Estudo do
livro Nosso Lar
ORGANIZAÇÕES
DE SERVIÇOS
O
estudo do capítulo 8 tem como informações gerais:
1) Personagem: André Luiz, Lísias
2) Temas: Prece,
reencarnações, organização espiritual e o poder da mente.
“8
ORGANIZAÇÃO
DE SERVIÇOS
Decorridas
algumas semanas de tratamento ativo, saí, pela primeira vez, em companhia de
Lísias.
Impressionou-me
o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar
puro, atmosfera de profunda tranquilidade espiritual. Não havia, porém,
qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam
repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a mente em
lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores. Incumbia-se o
companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiam ininterruptas.
Percebendo-me as íntimas conjeturas, esclareceu solícito:”
Após passar bom período de estabelecimento dentro da
unidade hospitalar espiritual, foi permitido a André Luís conhecer outros
ambientes da nova colônia; e, durante o percurso, viu irmãos com diferentes
comportamentos.
Analisando: será que se pode realizar uma pontuação
semelhante ou diversa da vivida quando se está encarnado?!
“-
Estamos no local do Ministério do Auxílio. Tudo o que vemos, edifícios, casas
residenciais, representa instituições e abrigos adequados à tarefa de nossa
jurisdição. Orientadores, operários e outros serviçais da missão residem aqui.
Nesta zona, atende-se a doentes, ouvem-se rogativas, selecionam-se preces,
preparam-se reencarnações terrenas, organizam-se turmas de socorro aos
habitantes do Umbral, ou aos que choram na Terra, estudam-se soluções para
todos os processos que se prendem ao sofrimento.”
Em virtude do olhar considerado de André Luís, Lísias
descreve a respeito do local onde estão. Quanta organização! Mais uma vez,
pode-se perceber o quanto o ser espiritual é sempre amparado.
“- Há,
então, em "Nosso Lar", um Ministério do Auxílio? - perguntei.
- Como
não? Nossos serviços são distribuídos numa organização que se aperfeiçoa dia a
dia, sob a orientação dos que nos presidem os destinos.”
Fixando
em mim os olhos lúcidos, prosseguiu:
Um novo mundo?!
Por que o ser espiritual insiste em pensar que somente
o Planeta Terra é passível de existência de seres? Que dirá de portar com uma
composição de tarefas, de existências e de estrutura como a de mais uma morada
na casa do Pai, tal como Nosso Lar?... Qual será o mundo real a dos seres
encarnados ou dos seres desencarnados? Qual será a cópia?
É patente que o mundo verdadeiro é o Universo e tanto
os seres encarnados quanto os desencarnados vivem nele; contudo, quando se está
carne, o indivíduo está vivendo na cópia da vida real, que é a dos
desencarnados.
“- Não tem visto, nos atos da prece, nosso
Governador Espiritual cercado de setenta e dois colaboradores? Pois são os
Ministros de "Nosso Lar". A colônia, que é essencialmente de
trabalho e realização, divide-se em seis Ministérios, orientados, cada
qual, por doze Ministros. Temos os Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da
Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. Os quatro
primeiros nos aproximam das esferas terrestres, os dois últimos nos ligam ao
plano superior, visto que a nossa cidade espiritual é zona de transição. Os
serviços mais grosseiros localizam-se no Ministério da Regeneração, os mais
sublimes no da União Divina.
Clarêncio, o nosso chefe amigo, é um dos Ministros do Auxílio.”
Então, Lísias
esclare a disposição de Nosso Lar dividida em seis Ministérios:
1) Regeneração;
2) Auxílio;
3) Comunicação;
4) Esclarecimento;
5) Elevação;
6) União
Divina.
com os quatro primeiros com composição encadeada com o
Planeta Terra; e, os dois últimos com o Plano Superior.
“Valendo-me
da pausa natural, exclamei, comovido:
- Oh!
nunca imaginei a possibilidade de organizações tão completas, depois da morte
do corpo físico!...
- Sim -
esclareceu Lísias -, o véu da ilusão é muito denso nos círculos carnais. O
homem vulgar ignora que toda manifestação de ordem, no mundo, procede do plano
superior. A natureza agreste transforma-se em jardim, quando orientada pela
mente do homem, e o pensamento humano, selvagem na criatura primitiva,
transforma-se em potencial criador, quando inspirado pelas mentes que funcionam
nas esferas mais altas. Nenhuma organização útil se materializa na crosta
terrena, sem que seus raios iniciais partam de cima.”
A palavra chave para estes parágrafos é: pensamento.
Se o ser espiritual tivesse conhece consciência do
poder do pensamento e como ele, em vez de utilizá-lo para realizar atitudes
prejudiciais para si próprio e para o próximo, talvez não perdesse tempo
precioso na direção da felicidade.
Para melhor esclarecimento, o Livro dos Espíritos, das
perguntas de 459 a 472, explica:
“Influência Oculta dos Espíritos nos Nossos
Pensamentos e nas Nossas Ações
459. Os
Espíritos influem nos nossos pensamentos e nas nossas ações?
“Sob este
aspecto, a influência deles é maior do que imaginais, pois, com muita frequência,
são eles que vos dirigem.”
460. Temos
pensamentos que nos são próprios e outros que nos são sugeridos?
“Vossa alma é
um Espírito que pensa; não ignorais que vários pensamentos vos chegam, ao mesmo
tempo, sobre um mesmo assunto e, com frequência, muito contrários uns aos
outros; pois bem! Há sempre pensamentos vossos e nossos; é o que vos deixa na
incerteza, porque tendes, em vós, duas ideias que se combatem.”
461. Como
distinguir os pensamentos que nos são próprios daqueles que nos são sugeridos?
“Quando um
pensamento é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios
são, em geral, os do primeiro impulso. De resto, não há, para vós, grande
interesse em estabelecer essa distinção e, frequentemente, é útil não saber
fazê-la: o homem age mais livremente; se se decide pelo bem, ele o faz
voluntariamente; se toma o mau caminho, só terá mais responsabilidade.”
