sexta-feira, 16 de junho de 2017

Estudo do livro Nosso Lar


ORGANIZAÇÕES DE SERVIÇOS


O estudo do capítulo 8 tem como informações gerais:
1)  Personagem: André Luiz, Lísias
2)  Temas: Prece, reencarnações, organização espiritual e o poder da mente.

“8
ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS
Decorridas algumas semanas de tratamento ativo, saí, pela primeira vez, em companhia de Lísias.
Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores frondosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranquilidade espiritual. Não havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam repletas. Entidades numerosas iam e vinham. Algumas pareciam situar a mente em lugares distantes, mas outras me dirigiam olhares acolhedores. Incumbia-se o companheiro de orientar-me em face das surpresas que surgiam ininterruptas. Percebendo-me as íntimas conjeturas, esclareceu solícito:”

Após passar bom período de estabelecimento dentro da unidade hospitalar espiritual, foi permitido a André Luís conhecer outros ambientes da nova colônia; e, durante o percurso, viu irmãos com diferentes comportamentos.
Analisando: será que se pode realizar uma pontuação semelhante ou diversa da vivida quando se está encarnado?!

  “- Estamos no local do Ministério do Auxílio. Tudo o que vemos, edifícios, casas residenciais, representa instituições e abrigos adequados à tarefa de nossa jurisdição. Orientadores, operários e outros serviçais da missão residem aqui. Nesta zona, atende-se a doentes, ouvem-se rogativas, selecionam-se preces, preparam-se reencarnações terrenas, organizam-se turmas de socorro aos habitantes do Umbral, ou aos que choram na Terra, estudam-se soluções para todos os processos que se prendem ao sofrimento.”

Em virtude do olhar considerado de André Luís, Lísias descreve a respeito do local onde estão. Quanta organização! Mais uma vez, pode-se perceber o quanto o ser espiritual é sempre amparado.

“- Há, então, em "Nosso Lar", um Ministério do Auxílio? - perguntei.
- Como não? Nossos serviços são distribuídos numa organização que se aperfeiçoa dia a dia, sob a orientação dos que nos presidem os destinos.”
Fixando em mim os olhos lúcidos, prosseguiu:

Um novo mundo?!
Por que o ser espiritual insiste em pensar que somente o Planeta Terra é passível de existência de seres? Que dirá de portar com uma composição de tarefas, de existências e de estrutura como a de mais uma morada na casa do Pai, tal como Nosso Lar?... Qual será o mundo real a dos seres encarnados ou dos seres desencarnados? Qual será a cópia?
É patente que o mundo verdadeiro é o Universo e tanto os seres encarnados quanto os desencarnados vivem nele; contudo, quando se está carne, o indivíduo está vivendo na cópia da vida real, que é a dos desencarnados.

“- Não tem visto, nos atos da prece, nosso Governador Espiritual cercado de setenta e dois colaboradores? Pois são os Ministros de "Nosso Lar". A colônia, que é essencialmente de trabalho e realização, divide-se em seis Ministérios, orientados, cada qual, por doze Ministros. Temos os Ministérios da Regeneração, do Auxílio, da Comunicação, do Esclarecimento, da Elevação e da União Divina. Os quatro primeiros nos aproximam das esferas terrestres, os dois últimos nos ligam ao plano superior, visto que a nossa cidade espiritual é zona de transição. Os serviços mais grosseiros localizam-se no Ministério da Regeneração, os mais sublimes no da União Divina. Clarêncio, o nosso chefe amigo, é um dos Ministros do Auxílio.”

 Então, Lísias esclare a disposição de Nosso Lar dividida em seis Ministérios:
1)     Regeneração;
2)     Auxílio;
3)     Comunicação;
4)     Esclarecimento;
5)     Elevação;
6)     União Divina.
com os quatro primeiros com composição encadeada com o Planeta Terra; e, os dois últimos com o Plano Superior.

“Valendo-me da pausa natural, exclamei, comovido:
- Oh! nunca imaginei a possibilidade de organizações tão completas, depois da morte do corpo físico!...
- Sim - esclareceu Lísias -, o véu da ilusão é muito denso nos círculos carnais. O homem vulgar ignora que toda manifestação de ordem, no mundo, procede do plano superior. A natureza agreste transforma-se em jardim, quando orientada pela mente do homem, e o pensamento humano, selvagem na criatura primitiva, transforma-se em potencial criador, quando inspirado pelas mentes que funcionam nas esferas mais altas. Nenhuma organização útil se materializa na crosta terrena, sem que seus raios iniciais partam de cima.”

A palavra chave para estes parágrafos é: pensamento.
Se o ser espiritual tivesse conhece consciência do poder do pensamento e como ele, em vez de utilizá-lo para realizar atitudes prejudiciais para si próprio e para o próximo, talvez não perdesse tempo precioso na direção da felicidade.
Para melhor esclarecimento, o Livro dos Espíritos, das perguntas de 459 a 472, explica:

Influência Oculta dos Espíritos nos Nossos Pensamentos e nas Nossas Ações
459. Os Espíritos influem nos nossos pensamentos e nas nossas ações?
“Sob este aspecto, a influência deles é maior do que imaginais, pois, com muita frequência, são eles que vos dirigem.”

460. Temos pensamentos que nos são próprios e outros que nos são sugeridos?
“Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que vários pensamentos vos chegam, ao mesmo tempo, sobre um mesmo assunto e, com frequência, muito contrários uns aos outros; pois bem! Há sempre pensamentos vossos e nossos; é o que vos deixa na incerteza, porque tendes, em vós, duas ideias que se combatem.”

