Estudo do livro Nosso Lar
EXPLICAÇÕES DE LÍSIAS
O estudo do capítulo
7 tem como informações gerais:
1)
Personagem:
André Luiz, Lísias
2)
Resumo
geral: Lísias, o visitador dos serviços de saúde, assiste a André, aproveitando para
fornece-lhe esclarecimentos a respeito de seus familiares.
3) Temas: Família; amor
incondicional; prece.
7
“EXPLICAÇÕES DE
LÍSIAS
Repetiram-se as
visitas periódicas de Clarêncio e a atenção diária de Lísias.
À medida que
procurava habituar-me aos deveres novos, sensações de desafogo me aliviavam o
coração. Diminuíram as dores e os impedimentos de locomoção fácil. Notava,
porém, que, a recordações mais fortes dos fenômenos físicos, me voltavam a
angústia, o receio do desconhecido, a mágoa da inadaptação. Apesar de tudo,
encontrava mais segurança dentro de mim.”
Como em qualquer lugar de repouso e hospital, o paciente necessita de tempo
para refazer suas forças e isso acrescido à entrega aos trabalhos acaba acontecendo
de forma gradual e certa de que o tempo não só cura as feridas, como também
ensina a utilizar os recursos próximos para o próprio auxílio individual e
coletivo. Sem contar que o mesmo, – o tempo-, coloca ao alcance de todo e
qualquer indivíduo, outros irmãos com fim de ajudar no caminhar do bem.
“Deleitava-me,
agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às janelas espaçosas.
Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quase tudo, melhorada
cópia da Terra. Cores mais harmônicas, substâncias mais delicadas. Forrava-se o
solo de vegetação. Grandes árvores, pomares fartos e jardins deliciosos.
Desenhavam-se montes coroados de luz, em continuidade à planície onde a colônia
repousava.
Todos os
departamentos apareciam cultivados com esmero. A pequena distância, alteavam-se
graciosos edifícios. Alinhavam-se a espaços regulares, exibindo formas
diversas. Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algumas casinhas
encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam,
aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados. Aves de plumagens
policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas
torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos,
rumo ao céu.”
“Melhorada cópia da Terra”? Boa reflexão a ser realizada.
Se o espírito quando desencarna volta para a pátria, será o plano
espiritual a cópia da Terra ou a Terra será a cópia dele?!
Respondendo a pergunta, cabe refletir sobre os ensinamentos deixados pelos
espíritos desencarnados na codificação espírita de responsabilidade do irmão
Alan Kardec. Para um melhor esclarecimento, o Livro dos Espíritos traz o seguinte apontamento: “O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e
que sobrevive a tudo.”
“Das janelas largas, observava, curioso, o
movimento do parque. Extremamente surpreendido, identificava animais
domésticos, entre as árvores frondosas, enfileiradas ao fundo.
Nas minhas lutas
introspectivas, perdia-me em indagações de toda sorte. Não conseguia atinar com
a multiplicidade de formas análogas às do planeta, considerando a circunstância
de me encontrar numa esfera propriamente espiritual.”
Para estes dois parágrafos, cabe a seguinte explanação:
“Mundo normal
primitivo
84. Os Espíritos constituem um mundo à parte, fora
daquele que vemos?
“Sim, o mundo dos Espíritos ou das inteligências
incorpóreas.”
85. Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo
corporal, é o principal, na ordem das coisas?
“O mundo espírita; ele é preexistente e sobrevive a
tudo.”
86. O mundo corporal poderia deixar de existir, ou não
ter jamais existido, sem alterar a essência do mundo espírita?
“Sim; eles são
independentes e, todavia, a correlação entre eles é incessante, pois reagem,
incessantemente, um sobre o outro.”
87. Os Espíritos ocupam uma região determinada e
circunscrita no espaço?
“Os Espíritos estão por toda a parte; povoam os espaços
sem fim, até o infinito. Estão, constantemente, ao vosso lado, vos observam e
atuam sobre vós, sem que o percebais, pois os Espíritos são uma das potências
da Natureza e os instrumentos de que Deus se serve para o cumprimento de seus
desígnios providenciais. Porém, nem todos vão a toda parte, porquanto há
regiões interditadas aos menos adiantados.”