462. Os homens
inteligentes e de gênio haurem sempre suas ideias de dentro de si mesmos?
“Algumas
vezes, as ideias vêm do seu próprio Espírito; porém, frequentemente, elas lhes
são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de compreendê-las e
dignos de transmiti-las. Quando não as encontram em si mesmos, apelam para a
inspiração; é uma evocação que fazem, sem disso suspeitarem.”
Se fosse útil
que pudéssemos distinguir claramente nossos próprios pensamentos daqueles que
nos são sugeridos, Deus nos teria dado o meio, como nos dá o de distinguir o
dia da noite. Quando uma coisa permanece vaga, é que é melhor que assim seja.
463. Dizem,
algumas vezes, que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
“Ele pode ser
bom ou mau, conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom, naquele
que escuta as boas inspirações.”
464. Como distinguir
se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito?
“Estudai a
coisa; os bons Espíritos só aconselham o bem; cabe a vós distinguir.”
465. Com que
objetivo os Espíritos imperfeitos nos impulsionam para o mal?
“Para vos
fazer sofrer, como eles.”
a) Isto
diminui seus sofrimentos?
“Não, mas eles
o fazem por inveja de ver seres mais felizes.”
b) De que
natureza é o sofrimento que querem infligir?
“Os que resultam de estar em uma ordem
inferior e afastado de Deus.”
466. Por que
Deus permite que Espíritos nos excitem ao mal?
“Os Espíritos
imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância
dos homens no bem. Tu, como Espírito, deves progredir na ciência do infinito, é
por isso que passas pelas provas do mal, para chegares ao bem. Nossa missão é
colocar-te no bom caminho e, quando más influências agem sobre ti, é que tu as
atrais, pelo desejo do mal, pois os Espíritos inferiores vêm ajudar-te no mal,
quando tens a vontade de cometê-lo; eles só podem te auxiliar no mal, quando desejas
o mal. Pois bem! Se fores inclinado ao assassínio, terás uma nuvem de Espíritos
que manterão este pensamento em ti; mas terás, também, outros que tentarão te
influenciar para o bem, o que faz com que a balança se reequilibre e te deixe
senhor dos teus atos.”
É assim que
Deus deixa à nossa consciência a escolha do caminho que devamos seguir e a
liberdade de ceder a uma ou a outra das influências contrárias, que se exercem
sobre nós.
467. Podemos
nos libertar da influência dos Espíritos que nos induzem ao mal?
“Sim, pois
eles só se apegam àqueles que os chamam, através dos seus desejos, ou os
atraem, pelos seus pensamentos.”
468. Os
Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas
tentativas?
“Que queres
que façam? Quando nada há a fazer, recuam; todavia, aguardam o momento
favorável, como o gato espreita o rato.”
469. Através
de que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?
“Fazendo o bem
e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos
inferiores e destruís o império que queiram ter sobre vós.
Desconfiai das
sugestões dos Espíritos que suscitam em vós maus pensamentos, que sopram a
discórdia entre vós e que vos excitam todas as más paixões.
Desconfiai,
principalmente, daqueles que vos exaltam o orgulho, pois vos pegam pelo vosso
ponto fraco. Eis por que Jesus vos ensina a dizer, na oração dominical: Senhor!
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.”
470. Os
Espíritos que procuram nos induzir ao mal e que, assim, colocam em prova nossa
firmeza no bem, receberam a missão de fazê-lo e, se é uma missão que cumprem,
têm responsabilidade por isso?
“Nenhum
Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando o faz, é por sua própria
vontade e, por conseguinte, sofre as consequências disto. Deus pode
permitir-lhe fazer isto, para vos experimentar, mas não lhe ordena que o faça,
cabendo a vós repeli-lo.”
471. Quando
experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível ou de
satisfação interior, sem causa conhecida, isto se deve unicamente a uma disposição
física?
“É quase sempre um efeito das comunicações que
estabeleces, inconscientemente, com os Espíritos, ou que estabelecestes com
eles, durante o sono.”
472. Os
Espíritos que querem nos excitar ao mal apenas se aproveitam das circunstâncias
em que nos achamos, ou podem criar essas circunstâncias?
“Aproveitam-se
da circunstância, mas frequentemente a provocam, impelindo-vos,
inconscientemente, em direção ao objeto de vossa cobiça. Assim, por exemplo, um
homem encontra, no seu caminho, uma soma de dinheiro: não penses que foram os
Espíritos que levaram o dinheiro àquele lugar, mas eles podem dar ao homem a ideia
de ir naquela direção e, então, sugerem-lhe o pensamento de se apoderar dele,
enquanto outros lhe sugerem o de restituir esse dinheiro à pessoa a quem
pertence. Acontece o mesmo com todas as outras tentações.”
“- Mas "Nosso Lar" terá igualmente
uma história, como as grandes cidades planetárias?
- Sem
dúvida. Os planos vizinhos da esfera terráquea possuem, igualmente, natureza
específica. "Nosso Lar" é antiga fundação de portugueses distintos,
desencarnados no Brasil, no século XVI. A princípio, enorme e exaustiva foi a
luta, segundo consta em nossos arquivos no Ministério do Esclarecimento. Há
substâncias ásperas nas zonas invisíveis à Terra, tal como nas regiões que se
caracterizam pela matéria grosseira. Aqui também existem enormes extensões de
potencial inferior, como há, no planeta, grandes tratos de natureza rude e
incivilizada. Os trabalhos primordiais foram desanimadores, mesmo para os
espíritos fortes. Onde se congregam hoje vibrações delicadas e nobres, edifícios
de fino lavor, misturavam-se as notas primitivas dos silvícolas do pais e as
construções infantis de suas mentes rudimentares. Os fundadores não
desanimaram, porém. Prosseguiram na obra, copiando o esforço dos europeus que
chegavam à esfera material, apenas com a diferença de que, por lá, se empregava
a violência, a guerra, a escravidão, e, aqui, o serviço perseverante, a
solidariedade fraterna, o amor espiritual.”