461. Como distinguir os pensamentos que nos são próprios daqueles que nos são sugeridos?
“Quando um pensamento é sugerido, é como uma voz que vos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, os do primeiro impulso. De resto, não há, para vós, grande interesse em estabelecer essa distinção e, frequentemente, é útil não saber fazê-la: o homem age mais livremente; se se decide pelo bem, ele o faz voluntariamente; se toma o mau caminho, só terá mais responsabilidade.”

462. Os homens inteligentes e de gênio haurem sempre suas ideias de dentro de si mesmos?
“Algumas vezes, as ideias vêm do seu próprio Espírito; porém, frequentemente, elas lhes são sugeridas por outros Espíritos, que os julgam capazes de compreendê-las e dignos de transmiti-las. Quando não as encontram em si mesmos, apelam para a inspiração; é uma evocação que fazem, sem disso suspeitarem.”
Se fosse útil que pudéssemos distinguir claramente nossos próprios pensamentos daqueles que nos são sugeridos, Deus nos teria dado o meio, como nos dá o de distinguir o dia da noite. Quando uma coisa permanece vaga, é que é melhor que assim seja.

463. Dizem, algumas vezes, que o primeiro impulso é sempre bom; isto é exato?
“Ele pode ser bom ou mau, conforme a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom, naquele que escuta as boas inspirações.”

464. Como distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito?
“Estudai a coisa; os bons Espíritos só aconselham o bem; cabe a vós distinguir.”

465. Com que objetivo os Espíritos imperfeitos nos impulsionam para o mal?
“Para vos fazer sofrer, como eles.”

a) Isto diminui seus sofrimentos?
“Não, mas eles o fazem por inveja de ver seres mais felizes.”

b) De que natureza é o sofrimento que querem infligir?
 “Os que resultam de estar em uma ordem inferior e afastado de Deus.”

466. Por que Deus permite que Espíritos nos excitem ao mal?
“Os Espíritos imperfeitos são os instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. Tu, como Espírito, deves progredir na ciência do infinito, é por isso que passas pelas provas do mal, para chegares ao bem. Nossa missão é colocar-te no bom caminho e, quando más influências agem sobre ti, é que tu as atrais, pelo desejo do mal, pois os Espíritos inferiores vêm ajudar-te no mal, quando tens a vontade de cometê-lo; eles só podem te auxiliar no mal, quando desejas o mal. Pois bem! Se fores inclinado ao assassínio, terás uma nuvem de Espíritos que manterão este pensamento em ti; mas terás, também, outros que tentarão te influenciar para o bem, o que faz com que a balança se reequilibre e te deixe senhor dos teus atos.”
É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha do caminho que devamos seguir e a liberdade de ceder a uma ou a outra das influências contrárias, que se exercem sobre nós.

467. Podemos nos libertar da influência dos Espíritos que nos induzem ao mal?
“Sim, pois eles só se apegam àqueles que os chamam, através dos seus desejos, ou os atraem, pelos seus pensamentos.”

468. Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade do homem renunciam às suas tentativas?
“Que queres que façam? Quando nada há a fazer, recuam; todavia, aguardam o momento favorável, como o gato espreita o rato.”

469. Através de que meio podemos neutralizar a influência dos maus Espíritos?
“Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que queiram ter sobre vós.
Desconfiai das sugestões dos Espíritos que suscitam em vós maus pensamentos, que sopram a discórdia entre vós e que vos excitam todas as más paixões.
Desconfiai, principalmente, daqueles que vos exaltam o orgulho, pois vos pegam pelo vosso ponto fraco. Eis por que Jesus vos ensina a dizer, na oração dominical: Senhor! Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.”

470. Os Espíritos que procuram nos induzir ao mal e que, assim, colocam em prova nossa firmeza no bem, receberam a missão de fazê-lo e, se é uma missão que cumprem, têm responsabilidade por isso?
“Nenhum Espírito recebe a missão de fazer o mal; quando o faz, é por sua própria vontade e, por conseguinte, sofre as consequências disto. Deus pode permitir-lhe fazer isto, para vos experimentar, mas não lhe ordena que o faça, cabendo a vós repeli-lo.”

471. Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível ou de satisfação interior, sem causa conhecida, isto se deve unicamente a uma disposição física?
 “É quase sempre um efeito das comunicações que estabeleces, inconscientemente, com os Espíritos, ou que estabelecestes com eles, durante o sono.”

472. Os Espíritos que querem nos excitar ao mal apenas se aproveitam das circunstâncias em que nos achamos, ou podem criar essas circunstâncias?
“Aproveitam-se da circunstância, mas frequentemente a provocam, impelindo-vos, inconscientemente, em direção ao objeto de vossa cobiça. Assim, por exemplo, um homem encontra, no seu caminho, uma soma de dinheiro: não penses que foram os Espíritos que levaram o dinheiro àquele lugar, mas eles podem dar ao homem a ideia de ir naquela direção e, então, sugerem-lhe o pensamento de se apoderar dele, enquanto outros lhe sugerem o de restituir esse dinheiro à pessoa a quem pertence. Acontece o mesmo com todas as outras tentações.”

