quinta-feira, 2 de março de 2017

Nosso lar: o estudo


Nas zonas inferiores



O estudo do capítulo 1 tem como informações gerais:
1) Personagem: André Luiz
2) Resumo geral: André Luiz reflete a respeito de sua situação e o local onde se encontrava após o desencarne*

Nos três primeiros parágrafos, André Luís começa relatando as suas primeiras impressões após a sua “morte”:

Eu guardava a impressão de haver perdido a ideia de tempo. A noção de espaço esvaíra-se-me de há muito.
Estava convicto de não mais pertencer ao número dos encarnados no mundo e, no entanto, meus pulmões respiravam a longos haustos.
Desde quando me tornara joguete de forças irresistíveis? Impossível esclarecer.”

A leitura e o estudo da decodificação dos livros espíritas têm ensinado que os espíritos são imortais e que, sempre é dado à oportunidade de se ressarcir débitos através da reencarnação. Pois bem! Entre uma encarnação e outra, todos passam por processos de adequação a situação vivida a cada momento de suas vidas seja como encarnado ou como desencarnado.
Como encarnado: o momento da infância; desencarnado: momento de ruptura com a “carne”.
Quantos espíritos ao mudar de um estágio a outro (encarnação x desencarnação) conseguiram, assim que retornaram a pátria espiritual, reconhecer-se “morto” na carne e “vivo” sem a carne?
Quantos obtiveram o pleno conhecimento de que não faziam mais parte do “mundo dos vivos”?
Quantos conseguiram mesurar a quantidade de segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, séculos perdidos em seus pensamentos e mundos egoísticos olhando para os seus próprios espelhos como Narcisos?
No caso de André, (acredito) ele alcançou a percepção de sua condição de não fazer mais parte do mundo dos “encarnados”; porém, não conseguia compreender este mecanismo uma vez que “seus pulmões”, ou seja, todos os órgãos do seu corpo parecia funcionarem como tal, pelo menos é o que ele imaginava.


No quarto parágrafo, o irmão demonstra seus sentimentos:

Sentia-me, na verdade, amargurado duende nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados, coração aos saltos, medo terrível senhoreando-me, muita vez gritei como louco, implorei piedade e clamei contra o doloroso desânimo que me subjugava o espírito; mas, quando o silêncio implacável não me absorvia a voz estentórica, lamentos mais comovedores, que os meus, respondiam-me aos clamores. Outras vezes gargalhadas sinistras rasgavam a quietude ambiente. Algum companheiro desconhecido estaria, a meu ver, prisioneiro da loucura. Formas diabólicas, rostos alvares, expressões animalescas surgiam, de quando em quando, agravando-me o assombro. A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta, como que amortalhada em neblina espessa, que os raios de Sol aquecessem de muito longe.”

O que se pode assimilar com estas palavras?
Infelizmente, a maioria dos espíritos quando desencarnam continuam imersos em seus mundos internos assim que fecham os olhos da carne; e, quando absortos nas circunstâncias criadas por si mesmos, acabam de deixar de cuidar deles e se detém na fuga, no medo, no desespero, no tormento... vivem e revivem momentos imaginários dentro deles. É uma viagem interior em que não se mesura o tempo nem a circunstância. Só reflexões pelas quais não se levam a lugar algum a não ser dentro de si. Como consequência, descuidam-se tanto física quanto psicologicamente.


 “E a estranha viagem prosseguia... Com que fim? Quem o poderia dizer? Apenas sabia que fugia sempre... O medo me impelia de roldão. Onde o lar, a esposa, os filhos? Perdera toda a noção de rumo. O receio do ignoto e o pavor da treva absorviam-me todas as faculdades de raciocínio, logo que me desprendera dos últimos laços físicos, em pleno sepulcro!

Nesta passagem, pode-se perceber o momento apraz pelo qual cansado de tanta tortura mental, o homem, quando desencarnado começa a adquirir a consciência da existência de algo além do mundo vivido pelos mais ínfimos desejos.
É demarcante que há sempre um período no qual ele se encontra exausto de tantas torturas e acaba por achar, ou pelo menos, descobrir o “caminho do ouro”, ou seja, identificar a realidade de outra maneira, a ter pensamentos direcionados para outro diverso do que dentro dele: começa a relembrar os ensinamentos obtidos quando encarnado a respeito de outra vida, a ter religião, fé... 

 “Atormentava-me a consciência: preferiria a ausência total da razão, o não-ser.”

Nesta sentença, o ponto chave está na palavra: consciência.
No caso de André, o momento pelo qual ele passava levava-o a querer fugir de tudo que o direcionava a “razão”.
Quando encarnado o homem tende a praticar atos sem se preocupar com tudo e todos que estão ao seu redor; contudo, quando desencarnado, quando o véu cai e as cortinas se abrem, a consciência conduz aos pensamentos pelos quais não deseja pensar, as situações que não pretende enfrentar... É o desejo de fugir de si mesmo; no entanto,...
As mensagens de Joanna de Ângelis têm uma complexidade ao se tentar compreendê-las. Isso acontece, exatamente, porque a maioria trata a respeito do “ser consciente”. Há dificuldade na compreensão? Por quê? Porque é complexo para o homem “lidar” com o seu ser interior.
No prefácio do livro Ser Consciente, Joanna diz: “...O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria mente....”
Na mensagem com o título Consciência e Caráter no livro Momentos da Consciência, ela pontua: “A eleição dos valores ético-morais e a identificação dos objetivos da vida, bem como a seleção das qualidades que estabelecem os critérios formadores do ser, caracterizam o surgimento da consciência. A sua vigência e desenvolvimento decorrem dos episódios que se repetem, produzindo a fixação das conquistas encarregadas de incrementar o progresso do espírito, sem demorados estágios nas províncias do sofrimento, que é legado da ignorância.


Na passagem:
De início, as lágrimas lavavam-me incessantemente o rosto e apenas, em minutos raros, felicitava-me a bênção do sono. Interrompia-se, porém, bruscamente, a sensação de alívio. Seres monstruosos acordavam-me, irônicos; era imprescindível fugir deles.

Mais uma vez, a consciência aponta ao sofrimento quando o ser se depara com as portas além-túmulo; e, quando consegue dormir adquire-se a sensação de “alívio”; contudo, ao despertar, não só o pensamento reclama as desventuras, como o desconhecido é tido como seres figurativos de monstros pelos quais o importunam tão alucinados quanto ele. Nesse caso, é mais fácil escapulir do que enfrentar a si próprio.

Reconhecia, agora, a esfera diferente a erguer-se da poalha do mundo e, todavia, era tarde. Pensamentos angustiosos atritavam-me o cérebro. Mal delineava projetos de solução, incidentes numerosos impeliam-me a considerações estonteantes. Em momento algum, o problema religioso surgiu tão profundo a meus olhos. Os princípios puramente filosóficos, políticos e científicos, figuravam-se-me agora extremamente secundários para a vida humana. Significavam, a meu ver, valioso patrimônio nos planos da Terra, mas urgia reconhecer que a humanidade não se constitui de gerações transitórias e sim de Espíritos eternos, a caminho de gloriosa destinação. Verificava que alguma coisa permanece acima de toda cogitação meramente intelectual. Esse algo é a fé, manifestação divina ao homem. Semelhante análise surgia, contudo, tardiamente. De fato, conhecia as letras do Velho Testamento e muita vez folheara o Evangelho; entretanto, era forçoso reconhecer que nunca procurara as letras sagradas com a luz do coração. Identificava-as através da crítica de escritores menos afeitos ao sentimento e à consciência, ou em pleno desacordo com as verdades essenciais. Noutras ocasiões, interpretava-as com o sacerdócio organizado, sem sair jamais do círculo de contradições, onde estacionara voluntariamente.”_

Na questão 621, no Livro dos Espíritos, Allan Kardec traz as seguintes elucidações:
“621. Onde está escrita a lei de Deus?
“Na consciência.”
a) Visto que o homem traz na sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe ser ela revelada?
“Ele a tinha esquecido e desprezado: Deus quis que ela lhe fosse  relembrada.”