O que pontuar
a respeito destes dois parágrafos, se não a abençoada história de construção de
mais uma morada celestial?!
O mais sublime
desta edificação foi apreender que, apesar de ser formada por europeus, os
mesmos não a erguerem com imperfeições cometidas quando estiveram encarnados.
Bendita seja a
oportunidade divina da evolução da qual possibilita todo ser espiritual
realizar sua reforma íntima em direção ao bem.
“A essa
altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos, ostentando extensos
jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de magnificente beleza,
encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu.
- Os
fundadores da colônia começaram o esforço, partindo daqui, onde se localiza a
Governadoria - disse o visitador.”
Como todo local, - seja no plano dos desencarnados,
seja no dos encarnados -, há um território onde se concentra a organização
central de todo ele. Isso não é diferente no Planeta Terra e não é em Nosso
Lar. No caso desta morada, a gestão principal está estabelecida no centro dela;
e, seus instituidores se empenharam para implementá-la.
“Apontando
o palácio, continuou:
-
Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a que me
referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma triangular.
E,
respeitoso, comentou:
- Ali
vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos, utiliza ele a
colaboração de três mil funcionários; entretanto, é ele o trabalhador mais
infatigável e mais fiel que todos nós reunidos. Os Ministros costumam
excursionar noutras esferas, renovando energias e valorizando conhecimentos;
nós outros gozamos entretenimentos habituais, mas o Governador nunca dispõe de
tempo para isso. Faz questão que descansemos, obriga-nos a férias periódicas,
ao passo que, ele mesmo, quase nunca repousa, mesmo no que concerne às horas de
sono. Parece-me que a glória dele é o serviço perene. Basta lembrar que estou
aqui há quarenta anos e, com exceção das assembleias referentes às preces
coletivas, raramente o tenho visto em festividades públicas. Seu pensamento,
porém, abrange todos os círculos de serviço, sua assistência carinhosa a tudo e
a todos atinge.
Depois
de longa pausa, o enfermeiro amigo acentuou:
- Não
faz muito, comemorou-se o 114º aniversário da sua magnânima direção.
Calara-se
Lísias, evidenciando comovida reverência, enquanto eu a seu lado contemplava,
respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam cindir o
firmamento...”
Que organização!
Que dedicação!
No que se refere, a atitude do governador, o
pensamento é o mecanismo de trabalho de amor para com todos os habitantes e
trabalhadores da moradia celestial.
No que se refere ao tema da Prece, o Livro dos
Espíritos instrui:
658. A prece é agradável a Deus?
— A
prece é sempre agradável a Deus quando ditada pelo coração, porque a
intenção é tudo para ele. A prece do coração é preferível à que podes ler,
por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com
o pensamento. A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé,
com fervor e sinceridade. Não creias, pois, que Deus seja tocado pelo
homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato
de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.
659. Qual o caráter geral da prece?
—
A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar
nele, aproximar-se dele, pôr-se em comunicação com ele. Pela prece podemos
fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.
660. A prece torna
o homem melhor?
— Sim,
porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte
contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para
o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o pedimos com
sinceridade.
660 – a) Como se
explica que certas pessoas que oram muito sejam, apesar disso, de muito mau
caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e de
indulgência; que sejam até mesmo viciosas?
— O
essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas julgam que todo o
mérito está na extensão da prece e fecham, os olhos para os seus próprios
defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas
não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste
caso, mas a maneira de aplicá-lo.
661. Pode-se pedir eficazmente a Deus
o perdão das faltas?
— Deus
sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que
pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém se não mudar de conduta.
As boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as
palavras.
662. Pode-se
orar utilmente pelos outros?
— O
Espírito daquele que ora está agindo pela vontade de fazer o bem. Pela
prece atrai a ele os bons Espíritos que se associam ao bem que deseja fazer.
Comentário
de Kardec: Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder
de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea. A prece
por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os
bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons
pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda
nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.
663. As
preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas
e desviar-lhes o curso?
— Vossas
provas estão nas mãos de Deus e lia as que devem ser suportadas até o fim,
mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece atrai a vós os bons
Espíritos que vos dão a força de as suportar com coragem. Então elas vos
parecem menos duras. Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita,
porque dá força, o que já é um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o
céu te ajudará; tu sabes disso. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da
Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal do vosso
ponto de vista mesquinho, para vossa vida efêmera, muitas vezes é um
grande bem na ordem geral do Universo(1). Além. disso, de quantos males o homem é
o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas. Ele é punido no
que pecou. Não obstante, os vossos justos pedidos são em geral mais
escutados do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu porque não fez um
milagre em vosso favor, quando, entretanto, vos assiste por meios
tão naturais que vos parecem o efeito do acaso ou da força das
circunstâncias. Frequentemente, ou o mais frequentemente, ele vos suscita
o pensamento necessário para sairdes por vós mesmos do embaraço.
664. É útil orar
pelos mortos e pelos Espíritos sofredores, e nesse caso como pode as nossas
preces lhes proporcionar consolo e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de
fazer dobrar-se a justiça de Deus?
—A
prece não pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela
qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se
lhe dá e porque o infeliz, v sempre consolado, quando encontra
almas caridosas que compartilham as suas dores. De outro lado, pela prece
provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o necessário para se
tornar feliz. É nesse sentido que se pode abreviar a sua
pena, se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse
desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os
Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças.
Jesus orava pelas ovelhas transviadas. Com isso vos mostrava que sereis
culpados se nada fizerdes pelos que mais necessitam.
665. Que
pensar da opinião que rejeita a prece pelos mortos, por não estar prescrita nos
Evangelhos?