 “- Mas "Nosso Lar" terá igualmente uma história, como as grandes cidades planetárias?
- Sem dúvida. Os planos vizinhos da esfera terráquea possuem, igualmente, natureza específica. "Nosso Lar" é antiga fundação de portugueses distintos, desencarnados no Brasil, no século XVI. A princípio, enorme e exaustiva foi a luta, segundo consta em nossos arquivos no Ministério do Esclarecimento. Há substâncias ásperas nas zonas invisíveis à Terra, tal como nas regiões que se caracterizam pela matéria grosseira. Aqui também existem enormes extensões de potencial inferior, como há, no planeta, grandes tratos de natureza rude e incivilizada. Os trabalhos primordiais foram desanimadores, mesmo para os espíritos fortes. Onde se congregam hoje vibrações delicadas e nobres, edifícios de fino lavor, misturavam-se as notas primitivas dos silvícolas do pais e as construções infantis de suas mentes rudimentares. Os fundadores não desanimaram, porém. Prosseguiram na obra, copiando o esforço dos europeus que chegavam à esfera material, apenas com a diferença de que, por lá, se empregava a violência, a guerra, a escravidão, e, aqui, o serviço perseverante, a solidariedade fraterna, o amor espiritual.”

O que pontuar a respeito destes dois parágrafos, se não a abençoada história de construção de mais uma morada celestial?!
O mais sublime desta edificação foi apreender que, apesar de ser formada por europeus, os mesmos não a erguerem com imperfeições cometidas quando estiveram encarnados.
Bendita seja a oportunidade divina da evolução da qual possibilita todo ser espiritual realizar sua reforma íntima em direção ao bem.

“A essa altura, atingíramos uma praça de maravilhosos contornos, ostentando extensos jardins. No centro da praça, erguia-se um palácio de magnificente beleza, encabeçado de torres soberanas, que se perdiam no céu.
- Os fundadores da colônia começaram o esforço, partindo daqui, onde se localiza a Governadoria - disse o visitador.”

Como todo local, - seja no plano dos desencarnados, seja no dos encarnados -, há um território onde se concentra a organização central de todo ele. Isso não é diferente no Planeta Terra e não é em Nosso Lar. No caso desta morada, a gestão principal está estabelecida no centro dela; e, seus instituidores se empenharam para implementá-la.

“Apontando o palácio, continuou:
- Temos, nesta praça, o ponto de convergência dos seis ministérios a que me referi. Todos começam da Governadoria, estendendo-se em forma triangular.
E, respeitoso, comentou:
- Ali vive o nosso abnegado orientador. Nos trabalhos administrativos, utiliza ele a colaboração de três mil funcionários; entretanto, é ele o trabalhador mais infatigável e mais fiel que todos nós reunidos. Os Ministros costumam excursionar noutras esferas, renovando energias e valorizando conhecimentos; nós outros gozamos entretenimentos habituais, mas o Governador nunca dispõe de tempo para isso. Faz questão que descansemos, obriga-nos a férias periódicas, ao passo que, ele mesmo, quase nunca repousa, mesmo no que concerne às horas de sono. Parece-me que a glória dele é o serviço perene. Basta lembrar que estou aqui há quarenta anos e, com exceção das assembleias referentes às preces coletivas, raramente o tenho visto em festividades públicas. Seu pensamento, porém, abrange todos os círculos de serviço, sua assistência carinhosa a tudo e a todos atinge.
Depois de longa pausa, o enfermeiro amigo acentuou:
- Não faz muito, comemorou-se o 114º aniversário da sua magnânima direção.
Calara-se Lísias, evidenciando comovida reverência, enquanto eu a seu lado contemplava, respeitoso e embevecido, as torres maravilhosas que pareciam cindir o firmamento...”

Que organização!
Que dedicação!
No que se refere, a atitude do governador, o pensamento é o mecanismo de trabalho de amor para com todos os habitantes e trabalhadores da moradia celestial.

No que se refere ao tema da Prece, o Livro dos Espíritos instrui:

   
  658. A prece é agradável a Deus?
     — A prece é sempre agradável a Deus quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para ele. A prece do coração é preferível à que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade. Não creias, pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.

     659. Qual o caráter geral da prece?
     — A prece é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nele, aproximar-se dele, pôr-se em comunicação com ele. Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

     660. A prece torna o homem melhor?
     — Sim, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o pedimos com sinceridade.

      660 – a) Como se explica que certas pessoas que oram muito sejam, apesar disso, de muito mau caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e de indulgência; que sejam até mesmo viciosas?
      — O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham, os olhos para os seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste caso, mas a maneira de aplicá-lo.

      661. Pode-se pedir eficazmente a Deus o perdão das faltas?
      — Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém se não mudar de conduta. As boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as palavras.

      662. Pode-se orar utilmente pelos outros?
      — O Espírito daquele que ora está agindo pela vontade de fazer o bem. Pela prece atrai a ele os bons Espíritos que se associam ao bem que deseja fazer.
Comentário de Kardec: Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.

      663. As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?
      — Vossas provas estão nas mãos de Deus e lia as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece atrai a vós os bons Espíritos que vos dão a força de as suportar com coragem. Então elas vos parecem menos duras. Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque dá força, o que já é um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará; tu sabes disso. Aliás, Deus não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal do vosso ponto de vista mesquinho, para vossa vida efêmera, muitas vezes é um grande bem na ordem geral do Universo(1). Além. disso, de quantos males o homem é o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas. Ele é punido no que pecou. Não obstante, os vossos justos pedidos são em geral mais escutados do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu porque não fez um milagre em vosso favor, quando, entretanto, vos assiste por meios tão naturais que vos parecem o efeito do acaso ou da força das circunstâncias. Frequentemente, ou o mais frequentemente, ele vos suscita o pensamento necessário para sairdes por vós mesmos do embaraço.