“Lísias, o
companheiro amável de todos os dias, não regateava explicações.
A morte do corpo não
conduz o homem a situações miraculosas, dizia. Todo processo evolutivo implica
gradação. Há regiões múltiplas para os desencarnados, como existem planos
inúmeros e surpreendentes para as criaturas envolvidas de carne terrestre.
Almas e sentimentos, formas e coisas, obedecem a princípios de desenvolvimento
natural e hierarquia justa.”
Estes parágrafos resumem a seguinte frase: a vida continua...
Apesar deste resumo nem tudo são flores. Isso, porém ocorre, pois os filhos
de Deus não procedem da mesma maneira nem muito menos fazem o bem a si como ao
próximo.
Em virtude disso, existem muitos deles a se banquetear com o amor e outros
a ficarem famintos dele, por conseguinte, a sofrerem e a praticarem atos
contrários a ele e a favor do seu sofrimento.
Não obstante, aqueles que conseguem alcançar a compreensão divina do amor
ao próximo, conquistam formas de auxiliar o próximo a fim de que ele atinja o
grau de evolução do bem.
“Preocupava-me, todavia,
permanecer ali, num parque de saúde, havia muitas semanas, sem a visita sequer
de um conhecido do mundo. Afinal, não fora eu a única pessoa do meu círculo a
decifrar o enigma da sepultura. Meus pais me haviam antecipado na grande
jornada. Amigos vários, noutro tempo, me haviam precedido. Por que, então, não
apareciam naquele quarto de enfermidade espiritual, para conforto do meu
coração dolorido? Bastariam alguns momentos de consolação.”
Momento de reflexão: no caso de André, em determinado momento no hospital,
ele refletiu a respeito das pessoas que ele conheceu e que, como ele, não estão
encarnados; e, tendo este conhecimento, o mesmo meditou acerca deles não o
terem visitado. Por que será?
Por que, quando o homem está hospitalizado gostaria de receber visita e
quando não, nem visita quem está no hospital?
“Um dia, não pude
conter-me e perguntei ao solícito visitador:
- Meu caro Lísias,
acha possível, aqui, o encontro com aqueles que nos antecederam na morte do
corpo físico?
- Como não? Pensa
que está esquecido?!...
- Sim. Por que não
me visitam? Na Terra, sempre contei com a abnegação maternal. Minha mãe,
entretanto, até agora não deu sinal de vida. Meu pai, igualmente, fez a grande
viagem; três anos antes do meu trespasse.”
O que acontece com os espíritos
desencarnados após o desenlace? E aqueles que conviveram próximos quando
encarnados, tais como pai, mãe, filho, irmão,...? Qual a importância da família
na vida do encarnado? Esta importância permanece após o desencarne? Quem são os
pais, os filhos? Qual a importância do tema família na vida espiritual?
Para dilucidar a respeito do tema
família, o Livro dos Espíritos sinaliza:
“Parentesco,
filiação
203. Os pais
transmitem aos seus filhos uma porção de suas almas, ou apenas lhes dão a vida
animal à qual, mais tarde, uma nova alma vem acrescentar a vida moral?
“Somente a vida
animal, pois a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes
e vice-versa.”
204. Visto que
tivemos várias existências, a parentela ultrapassa a da nossa existência atual?
“Isto não pode ser
de outra maneira. A sucessão das existências corporais estabelece, entre os
Espíritos, laços que remontam às vossas existências anteriores; daí, com
frequência, as causas de simpatia entre vós e alguns Espíritos que vos parecem
estranhos.”
205. Aos olhos de
algumas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de
família, fazendo-os anteriores à nossa existência atual.
“Ela os distende, porém,
não os destrói. Sendo a parentela baseada em afeições anteriores, os laços que
unem os membros de uma mesma família são menos precários. Ela aumenta os
deveres da fraternidade, visto que, no vosso vizinho, ou no vosso criado, pode
encontrar-se um Espírito que tenha sido ligado a vós pelos laços do sangue.”
a) Todavia, ela
diminui a importância que alguns dão à sua filiação, já que se pode ter tido
como pai um Espírito que tenha pertencido a uma outra raça,* ou vivido numa
condição inteiramente diversa.