—
O Cristo disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação
implica a de empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos
outros, sem entrar, por isso mesmo, em nenhum detalhe sobre a maneira de
atingir o objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o Criador de
aplicar a justiça, inerente a ele mesmo, a todas as ações do Espírito,
não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em favor daquele que vos
inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode
deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o consolar. Desde
que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será
socorrido; mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma
simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que a sua intercessão
lhe foi útil. Disso resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento
de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade.
Por conseguinte, o amor recomendado aos homens pelo Cristo não fez mais do
que aumentar entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de
todos os seres, lei divina que deve conduzirá unidade, objetivo e fim do
Espírito(1).
666. Podemos
orar aos Espíritos?
— Podemos
orar aos bons Espíritos como sendo os mensageiros de Deus e os
executores de seus desígnios, mas o seu poder está na razão da
sua superioridade e decorre sempre do Senhor de todas as coisas, sem
cuja permissão nada se faz; e isso porque as preces que lhes
dirigimos só são eficazes se forem agradáveis a Deus.
(1) Espinosa
dizia que “Deus age segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser
constrangido por ninguém” (Proposição XVII da “Ética”), e afirmava a
impossibilidade do milagre, por ser uma violação das leis de Deus. Também no
tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do
Universo. (N. do T.)
(1) Resposta
dada pelo Espírito do Sr. Monod, pastor protestante de Paris, falecido em abril
de 1856. A resposta precedente, número 664, é do Espírito de São Luís.”
O Livro dos
Espíritos assinala:
“Penetração
dos Espíritos no Nosso Pensamento
456. Os
Espíritos veem tudo o que fazemos?
“Podem vê-lo,
já que estais constantemente rodeado por eles; cada um, porém, só vê as coisas
para as quais dirige sua atenção, pois as que lhe são indiferentes, com estas
não se ocupa.”
457. Os
Espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos?
“Frequentemente,
conhecem o que desejaríeis esconder de vós mesmos; nem atos, nem pensamentos
lhes podem ser dissimulados.”
a) Dessa
forma, seria mais fácil esconder algo de uma pessoa viva, do que fazê-lo a esta
mesma pessoa, depois de morta?
“Certamente;
quando vos julgais bem ocultos, tendes, frequentemente, uma multidão de
Espíritos, ao vosso lado, que vos vê.”
458. O que
pensam de nós os Espíritos que nos cercam e que nos observam?
“Depende. Os
Espíritos brincalhões riem dos pequenos aborrecimentos que vos causam e zombam
das vossas impaciências. Os Espíritos sérios deploram vossos defeitos e tentam
ajudar-vos.”
No evangelho segundo o espiritismo pode-se encontrar
no Capítulo XXVII (Pedi e obtereis) apontamentos sobre as qualidades, a
eficácia e a ação das preces, além da maneira de orar.
“As
qualidades da prece
1.
.E,
quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que gostam de orar ficando
de pé nas sinagogas, e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens.
Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Vós, porém, quando
quiserdes orar, entrai no vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em
segredo; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos dará a recompensa.
Não vos preocupeis em pedir muito em vossas orações, como fazem os pagãos, que
imaginam que é pela quantidade de palavras que serão atendidos em seus pedidos.
Não vos torneis, pois, semelhantes a eles, porque vosso Pai sabe do que tendes
necessidade, antes que o peçais.. (Mateus, VI: 5 a 8.)
2.
Quando
vos apresentardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém,
perdoai-o, para que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos
pecados. Se não o perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, não perdoará vossos
pecados.. (Marcos, XI: 25 e 26.)
3.
E disse
também esta parábola a alguns que punham sua confiança em si mesmos, como se
fossem justos, e desprezavam os outros:
Dois
homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O
fariseu, pondo-se de pé, orava assim, interiormente: “Meu Deus, graças vos
rendo por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos e
adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou o
dízimo de tudo o que possuo.”
O
publicano, ao contrário, conservando-se afastado, nem mesmo ousava levantar os
olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim, que
sou um pecador.”
Eu vos
declaro que este voltou para casa justificado, e não o outro, porque aquele que
se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado. (Lucas, XVIII: 9
a 14.)
4.
As
qualidades da prece são claramente definidas por Jesus; quando orardes, disse
Ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em segredo; não vos preocupeis em
orar muito, porque não é pela quantidade de palavras que sereis atendidos, mas
pela sua sinceridade; antes de orar, se tendes qualquer coisa contra alguém,
perdoai-o, porque a prece não poderá ser agradável a Deus se não partir de um
coração purificado de todo sentimento contrário à caridade; orai, enfim, com
humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai vossos
defeitos, e não vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o
que há de mau em vós. (Ver cap. X, itens 7 e 8.)
Eficácia
da prece
5.
.Seja o
que for que peçais na prece, crede que o obtereis, e vos será concedido..
(Marcos, XI: 24.)
6.
Há
pessoas que contestam a eficácia da prece, baseando-se no princípio de que,
sendo Deus conhecedor de todas as nossas necessidades, é inútil expô-las a Ele.
Acrescentam ainda que nossas súplicas não podem mudar os desígnios de Deus,
porquanto tudo no Universo se encadeia por leis eternas.
Há leis
naturais e imutáveis que, sem dúvida alguma, Deus não pode anular segundo o
capricho de cada um, mas daí a crer que todas as circunstâncias da vida estão submetidas
à fatalidade, a distância é muito grande. Se assim fosse, o homem seria apenas
um instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só
lhe restaria curvar a cabeça sob a ação dos acontecimentos, sem procurar
evitá-los, e não deveria procurar esquivar-se dos perigos. Deus não lhe deu a
razão e a inteligência para que não se servisse delas, a vontade para não
querer, a atividade para ficar inativo. Sendo o homem livre para agir em todos
os sentidos, seus atos têm, para si e para os outros, consequências
subordinadas ao que ele fez ou deixou de fazer. Por conseguinte, por sua
iniciativa, há acontecimentos que, forçosamente, escapam à fatalidade, e que
não destroem a harmonia das leis universais, da mesma forma que o avanço ou o
atraso dos ponteiros de um relógio não destrói a lei do movimento, sobre a qual
está estabelecido o seu mecanismo. Deus pode, portanto, concordar com certos
pedidos, sem anular a imutabilidade das leis que regem o conjunto, ficando o
atendimento desses pedidos sempre subordinado à sua vontade.