     664. É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores, e nesse caso como pode as nossas preces lhes proporcionar consolo e abreviar os sofrimentos? Têm elas o poder de fazer dobrar-se a justiça de Deus?
     —A prece não pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá e porque o infeliz, v sempre consolado, quando encontra almas caridosas que compartilham as suas dores. De outro lado, pela prece provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o necessário para se tornar feliz.  É nesse sentido que se pode abreviar a sua pena,  se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade. Esse desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas transviadas. Com isso vos mostrava que sereis culpados se nada fizerdes pelos que mais necessitam.

      665. Que pensar da opinião que rejeita a prece pelos mortos, por não estar prescrita nos Evangelhos?
      — O Cristo disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação implica a de empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem entrar, por isso mesmo, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, inerente a ele mesmo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em favor daquele que vos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o consolar. Desde que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido; mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que a sua intercessão lhe foi útil. Disso resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade. Por conseguinte, o amor recomendado aos homens pelo Cristo não fez mais do que aumentar entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres, lei divina que deve conduzirá unidade, objetivo e fim do Espírito(1).

       666. Podemos orar aos Espíritos?
       — Podemos orar aos bons Espíritos como sendo os mensageiros de  Deus e os executores de seus desígnios, mas o seu poder está na razão da sua superioridade e decorre sempre do Senhor de todas as coisas, sem cuja  permissão nada se faz; e isso porque as preces que lhes dirigimos só são eficazes se forem agradáveis a Deus.
  

(1) Espinosa dizia que “Deus age segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser constrangido por ninguém” (Proposição XVII da “Ética”), e afirmava a impossibilidade do milagre, por ser uma violação das leis de Deus. Também no tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do Universo. (N. do T.)


(1)  Resposta dada pelo Espírito do Sr. Monod, pastor protestante de Paris, falecido em abril de 1856. A resposta precedente, número 664, é do Espírito de São Luís.”

O Livro dos Espíritos assinala:

“Penetração dos Espíritos no Nosso Pensamento
456. Os Espíritos veem tudo o que fazemos?
“Podem vê-lo, já que estais constantemente rodeado por eles; cada um, porém, só vê as coisas para as quais dirige sua atenção, pois as que lhe são indiferentes, com estas não se ocupa.”

457. Os Espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos?
“Frequentemente, conhecem o que desejaríeis esconder de vós mesmos; nem atos, nem pensamentos lhes podem ser dissimulados.”

a) Dessa forma, seria mais fácil esconder algo de uma pessoa viva, do que fazê-lo a esta mesma pessoa, depois de morta?
“Certamente; quando vos julgais bem ocultos, tendes, frequentemente, uma multidão de Espíritos, ao vosso lado, que vos vê.”

458. O que pensam de nós os Espíritos que nos cercam e que nos observam?
“Depende. Os Espíritos brincalhões riem dos pequenos aborrecimentos que vos causam e zombam das vossas impaciências. Os Espíritos sérios deploram vossos defeitos e tentam ajudar-vos.”

No evangelho segundo o espiritismo pode-se encontrar no Capítulo XXVII (Pedi e obtereis) apontamentos sobre as qualidades, a eficácia e a ação das preces, além da maneira de orar.

“As qualidades da prece
1.      .E, quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que gostam de orar ficando de pé nas sinagogas, e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa. Vós, porém, quando quiserdes orar, entrai no vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em segredo; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos dará a recompensa. Não vos preocupeis em pedir muito em vossas orações, como fazem os pagãos, que imaginam que é pela quantidade de palavras que serão atendidos em seus pedidos. Não vos torneis, pois, semelhantes a eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade, antes que o peçais.. (Mateus, VI: 5 a 8.)
2.      Quando vos apresentardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-o, para que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. Se não o perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, não perdoará vossos pecados.. (Marcos, XI: 25 e 26.)
3.      E disse também esta parábola a alguns que punham sua confiança em si mesmos, como se fossem justos, e desprezavam os outros:
Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, pondo-se de pé, orava assim, interiormente: “Meu Deus, graças vos rendo por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou o dízimo de tudo o que possuo.”
O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, nem mesmo ousava levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: “Meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador.”
Eu vos declaro que este voltou para casa justificado, e não o outro, porque aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado. (Lucas, XVIII: 9 a 14.)
4.      As qualidades da prece são claramente definidas por Jesus; quando orardes, disse Ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em segredo; não vos preocupeis em orar muito, porque não é pela quantidade de palavras que sereis atendidos, mas pela sua sinceridade; antes de orar, se tendes qualquer coisa contra alguém, perdoai-o, porque a prece não poderá ser agradável a Deus se não partir de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade; orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. Examinai vossos defeitos, e não vossas qualidades, e se vos comparardes aos outros, procurai o que há de mau em vós. (Ver cap. X, itens 7 e 8.)