“É verdade, mas esta
importância está fundamentada no orgulho; o que a maioria honra, nos seus
antepassados, são os títulos, a classe social, a fortuna.
Alguém, que coraria
de ter tido como ancestral um honesto sapateiro, gabar-se-ia de descender de um
nobre debochado. Porém, apesar do que digam ou façam, não impedirão as coisas
de serem como elas são, pois Deus não estabeleceu as leis da Natureza segundo a
vaidade deles.”
206. Do fato de não
haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de uma mesma família,
resulta que o culto dos ancestrais seja uma coisa ridícula?
“Certamente que não,
pois devemos ser felizes por pertencer a uma família na qual Espíritos elevados
encarnaram. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, não têm menos
afeição por aqueles que estão ligados a eles pelos laços de família, pois estes
Espíritos são, frequentemente, atraídos para tal ou qual família, por causa da
simpatia, ou por laços anteriores; acreditai, porém, que os Espíritos de vossos
ancestrais não ficam honrados com o culto que lhes prestais por orgulho; o
mérito deles não se reflete sobre vós, senão quando vos esforçais para seguir
os bons exemplos que eles vos têm dado e é somente, então, que vossa lembrança
pode não apenas lhes ser agradável, mas até lhes ser útil.””
“- Pois note - esclareceu Lísias -, sua mãe o
tem ajudado dia e noite, desde a crise que antecipou sua vinda. Quando se
acamou para abandonar o casulo terrestre, duplicou-se o interesse maternal a
seu respeito. Talvez não saiba ainda que sua permanência nas esferas inferiores
durou mais de oito anos consecutivos. Ela jamais desanimou. Intercedeu, muitas
vezes, em "Nosso Lar", a seu favor. Rogou os bons ofícios de
Clarêncio, que começou a visitá-lo frequentemente, até que o medico da Terra,
vaidoso, se afastasse um tanto, a fim de surgir o filho dos Céus. Compreendeu?”
A cegueira, a surdez e o egoísmo individual de todo e qualquer ser não
permitem que o indivíduo consiga sentir e perceber que ele nunca está só e que
sempre está recebendo o amparo necessário independente da situação.
No caso de André, que é um exemplo, já que isso acontece com a maioria dos
seres espirituais – encarnados ou não -, ele não identificou o achego materno e
ficou na situação do sofrimento interno durante oito anos; porém, quantos
desencarnados, ou até mesmo, encarnados, mantém-se neste ou num período maior
sem sentir as fagulhas e bênçãos de amor incondicional daqueles que lhes foram
mais caros e mais próximos na estrada da vida?!
Para esclarecer a respeito da contribuição da família na vida espiritual,
convém atentar para as seguintes pontuações do Evangelho Segundo Espiritismo:
“Parentesco corporal
e parentesco espiritual
8. Os laços de
sangue não determinam forçosamente os laços entre os espíritos. O corpo procede
do corpo, mas o espírito não procede do espírito, porque já existia antes da
formação do corpo, não é o pai que cria o espírito do seu filho, ele só lhe
fornece um invólucro corporal, mas deve ajudá-lo a desenvolver-se intelectual e
moralmente, para que possa progredir.
Os espíritos que
encarnam na mesma família, principalmente como parentes próximos, são, na
maioria das vezes, espíritos que se simpatizam, unidos por relações anteriores,
que se traduzem pela afeição que nutrem reciprocamente na vida terrestre. No
entanto, também pode acontecer que esses espíritos sejam completamente
estranhos uns aos outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que
se traduzem da mesma forma por seu antagonismo na Terra, para lhes servir de
prova.
Os verdadeiros laços
de família não são, por conseguinte, os fixados pela consanguinidade, mas os
firmados pela simpatia e pela comunhão de
pensamentos que unem os espíritos antes, durante e após sua encarnação.
De onde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais
irmãos pelo espírito, do que se o fossem pelo sangue.
Eles podem
atrair-se, procurar-se, sentirem prazer em estarem juntos, enquanto que dois
irmãos consanguíneos podem repelir-se, como se observa diariamente; problema
moral que só o Espiritismo pode resolver com a pluralidade das existências.
(Cap. IV, item 13.)