7.
Seria
ilógico concluir por estas palavras: “Seja o que for que peçais pela prece, vos
será concedido”, que é suficiente pedir para obter, assim como seria injusto
acusar a Providência se ela não atende a todo pedido que lhe é feito, porquanto
ela sabe melhor do que nós o que é para o nosso bem. É assim que procede um pai
sensato, que recusa ao seu filho as coisas que seriam contrárias ao seu
interesse. O homem, geralmente, vê apenas o presente; ora, se o sofrimento é
útil à sua felicidade futura, Deus deixará que ele sofra, como o cirurgião
deixa o doente sofrer com uma operação que vai lhe proporcionar a cura.
O que
Deus lhe concederá, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a
resignação. E o que ainda lhe concederá são os meios de sair das dificuldades, com
a ajuda das ideias que Ele fará os bons espíritos lhe sugerirem, de maneira que
o mérito da ação ficará para o homem. Deus assiste os que se ajudam a si
mesmos, de acordo com estas palavras: “Ajuda-te, e o céu te ajudará’, e não aqueles
que esperam tudo de um socorro alheio, sem fazer uso de suas próprias
faculdades. Na maioria das vezes, porém, o homem prefere ser socorrido por um
milagre, sem fazer o menor esforço. (Ver cap. XXV, item 1 e seguintes.)
8.
Vejamos
este exemplo: um homem está perdido em um deserto; sofre horrivelmente com a
sede; sente-se desfalecer e deixa-se cair sobre a areia. Roga a Deus que o
assista, e espera; porém, nenhum anjo vem lhe dar de beber. No entanto, um bom
espírito lhe sugere a ideia de se levantar, de seguir em uma determinada
direção dentro da amplidão diante dele. Então, por um movimento instintivo,
reunindo suas forças, levanta-se e caminha ao acaso. Chegando a uma elevação,
descobre ao longe um regato; e, com essa visão, recupera a coragem. Se ele tem
fé, exclamará: “.Obrigado, meu Deus, pela ideia que me haveis inspirado e pela
força que me destes.. Se não tem fé, dirá: .Que boa ideia eu tive! Que sorte,
tomar a direção da direita e não a da esquerda; o acaso, realmente, algumas
vezes nos ajuda! Quanto eu me felicito pela minha coragem e por não me haver
deixado vencer pelo abatimento”.
No
entanto, poder-se-á perguntar, por que o bom espírito não lhe disse claramente
.segue esta direção, e encontrar ás o de que precisas. ou por que não se
mostrou a ele para guiá-lo e sustentá-lo no seu desfalecimento. Dessa maneira, certamente,
o teria convencido da intervenção da Providência. A resposta é simples;
inicialmente, seria para ensinar que ele deveria ajudar a si mesmo, fazendo uso
das próprias forças. Depois, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança e a
submissão à sua vontade. Aquele homem estava na situação de uma criança que
cai, e que, vendo alguém, começa a gritar, esperando que venham levantá-la; se
não vê ninguém, esforça-se e levanta-se sozinho.
Se o
anjo que acompanhou Tobias lhe houvesse dito: “Eu sou enviado por Deus para te
guiar na tua viagem e te preservar de todo perigo”, Tobias não teria tido
nenhum mérito porque, confiando em seu companheiro, não sentiria necessidade
nem de pensar. Eis por que o anjo só se deu a conhecer quando regressavam.
Ação da
prece.
Transmissão
do pensamento
9.
A prece
é uma invocação; por seu intermédio entramos em comunicação, pelo pensamento,
com o ser a quem nos dirigimos. A prece pode ter por finalidade um pedido, um
agradecimento ou uma glorificação. Podemos pedir por nós mesmos ou pelos
outros, pelos vivos ou pelos mortos. As que são endereçadas a Deus são ouvidas
pelos espíritos encarregados da execução da sua vontade; as que são dirigidas aos
bons espíritos são igualmente levadas a Deus. Quando oramos para outros seres,
que não a Deus, eles são apenas intermediários, intercessores, porquanto nada
pode ser feito sem a vontade divina.
10. O Espiritismo
nos faz compreender a ação da prece, explicando como se processa a transmissão
do pensamento, seja quando o ser chamado atende ao nosso apelo, seja quando o
nosso pensamento chega até ele. Para se compreender o que se passa nessa
circunstância, é preciso imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados,
imersos no fluido universal que ocupa o espaço, assim como aqui na Terra
estamos mergulhados na atmosfera. O fluido recebe o impulso da vontade, ele é o
veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as
vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluido universal se
estendem ao infinito. Assim sendo, quando o pensamento é dirigido para um ser
qualquer, sobre a Terra ou no espaço, de encarnado a desencarnado ou de
desencarnado a encarnado, uma corrente fluídica se estabelece de um ao outro, transmitindo
o pensamento, da mesma forma que o ar transmite o som.
A
energia dessa corrente está na razão direta da energia do pensamento e da
vontade. É assim que a prece é ouvida pelos espíritos, em qualquer lugar em que
eles se encontrem; que os espíritos se comunicam entre si; que nos transmitem suas
inspirações e que se estabelecem as relações, à distância, entre os encarnados.
Essa
explicação visa a esclarecer principalmente aqueles que não compreendem a
utilidade da prece puramente mística; não tem por finalidade materializar a
prece, mas tornar os seus efeitos compreensíveis, mostrando que ela pode ter
uma ação direta e efetiva, mas que não está menos subordinada à vontade de
Deus, juiz supremo em todas as coisas e o único que pode tornar sua ação
eficaz.