Eficácia da prece
5.      .Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis, e vos será concedido.. (Marcos, XI: 24.)
6.      Há pessoas que contestam a eficácia da prece, baseando-se no princípio de que, sendo Deus conhecedor de todas as nossas necessidades, é inútil expô-las a Ele. Acrescentam ainda que nossas súplicas não podem mudar os desígnios de Deus, porquanto tudo no Universo se encadeia por leis eternas.
Há leis naturais e imutáveis que, sem dúvida alguma, Deus não pode anular segundo o capricho de cada um, mas daí a crer que todas as circunstâncias da vida estão submetidas à fatalidade, a distância é muito grande. Se assim fosse, o homem seria apenas um instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe restaria curvar a cabeça sob a ação dos acontecimentos, sem procurar evitá-los, e não deveria procurar esquivar-se dos perigos. Deus não lhe deu a razão e a inteligência para que não se servisse delas, a vontade para não querer, a atividade para ficar inativo. Sendo o homem livre para agir em todos os sentidos, seus atos têm, para si e para os outros, consequências subordinadas ao que ele fez ou deixou de fazer. Por conseguinte, por sua iniciativa, há acontecimentos que, forçosamente, escapam à fatalidade, e que não destroem a harmonia das leis universais, da mesma forma que o avanço ou o atraso dos ponteiros de um relógio não destrói a lei do movimento, sobre a qual está estabelecido o seu mecanismo. Deus pode, portanto, concordar com certos pedidos, sem anular a imutabilidade das leis que regem o conjunto, ficando o atendimento desses pedidos sempre subordinado à sua vontade.
7.      Seria ilógico concluir por estas palavras: “Seja o que for que peçais pela prece, vos será concedido”, que é suficiente pedir para obter, assim como seria injusto acusar a Providência se ela não atende a todo pedido que lhe é feito, porquanto ela sabe melhor do que nós o que é para o nosso bem. É assim que procede um pai sensato, que recusa ao seu filho as coisas que seriam contrárias ao seu interesse. O homem, geralmente, vê apenas o presente; ora, se o sofrimento é útil à sua felicidade futura, Deus deixará que ele sofra, como o cirurgião deixa o doente sofrer com uma operação que vai lhe proporcionar a cura.
O que Deus lhe concederá, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência e a resignação. E o que ainda lhe concederá são os meios de sair das dificuldades, com a ajuda das ideias que Ele fará os bons espíritos lhe sugerirem, de maneira que o mérito da ação ficará para o homem. Deus assiste os que se ajudam a si mesmos, de acordo com estas palavras: “Ajuda-te, e o céu te ajudará’, e não aqueles que esperam tudo de um socorro alheio, sem fazer uso de suas próprias faculdades. Na maioria das vezes, porém, o homem prefere ser socorrido por um milagre, sem fazer o menor esforço. (Ver cap. XXV, item 1 e seguintes.)
8.      Vejamos este exemplo: um homem está perdido em um deserto; sofre horrivelmente com a sede; sente-se desfalecer e deixa-se cair sobre a areia. Roga a Deus que o assista, e espera; porém, nenhum anjo vem lhe dar de beber. No entanto, um bom espírito lhe sugere a ideia de se levantar, de seguir em uma determinada direção dentro da amplidão diante dele. Então, por um movimento instintivo, reunindo suas forças, levanta-se e caminha ao acaso. Chegando a uma elevação, descobre ao longe um regato; e, com essa visão, recupera a coragem. Se ele tem fé, exclamará: “.Obrigado, meu Deus, pela ideia que me haveis inspirado e pela força que me destes.. Se não tem fé, dirá: .Que boa ideia eu tive! Que sorte, tomar a direção da direita e não a da esquerda; o acaso, realmente, algumas vezes nos ajuda! Quanto eu me felicito pela minha coragem e por não me haver deixado vencer pelo abatimento”.
No entanto, poder-se-á perguntar, por que o bom espírito não lhe disse claramente .segue esta direção, e encontrar ás o de que precisas. ou por que não se mostrou a ele para guiá-lo e sustentá-lo no seu desfalecimento. Dessa maneira, certamente, o teria convencido da intervenção da Providência. A resposta é simples; inicialmente, seria para ensinar que ele deveria ajudar a si mesmo, fazendo uso das próprias forças. Depois, pela incerteza, Deus põe à prova a confiança e a submissão à sua vontade. Aquele homem estava na situação de uma criança que cai, e que, vendo alguém, começa a gritar, esperando que venham levantá-la; se não vê ninguém, esforça-se e levanta-se sozinho.
Se o anjo que acompanhou Tobias lhe houvesse dito: “Eu sou enviado por Deus para te guiar na tua viagem e te preservar de todo perigo”, Tobias não teria tido nenhum mérito porque, confiando em seu companheiro, não sentiria necessidade nem de pensar. Eis por que o anjo só se deu a conhecer quando regressavam.