Há, portanto, duas
espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos
laços corporais. As primeiras, duráveis, fortificam-se pela depuração e se
perpetuam no mundo dos espíritos, por intermédio das diversas migrações da
alma; as outras, frágeis como a própria matéria, com o passar do tempo se
extinguem, e muitas vezes se dissolvem moralmente desde a vida atual. Foi isso
o que Jesus desejou que compreendêssemos, dizendo aos seus discípulos: “Eis minha
mãe e meus irmãos., isto é, minha família pelos laços do espírito, porquanto
todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe.
A hostilidade de
seus irmãos é claramente expressa pela narração de Marcos, pois que eles, como
afirma o evangelista, pretendiam apoderar-se de Jesus sob o pretexto de que ele
havia perdido o espírito. Ao ser avisado da chegada da sua família, e
conhecendo o sentimento deles a seu respeito, era natural que Ele dissesse,
referindo-se aos seus discípulos, sob o ponto de vista espiritual: .Eis os meus
verdadeiros irmãos.. Sua mãe encontrava-se com eles, e Jesus generaliza o seu
ensinamento, o que não significa, de maneira alguma, que Ele tenha pretendido
dizer que sua mãe, segundo o corpo, não lhe era nada como espírito, e que por
ela só sentia indiferença. Sua conduta, em outras circunstâncias, provou
suficientemente o contrário.”
“Eu tinha os olhos
úmidos. Ignorava o número de anos que me distanciavam da gleba terrestre.
Desejei conhecer os processos de proteção imperceptível, mas não consegui.
Minhas cordas vocais estavam entorpecidas, com o nó de lágrimas represadas no
coração.”
E em meio ao conhecimento da verdade, não há como não se arrepender e
sentir quanto tempo se perde quando se faz uso da teimosia e do próprio egoísmo
consigo mesmo; visto que, o indivíduo só consegue se prejudicar quando teima em
não enxergar, ouvir e perceber o amparo divino a todo e qualquer momento.
“- No dia em que você orou com tanta alma -
prosseguiu o enfermeiro visitador -, quando compreendeu que tudo no Universo
pertence ao Pai Sublime, seu pranto era diferente. Não sabe que há chuvas que
destroem e chuvas que criam? Lágrimas há também, assim. É lógico que o Senhor
não espera por nossas rogativas para nos amar; no entanto, é indispensável nos
colocarmos em determinada posição receptiva, a fim de compreender-lhe a
infinita bondade. Um espelho enfuscado não reflete a luz. Desse modo, o Pai não
precisa de nossas penitências, mas convenhamos que as penitências prestam
ótimos serviços a nós mesmos. Entendeu? Clarêncio não teve dificuldade em
localizá-lo, atendendo aos apelos de sua carinhosa genitora da Terra; você,
porém, demorou muito a encontrar Clarêncio. E quando sua mãezinha soube que o
filho havia rasgado os véus escuros com o auxílio da oração, chorou de alegria,
segundo me contaram...”
Então, em determinado período e cansado de tanto “bater a cabeça na
parede”, ou seja, esgotado de tanto sofrimento sem razão de ser, o ser
espiritual clama humildemente – e como dever ser -, a assistência D’aquele em
que o criou e espera que o “filho pródigo” retorne a sua casa,...amparando-o.
“- E onde está minha
mãe? - exclamei, por fim. Se me é permitido, quero vê-la, abraçá-la,
ajoelhar-me a seus pés!
- Não vive em
"Nosso Lar" - esclareceu Lísias -, habita esferas mais altas, onde
trabalha não somente por você.”
Há diversas moradas na casa de nosso Pai.
Para estes parágrafos, a mensagem do Evangelho segundo o Espiritismo
auxilia a compreensão:
“Diferentes estados
da alma na erraticidade
2. A casa do Pai é o
Universo; as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e
oferecem aos espíritos encarnados locais apropriados ao seu adiantamento.
Independente da diversidade dos mundos, essas palavras também podem ser entendidas
como o estado feliz ou infeliz do espírito na erraticidade. Segundo a situação
do espírito mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais o meio
onde ele se encontra, o aspecto das coisas, as sensações que experimenta e as
percepções que possui variam ao infinito. Enquanto uns não se podem afastar do
meio em que viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos;
enquanto certos espíritos culpados ficam vagando nas trevas, os felizes
usufruem de uma luz resplandecente e do sublime espetáculo do infinito.