No seguinte trecho:

Em verdade, não fora um criminoso, no meu próprio conceito. A filosofia do imediatismo, porém, absorvera-me. A existência terrestre, que a morte transformara, não fora assinalada de lances diferentes da craveira comum.”

Há um tópico importante a ser abordado: crime.
No que tange ao “crime”, o livro dos Espíritos nas perguntas de 756 a 751 traz o seguinte esclarecimento:

“Assassínio
746. O assassínio é um crime aos olhos de Deus?
“Sim, um grande crime, pois aquele que tira a vida de seu semelhante corta uma vida de expiação ou de missão e aí é que está o mal.”
747. O assassínio sempre tem o mesmo grau de culpabilidade?
“Já o dissemos: Deus é justo; ele julga mais a intenção do que o fato.”
748. Deus desculpa o assassínio, em caso de legítima defesa?
“Só a necessidade pode desculpá-lo, mas, se se pode preservar a vida, sem atentar contra a do seu agressor, deve-se fazê-lo.”
749. O homem é culpado pelos assassínios que comete durante a guerra?
“Não, quando ele é constrangido pela força; mas é culpado pelas crueldades que cometa, e ser-lhe-á levado em conta o sentimento de humanidade.”
750. O que é o mais condenável aos olhos de Deus, o parricídio ou o infanticídio?
“Ambos o são igualmente, pois todo crime é um crime.”
751. Por que motivo, entre alguns povos, já adiantados do ponto de vista intelectual, o infanticídio faz parte dos costumes e está consagrado pela legislação?
“O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem; o Espírito superior em inteligência pode ser mau; isto acontece com aquele que viveu muito, sem se melhorar: ele sabe.””

No artigo O CRIME À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA do Correio Espírita esclarece:

“A primeira noção é a de *criminoso* que, de acordo com a Doutrina Espírita, representa um Espírito inferior, ainda no início da caminhada evolutiva, e que, por ignorância, ou mesmo por relaxamento voluntário (atraso espiritual), escolhe a prática do mal como modo de vida e meio de resolver os seus conflitos e problemas, conduta que pode durar um tempo mais ou menos longo, até que um dia se decida à mudança, no uso de seu livre-arbítrio, patrimônio que caracteriza todo o ser humano. Já o *crime*, ainda segundo a visão elevada do Espiritismo, é compreendido como sendo o próprio mal, ou estado desarmônico do Espírito, que se manifesta através de ações violentas e deseducadas, em oposição às leis divinas, ações que trazem prejuízos e produzem danos à sociedade e àqueles que as sofrem. A pena, por sua vez, é entendida como sendo o justo remédio, remédio amargo, representado por uma soma mais ou menos intensa de dores e de sofrimentos, mas necessário para a cura do Espírito transviado, a fim de que retorne ao caminho do bem e do respeito aos direitos que a Providência Divina concedeu a cada uma das criaturas, direitos que não serão violados sem consequências dolorosas para os que os violarem.”


No décimo parágrafo, o autor faz reflexão a respeito de sua vida como encarnado:

Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhara os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranquilidade econômica do meu grupo familiar, mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção de tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência. Habitara a Terra, gozara-lhe os bens, colhera as bênçãos da vida, mas não lhe retribuíra ceitil do débito enorme. Tivera pais, cuja generosidade e sacrifícios por mim nunca avaliei; esposa e filhos que prendera, ferozmente, nas teias rijas do egoísmo destruidor. Possuíra um lar que fechei a todos os que palmilhavam o deserto da angústia. Deliciara-me com os júbilos da família, esquecido de estender essa benção divina à imensa família humana, surdo a comezinhos deveres de fraternidade.

Neste parágrafo, há a confirmação da forma de vida da maioria dos encarnados: a adaptação de vida física, com conquistas e fracassos de acordo com a forma de existência que se leva.
No caso deste irmão, ele foi “abençoado” por fazer parte de uma família que tinha condições de educa-lo conforme os padrões da sociedade vigente na época; no entanto, algo se perdeu durante a sua encarnação. O que será que foi? O não cumprimento do que foi proposto realmente antes de reencarnar. Além disso, o compromisso de primeira instância pelo qual todos passam: o respeito e a valorização por todos que os cercam, principalmente e, em primeiro lugar, a família.
No que tange, ao objetivo da encarnação, o livro dos Espíritos, nas perguntas 132 e 133 traz o seguinte esclarecimento:

Objetivo da Encarnação
132. Qual é o objetivo da encarnação dos Espíritos?
“Deus impõe-lhes a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, é uma missão. Porém, para chegar a essa perfeição, devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal: nisto é que está a expiação. A encarnação tem também um outro objetivo, que é o de colocar o espírito em condições de suportar sua parte na obra da criação; é para executá-la que, em cada mundo, ele toma um instrumento em harmonia com a matéria essencial desse mundo para aí executar, daquele ponto de vista, as ordens de Deus; de tal forma que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.”
A ação dos seres corporais é necessária à marcha do Universo; Deus, porém, na sua sabedoria, quis que, nessa mesma ação, eles encontrassem um meio de progredir e de se aproximar dele. É assim que, por uma admirável lei de sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.
133. Os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem, têm necessidade da encarnação?
“Todos são criados simples e ignorantes; instruem-se nas lutas e nas tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer alguns felizes, sem atribulação e sem trabalho e, por conseguinte, sem mérito.”
a) Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isto não os isenta das aflições da vida corporal?
“Chegam mais rápido ao objetivo; e, além disso, as aflições da vida são, frequentemente, a consequência da imperfeição do Espírito; quanto menos imperfeições ele possui, menos tormentos; aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avarento, nem ambicioso, não terá os tormentos que decorrem desses defeitos.”

Já no que diz respeito à família, o ser encarnado tem como dever aprender a conviver e viver tanto em sociedade quanto em família; e, esta não pode ser preterida em detrimento daquela. É tarefa deste, cuidar e educar os irmãos pelos quais estão sob sua responsabilidade, isso se refere tanto aos filhos quanto aos pais.
E, na maioria das vezes, o homem envolvido pelas “ofertas” proporcionadas pelo mundo, acaba se distanciando de seu verdadeiro objetivo como encarnado: a da evolução.

No décimo primeiro parágrafo, ele reflete a respeito da oportunidade perdida:

Enfim, como a flor de estufa, não suportava agora o clima das realidades eternas. Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colocara em minhalma. Sufocara-os, criminosamente, no desejo incontido de bem estar. Não adestrara órgãos para a vida nova. Era justo, pois, que aí despertasse à maneira de aleijado que, restituído ao rio infinito da eternidade, não pudesse acompanhar senão compulsoriamente a carreira incessante das águas; ou como mendigo infeliz, que, exausto em pleno deserto, perambula à mercê de impetuosos tufões.

Como ele não consegue cumprir as tarefas de maneira verdadeira, sem máculas e erros; a consciência aponta o sentimento de culpa e sensação de tempo perdido, dando a percepção de um ser incompleto, com deficiências demarcantes; e, principalmente, a prostração e entrega ao momento que ele pensa não ser mais possível de mudanças, por isso a comparação ao “deserto”, visto que, na sua imaginação, nada pode ser construído neste lugar.
Então, ele se entrega ao desânimo em que, justamente, deveria abrir as janelas da “alma” para a fé, para o encontro com o divino, com Deus.
O Evangelho segundo o Espiritismo traz a seguinte mensagem:

Bem e mal sofrer
18. Quando Cristo disse: Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence., ele não se referia aos sofredores em geral, pois todos os que estão na Terra sofrem, quer estejam sobre um trono ou na miséria; porém, poucos sabem sofrer, poucos compreendem que só as provas bem toleradas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é um erro; Deus vos recusa consolações se vos falta coragem. A prece é um sustentáculo para a alma, mas não é suficiente, é preciso que ela seja apoiada sobre uma fé viva na vontade de Deus. Muitas vezes vos foi dito que ele não envia um fardo pesado para ombros frágeis; o fardo é proporcional às forças, como a recompensa é proporcional à resignação e à coragem. A recompensa será tanto mais grandiosa quanto mais penosa for a aflição, mas é preciso merecer essa recompensa; é por isso que a vida é cheia de adversidades.
O militar que não é enviado para a luta não fica contente, porque o repouso no campo não lhe proporciona nenhuma promoção; sede, pois, como o militar e não procureis um repouso no qual vosso corpo se enfraqueceria e vossa alma se embotaria. Ficai satisfeitos quando Deus vos envia à luta. Essa luta não é o fogo da batalha, mas as aflições da vida onde, muitas vezes, é necessário ter mais coragem que em um sangrento combate, porque aquele que permanece firme diante do inimigo, cederá sob a pressão de um sofrimento moral.
O homem não tem recompensas por essa espécie de coragem, mas Deus lhe reserva os louros da vitória e um lugar glorioso. Quando vos chegar um motivo de dor ou de contrariedade, esforçai-vos para superá-lo, e quando chegardes a dominar os impulsos da impaciência, da cólera ou do desespero, dizei com uma justa satisfação: Eu fui o mais forte..
.Bem-aventurados os aflitos. pode, portanto, ser assim traduzido: Bem-aventurados aqueles que têm o ensejo de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, pois eles terão centuplicadas a alegria que lhes falta na Terra, e, após o trabalho, virá o repouso. (Lacordaire.(65) Havre, 1863.)