Ação da prece.
Transmissão do pensamento
9.      A prece é uma invocação; por seu intermédio entramos em comunicação, pelo pensamento, com o ser a quem nos dirigimos. A prece pode ter por finalidade um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Podemos pedir por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As que são endereçadas a Deus são ouvidas pelos espíritos encarregados da execução da sua vontade; as que são dirigidas aos bons espíritos são igualmente levadas a Deus. Quando oramos para outros seres, que não a Deus, eles são apenas intermediários, intercessores, porquanto nada pode ser feito sem a vontade divina.
10. O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, explicando como se processa a transmissão do pensamento, seja quando o ser chamado atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento chega até ele. Para se compreender o que se passa nessa circunstância, é preciso imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, imersos no fluido universal que ocupa o espaço, assim como aqui na Terra estamos mergulhados na atmosfera. O fluido recebe o impulso da vontade, ele é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as do fluido universal se estendem ao infinito. Assim sendo, quando o pensamento é dirigido para um ser qualquer, sobre a Terra ou no espaço, de encarnado a desencarnado ou de desencarnado a encarnado, uma corrente fluídica se estabelece de um ao outro, transmitindo o pensamento, da mesma forma que o ar transmite o som.
A energia dessa corrente está na razão direta da energia do pensamento e da vontade. É assim que a prece é ouvida pelos espíritos, em qualquer lugar em que eles se encontrem; que os espíritos se comunicam entre si; que nos transmitem suas inspirações e que se estabelecem as relações, à distância, entre os encarnados.
Essa explicação visa a esclarecer principalmente aqueles que não compreendem a utilidade da prece puramente mística; não tem por finalidade materializar a prece, mas tornar os seus efeitos compreensíveis, mostrando que ela pode ter uma ação direta e efetiva, mas que não está menos subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas e o único que pode tornar sua ação eficaz.
11. Pela prece, o homem atrai para si o concurso dos bons espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Dessa forma, ele adquire a força moral necessária para vencer as dificuldades e retornar ao caminho certo, se dele tiver se afastado, desviando, assim, os males que atrairia para si por suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, vê sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e, até o fim da sua vida, arrasta uma existência de sofrimentos. Tem ele o direito de se lastimar por não obter sua cura? Não, porque poderia ter encontrado na prece as forças para resistir às tentações.
12. Se dividirmos os males da vida em duas partes, uma com os males que o homem não pode evitar, e a outra com as atribulações das quais ele mesmo é a primeira causa, pela sua falta de cuidado e seus excessos (Ver cap. V, item 4), veremos que a segunda parte é muito mais numerosa que a primeira. É bem evidente, portanto, que o homem é o autor da maior parte das suas aflições, e que muito se pouparia, se agisse sempre com prudência e sabedoria.
Não é menos certo que essas misérias são o resultado do nosso desrespeito às leis de Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos inteiramente felizes. Se não ultrapassássemos o limite do indispensável, na satisfação das nossas necessidades, não teríamos as doenças que são a consequência dos excessos, nem passaríamos pelas vicissitudes que essas doenças acarretam. Se puséssemos limites às nossas ambições, não precisaríamos nos preocupar com a ruína; se fôssemos humildes, não sofreríamos com as decepções do orgulho ferido; se praticássemos a lei da caridade, não seríamos maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaríamos as querelas e as dissensões; se não fizéssemos mal a ninguém, não teríamos que temer as vinganças, etc.
Admitamos, porém, que o homem nada possa fazer sobre os outros males; que toda prece seja inútil para se preservar deles; já não seria muito, ele poder livrar-se daqueles que resultam dos seus próprios atos? Ora, aqui a ação da prece se concebe facilmente, porque ela tem por efeito buscar a inspiração salutar dos bons espíritos, pedir-lhes forças para resistir aos maus pensamentos, cuja concretização pode nos ser funesta. Nesse caso, não é o mal que eles afastam, é a nós mesmos que eles afastam do pensamento que pode causar o mal; os bons espíritos em nada impedem os decretos de Deus, eles não suspendem o curso das leis da Natureza, é a nós que eles impedem de infringir essas leis, dirigindo o nosso livre-arbítrio. Mas eles o fazem sem que o percebamos, de maneira oculta, para não subjugar a nossa vontade. O homem se encontra, então, na posição daquele que solicita bons conselhos e os pratica, mas que sempre é livre de segui-los ou não. Deus quer que seja assim, para que o homem tenha a responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso que o homem deve estar sempre certo de obter, se pedir com fervor, e é principalmente nesse caso que se podem aplicar estas palavras: “Pedi e obtereis”.
A eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções, já não seria um imenso resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a ação da prece pela revelação das relações que existem entre o mundo corporal e o mundo espiritual. Mas os seus efeitos não se limitam unicamente a isso.
A prece é recomendada por todos os espíritos; renunciar à prece é desconhecer a bondade de Deus; é rejeitar a assistência que ela proporciona a si mesmo, e o bem que pode fazer aos outros.
13. Atendendo ao pedido que lhe é dirigido, Deus muitas vezes tem em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora; eis por que a prece do homem de bem tem mais mérito, aos olhos de Deus, e sempre mais eficácia, porque o homem mau e cheio de vícios não pode orar com o fervor e a confiança que só o sentimento da verdadeira piedade pode oferecer. Do coração do egoísta, daquele que ora apenas com os lábios, só podem sair palavras, nunca os impulsos da caridade, que dão à prece todo o seu poder. Compreende-se isso de tal forma que, instintivamente, nós nos recomendamos às preces daqueles cuja conduta nos parece ser agradável a Deus, pois serão melhor ouvidas.
14. Como a prece exerce uma espécie de ação magnética, poderíamos supor que o seu efeito está subordinado ao poder fluídico, porém, não é assim. Já que os espíritos exercem essa ação sobre os homens, eles suprem a insuficiência daquele que ora, quando isso é necessário, quer agindo diretamente em seu nome, quer dando-lhe momentaneamente uma força excepcional, desde que ele seja julgado digno dessa graça ou que ela possa ser útil.
O homem que não se considera bom o bastante para exercer uma influência salutar, não deve deixar de orar por outra pessoa, pensando que não é digno de ser escutado. O reconhecimento da sua inferioridade é uma prova de humildade sempre agradável a Deus, que leva em conta a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e sua confiança em Deus são um primeiro passo para o seu retorno ao bem, para o qual os bons espíritos sentem-se felizes em encorajá-lo. A prece que não é aceita é a do orgulhoso que tem fé em seu poder e em seus méritos, e acredita ser capaz de substituir a vontade do Eterno.
15. O poder da prece está no pensamento; não provém das palavras, nem do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, portanto, orar em qualquer lugar, a qualquer hora, a sós ou junto com outras pessoas. A influência do lugar ou do tempo tem uma relação de dependência com as circunstâncias que podem favorecer o recolhimento. A prece em comum tem uma ação mais poderosa, quando todos aqueles que oram se unem, de coração, a um mesmo pensamento e têm um mesmo objetivo, porquanto é como se muitos clamassem juntos, ao mesmo tempo; porém, de que adianta estarem reunidos em grande número se cada um age isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto que duas ou três, unidas por um ideal comum, estarão orando como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais poder do que a daquelas cem pessoas. (Ver cap. XXVIII, itens 4 e 5.)”

