam, sobretudo sob o aspecto
moral, reconhece-se a sua condição e o grau de confiança que devem merecer. O
bom senso não se enganará.
26°) Para julgar os
Espíritos, como para julgar os homens, é necessário antes saber julgar-se a si
mesmo. Há infelizmente gente que toma a sua própria opinião por medida
exclusiva do bem e do mal, do verdadeiro e do falso. Tudo o que contradiz a sua
maneira de ver, as ideias, o sistema que inventaram ou adotaram é mau aos seus
olhos. Falta a essas criaturas, evidentemente, a primeira condição para a reta
apreciação: a retidão do juízo. Mas elas nem percebem. Esse defeito que mais
enganos produz.[8]
Todas estas
instruções decorrem da experiência e do ensino dos Espíritos. Completamo-las
com as próprias respostas dadas por eles a respeito dos pontos mais
importantes.[9]
268. Perguntas sobre
a natureza e a identidade dos Espíritos:
1. Por qual sinais
podemos reconhecer a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos?
- Pela sua
linguagem, como distingues um estouvado de um homem sensato. Já dissemos que os
Espíritos superiores nunca se contradizem e só tratam de boas coisas. Só querem
o bem. Essa é a preocupação.
- Os Espíritos
inferiores estão dominados pelas ideias materiais. Suas manifestações se
ressentem da sua ignorância e da sua imperfeição. Só aos Espíritos superiores é
dado conhecer todas as coisas e julgá-las sem paixão.
2. O conhecimento
científico de um Espírito é sempre uma prova da sua elevação?
- Não, porque se
ainda estiver sob a influência da matéria pode ter os vossos vícios e
preconceitos. Há pessoas que são no vosso mundo excessivamente invejosas e
orgulhosas. Pensas que ao deixá-lo perdem esses defeitos? Resta-lhes, depois
que partem daí, principalmente as que alimentaram fortes paixões, uma espécie
de atmosfera que as envolve e conserva todas essas coisas más.
- Esses Espíritos
semi-imperfeitos são mais temíveis que os Espíritos maus, porque, na sua
maioria, juntam a astúcia e o orgulho à inteligência. Pelo seu pretenso saber
eles se impõem às pessoas simples e ignorantes, que aceitam sem exame as suas
teorias absurdas e mentirosas. Embora essas teorias não possam prevalecer
contra a verdade, não deixam de produzir um mal momentâneo porque entravam a
marcha do Espiritismo e porque os médiuns se enganam ingenuamente quanto ao
mérito das comunicações que recebem. Este o ponto que requer grande estudo de
parte dos espíritas esclarecidos e dos médiuns. Para distinguir o verdadeiro do
falso é que devemos convergir toda a nossa atenção.[10]
3. Muitos Espíritos
protetores se apresentam com nomes de santos ou de personagens conhecidos. O
que devemos pensar disso?
-Todos os nomes de
santos e de personagens conhecidos não bastariam para designar o protetor de
cada criatura. São poucos os Espíritos de nomes conhecidos na Terra. É por isso
que quase sempre não dão os seus nomes. Mas na maioria das vezes quereis um
nome. Então, para vos satisfazer eles usam o de um homem que conheceis e que
respeitais.
4. Esse empréstimo
de nome não pode ser considerado uma fraude?
- Seria fraude se
feito por um Espírito mau que desejasse enganar. Mas sendo para o bem, Deus
permite que se faça entre os Espíritos da mesma ordem, pois entre eles existe
solidariedade e similitude de pensamentos.
5. Assim, quando um
Espírito protetor se apresenta como São Paulo, por exemplo, não é certo que
seja o Espírito ou a alma do apóstolo desse nome?
- De maneira alguma,
pois se encontram milhares de pessoas às quais disseram que têm São Paulo como
anjo guardião, ou outro santo. Mas que importa, se o Espírito que vos protege é
da mesma elevação do apóstolo Paulo? Já vos disse: precisais de um nome e eles
se servem de um para que os chameis e os reconheçais. É como fazeis com os
nomes de batismo para vos distinguir dos demais membros da família. Eles podem
também tomar os nomes dos arcanjos Rafael, Miguel, etc., sem que isso traga
consequências.
- Aliás, quanto mais
um Espírito é elevado, mais se multiplica o seu poder de irradiação. Sabei que
um Espírito protetor de ordem superior pode tutelar centenas de encarnados.
Entre vós, na Terra, tendes os notários que se encarregam dos negócios de cem
ou duzentas famílias. Porque haveríamos de ser menos aptos, espiritualmente
falando, na direção moral dos homens, do que aqueles na direção material de
seus interesses?