Ainda, na mesma obra, o tema da fé é esclarecido:

Poder da fé
[...] 2. No bom sentido, é certo que a confiança em suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais que não se podem fazer, quando se duvida de si mesmo; mas, aqui, é unicamente no sentido moral que se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, em uma palavra, a má vontade que se encontra entre os homens, mesmo quando se trata das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas são outras montanhas que barram o caminho de qualquer pessoa que trabalhe pelo progresso da humanidade. A fé segura proporciona a perseverança, a energia e os recursos que permitem vencer os obstáculos, tanto nas pequenas coisas como nas grandes. A fé vacilante traz a incerteza, a hesitação, de que se aproveitam aqueles que devemos combater; ela não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.
3. Em uma outra acepção, entende-se como fé a confiança que se tem na realização de algo, a certeza de se alcançar um objetivo. Ela dá uma espécie de lucidez que faz ver, pelo pensamento, o objetivo que se almeja e os meios de a ele chegar, de tal maneira que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com segurança. Tanto em um como em outro caso, ela pode fazer com que se realizem grandes coisas.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma; ela dá a paciência que sabe esperar, porque tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao seu objetivo. A fé duvidosa sente sua própria fraqueza; quando é estimulada pelo interesse torna-se furiosa, e acredita suplantar com a violência a força que não tem.
A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, é uma prova de fraqueza e de dúvida em si mesmo.
[...]
5. O poder da fé tem aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica suas qualidades e lhe dá um impulso, por assim dizer, irresistível. Eis o motivo por que aquele que junta uma fé ardente a um grande poder fluídico normal pode, apenas pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses estranhos fenômenos de cura e outros, que antigamente eram considerados como prodígios, e que são, simplesmente, a consequência de uma lei natural. Tal é o motivo pelo qual Jesus disse aos seus apóstolos: Se não conseguistes curar, foi porque não tivestes fé..


No décimo parágrafo, André deixa um recado para os leitores:

Oh! amigos da Terra! quantos de vós podereis evitar o caminho da amargura com o preparo dos campos interiores do coração? Acendei vossas luzes antes de atravessar a grande sombra. Buscai a verdade, antes que a verdade vos surpreenda. Suai agora para não chorardes depois.

Ao finalizar a sua reflexão, André Luiz faz um apelo a todos os leitores para não perderem o tempo precioso da encarnação com atividades que não os fazem crescer em direção ao bem maior.
Ele assinala para a construção do conhecimento, da verdade que envolve o ser espiritual.

Leitura Complementar

Para se realizar o estudo do capítulo Nas zonas inferiores do livro Nosso Lar psicografado por Francisco Cândido Xavier pelo espírito André Luiz, alguns textos foram utilizados para melhor compreensão e esclarecimento dos temas abordados.
Em virtude disso, convém não só ler parte deles como os textos completos:


O Ser Consciente

Esmagado por conflitos que não amainam de intensidade, o homem moderno procura mecanismos escapistas, em vãs tentativas de driblar as aflições transferindo-se para os setores do êxito exterior, do aplauso e da admiração social, embora os sentimentos permaneçam agrilhoados e ferreteados pela angústia e pela insatisfação.
As realizações externas podem acalmar as ansiedades do coração, momentaneamente, não, porém, erradicá-las, razão por que o triunfo externo não apazigua interiormente.
Condicionado para a conquista das coisas, na concepção da meta plenificadora, o indivíduo procura soterrar os conflitos sob as preocupações contínuas, mantendo-os, no entanto, vivos e pulsantes, até quando ressumam e sobrepõem-se a todos os disfarces, desencadeando novos sofrimentos e perturbações devastadoras.
O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria mente.
Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que devem ser estudadas pacientemente, a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais - parecer e ser-, as inquietações e tendências que o comandam, estabelecendo os paradigmas corretos para a jornada, liberado dos choques interiores em relação ao comportamento externo.
Ignorar uma situação não significa eliminá-la ou superá-la. Tal postura permite que os seus fatores constitutivos cresçam e se desenvolvam, até o momento em que se tornam insustentáveis, chamando a atenção para enfrentá-los.
O mesmo ocorre com os conflitos psicológicos. Estão presentes no homem, que, invariavelmente, não lhes dá valor, evitando deter-se neles, analisar a própria fragilidade, de modo a encontrar os recursos que lhe facultem diluí-los.
Enraizados profundamente, apresentam-se na consciência sob disfarces diferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os narcisismos, a agressividade, a culpa, a timidez, até os estados graves de alienação mental.
Todo conflito gera insegurança, que se expressa multifacetadamente, respondendo por inomináveis comportamentos nas sombras do medo e das condutas compulsivas.
Suas vítimas padecem situações muito afligentes, tombando no abandono de si mesmas, quando as resistências disponíveis se exaurem.
O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-se sem cessar.
Somente consegue essa lucidez aquele que se autoanalise, disposto a encontrar-se sem máscara, sem deterioração. Para isso, não se julga, nem se justifica, não se acusa nem se culpa. Apenas descobre-se.
À identificação segue-se o trabalho da transformação interior para melhor, utilizando-se dos instrumentos do auto amor, da autoestima, da oração que estimula a capacidade de discernimento, da relaxação que libera das tensões, da meditação que faculta o crescimento interior.
" O auto amor ensina-o a encontrar-se e desvela os potenciais de força íntima nele jacentes.
A alo-estima leva-o à fraternidade, ao convívio saudável com o seu próximo, igualmente necessitado.
A oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência e da Vida real.
A relaxação proporciona-lhe harmonia, horizontes largos para a movimentação.
A meditação ajuda-o a crescer de dentro para fora, realizando-se em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de consciência.
O autoconhecimento se torna uma necessidade prioritária na programática existencial da criatura. Quem o posterga, não se realiza satisfatoriamente, porque permanece perdido em um espaço escuro, ignorado dentro de si mesmo.
Foi necessário que surgissem a Psicologia Transpessoal e outras áreas doutrinárias com paradigmas bem definidos a respeito do ser humano integral, para que se pudesse propor à vida melhores momentos e mais amplas perspectivas de felicidade.
A contribuição da Parapsicologia, da Psicobiofísica, da Psicotrônica, ampliou os horizontes do homem, propiciou­lhe o encontro com outras dimensões da vida e possibilidades extrafísicas de realização, que permaneciam soterradas sob os escombros do inconsciente profundo, ou adormecidas nos alicerces da Consciência.
Antes, porém, de todas essas disciplinas psicológicas e doutrinas parapsíquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa possibilidade de ser consciente, concitando-a ao auto-encontro e à autodescoberta a respeito da vida além dos estreitos limites materiais.
Perfeitamente identificado com os elevados objetivos da existência terrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espíritos Benfeitores: "Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?"
Eles responderam: «: Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo."!')
Comentando a resposta, Santo Agostinho, Espírito, entre outras considerações explicitou: " ... 0 conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificarieis se praticada por outra pessoa ... ". "E prosseguiu: " ... dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros, e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida. "
Na análise diária e contínua dos atos, o auto e o alo­amor serão decisivos para a avaliação. A oração e a meditação irão constituir recurso complementar para afixação das conquistas.
Quem ora, fala; quem medita, ouve, dispondo dos recursos para exteriorizar-se e interiorizar-se.
Há, no entanto, estruturas psicológicas muito frágeis ou assinaladas por distúrbios de comportamento grave. Nesses casos, urge o concurso da Ciência Espírita, com as terapias profundas que dispõe; e, de acordo com a intensidade do distúrbio, torna-se necessária a ajuda do psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema, que será equacionado pela Psicologia, pela Psicanálise ou pela Psiquiatria.
Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interferências espirituais variadas, gerando quadros de obsessões complexas, para os quais somente as técnicas espíritas alcançam os resultados desejados, por se tratarem, esses agentes perturbadores, de Entidades extracorpóreas, porém portadores dos mesmos potenciais das suas vítimas: sentimentos e emoções, inteligência e lucidez, experiências e vidas.
*
O ser consciente é austero, mas sem carranca; é jovial, porém sem vulgaridade; é complacente, no entanto sem conivência; é bondoso, todavia sem anuência com o erro. Ajuda e promove aquele que lhe recebe o socorro, seguindo adiante sem cobrar retribuição.
É responsável, e não se permite o vão repouso enquanto o dever o aguarda. Conhecendo suas possibilidades, colocassem ação sempre que necessário, aberto ao amor e ao bem.
Só o amadurecimento psicológico, através das experiências vividas, libera a consciência do ser, e, ao consegui-la, ei-lo feliz, conquistando a Terra da Promissão bíblica.
*
Este modesto livro, que ora trazemos à análise do caro Leitor, pretende, sem presunção, auxiliá-lo na conquista da consciência.
Não apresenta qualquer técnica nova ou milagrosa. Estuda algumas problemáticas humanas à luz da Quarta Força em Psicologia, colocando uma ponte na direção da Doutrina Espírita, que é portadora de uma visão profunda e integral do ser.
Confiamos que será útil a alguém que se encontre aflito ou fugindo de si mesmo, ajudando-o na solução do seu problema, e isto nos compensará plenamente .
Salvador, 19 de maio de 1993.
Joanna de Ângelis