Diversas são as maneiras do Pai auxiliar a sua criação a evoluir em direção ao bem e a própria felicidade e o Livro dos Espíritos edifica com as seguintes informações:

Capítulo IV -  Pluralidade das Existências
A Reencarnação

166. Como a alma, que não atingiu a perfeição durante a vida corporal, pode terminar de depurar-se?
“Experimentando a prova de uma nova existência.”

a) Como a alma realiza essa nova existência? Será por sua transformação como espírito?
“A alma, depurando-se, experimenta, certamente, uma transformação, mas, para isso, é-lhe necessária a prova da vida corporal.”

b) Então, a alma tem várias existências corporais?
“Sim, todos temos várias existências. Os que dizem o contrário querem vos manter na ignorância em que eles próprios se encontram; este é o desejo deles.”

c) Parece resultar deste princípio que a alma, depois de ter deixado um corpo, toma um outro; ou, melhor dizendo, que ela reencarna num novo corpo; é assim que se deve entender?
“É evidente.”

167. Qual é o objetivo da reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade; sem isto, onde estaria a justiça?”

168. O número das existências corporais é limitado, ou o Espírito reencarna perpetuamente?
“A cada nova existência, o Espírito dá um passo no caminho do progresso; quando se despoja de todas as suas impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.”

169. O número das encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?
“Não; o que caminha rápido, poupa-se das provas. Todavia, essas encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, pois o progresso é quase infinito.”

170. O que se torna o Espírito depois de sua última encarnação?
“Espírito bem-aventurado; ele é Espírito puro.”

(Extraído do Livro dos Espíritos)


O PODER DA MENTE
Acessar aos sites:
A codificação espírita possui 5 livros que desvendam mistérios espirituais necessários para um espírito em evolução quando encarnado; em virtude disso, o livro A Gênese contribui dilucidando a respeito:

“Ação dos Espíritos sobre os fluidos. Criações fluídicas. Fotografia do pensamento
13. Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária; finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.

14. Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não manipulando-os como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam uma aparência, uma forma, uma coloração determinadas; mudam-lhes as propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos, combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida espiritual.
Algumas vezes, essas transformações resultam de uma intenção; doutras, são produto de um pensamento inconsciente. Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta se produza, como basta que modele uma ária, para que esta repercuta na atmosfera.
É assim, por exemplo, que um Espírito se faz visível a um encarnado que possua a vista psíquica, sob as aparências que tinha quando vivo na época em que o segundo o conheceu, embora haja ele tido, depois dessa época, muitas encarnações. Apresenta-se com o vestuário, os sinais exteriores — enfermidades, cicatrizes, membros amputados etc. — que tinha então. Um decapitado se apresentará sem a cabeça. Não quer isso dizer que haja conservado essas aparências, certo que não, porquanto, como Espírito, ele não é coxo, nem maneta, nem zarolho, nem decapitado; o que se dá é que, retrocedendo o seu pensamento à época em que tinha tais defeitos, seu perispírito lhes toma instantaneamente as aparências, que deixam de existir logo que o mesmo pensamento cessa de agir naquele sentido. Se, pois, de uma vez ele foi negro e branco de outra, apresentar-se-á como branco ou negro, conforme a encarnação a que se refira a sua evocação e à que se transporte o seu pensamento.
Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar. Um avarento manuseará ouro, um militar trará suas armas e seu uniforme, um fumante o seu cachimbo, um lavrador a sua charrua e seus bois, uma mulher velha a sua roca. Para o Espírito, que é, também ele, fluídico, esses objetos fluídicos são tão reais, como o eram, no estado material, para o homem vivo; mas, pela razão de serem criações do pensamento, a existência deles é tão fugitiva quanto a deste.[1]

15. Sendo os fluidos o veículo do pensamento, este atua sobre os fluidos como o som sobre o ar; eles nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode-se pois dizer, sem receio de errar, que há, nesses fluidos, ondas e raios de pensamentos, que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e vibrações sonoros.
Há mais: criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório perispirítico, como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa. Tenha um homem, por exemplo, a ideia de matar a outro: embora o corpo material se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento e reproduz todos os matizes deste último; executa fluidicamente o gesto, o ato que intentou praticar. O pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira é pintada, como num quadro, tal qual se lhe desenrola no espírito.
Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo. Contudo, vendo a intenção, pode ela pressentir a execução do ato que lhe será a consequência, mas não pode determinar o instante em que o mesmo ato será executado, nem lhe assinalar os pormenores, nem, ainda, afirmar que ele se dê, porque circunstâncias ulteriores poderão modificar os planos assentados e mudar as disposições. Ele não pode ver o que ainda não esteja no pensamento do outro; o que vê é a preocupação habitual do indivíduo, seus desejos, seus projetos, seus desígnios bons ou maus”.