11. Pela prece, o
homem atrai para si o concurso dos bons espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas
boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Dessa forma, ele adquire a força
moral necessária para vencer as dificuldades e retornar ao caminho certo, se
dele tiver se afastado, desviando, assim, os males que atrairia para si por
suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê sua saúde arruinada pelos
excessos que cometeu, e, até o fim da sua vida, arrasta uma existência de
sofrimentos. Tem ele o direito de se lastimar por não obter sua cura? Não,
porque poderia ter encontrado na prece as forças para resistir às tentações.
12. Se dividirmos
os males da vida em duas partes, uma com os males que o homem não pode evitar, e
a outra com as atribulações das quais ele mesmo é a primeira causa, pela sua
falta de cuidado e seus excessos (Ver cap. V, item 4), veremos que a segunda
parte é muito mais numerosa que a primeira. É bem evidente, portanto, que o
homem é o autor da maior parte das suas aflições, e que muito se pouparia, se agisse
sempre com prudência e sabedoria.
Não é
menos certo que essas misérias são o resultado do nosso desrespeito às leis de
Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos inteiramente felizes.
Se não ultrapassássemos o limite do indispensável, na satisfação das nossas
necessidades, não teríamos as doenças que são a consequência dos excessos, nem
passaríamos pelas vicissitudes que essas doenças acarretam. Se puséssemos
limites às nossas ambições, não precisaríamos nos preocupar com a ruína; se
fôssemos humildes, não sofreríamos com as decepções do orgulho ferido; se
praticássemos a lei da caridade, não seríamos maledicentes, nem invejosos, nem
ciumentos, e evitaríamos as querelas e as dissensões; se não fizéssemos mal a
ninguém, não teríamos que temer as vinganças, etc.
Admitamos,
porém, que o homem nada possa fazer sobre os outros males; que toda prece seja
inútil para se preservar deles; já não seria muito, ele poder livrar-se
daqueles que resultam dos seus próprios atos? Ora, aqui a ação da prece se
concebe facilmente, porque ela tem por efeito buscar a inspiração salutar dos
bons espíritos, pedir-lhes forças para resistir aos maus pensamentos, cuja
concretização pode nos ser funesta. Nesse caso, não é o mal que eles afastam, é
a nós mesmos que eles afastam do pensamento que pode causar o mal; os bons
espíritos em nada impedem os decretos de Deus, eles não suspendem o curso das
leis da Natureza, é a nós que eles impedem de infringir essas leis, dirigindo o
nosso livre-arbítrio. Mas eles o fazem sem que o percebamos, de maneira oculta,
para não subjugar a nossa vontade. O homem se encontra, então, na posição
daquele que solicita bons conselhos e os pratica, mas que sempre é livre de
segui-los ou não. Deus quer que seja assim, para que o homem tenha a
responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o
bem e o mal. É isso que o homem deve estar sempre certo de obter, se pedir com
fervor, e é principalmente nesse caso que se podem aplicar estas palavras: “Pedi
e obtereis”.
A
eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções, já não seria um imenso
resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a ação da prece pela
revelação das relações que existem entre o mundo corporal e o mundo espiritual.
Mas os seus efeitos não se limitam unicamente a isso.
A prece
é recomendada por todos os espíritos; renunciar à prece é desconhecer a bondade
de Deus; é rejeitar a assistência que ela proporciona a si mesmo, e o bem que pode
fazer aos outros.
13. Atendendo ao
pedido que lhe é dirigido, Deus muitas vezes tem em vista recompensar a
intenção, o devotamento e a fé daquele que ora; eis por que a prece do homem de
bem tem mais mérito, aos olhos de Deus, e sempre mais eficácia, porque o homem
mau e cheio de vícios não pode orar com o fervor e a confiança que só o
sentimento da verdadeira piedade pode oferecer. Do coração do egoísta, daquele
que ora apenas com os lábios, só podem sair palavras, nunca os impulsos da
caridade, que dão à prece todo o seu poder. Compreende-se isso de tal forma que,
instintivamente, nós nos recomendamos às preces daqueles cuja conduta nos
parece ser agradável a Deus, pois serão melhor ouvidas.
14. Como a prece
exerce uma espécie de ação magnética, poderíamos supor que o seu efeito está
subordinado ao poder fluídico, porém, não é assim. Já que os espíritos exercem
essa ação sobre os homens, eles suprem a insuficiência daquele que ora, quando
isso é necessário, quer agindo diretamente em seu nome, quer dando-lhe momentaneamente
uma força excepcional, desde que ele seja julgado digno dessa graça ou que ela
possa ser útil.
O homem
que não se considera bom o bastante para exercer uma influência salutar, não
deve deixar de orar por outra pessoa, pensando que não é digno de ser escutado.
O reconhecimento da sua inferioridade é uma prova de humildade sempre agradável
a Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e sua
confiança em Deus são um primeiro passo para o seu retorno ao bem, para o qual
os bons espíritos sentem-se felizes em encorajá-lo. A prece que não é aceita é
a do orgulhoso que tem fé em seu poder e em seus méritos, e acredita ser capaz
de substituir a vontade do Eterno.
15. O poder da
prece está no pensamento; não provém das palavras, nem do lugar, nem do momento
em que é feita. Pode-se, portanto, orar em qualquer lugar, a qualquer hora, a
sós ou junto com outras pessoas. A influência do lugar ou do tempo tem uma
relação de dependência com as circunstâncias que podem favorecer o
recolhimento. A prece em comum tem uma ação mais poderosa, quando todos aqueles
que oram se unem, de coração, a um mesmo pensamento e têm um mesmo objetivo,
porquanto é como se muitos clamassem juntos, ao mesmo tempo; porém, de que
adianta estarem reunidos em grande número se cada um age isoladamente e por sua
própria conta? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto que duas
ou três, unidas por um ideal comum, estarão orando como verdadeiros irmãos em
Deus, e sua prece terá mais poder do que a daquelas cem pessoas. (Ver cap.