(*) o Livro dos Espíritos. 29ªedição da FEB. Questão 919.



Consciência e Evolução

O despertar da consciência faculta a responsabilidade a respeito dos atos, face ao desabrochar dos códigos divinos que jazem em germe no ser. Criado simples e ignorante, o espírito tem como fatalidade a perfeição que lhe está destinada. Alcançá-la com rapidez ou demorar-se por consegui-la, depende da sua vontade, do seu livre-arbítrio.
Passando pela fieira da ignorância, adquiriu experiências mediante as quais pode discernir entre o que deve e o que lhe não é lícito realizar, optando pelas ações que lhe proporcionem ventura, bem-estar, sem os efeitos perniciosos, aqueles que se tornam desgastantes, afligentes.
Desse modo, torna-se responsável pelo seu destino, que está a construir, modificar, por meio das decisões e atitudes que se permita. O bem é-lhe o fanal, e este se constitui de tudo aquilo que é conforme as leis  de Deus, que são naturais, vigentes em  toda parte.
A herança da ignorância primitiva prende-o no mal, que é contrário à lei de progresso, não, porém, retendo-o  indefinidamente e impossibilitando-o de ser feliz. Cumpre-lhe, portanto envidar esforços e romper os elos com a retaguarda, avançando nas experiências iluminativas, a principio com dificuldade, face à viciação instalada, para depois  acelerar os mecanismos de desenvolvimento, por força mesmo do prazer e alegria fruídos.
Lentamente, em razão da própria consciência, descobre os tesouros preciosos que lhe estão à disposição e dos quais pode utilizar-se com infinitos benefícios.
Saúde e doença, paz e conflito, alegria e tristeza podem ser elegidos através do discernimento que guia as ações. Sem essa claridade, os estados negativos tornam-se-lhe habituais e, mesmo quando estabelecidos, podem alterar-se através do  empenho empregado para vencê-los.
Nunca te entregues à desesperança, ao abandono. Não és uma pedra solta, no leito do rio do destino, a rolar  incessantemente. Tens uma meta,  que te aguarda e que alcançarás.
Penetra-te, mediante a reflexão, e descobre as  tuas incalculáveis possibilidades de realização.
Afirma-te o bem , a fim que o seu germe em ti  fecunde e cresça. Serás o que penses e planejes, pois que da tua mente e  do sentimento procedem os valores que são cultivados.
O teu estado natural é saúde. As enfermidades são os acidentes de trânsito das ações negativas, propiciando-te reabilitação. É indispensável manteres atenção e cuidado na  conduta do veículo carnal. Assim, pensa no bem-estar, anela-o,  estimulando-o com realizações corretas.
A tua constituição é harmônica. Os desequilíbrios  são ocorrências, na corrente elétrica do teu sistema nervoso, por  distorção de carga que as sensações cultivadas proporcionam. Mantém os  interruptores da vigilância ligados, a fim de que impeçam as altas  voltagens que os produzem.
Em tua origem és luz avançando para a grande  luz. Só há sombras porque ainda não te dispuseste a movimentar os  poderosos geradores de energia adormecida no teu interior. Faze claridade, iniciando com a chispa da boa vontade e deixando-a crescer até alcançar toda a potência de que dispõe.
O amor é o teu caminho, porque procede de  Deus, que te criou. Desse modo verticaliza as tuas aspirações e agiganta os teus  sentimentos na direção da causalidade primeira.
Tudo podes, se quiseres. Tudo lograrás se te dispuseres.
Buscando penetrar na ordem das divinas leis que propiciam o
entendimento da vida, ALLAN KARDEC interrogou  as venerandas entidades, conforme registrou na questão 117 de O Livro dos Espíritos: Depende dos espíritos o progredirem mais ou  menos rapidamente para a perfeição? Certamente. Eles a alcançam mais ou menos rápido conforme o desejo que têm de alcança-la e a submissão que testemunham à vontade de Deus. Uma criança dócil não se instrui mais depressa do que outra recalcitrante?


Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Momentos de Consciência


Consciência e Caráter

A eleição dos valores ético-morais e a identificação dos objetivos da vida, bem como a seleção das qualidades que estabelecem os critérios formadores do ser, caracterizam o surgimento da consciência. A sua vigência e desenvolvimento decorrem dos episódios que se repetem, produzindo a fixação das conquistas encarregadas de incrementar o progresso do espírito, sem demorados estágios nas províncias do sofrimento, que é legado da ignorância.
Toda realização pensada, sentida e cultivada, dá surgimento à memória, que imprime as impressões mais fortemente experimentadas.
A criatura humana deve preocupar-se, no bom sentido, com as emoções e acontecimentos positivos, de forma a guardar memórias que contribuam, por estímulos, para o próprio engrandecimento, para a harmonia pessoal.
Acossada, porém, pelo medo e pelo costumeiro pessimismo, que se atribui contínuas desventuras, passa com ligeireza emocional pelas alegrias, enquanto se detém nos desencantos.
Convidada aos padrões de bem-estar, busca com sofreguidão o autoflagelo, utilizando-se de mecanismos masoquistas para inspirar compaixão, quando possui equipamentos preciosos que fomentam e despertam o amor.
Nega-se, por sistemática ausência de consciência, a empolgar-se com a luz, a beleza, o sentido da vida, entregando-se aos caprichos da rebeldia, filha dileta do egoísmo insatisfeito.
Acreditando tudo merecer, atribui-se méritos que não possui e recusa-se a conquistá-los.
Compara-se com aqueloutros que vê sem diferentes patamares, sem dar-se ao cuidado de examinar os sacrifícios que foram investidos, ou que sentem, quem lá se encontra, estabelecendo conceitos de felicidade, conforme pensa que as outras usufruem.
Este é um estágio que remanesce do primitivismo do instinto, antes da fixação da consciência.
Aprisiona-se aos atavismos dos quais se deveria libertar, e cerra as possibilidades que lhe facultam os voos mais altos do sentimento e da razão. A alternativa da desdita e a perturbação da consciência tornam-se inevitáveis, gerando um comportamento que conduz à alienação.
A consciência é uma conquista iluminativa. A sua preservação resulta do esforço que estabelece o caráter do ser.
Todos os seres passam pelos mesmos caminhos e experimentam equivalentes desafios. O comportamento, em cada teste, oferece a promoção ou o estacionamento indispensável à fixação da aprendizagem. A conquista, portanto, do progresso, é pessoal e intransferível, o que é lei de justiça e de equanimidade.
Cada um ascende através dos impulsos sacrificiais que desenvolva.
Fixa, nos painéis da memória, os teus momentos de júbilo, por mais insignificantes sejam. A sucessão deles dar-te-á uma vasta cópia de emoções estimuladoras para o bem.
Esquece os insucessos, após considerares os resultados proveitosos que podes haurir.
Quando algo de bom, de positivo te aconteça, comenta sem estardalhaço, revive e deixa-te penetrar pelo seu significado edificante.
Quando fores visitado pela amargura, o desencanto, a dor ou a decepção, procura superar a vicissitude e avança na busca de novos relacionamentos, evitando conservar ressentimentos e detalhes infelizes.
Não persistas nos comentários desagradáveis, que sempre ressumam infelicidade.
Por hábito doentio, as pessoas se fixam nas ocorrências malsãs, abandonando as lembranças saudáveis. Perdem, assim, as memórias superiores e acumulam as reminiscências perturbadoras, que ocupam os espaços mentais e emocionais, bloqueando as amplas áreas de desenvolvimento da consciência.
Os episódios de consciência, de pequeno ou grande porte, formam o caráter que é a linha mestra de conduta para a vida.
A consciência consegue descobrir os valores mais insignificantes e torná-los estímulos positivos para outras conquistas.
A decisão e o esforço empregados para alcançar novas metas evolutivas desenvolvem o caráter moral, sem o qual falham os mais bem elaborados planos de triunfo.
O caráter saudável, disciplinado e responsável define o homem de bem, verdadeiro protótipo, que não se detém nem desiste quando lhe surgem obstáculos tentando dificultar-lhe o avanço.
Necessitas levar adiante os planos bons, de desenvolvimento moral e espiritual, já registrados pela tua consciência.
Não dês trégua à indolência, nem te apóies em evasivas ou justificativas irrelevantes.
Identificado o dever, acorre a ele e executa-o.
Realmente preocupado com o progresso do espírito, Allan Kardec indagou aos Mentores Elevados, segundo consta da questão n° 674 de O Livro dos Espíritos:
-A necessidade do trabalho é lei da natureza?
-O trabalho é lei da natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidade e os gozos.

Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Momentos de Meditação


Aquisição da Consciência


O momento da conscientização isto é, o instante a partir do qual consegues discernir com acerto, usando como parâmetro o equilíbrio, alcanças o ponto elevado na condição de ser humano.
Efeito natural do processo evolutivo, essa conquista te permitirá avaliar fatores profundos como o bem e o mal, o certo e o errado, e o dever e a irresponsabilidade, a honra e o desar, o nobre e o vulgar, o lícito e o irregular, a liberdade e a libertinagem.
Trabalhando dados não palpáveis, saberás selecionar os fenômenos existenciais e as ocorrências, tornando tuas diretrizes de segurança aquelas que proporcionam bem-estar, harmonia, progresso moral, tranquilidade.
Essa consciência não é de natureza intelectual, atividade dos mecanismos cerebrais. É a força que os propele, porque nascida nas experiências evolutivas, a exteriorizar-se em forma de ações.
Encontramo-la em pessoas incultas intelectualmente, e ausente em outras, portadoras de conhecimentos acadêmicos.
Se analisarmos a conduta de uma especialista em problemas respiratórios, que conhece intelectualmente os danos provocados pelo tabagismo, pelo alcoolismo e por outras drogas adictivas, e que, apesar disso, usa, ele próprio, qualquer um desses flagelos, eis que ainda não logrou a conquista da consciência. Os seus dados culturais são frágeis de tal forma, que não dispões de valor para fomentar uma conduta saudável.
Por extensão, a pessoa que se permite o crime do aborto, sob falsos argumentos legais ou de direitos que se faculta, assim como todos aqueles que o estimulam ou o executam, incidem na mesma ausência de consciência, comportando-se sob a ação do instinto e, às vezes, da astúcia, da acomodação, mascarados de inteligência.
Outros indivíduos, não obstante sem conhecimento intelectual, possuem lucidez para agir diante dos desafios da existência, elegendo o comportamento não agressivo e digno, mesmo que a contributo de sacrifício.
A consciência pode ser treinada mediante o exercício dos valores morais elevados, que objetivam o bem do próximo, por consequência, e próprio bem.
O esforço para adquirir hábitos saudáveis conduz à conscientização dos deveres e às responsabilidades pertinentes à vida.
Herdeiro de si mesmo, das experiências transatas, o ser evolui por etapas, adquirindo novos recursos, corrigindo erros anteriores, somando conquistas. 
Jamais retrocede nesse processo, mesmo quando, aparentemente, reencarna dentro das paredes de enfermidade limitadora, que bloqueiam o corpo, a mente ou a emoção, gerando tormentos. 
Os logros evolutivos permanecem adormecidos para futuros cometimentos, quando assomarão, lúcidos.
A aquisição da consciência é desafio da vida é o autoconhecimento, que merece exame, consideração e trabalho.
A tua existência terrena pode ser considerada uma empresa que deves dirigir de forma segura, a mais cuidadosa possível.
Terás que trabalhar dados concretos e outros mais abstratos, na área da programação de atividades, e fim de conseguires êxito. Todo emprenho e devotamento se transformarão em mecanismos de lucro, a que sempre poderás recorrer durante as situações difíceis.
Algumas breves regras ajudar-te-ão no desempenho do empreendimento, tais:
·     administra os teus conflitos. O conflito psicológico é inerente à natureza humana e todos o sofrem;
·     evita eleger homens-modelos para seguires. eles também são vulneráveis às injunções que experimentas, e, às vezes, comprometem-se, o que, de maneira alguma deve constituir desestímulo;
·     concede-te maior dose de confiança nos teus valores, honrando-te com o esforço para melhorar sempre e sem desânimo. Se erras, repete a ação, e se acertas, segue adiante;
·     não te evadas ao enfrentamento de problemas usando expedientes falsos, comprometedores, que te surpreenderão mais tarde com dependências infelizes;
·     reage à depressão, trabalhando sem auto piedade nem acomodação preguiçosa;
·     tem em mente que os teus não são os piores problemas, eles pesam o volume que lhes emprestas;
·     libera-te da queixa pessimista e medita mais nas fórmulas para perseverar e produzir;
·     nunca cedas espaço à hora vazia, que se preenche de tédio, mal-estar ou perturbação;
·     o que faças, faze-o bem, com dedicação;
·     lembra-te que és humano e o processo de conscientização é lento, que adquirirás segurança e lucidez através da ação contínua.
Interessado em decifrar os enigmas do comportamento humano, Allan Kardec indagou aos Benfeitores e Guias da Humanidade, conforme se lê em O Livro dos Espíritos, na questão número 621:
- Onde está escrita a lei de Deus?
- Na consciência. - Responderam com sabedoria.
A consciência é o estágio elevado que deves adquirir, a fim de seguires no rumo da angelitude.

Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco




CRIMINOLOGIA E ESPIRITISMO (I)

O CRIME À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
Geraldo Rosa Vieira Júnior

Este artigo compõe o primeiro, de uma série de outros que propomos apresentar, sob o título de Criminologia e Espiritismo, e que tem por fim refletir, à luz da Doutrina Espírita, sobre o problema da criminalidade e da violência, no intuito de algo contribuir para uma melhor compreensão dessa chaga que corrói a Humanidade terrena. Buscaremos assim fazer a junção entre os conhecimentos que trazem as ciências humanas, especialmente a Criminologia, que estuda o fenômeno do crime e a natureza do criminoso, o Direito Penal, que representa as leis a serem aplicadas quando ocorre a prática criminosa, e o Espiritismo. Nosso objetivo é, sobretudo, contribuir na solução de problema tão tormentoso, qual o do crime, e para tanto nos socorremos da elevada visão da Doutrina Espírita sobre o assunto, uma vez que, segundo Allan Kardec, o Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.[1]

O desenvolvimento das ciências penais e da criminologia, seguindo a onda de progresso que caracteriza a civilização atual, tem alcançado patamares jamais sonhados. Não podendo negar o fato de que o homem criminoso é um de seus membros, as sociedades terrenas, através de seus estudos e pesquisas, começam a compreender com mais profundidade as causas do crime, aceitando a prevalência dos fatores individuais, isto é, daqueles inerentes à própria pessoa, como os psicológicos e os biológicos, que quase sempre são acentuados por causas geradas pelo próprio meio social, como a desagregação familiar, a pobreza, a orfandade e os vícios, o que resulta na conduta criminosa. E, pouco a pouco, a concepção de delito vai se ajustando à ideia de doença, patologia do corpo e da alma, o que faz com que as grosseiras reações de vingança da justiça humana do passado se transformem em terapêutica criminal e em processo educativo, numa busca de recuperação do homem desviado para o seu retorno em harmonia ao convívio social. Não obstante, é ainda acanhado o ponto de vista terreno sobre a questão do crime, pois sua visão se detém nos estreitos limites da matéria, fazendo com que a maioria dos esforços tentados na erradicação do delito resultem frustrados, por não atingirem o mal em sua raiz.

A Doutrina Espírita, contudo, analisa o problema da criminalidade e da violência sob um ponto de vista mais elevado, que transcende o enfoque das ciências puramente humanas, por situar a questão para além dos conhecimentos oficiais. Nesse sentido, e buscando antecipar alguns conceitos que serão melhor analisados neste e nos dois próximos números, convém lembrar algumas noções, trazidas de acordo com a visão espírita sobre o tema em foco. A primeira noção é a de criminoso que, de acordo com a Doutrina Espírita, representa um Espírito inferior, ainda no início da caminhada evolutiva, e que, por ignorância, ou mesmo por relaxamento voluntário (atraso espiritual), escolhe a prática do mal como modo de vida e meio de resolver os seus conflitos e problemas, conduta que pode durar um tempo mais ou menos longo, até que um dia se decida à mudança, no uso de seu livre-arbítrio, patrimônio que caracteriza todo o ser humano. Já o crime, ainda segundo a visão elevada do Espiritismo, é compreendido como sendo o próprio mal, ou estado desarmônico do Espírito, que se manifesta através de ações violentas e deseducadas, em oposição às leis divinas, ações que trazem prejuízos e produzem danos à sociedade e àqueles que as sofrem. A pena, por sua vez, é entendida como sendo o justo remédio, remédio amargo, representado por uma soma mais ou menos intensa de dores e de sofrimentos, mas necessário para a cura do Espírito transviado, a fim de que retorne ao caminho do bem e do respeito aos direitos que a Providência Divina concedeu a cada uma das criaturas, direitos que não serão violados sem consequências dolorosas para os que os violarem.

As tarefas da Criminologia e do Espiritismo são distintas, mas se conciliam. O paralelo entre ambos os ramos do conhecimento é enriquecedor. Assim, enquanto a Criminologia, como ciência humana, oferece ao estudioso os fatos – o fenômeno da criminalidade e da violência, com todo o seu realismo chocante, apresentando assim por material de estudo o homem criminoso e sua conduta, o Espiritismo, que não formulou especialmente nenhuma teoria criminológica, alarga a compreensão do problema do crime, por indicar claramente as suas causas profundas e os seus efeitos, causas que remontam a um período muito anterior à vida física do criminoso, e efeitos que podem ultrapassar o estreito limite da sua atual existência.

Vejamos agora, com mais riqueza de detalhes, o primeiro tema que elegemos para nosso estudo, dentro da série de artigos sobre a Criminologia e o Espiritismo. Estudaremos, portanto, o crime, para depois, em outra ocasião, como dissemos linhas atrás, estudarmos o seu autor, ou seja, o homem criminoso e, num terceiro artigo, meditarmos sobre a pena, reconhecida como sendo a consequência imediata da ação criminosa.

O crime

O conceito de crime, do ponto de vista jurídico, embora tenha variado de acordo com o tempo e o lugar, evoluiu, na medida em que a humanidade avançou em conhecimento e moralidade. Contudo, uma vez que o presente ensaio não permite maiores divagações, e abstraindo-nos de conceitos puramente técnicos, podemos conceituá-lo, o crime, singelamente, e numa linguagem mais acessível à compreensão geral, como sendo a ação humana prevista na lei penal como criminosa, ação que tem como característica o ser potencialmente causadora de danos a bens e direitos do próximo, protegidos pela própria lei penal. Nesse sentido, conforme ensinou um jurista da Escola Clássica do Direito Penal, Delito, infração, ofensa, crime, malefício: são todos empregados pelos cultores da ciência penal como sinônimos.[2]

Contudo, do ponto de vista humano e espiritual, esse conceito jurídico traz limitações insuperáveis, pois restringe a compreensão do que seja crime somente àquelas condutas que são previstas nas leis penais como criminosas. Mas é aí que entra a concepção elevada da Doutrina Espírita, espelhada na seguinte pergunta reflexiva, contida em O Evangelho segundo o espiritismoIgnorais que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?[3] 

A Escola Positiva do Direito Penal trouxe um conceito de delito muito próximo ao que ensina o Espiritismo. Tal conceito se encontra expresso nas seguintes palavras do jurista italiano Rafael Garófalo: o delito é uma ação prejudicial e que fere ao mesmo tempo alguns destes sentimentos que se convencionou chamar o senso moral de uma agregação humana[4]. E continua em desdobramento ao seu conceito:

O elemento de moralidade necessário para que a consciência pública classifique de criminosa uma ação, é a ofensa feita à parte do senso moral formado pelos sentimentos altruístas de piedade e de probidade ...[5] Em outras palavras, o crime teria como causa a falta de desenvolvimento, por parte do criminoso, dos sentimentos altruístas de “piedade” e de “probidade”.

Contudo, foi no V Congresso Internacional de Antropologia Criminal, realizado em Amsterdã, no ano de 1901, que o Dr. M. C. Piepers apresentou o conceito de crime que mais se assemelha à elevada visão da Doutrina Espírita sobre o assunto. Eis a sua descrição:

O delito é a lesão social produzida pelo estado egoístico da psique humana na qual a evolução altruística não está suficientemente avançada para dominar as tendências egoísticas dentro do limite que exige determinado estado social. – Grifos no original.[6]

Vê-se assim que tal conceito coloca no centro da figura do crime o “egoísmo” do homem e a sua precária evolução, como sendo as causas principais do delito.

Crime – fruto da violação às leis humanas e divinas

Para a Doutrina Espírita o crime é o resultado não somente da violação às leis humanas, mas, e antes de tudo, fruto da transgressão às leis divinas. Existe um Código de Leis que está acima da compreensão acanhada do homem terreno e da sua justiça falível. Esta legislação é imutável, uma vez que espelha a perfeição do seu Criador. Então podemos, com muito mais acerto, dizer que são criminosas todas as transgressões ao Estatuto das Leis Divinas. Desse ponto de vista, “crime” é sinônimo de “mal”, ação humana que decorre do estado de ignorância e de imoralidade do homem. É o que ensinam as seguintes questões de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec:

... Que definição se pode dar da moral?
“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”

... Como pode distinguir o bem do mal?
“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”[7]

Por fim, destacamos o elevado conceito de crime apresentado por Fernando Ortiz, professor de Direito Público da Universidade de Havana, descrição que resultou de seus estudos do problema penal à luz do Espiritismo. Vejamos: “O delito, portanto, não é mais do que o atraso na evolução espírita, em relação a um ambiente mais adiantado.”[8]– Grifo nosso.