6. Porque os
Espíritos comunicantes tomam com tanta frequência nomes de santos?
- Identificam-se com
os hábitos daqueles a quem se dirigem. Tomam os nomes mais aptos a melhor
impressionar o homem, de acordo com as crenças deste.
7. Certos Espíritos
superiores que se costumam evocar atendem sempre em pessoa? Ou, como pensam
alguns mandatários para transmitir o seu pensamento?
- Porque não
atenderiam em pessoa, se o podem? Mas se o Espírito não puder atender, em seu
nome falará forçosamente um mandatário.
8. O mandatário é
sempre suficientemente esclarecido para responder como o faria o próprio
Espírito?
- Os Espíritos
superiores sabem a quem confiam o encargo de os substituir. Aliás, quanto mais
elevados são os Espíritos, mais se harmonizam num pensamento comum, e tal
maneira que para eles a personalidade é diferente, como deve ser também para
vós. Pensais então que no mundo dos Espíritos superiores só existem aqueles que
conhecestes na Terra como capazes de vos instruir? Sois de tal modo levados a
vos tomar por tipos universais que acreditais nada haver além do vosso mundo.
Assemelhai-vos de fato aos selvagens que nunca saíram de sua ilha e pensam que
o mundo não vai além dela.
9. Compreendemos que
seja assim quando se trata de ensinamento sério. Mas como os Espíritos elevados
permitem a Espíritos de baixa classe usarem nomes respeitáveis para semear o
erro através de máximas muitas vezes perversas?
- Não é com a sua
permissão que o fazem. Isso não acontece também entre vós? Os que assim enganam
serão punidos, ficai certos disso, e a punição será proporcional à gravidade da
impostura. Aliás, se não fosseis imperfeitos só teríeis Espíritos bons ao vosso
redor. Se sois enganados, não o deveis senão a vós mesmos. Deus o permite para
provar a vossa perseverança e o vosso discernimento, para vos ensinar a
distinguir a verdade do erro. Se não o fazeis é porque não estais
suficientemente elevados e necessitais inda das lições da experiência.
10. Espíritos pouco
adiantados, mas animados de boas intenções e do desejo de progredir não são às
vezes incumbidos de substituir um Espírito superior para se exercitarem na
prática do ensino?
- Jamais nos Centros
importantes. Quero dizer nos Centros sérios e para um ensino de ordem geral[11].
Os que o fazem é por sua própria conta e, como dizem, para se exercitarem. É
por isso que as suas comunicações, embora boas, trazem sempre a marca da sua
inferioridade. Recebem essa incumbência apenas para as comunicações de segunda
importância e para as que podemos chamar de pessoais.
11. As comunicações
espíritas ridículas são às vezes entremeadas de boas máximas. Como resolver
essa anomalia, que parece indicar a presença simultânea de Espíritos bons e
maus?
- Os Espíritos maus
ou levianos se metem também a sentenciar, mas sem perceberem bem o alcance ou a
significação do que dizem. Todos os que o fazem entre vós são homens
superiores? Não, os Espíritos bons e maus não se misturam. É pela constante
uniformidade das boas comunicações que reconhecereis a presença dos Espíritos
bons.
12. Os Espíritos que
induzem ao erro estão sempre conscientes do que fazem?
- Não. Há Espíritos
bons, mas ignorantes; podem enganar-se de boa fé. Quando tomam consciência da
sua falta de capacidade eles a reconhecem e só dizem o que sabem.
13. Ao dar uma falsa
comunicação, o Espírito sempre o faz com má intenção?
- Não. Se for um
Espírito leviano apenas se diverte a mistificar, sem outra finalidade.
14. Desde que certos
Espíritos podem enganar pela linguagem, podem tomar também uma falsa aparência
para os médiuns videntes?
- Isso acontece, mas
é mais difícil. Em todos os casos isso somente se dá com uma finalidade que os
próprios Espíritos maus desconhecem, pois servem de instrumentos para uma
lição. O médium vidente pode ver os Espíritos levianos e mentirosos como os
outros médiuns podem ouvi-los ou escrever sob sua influência. Os Espíritos
levianos podem aproveitar-se da faculdade do médium para o enganar com uma
falsa aparência. Isso depende das qualidades do próprio Espírito do médium[12].
15. É suficiente a
boa intenção para não ser enganado, e nesse caso os homens realmente sérios,
que não mesclam de curiosidade leviana os seus estudos, também estariam
expostos à mistificação?