XXVIII, itens 4 e 5.)”
Diversas são as maneiras do Pai auxiliar a sua criação
a evoluir em direção ao bem e a própria felicidade e o Livro dos Espíritos
edifica com as seguintes informações:
“Capítulo IV - Pluralidade das Existências
A
Reencarnação
166.
Como a alma, que não atingiu a perfeição durante a vida corporal, pode terminar
de depurar-se?
“Experimentando
a prova de uma nova existência.”
a) Como
a alma realiza essa nova existência? Será por sua transformação como espírito?
“A
alma, depurando-se, experimenta, certamente, uma transformação, mas, para isso,
é-lhe necessária a prova da vida corporal.”
b)
Então, a alma tem várias existências corporais?
“Sim,
todos temos várias existências. Os que dizem o contrário querem vos manter na
ignorância em que eles próprios se encontram; este é o desejo deles.”
c)
Parece resultar deste princípio que a alma, depois de ter deixado um corpo,
toma um outro; ou, melhor dizendo, que ela reencarna num novo corpo; é assim
que se deve entender?
“É
evidente.”
167.
Qual é o objetivo da reencarnação?
“Expiação,
melhoramento progressivo da Humanidade; sem isto, onde estaria a justiça?”
168. O
número das existências corporais é limitado, ou o Espírito reencarna perpetuamente?
“A cada
nova existência, o Espírito dá um passo no caminho do progresso; quando se
despoja de todas as suas impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida
corporal.”
169. O
número das encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?
“Não; o
que caminha rápido, poupa-se das provas. Todavia, essas encarnações sucessivas
são sempre muito numerosas, pois o progresso é quase infinito.”
170. O
que se torna o Espírito depois de sua última encarnação?
“Espírito
bem-aventurado; ele é Espírito puro.”
(Extraído
do Livro dos Espíritos)
O PODER DA MENTE
Acessar
aos sites:
A codificação espírita possui 5 livros que desvendam
mistérios espirituais necessários para um espírito em evolução quando
encarnado; em virtude disso, o livro A Gênese contribui dilucidando a respeito:
“Ação
dos Espíritos sobre os fluidos. Criações fluídicas. Fotografia do pensamento
13. Os
fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal,
são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles
tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos
especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos
sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se
forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos
da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.
14. Os
Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens
manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos,
o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles
imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou
dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma
forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico
muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a
grande oficina ou laboratório da vida espiritual.
Algumas
vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de
um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta
se produza, como basta que modele uma ária, para que esta repercuta na
atmosfera.
É
assim, por exemplo, que um Espírito se faz visível a um encarnado que possua a
vista psíquica, sob as aparências que tinha quando vivo na época em que o
segundo o conheceu, embora haja ele tido, depois dessa época, muitas
encarnações. Apresenta-se com o vestuário, os sinais exteriores — enfermidades,
cicatrizes, membros amputados etc. — que tinha então. Um decapitado se
apresentará sem a cabeça. Não quer isso dizer que haja conservado essas
aparências, certo que não, porquanto, como Espírito, ele não é coxo, nem
maneta, nem zarolho, nem decapitado; o que se dá é que, retrocedendo o seu pensamento à época em que tinha tais
defeitos, seu perispírito lhes toma instantaneamente as aparências, que deixam
de existir logo que o mesmo pensamento cessa de agir naquele sentido. Se, pois,
de uma vez ele foi negro e branco de outra, apresentar-se-á como branco ou
negro, conforme a encarnação a que se refira a sua evocação e à que se
transporte o seu pensamento.
Por
análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele
esteja habituado a usar. Um avarento manuseará ouro, um militar trará suas
armas e seu uniforme, um fumante o seu cachimbo, um lavrador a sua charrua e
seus bois, uma mulher velha a sua roca. Para o Espírito, que é, também ele,
fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado
material, para o homem vivo; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a
existência deles é tão fugitiva quanto a deste.[1]
15.
Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som
sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se
pois dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios de
pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e vibrações
sonoros.
Há
mais: criando imagens fluídicas,
o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma
nele corpo e aí de certo modo se fotografa.
Tenha um homem, por exemplo, a ideia de matar a outro: embora o corpo material
se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento
e reproduz todos os matizes deste último; executa fluidicamente o gesto, o ato
que intentou praticar. O pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira é
pintada, como num quadro, tal qual se lhe desenrola no espírito.
Desse
modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório
fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é
perceptível aos olhos do corpo. Contudo, vendo a intenção, pode ela pressentir
a execução do ato que lhe será a consequência, mas não pode determinar o
instante em que o mesmo ato será executado, nem lhe assinalar os pormenores,
nem, ainda, afirmar que ele se dê, porque circunstâncias ulteriores poderão
modificar os planos assentados e mudar as disposições. Ele não pode ver o que
ainda não esteja no pensamento do outro; o que vê é a preocupação habitual do
indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus desígnios bons ou maus”.
O pensamento é um exercício de construção de amor e
Joanna de Angelis desenvolve:
“O
poder do pensamento
Sem
qualquer dúvida, o pensamento exerce poderosa e essencial contribuição para a
existência humana. É-lhe dínamo gerador de energias diversificadas que se
encarregam de manter a maquinaria celular em movimentação. Quando se manifesta
carregado pela onda perturbadora gerada pelos sentimentos perversos,
desarticular a harmonia vigente, que perde a diretriz de segurança e abre campo
para a instalação de enfermidades. No sentido oposto, quando é gerado pelas
emanações do bem e do amor produz equilíbrio e bem-estar.