Tal conceito, portanto, situa a origem do crime no Espírito, ser que, segundo a Doutrina Espírita, existia antes da vida material, e que continuará a existir após a morte do corpo biológico, o que significa afirmar que não são os fatores hereditários, biológicos (anatômicos e fisiológicos) ou os fatores sociais e climáticos que levam ao delito, pois todos eles são relativos, embora possam influir e impulsionar a conduta criminosa, mas é o próprio Espírito, no uso de seu livre-arbítrio, quem decidirá ou não pela prática do crime.

            Qual é a importância de compreendermos a noção de crime apresentada pela Doutrina Espírita? Ao constatarmos que o crime é, antes de tudo, a violação às leis de Deus, violação que decorre do livre arbítrio somado ao atraso espiritual daquele que o pratica, centralizamos no homem, Espírito imortal, a causa das ações criminosas, acima de toda e qualquer influência física, social ou ambiental, o que terá como resultado chamar a atenção dos estudiosos do problema criminal, sejam juristas, psicólogos, pedagogos, médicos, antropólogos, moralistas ou religiosos, para um estudo mais aprofundado da natureza humana, com o objetivo de melhor conhecer essa enfermidade do Espírito, e, depois, num segundo momento, aplicarmos o remédio à doença do crime, que tantos malefícios tem gerado às sociedades humanas.


[1] Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo, tradução de Guillon Ribeiro, 129ª ed., Rio de Janeiro-RJ: Federação Espírita Brasileira, 2009, p. 59.
[2] Francesco Carrara, Programa do curso de Direito Criminal, parte geral, vol.1, tradução de José Luiz V. de A. Franceschini e de J. R. Prestes Barra, 1ª ed., São Paulo-SP: Edição Saraiva, 1956, p. 48.
[3] Allan Kardec, O Evangelho segundo o espiritismo, tradução de Guillon Ribeiro, 129ª ed., Rio de Janeiro-RJ: Federação Espírita Brasileira, 2009, p. 213.  
[4] Rafael Garófalo, Criminologia, tradução de Danielle Maria Gonzaga, 1ª ed., Campinas-SP: Péritas Ediora, 1997, p. 29.
[5] Id., p. 29.
[6] Fernando Ortiz, A filosofia penal dos espíritas, tradução de Carlos Imbassahy, 2ª ed., São Paulo-SP: Livraria Allan Kardec Editora, 1998, p. 45-46.
[7] Allan Kardec, O livro dos Espíritos, tradução de Guillon Ribeiro, 91ª ed., Rio de Janeiro-RJ: Federação Espírita Brasileira, 2010, p. 348-349, questões 629 e 630.
[8] Fernando Ortiz, A filosofia penal dos espíritas, tradução de Carlos Imbassahy, 2ª ed., São Paulo-SP: Livraria Allan Kardec Editora, 1998, p. 46.




Deveres dos Pais
Por impositivo da sabedoria divina, no homem a infância demora maior período do que em outro animal qualquer.
Isto, porque, enquanto o Espírito assume, a pouco e pouco, o controle da organização fisiológica de que se serve para o processo evolutivo, mais fácil se fazem as possibilidades para a fixação da aprendizagem e a aquisição dos hábitos que o nortearão por toda a existência planetária.
Como decorrência, grande tarefa se reserva aos pais no que tange aos valores da educação, deveres que não podem ser postergados sob pena de lamentáveis consequências.
Os filhos — esse patrimônio superior que a Divindade concede por empréstimo —, através dos liames que a consanguinidade enseja, facultam o reajustamento emocional de Espíritos antipáticos entre si, a sublimação de afeições entre os que já se amam, o caldeamento de experiências e o delinear de programas de difícil estruturação evolutiva, pelo que merecem todo um investimento de amor, de vigilância e de sacrifício por parte dos genitores.
A união conjugal propiciatória da prole edificada em requisitos legais e morais constitui motivo relevante, que não deve ser confundida com as experiências do prazer, que se podem abandonar em face de qualquer conjuntura que exige reflexão, entendimento e renúncia de algum ou de ambos nubentes.
*
Os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. Evidentemente as técnicas Psicológicas e a metodologia da educação tornam-se fatores nobres para o êxito desse cometimento Entretanto, o amor — que tem escasseado nos processos modernos da educação com lamentáveis resultados — possui os elementos essenciais para o feliz desiderato.
No compromisso do amor, estão evidentes o Companheirismo o diálogo franco, a solidariedade, a indulgência e a energia moral de que necessitam os filhos, no longo processo da aquisição dos valores éticos, espirituais, intelectuais e sociais.
No lar, em consequência, prossegue sendo na atualidade de fundamental importância no complexo mecanismo da educação.
Nesse sentido, é de essencial relevância a lição dos exemplos, a par da assistência constante de que necessitam os caracteres em formação, argila plástica que deve ser bem modelada.
No capítulo da liberdade, esse fator basilar, nunca deixar esquecido o dever da responsabilidade. Liberdade de ação e responsabilidade dos atos, ajudando no discernimento desde cedo entre o que se deve, Convém e se pode realizar.
Plasma, na personalidade em delineamento do filhinho, os hábitos salutares.
Diante dele, frágil de aparência, tem em mente que se trata de um Espírito comprometido com a retaguarda, que recomeça a experiência a penates, e que muito depende de ti.
Nem o excesso de severidade para com ele, nem o acúmulo de receios injustificados, em relação a ele, ou a exagerada soma de aflição por ele.
Fala-lhe de Deus sem cessar e ilumina-lhe a consciência com a flama da fé rutilante, que lhe deve lucilar no íntimo como farol de bênçãos para todas as circunstâncias.
Ensina-lhe a humildade ante a grandeza da vida e o respeito a todos, como valorização preciosa das concessões divinas.
O que lhe não concedas por negligência, ele te cobrará depois...
Se não dispões de maiores ou mais valiosos recursos para dar-lhe, ele saberá reconhecer, e, por isso, mais te amará.
Todavia, se olvidaste de ofertar-lhe o melhor ao teu alcance também ele compreenderá e, quiçá, reagirá de forma desagradável.
Os pais educam para a sociedade, quanto para si mesmos.
Examina a tua vida e dela retira as experiências com que possas brindar a tua prole.
Tens conquistas pessoais, porqüanto já trilhaste o caminho da infância, da adolescência e sabes de moto próprio discernir entre os erros e acertos dos teus educadores, identificando o que de melhor possuis para dar.
Não te poupes esforços na educação dos filhos.
Os pais assumem desde antes do berço com aqueles que receberão na condição de filhos compromissos e deveres que devem ser exercidos, desde que serão, também, por sua vez, meios de redenção pessoal perante a consciência individual e a Cósmica que rege os fenômenos da vida, nos quais todos estamos mergulhados.
Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: SOS Família




A leitura e a reflexão da mensagem de São Luís no capítulo IV do Evangelho segundo o Espiritismo chamada:

Limites da encarnação
24. Quais são os limites da encarnação?
- A encarnação, propriamente falando, não tem limites nitidamente traçados, se considerarmos apenas o envoltório que constitui o corpo do espírito, visto que a materialidade desse envoltório diminui à medida que o espírito se purifica. Em certos mundos mais avançados que a Terra, ele já é menos compacto, menos pesado e menos grosseiro, e, por consequência, menos sujeito a vicissitudes; em um grau mais elevado, é diáfano e quase fluídico; de grau em grau, vai se desmaterializando e acaba por se confundir com o perispírito. De acordo com o mundo em que é levado a viver, o espírito recebe o envoltório apropriado à natureza desse mundo.
O próprio perispírito sofre transformações sucessivas; torna-se cada vez mais etéreo, até a depuração completa, que é a base dos puros espíritos. Se mundos especiais são destinados, como estada, aos espíritos mais avançados, tais espíritos não ficam presos a eles como nos mundos inferiores. O estado de desapego em que se encontram permite que eles se transportem a todos os lugares onde são chamados para as missões que lhes são confiadas.
Se considerarmos a encarnação do ponto de vista material, tal como acontece na Terra, poderemos dizer que ela está limitada aos mundos inferiores; consequentemente, depende do espírito libertar-se mais ou menos rapidamente da encarnação, trabalhando pela sua depuração.
Devemos também considerar que no estado errante, isto é, no intervalo que separa as existências corporais, a situação do espírito está relacionada à natureza do mundo ao qual está ligado pelo seu grau de adiantamento; assim ele é mais ou menos feliz, livre e esclarecido, na erraticidade, conforme se encontre mais ou menos desmaterializado. (São Luís.(64) Paris, 1859.)