- Menos do que os
outros, evidentemente. Mas o homem tem sempre algumas esquisitices que atraem
os Espíritos zombeteiros. Julga-se forte e quase nunca o é. Deve desconfiar,
por isso mesmo, da fraqueza proveniente do orgulho e dos preconceitos. Não se
levam muito em conta essas duas causas de que os Espíritos se aproveitam, pois
agradando-lhes as manias estão seguros de conseguir o que desejam.[13]
16. Porque Deus
permite que os Espíritos maus se comuniquem e digam coisas más?
- Mesmo o que há de
pior traz um ensinamento. Cabe a vós saber tirá-lo. É necessário que haja comunicações
de toda espécie para vos ensinar a distinguir os Espíritos bons dos maus e para
que vos sirvam de espelho.
17. Os Espíritos
podem sugerir desconfianças injustas contra certas pessoas, por meio de
comunicações escritas, e separar amigos?
- Os Espíritos
perversos e invejosos podem praticar os males que os homens praticam. Eis
porque precisamos estar sempre em guarda. Os Espíritos superiores são sempre
prudentes e reservados quando censuram: nada dizem de mal, advertem com jeito.
Se quiserem que duas pessoas, no próprio interesse delas, deixem de ver-se,
provocarão incidentes que as separem de maneira natural. Uma linguagem que
semeia discórdia e desconfiança provém sempre de um Espírito mau, seja qual for
o nome de que se sirva. Assim, recebei sempre com reservas o que um Espírito
disser de mal contra outro, sobretudo quando um Espírito bom já vos disse o
contrário, e desconfiai também de vós mesmos, das vossas próprias aversões. Das
comunicações espíritas aceitai somente o que for bom, grande, belo, racional e
o que a vossa consciência aprove.
18. Pela facilidade
com que os Espíritos maus se infiltram nas comunicações, parece que nunca se
pode estar certo da verdade?
- Sim, podeis, desde
que tendes a razão para os julgar. Ao ler uma carta sabeis reconhecer muito bem
se foi um grosseirão ou um homem educado, um tolo ou um sábio que a escreveu.
Se recebeis uma carta de um amigo distante, o que vos prova que é dele? A
letra, direis. Mas não há farsantes que imitam todas as letras e tratantes que
podem conhecer os vossos negócios? Não obstante, há indícios que não vos
permitem enganar. O mesmo se dá com os Espíritos. Imaginai que é um amigo que
vos escreve ou que se trata da obra de um escritor. E julgai da mesma maneira.
19. Os Espíritos
superiores poderiam impedir os maus de tomarem nomes falsos?
- Certamente que o
podem. Mas, quanto piores são os Espíritos, mais teimosos são e frequentemente
resistem às injunções. Convém saber que há pessoas pelas quais os Espíritos
superiores se interessam mais do que por outras, e quando julgam necessário
sabem preservá-las da mentira. Contra essas pessoas os mistificadores são
impotentes.
20. Qual a razão
dessa parcialidade?
- Isso não é
parcialidade, é justiça. Os Espíritos bons se interessam pelos que aproveitam
os seus conselhos e se esforçam seriamente para melhorarem. São esses os seus
preferidos e os ajudam, mas pouco se importam com aqueles que os fazem perder o
seu tempo em belas palavras.
21. Porque Deus
permite aos Espíritos o sacrilégio de usarem falsamente nomes veneráveis?
- Poderíeis
perguntar também porque Deus permite aos homens mentir e blasfemar. Os
Espíritos, como os homens, têm o seu livre-arbítrio para o bem e para o mal,
mas nem uns nem outros escaparão à justiça de Deus.
22. Há fórmulas
eficazes para expulsar Espíritos mentirosos?
- Fórmula é matéria.
Vale mais um bom pensamento dirigido a Deus.
23. Certos Espíritos
disseram possuir sinais gráficos inimitáveis, espécies de selos pelos quais se
pode reconhecer e constatar a sua identidade. Isso é verdade?
- Os Espíritos
superiores só possuem como sinais de sua identidade a elevação de suas ideias e
de sua linguagem. Qualquer Espírito pode imitar um sinal material. Quanto aos
Espíritos inferiores, traem-se de tantas maneiras que só um cego se deixa enganar
por eles.
24. Os Espíritos
inferiores não podem imitar também o pensamento?
- Imitam o
pensamento como os cenários do teatro imitam a Natureza.
26. Há pessoas que
se deixam seduzir por uma linguagem enfática, que se contentam mais com
palavras do que com ideias, que chegam, mesmo a tomar ideias falsas e vulgares
por sublimes. Como essas pessoas, inaptas para julgar os homens, podem julgar
os Espíritos?
- Quando são
bastante modestas para reconhecer a sua insuficiência não se fiam em si mesmas.