A
mitose celular obedece a ciclos de tempo que são transmitidos de uma para outra
geração, dando lugar à memória da sua reprodução. Quando fatores emocionais e
mentais dissolventes as envolvem, perdem o ritmo, aceleram a cissiparidade ou a
reduzem, a prejuízo do conjunto equilibrado.
No
primeiro caso, ocorre a formação de tumores que se podem apresentar com caráter
de neoplasma ou de benignidade. Na segunda ocorrência, sucede a inarmonia
imunológica e abrem-se campos às contaminações infecciosas.
A
instabilidade das ondas mentais proporciona o desgaste da energia vitalizadora
e os mecanismos degenerativos apressam o surgimento dos males de Parkinson,
Alzheimer e de outros transtornos mentais.
A
dualidade mente-corpo é indissociável enquanto o ser movimenta-se na
vilegiatura carnal.
A
irradiação da mente, que exterioriza o Espírito no seu estágio de evolução, é
sempre recebida pelos órgãos de acordo com a sua qualidade vibratória,
responsável pela manutenção da ordem ou do desequilíbrio de cada unidade
celular.
Eis
por que os sentimentos doentios, quais a mágoa, o ódio, o rancor, a
sensualidade, o erotismo, o ciúme, a vingança, as condutas alienantes culminam
em enfermidades de etiologia muito complexa e de terapêutica de difícil
eficácia.
Isto
porque, permanecendo a causa degenerativa, ínsita na conduta mental, o
bombardeio das energias destrutivas prossegue devastador.
Indispensável
que ocorra uma radical mudança íntima nos arcanos mentais do indivíduo, a fim
de ser revertida a ocorrência, enquanto as ondas da afetividade a substituam.
Quando
são elaborados pensamentos de ternura e de perdão, de compaixão e de caridade,
irradiações saudáveis envolvem todo o ser, mantendo-o em clima de plenitude.
Muitas
vezes, os impositivos da evolução, decorrentes da Lei de Causa e Efeito,
registram no períspirito distúrbios na área da saúde. Mas o paciente,
preservando as equilibradas diretrizes mentais, consegue diminuir a carga
aflitiva e auxilia com rapidez a própria recuperação, quando não se trate de
expiações pungitivas.
Cuida
com empenho do hábito de pensar corretamente, corrige os velhos costumes da
censura e da reprimenda, do pessimismo e da negatividade, da prevenção e do
preconceito, do ressentimento e do ódio, do ressumar das lembranças mórbidas em
que te comprazes, a fim de experienciares os opimos frutos da alegria e do
bem-estar.
Exercita-te
na fixação das paisagens mentais irisadas pela beleza do amor, que deve sempre
ser a meta a alcançar durante a existência corporal.
Esforça-te
pelo amadurecimento psicológico, elege momentos para a reflexão, para a
conscientização da responsabilidade do existir consciente, de forma que te
enriqueças de tranquilidade emocional.
Toda
vez quando uma ideia negativa te vergaste o pensamento, induzindo-te à ira ou
ao rancor, substitui-a pela paciência e pela resignação, e conseguirás domar o
instinto de revide.
Sempre
serás testado nas resistências emocionais, no grupo social em que te
movimentas, no qual os conteúdos personalistas e egoístas predominam com
exagero e induzem a comportamentos agressivos.
Nem
sempre será fácil superar a injunção provocativa, mas se treinares, mediante o
exercício da compaixão, ver o outro como um enfermo ou veículo de dissolução,
conseguirás manter a serenidade e a paz, sem assimilar-lhe o ódio ou agressão
com que te provoca a descer aos pântanos primitivos do passado evolutivo…
Deves
ter em conta igualmente, que embora a sublime proteção de Deus e o auxílio dos
Guias espirituais, pululam na psicosfera terrestre os Espíritos infelizes que
ainda se comprazem no mal e interferem no comportamento dos seres humanos em
tentativas de afligi-los e de infelicitá-los.
Alguns
deles são vítimas de outros em existências transatas, talvez também de ti, e
retornam ao intercâmbio pelas afinidades emocionais que produzem a sintonia,
por consequência, a perturbação.
Se
tiveres, porém, o cuidado de orar e de agir na misericórdia, eles não
encontrarão campo vibratório para interferir na tua conduta, não conseguirão
desestruturar-te.
Caso
contrário, se ainda estiveres dilacerado pelas reações do desequilíbrio,
sintonizarás com as suas frequências vigorosas e permanecerás enleado nas
malhas dos seus sentimentos de vingança, enfermando-te…
Vigia,
pois, os teus pensamentos, fonte de bons e de maus sentimentos a refletir-se na
tua saúde.
Saúde
e doença são um binômio de fatores que se conjugam, que se interdependem.
Preserva
o pensamento vinculado às fontes do conhecimento transcendental, às nascentes
da Vida e fruirás das bênçãos da paz.
Jesus
sempre recomendava aos pacientes que atendia e os recuperava, que tivessem
cuidado para não se comprometerem novamente, a fim de não sofrerem a recidiva
do mal em estágio mais grave.
(…)
E atendendo os Espíritos obsessores, observava que, para essa classe, são
necessários o jejum dos pensamentos infelizes e a oração do bem proceder.”
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
FRANCO,
Divaldo P. O ser consciente. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 3.ed. Rio de
Janeiro: Leal, 1996.
KARDEC,
Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de
Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______.
O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Trad. de Manuel
Justiniano Quintão. 57. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______.
O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa
rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
______.
O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon
Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
LOPES,
Lourival. Gotas de esperança. Brasília: Editora Otimismo, 2012.
XAVIER,
Francisco Cândido. O Consolador. Pelo
espírito Emmanuel. Editora FEB, 1941.
_______.
Vinha de luz. Pelo espírito Emmanuel.
28.ed. Brasília: FEB, 2015.
[1] Nota
de Allan Kardec: Revista espirita, junho
de 1859. O livro dos mediuns,
2ª Parte, cap. VIII.