Toda a gratidão sequer retribuirá a fortuna da oportunidade fruída através do renascimento carnal.
O carinho e respeito contínuos não representarão oferenda compatível com a amorosa assistência recebida desde antes do berço.
A delicadeza e a afeição não corresponderão à grandeza dos gestos de sacrifício e da abnegação demoradamente recebidos...
Os filhos têm deveres intransferíveis para com os pais, instrumentos de Deus para o trâmite da experiência carnal, mediante a qual o Espírito adquire patrimônios superiores, resgata insucessos e comprometimentos perturbadores.
*
Existem genitores que apenas procriam, fugindo à responsabilidade.
Não compete, porém, aos filhos julgá-los com severidade, desde que não são dotados da necessária lucidez e correção para esse fim.
Se fracassaram no sagrado ministério, não se furtarão à consciência, em forma da presença da culpa neles gravada.
Auxiliá-los por todos os meios ao alcance é mister indeclinável, que o filho deve ofertar com extremos de devotamento e renúncias.
A ingratidão dos filhos para com os pais é dos mais graves enganos a que se pode permitir o Espírito na sua marcha ascensional.
A irresponsabilidade dos progenitores de forma alguma justifica a falência dos deveres morais por parte da prole.
Ninguém se vincula a outrem através dos vigorosos liames do corpo somático, da família, sem justas, ponderosas razões.
Desincumbir-se das tarefas relevantes que o amor e o reconhecimento impõem - eis o impositivo que ninguém pode julgar lícito postergar.
*
Ama e respeita em teus genitores a humana manifestação da paternidade divina.
Quando fortes, sê-lhes a companhia e a jovialidade: quando fracos, a proteção e o socorro.
Enquanto sadios, presenteia-os com a alegria e a consideração; se enfermos, com a assistência dedicada e a sustentação preciosa.
Em qualquer situação ou circunstância, na maturidade ou na velhice, afeiçoa-te àqueles que te ofertaram o corpo de que te serves para os cometimentos da evolução, como o mínimo que podes dispensar-lhes, expressando o dever de que encontras investido.
FRANCO, Divaldo Pereira. SOS Família. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL.


FILHOS INGRATOS
A ingratidão - chaga pestífera que um dia há de desaparecer da Terra - tem suas nascentes no egoísmo, que é o remanescente mais vil da natureza animal, lamentavelmente persistindo na Humanidade.
A ingratidão sob qualquer forma considerada, expressa o primarismo espiritual de quem a carrega, produzindo incoercível mal-estar onde se apresenta.
O ingrato, isto é, aquele que retribui o bem pelo mal, a generosidade pela avareza, a simpatia pela aversão, o acolhimento pela repulsa, a bondade pela soberba, é sempre um atormentado que esparze insatisfação, martirizando quantos o acolhem e socorrem.
O homem vitimado pela ingratidão supõe tudo merecer e nada retribuir, falsamente acreditando ser credor de deveres do próximo para consigo, sem qualquer compensação de sua parte.
Estulto, desdenha os benefícios recolhidos a fim de exigir novas contribuições que a própria insânia desconsidera. É arrogante e mesquinho porque padece atrofia dos sentimentos, transitando nas faixas da semiconsciência e da irresponsabilidade.
Sendo a ingratidão, no seu sentido genérico, detestável nódoa moral, a dos filhos para com os pais assume proporções relevantes, desde que colima hediondo ato de rebeldia contra a Criação Divina.
O filho ingrato é dilacerador do coração dos pais, ímpio verdugo que se não comove com as doloridas lágrimas maternas nem com as angústias somadas e penosas do sentimento paterno.
Com a desagregação da família, que se observa generalizada na atualidade, a ingratidão dos filhos torna-se responsável pela presença de vários cânceres morais, no combalido organismo social, cuja terapia se apresenta complexa e difícil.
Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo podem, se rebelam contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia e da agressividade contínua, culminando, não raro, em cenas de pugilato e vergonha.
Muitos progenitores, igualmente, imaturos ou versáteis, que transitam no corpo açulados pelo tormento de prazeres incessantes - que os fazem esquecer as responsabilidades junto aos filhos para os entregarem aos servos remunerados, enquanto se corrompem na leviandade -, respondem pelo desequilíbrio e desajuste da prole, na desenfreada competição da utópica e moderna sociedade.
Todavia, filhos há que receberam dos genitores as mais prolíferas demonstrações e testemunhos de sacrifício e carinho, aspirando a um clima de paz, de saúde moral, de equilíbrio doméstico, nutridos pelo amor sem fraude e pela abnegação sem fingimentos, e revelam-se, desde cedo, frios, exigentes e ingratos.
Se diante de pais irresponsáveis a ingratidão dos filhos jamais se justifica ou procede, a proporcionada por aqueles que tudo recebem e tudo negam, somente encontra explicação na reminiscência dos desajustes pretéritos dos Espíritos, que, não obstante reunidos outra vez para recuperar-se, avivam as animosidades que ressumam do inconsciente e se corporificam em forma de antipatia e aversão, impelindo-os à ingratidão que os atira à rampas inditosas do ódio dissolvente.
A família é abençoada escola de educação moral e espiritual, oficina santificante onde se lapidam caracteres, laboratório superior em que se caldeiam sentimentos, estruturam aspirações, refinam ideais, transformam mazelas antigas em possibilidades preciosas para a elaboração de misteres edificantes.
O lar, em razão disso, mesmo quando assinalado pelas dores decorrentes do aprimorar das arestas dos que o constituem, é forja purificadora onde se devem trabalhar as bases seguras da humanidade de todos os tempos. Quando o lar se estiola e a família se desorganiza a Sociedade se abate e estertora.
De nobre significação, a família não são apenas os que se amam, através dos vínculos da consanguinidade, mas, também, da tolerância e solidariedade que se devem doar os equilibrados e afáveis aos que constituem os elos fracos, perturbadores e em deperecimento no clã doméstico.
Aos pais cabem sempre os deveres impostergáveis de amar e entender até o sacrifício os filhos que lhes chegam pelas vias sacrossantas da reencarnação, educando-os e depondo-lhes nas almas as sementes férteis da fé, das responsabilidades, instruindo-os e neles inculcando a necessidade da busca de elevação e felicidade. O que decorra serão consequências do estado moral de cada um, que lhes não cabem prever, recear ou sofrer por antecipação pessimista.
Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou irresponsáveis porquanto é do Código Superior da Vida, a imposição: “Honrar pai e mãe”, sem excluir os que o são apenas por função biológica, assim mesmo, por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa necessárias provas redentoras e torturantes expiações libertadoras.
Ante o filho ingrato, seja qual for a situação em que se encontre, guarda piedade para com ele e dá-lhe mais amor...
Agressivo e calceta, exigente e impiedoso, transformado em inimigo insensível quão odioso, oferta, ainda, paciência e mais amor...
Se te falarem sobre recalques que ele traz da infância, em complexos que procedem desta ou daquela circunstância, em efeito da libido tormentosa com que os simplistas e descuidados pretendem escusá-lo, culpando-te, recorda, em silêncio, de que o Espírito precede ao berço, trazendo gravados nas tecelagens sutis da própria estrutura gravames e conquistas, elevação e delinquência, podendo, então, melhor compreendê-lo, mais ajudá-lo, desculpá-lo com eficiência e socorrê-lo com probidade prosseguindo ao seu lado sem mágoa e encorajado no programa com a família inditosa e os filhos ingratos, resgatando pelo sofrimento e amor os teus próprios erros, até o dia em que, redimido, possas reorganizar o lar feliz a que aspiras. (Espírito de Joanna de Ângelis - Obra: S.O.S. Família - Divaldo P. Franco)      


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


FRANCO, Divaldo P. S.O.S. Família. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 16. ed. Rio de Janeiro: Leal, 2006.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.

______. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.


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