Quando, por orgulho, se julgam mais capazes do que são, pagam pela sua tola
vaidade. Os Espíritos mistificadores sabem a quem se dirigem. Há pessoas
simples e pouco instruídas que são mais difíceis de enganar do que as espertas
e sabidas. Agradando o amor-próprio eles fazem dos homens o que querem.[14]
27. Ao escrever, os
Espíritos maus às vezes se traem por sinais materiais involuntários?
- Os habilidosos,
não. Os inábeis se atrapalham. Qualquer sinal inútil e pueril é indício certo
de inferioridade. Os Espíritos elevados não fazem nada inútil.
28. Muitos médiuns
reconhecem os Espíritos bons e maus pela sensação agradável ou penosa que
experimentam à sua aproximação. Perguntamos se a impressão desagradável, a
agitação convulsiva, ou mal-estar enfim, são sempre indícios da natureza má dos
Espíritos manifestantes.
- O médium
experimenta as sensações do estado em que se encontra o Espírito manifestante.
Quando o Espírito é feliz, seu estado é tranquilo, calmo; quando é infeliz, é
agitado, febril e essa agitação se transmite naturalmente ao sistema nervoso do
médium. Aliás, é assim. com o homem na Terra: aquele que é bom, mostra-se calmo
e tranquilo; aquele que é mau está sempre agitado.
OBSERVAÇÃO - Há
médiuns de maior ou menor impressionabilidade e; por isso não se pode
considerar a agitação como regra absoluta. Nisto, como em tudo, devemos levar
em conta as circunstâncias. A natureza penosa e desagradável da sensação é
produzida pelo contraste, pois se o Espírito do médium simpatizar com o
Espírito mau que se manifestar, será pouco ou nada afetado por este. Além
disso, é necessário não confundir a rapidez da escrita, produzida pela extrema
flexibilidade de certos médiuns, com a agitação convulsiva que os médiuns mais
lentos podem sofrer ao contato dos Espíritos imperfeitos.
[1]
Richet formulou
a hipótese do condicionamento a crença para explicar os casos de aparições de
santos, anjos, etc. Ricardo Musso (Argentina) explora essa hipótese, em seu
livro En los Limites de Ia Psicologia, para explicar as relações de
Espíritos protetores e familiares com médiuns e crentes no Espiritismo.
Como vemos acima, faltou a Richet, como falta hoje a Musso e aos seus
imitadores, um dado fundamental do problema. Rejeitando a existência do mundo
espiritual, não sabem como as coisas realmente se passam. O leitor deve atentar
para estas importantes explicações de Kardec, baseadas na experiência, na lógica
e nos ensinos dos Espíritos superiores. (N. do T.)
[2]
Encontramos na
bibliografia espírita numerosos casos dessa espécie, tendo alguns conseguido
infiltrar-se em respeitáveis setores da divulgação doutrinária, ocasionando
graves prejuízos à aceitação do Espiritismo por pessoas sensatas e ilustradas. A
fascinação foi tratada no n° 239 do cap. anterior. Como se vê ali, o Espírito
mistificador paralisa a capacidade de julgamento do médium. O mesmo se dá com
todas as pessoas que se deixam envolver. Essa a razão porque idéias absurdas e
ridículas se espalham no meio doutrinário, defendidas por pessoas cultas, às
vezes dedicadas ao movimento mas invigilantes e pouco atentas às advertências
deste livro. (N. do T.)
[3]
A identificação
dos Espíritos é feita através da personalidade do falecido. Dados diversos
podem ajudar essa identificação, mas são o seu caráter, os seus modos, os seus
hábitos, todo esse conjunto pessoal que nos prova a sua presença. Exigir a identificação
material é absurdo. Mas quando essa identificação é possível, como pelos sinais
digitais, pela forma do rosto ou das mãos impressas no gesso, ou mesmo pela
fotografia ou pela materialização do Espírito, ainda assim os negadores sistemáticos
não a aceitam. Kardec tem razão ao acentuar a importância da identificação pela
personalidade. (N. do T.)
[4]
Hoje há também
muito abuso com o próprio nome de Kardec. O remédio está bem indicado nesse
item 261, que deve ser lido com atenção e ponderado pelos que querem pegar
"a ponta da orelha". (N. do T.)
[5]
Atenção para a
advertência final de que isso não constitui regra. Certas pessoas entendem que
só devemos crer nos Espíritos ignorantes ou que se fazem passar por tal. Isso é
ir de um extremo ao outro. Os Espíritos realmente elevados são inteligentes e
bons, realizaram ao mesmo tempo a evolução intelectual e moral, como se
depreende da própria regra de identificação de sua elevação pela linguagem. (N.
do T.)