O pensamento é um exercício de construção de amor e Joanna de Angelis desenvolve:
                                          “O poder do pensamento
Sem qualquer dúvida, o pensamento exerce poderosa e essencial contribuição para a existência humana. É-lhe dínamo gerador de energias diversificadas que se encarregam de manter a maquinaria celular em movimentação. Quando se manifesta carregado pela onda perturbadora gerada pelos sentimentos perversos, desarticular a harmonia vigente, que perde a diretriz de segurança e abre campo para a instalação de enfermidades. No sentido oposto, quando é gerado pelas emanações do bem e do amor produz equilíbrio e bem-estar.
 A mitose celular obedece a ciclos de tempo que são transmitidos de uma para outra geração, dando lugar à memória da sua reprodução. Quando fatores emocionais e mentais dissolventes as envolvem, perdem o ritmo, aceleram a cissiparidade ou a reduzem, a prejuízo do conjunto equilibrado.
No primeiro caso, ocorre a formação de tumores que se podem apresentar com caráter de neoplasma ou de benignidade. Na segunda ocorrência, sucede a inarmonia imunológica e abrem-se campos às contaminações infecciosas.
 A instabilidade das ondas mentais proporciona o desgaste da energia vitalizadora e os mecanismos degenerativos apressam o surgimento dos males de Parkinson, Alzheimer e de outros transtornos mentais.
 A dualidade mente-corpo é indissociável enquanto o ser movimenta-se na vilegiatura carnal.
 A irradiação da mente, que exterioriza o Espírito no seu estágio de evolução, é sempre recebida pelos órgãos de acordo com a sua qualidade vibratória, responsável pela manutenção da ordem ou do desequilíbrio de cada unidade celular.
 Eis por que os sentimentos doentios, quais a mágoa, o ódio, o rancor, a sensualidade, o erotismo, o ciúme, a vingança, as condutas alienantes culminam em enfermidades de etiologia muito complexa e de terapêutica de difícil eficácia.
 Isto porque, permanecendo a causa degenerativa, ínsita na conduta mental, o bombardeio das energias destrutivas prossegue devastador.
 Indispensável que ocorra uma radical mudança íntima nos arcanos mentais do indivíduo, a fim de ser revertida a ocorrência, enquanto as ondas da afetividade a substituam.
 Quando são elaborados pensamentos de ternura e de perdão, de compaixão e de caridade, irradiações saudáveis envolvem todo o ser, mantendo-o em clima de plenitude.
 Muitas vezes, os impositivos da evolução, decorrentes da Lei de Causa e Efeito, registram no períspirito distúrbios na área da saúde. Mas o paciente, preservando as equilibradas diretrizes mentais, consegue diminuir a carga aflitiva e auxilia com rapidez a própria recuperação, quando não se trate de expiações pungitivas.
 Cuida com empenho do hábito de pensar corretamente, corrige os velhos costumes da censura e da reprimenda, do pessimismo e da negatividade, da prevenção e do preconceito, do ressentimento e do ódio, do ressumar das lembranças mórbidas em que te comprazes, a fim de experienciares os opimos frutos da alegria e do bem-estar.
 Exercita-te na fixação das paisagens mentais irisadas pela beleza do amor, que deve sempre ser a meta a alcançar durante a existência corporal.
 Esforça-te pelo amadurecimento psicológico, elege momentos para a reflexão, para a conscientização da responsabilidade do existir consciente, de forma que te enriqueças de tranquilidade emocional.
 Toda vez quando uma ideia negativa te vergaste o pensamento, induzindo-te à ira ou ao rancor, substitui-a pela paciência e pela resignação, e conseguirás domar o instinto de revide.
 Sempre serás testado nas resistências emocionais, no grupo social em que te movimentas, no qual os conteúdos personalistas e egoístas predominam com exagero e induzem a comportamentos agressivos.
 Nem sempre será fácil superar a injunção provocativa, mas se treinares, mediante o exercício da compaixão, ver o outro como um enfermo ou veículo de dissolução, conseguirás manter a serenidade e a paz, sem assimilar-lhe o ódio ou agressão com que te provoca a descer aos pântanos primitivos do passado evolutivo…
 Deves ter em conta igualmente, que embora a sublime proteção de Deus e o auxílio dos Guias espirituais, pululam na psicosfera terrestre os Espíritos infelizes que ainda se comprazem no mal e interferem no comportamento dos seres humanos em tentativas de afligi-los e de infelicitá-los.
 Alguns deles são vítimas de outros em existências transatas, talvez também de ti, e retornam ao intercâmbio pelas afinidades emocionais que produzem a sintonia, por consequência, a perturbação.
 Se tiveres, porém, o cuidado de orar e de agir na misericórdia, eles não encontrarão campo vibratório para interferir na tua conduta, não conseguirão desestruturar-te.
 Caso contrário, se ainda estiveres dilacerado pelas reações do desequilíbrio, sintonizarás com as suas frequências vigorosas e permanecerás enleado nas malhas dos seus sentimentos de vingança, enfermando-te…
 Vigia, pois, os teus pensamentos, fonte de bons e de maus sentimentos a refletir-se na tua saúde.
 Saúde e doença são um binômio de fatores que se conjugam, que se interdependem.
 Preserva o pensamento vinculado às fontes do conhecimento transcendental, às nascentes da Vida e fruirás das bênçãos da paz.
 Jesus sempre recomendava aos pacientes que atendia e os recuperava, que tivessem cuidado para não se comprometerem novamente, a fim de não sofrerem a recidiva do mal em estágio mais grave.
 (…) E atendendo os Espíritos obsessores, observava que, para essa classe, são necessários o jejum dos pensamentos infelizes e a oração do bem proceder.”



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FRANCO, Divaldo P. O ser consciente. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 3.ed. Rio de Janeiro: Leal, 1996.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Trad. de Manuel Justiniano Quintão. 57. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
______. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
LOPES, Lourival. Gotas de esperança. Brasília: Editora Otimismo, 2012.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo espírito Emmanuel. Editora FEB, 1941.
_______. Vinha de luz. Pelo espírito Emmanuel. 28.ed. Brasília: FEB, 2015.




[1] Nota de Allan Kardec: Revista espirita, junho de 1859. O livro dos mediuns, 2ª Parte, cap. VIII.

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