[6]
"Não existe
comunicação má que resista a uma crítica rigorosa". Esta confiança de
Kardec na análise racional das comunicações é acertada, mas depende do critério
seguro de quem analisa. Por isso mesmo é conveniente fazer a análise em conjunto
e recorrer, no caso de duvida, a outras pessoas de reconhecido bom senso. O
Espírito farsante pode influir sobre um indivíduo e sobre o grupo, o que tem
ocorrido com freqüência em virtude da vaidade, da pretensão ou do misticismo dominante.
Comunicações avulsas e até obras mediúnicas alentadas, evidentemente falsas,
têm sido publicadas, aceitas e até mesmo defendidas por grupos e instituições
diversas. (N. do T.)
[7]
As predições
apocalípticas, com datas certas, de acontecimentos próximos têm sido feitas por
espíritos pseudo-sábios nestes últimos anos. A linguagem dessas previsões seria
suficiente para mostrar a falsidade das comunicações. Muitas outras ainda serão
feitas, pois há sempre quem as aceite. O estudo atento deste resumo prevenirá
as pessoas prudentes contra esses embustes, hoje tão numerosos e que pelo seu
ridículo afastam muita gente das luzes da doutrina. (N. do T.)
[8]
A afirmação de
Kardec no n°. 25: "O bom senso não se enganará" se refere, como
vemos, às pessoas dotadas de bom senso. Neste n° 26 ele nos adverte quanto ao
perigo das pessoas que não possuem "a retidão do juízo". Por isso
devemos recorrer com humildade ao juízo dos outros, não nos fechando
orgulhosamente em nossas opiniões. (N. do T.)
[9]
O próprio Kardec
nos dá o exemplo do que ensina: completa as suas instruções com as respostas
textuais dos Espíritos às suas consultas. Este é um exemplo vivo de como foi
escrita a Codificação. Às suas experiências pessoais, aos resultados sensato de
suas observações, Kardec junta a opinião esclarecida dos Espíritos superiores.
(N. do T.)
[10]
Muitos entendem
que não devemos importar-nos com as mistificações, pois a verdade acaba
prevalecendo. Kardec toca o nó da questão ao advertir que estes embustes
entravam a marcha do Espiritismo e prejudicam a atividade dos médiuns, perturbando-lhes
o discernimento necessário ao cumprimento de suas missões. Grande número de
criaturas sofrem a desorientação proveniente das confusões semeadas no campo
doutrinário e muitas chegam mesmo a perder oportunidades de uma encarnação
ardentemente solicitada na vida espiritual. Dever dos espíritas, portanto, é
combater as mistificações e desmascarar os Espíritos embusteiros, assegurando o
progresso normal da doutrina que eles se empenham em ridicularizar com suas
teorias absurdas. Esse é o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, em que
os inimigos não são os Espíritos nem as pessoas por eles fascinadas, todos
dignos do nosso amor, mas os erros semeados entre as criaturas ingênuas. (N. do
T.)
[11]
"Lês
grands centres",
como está no original, ou os Centros importantes, como diríamos em português,
são as instituições responsáveis, pouco importando o seu tamanho ou número de
adeptos. Para se compreender a razão dessa espécie de privilégio (ao menos
aparente) confronte-se este item com os de n° 19 e 20. A justiça espírita é
aplicada segundo os méritos reais de pessoas e instituições, visando sempre ao
bem geral. (N. do T.)
[12]
Passa-se
exatamente como entre os encarnados: o trapaceiro só consegue êxito com as
pessoas que lhe dão ouvidos. Daí o ensino evangélico de vigiar e orar. Na
mediunidade esse ensino se aplica como verdadeira lei. O médium que não vigiar a
si mesmo e não souber manter-se em oração está sujeito a todos os enganos. Mas
cada engano será para ele uma lição, como é para os homens enganados por
outros. (N. do T.)
[13]
Todos temos as
nossas manias e as nossas pretensões. Os Espíritos zombeteiros ou
mistificadores, por simples diversão ou maldade se aproveitam delas, dizendo
coisas que estão de acordo com essas fraquezas do nosso caráter. Com isso nos agradam
e nos dominam. (N. do T.)
[14]
A vaidade anula
a inteligência e a instrução. A humildade supre através da vaidade que os
mistificadores dominam os mais inteligentes e instruídos. Podemos ver isso ao
nosso redor, e nos espantamos de que certas pessoas se deixem levar por mistificações
evidentes. Os itens 25 e 26 esclarecem bem esse problema. Devemos meditar sobre
esses itens. (N. do T.)
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