Enfim, enquanto o
mau, perseguido pelos remorsos e pelo arrependimento, frequentemente sozinho,
sem consolações, separado dos objetos da sua afeição, padece sob a pressão dos
sofrimentos morais, o justo, reunido àqueles que ama, desfruta as doçuras de
uma inefável felicidade. Portanto, ali também há várias moradas, ainda que não
sejam circunscritas nem localizadas.”
“Observando meu
desapontamento, acrescentou, fraterno:
- Virá vê-lo, por
certo, antes mesmo do que pensamos. Quando alguém deseja algo ardentemente, já
se encontra a caminho da realização. Tem você, nesse particular, a lição do
próprio caso. Anos a fio rolou, como pluma, albergando o medo, as tristezas e
desilusões; mas, quando mentalizou firmemente a necessidade de receber o
auxílio divino, dilatou o padrão vibratório da mente e alcançou visão e
socorro.”
A seguinte comunicação de Santo Agostinho deixada no Evangelho Segundo o
Espiritismo retrata a mensagem contida nestes parágrafos:
“O mal e o remédio
19. É a Terra um lugar de alegrias, um paraíso de
delícias? A voz do profeta não ressoa mais aos vossos ouvidos? Ele não
proclamou que nela haveria prantos e ranger de dentes para aqueles que
nascessem nesse vale de dores? Vós que viestes viver na Terra, esperai, pois,
lágrimas dolorosas e sofrimentos amargos, e quanto mais agudas e profundas
forem as vossas dores, olhai o céu e bendizei o Senhor por haver querido vos
submeter à prova.
Oh, homens! Não reconhecereis o poder do vosso Senhor
senão quando houver curado as chagas de vosso corpo e coroado os vossos dias de
beatitude e de alegria? Vós só reconhecereis o seu amor quando Ele houver
adornado vosso corpo de todas as glórias e lhe restituído seu brilho e sua brancura?
Imitai aquele que vos foi dado como exemplo; chegado ao
último grau da abjeção e da miséria, estendido em uma estrumeira, disse a Deus:
.Senhor, conheci todas as alegrias da opulência, e vós me haveis reduzido à
miséria mais profunda; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar
vosso servidor!. Até quando vossos olhares se deterão nos horizontes fixados
pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá arrojar-se para além dos limites do
túmulo? Porém, se devêsseis chorar e sofrer toda uma vida, o que isso
representaria comparado à eternidade de glória reservada àquele que houver
suportado a prova com fé, amor e resignação?
Procurai, pois, as consolações para os vossos males no
futuro que Deus vos prepara, e a causa desses males no vosso passado; e vós,
que mais sofreis, considerai-vos os bem-aventurados da Terra.
No estado de desencarnados, quando estáveis no espaço,
escolhestes vossa prova julgando-vos bastante fortes para suportá-la; por que
lamentar agora? Vós que pedistes a fortuna e a glória, era para sustentar a luta
contra a tentação e vencê-la. Vós que pedistes para lutar de corpo e alma
contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais difícil fosse a prova,
mais gloriosa seria a vitória e que, se saísseis vencedor dessa prova, ainda
que vosso corpo devesse ser lançado em uma estrumeira, ao morrer ele deixaria
escapar uma alma resplandecente de brancura e purificada pela expiação e pelo sofrimento.
Que remédio, então, receitar para aqueles que foram atingidos
por obsessões cruéis e males pungentes? Só um é infalível: a fé, voltar os
olhos para Deus. Se, no auge dos vossos mais cruéis sofrimentos, vossa voz
louvar o Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, vos indicará o sinal da salvação e
o lugar que deveis ocupar um dia. A fé, é o remédio certo para o sofrimento;
ela sempre mostra os horizontes do infinito diante dos quais desaparecem os
poucos dias sombrios do presente.
Não nos pergunteis, portanto, qual remédio é preciso empregar
para curar tal úlcera ou tal chaga, tal tentação ou tal prova; lembrai-vos de
que aquele que crê se fortaleceu com o remédio da fé, e aquele que duvida um
segundo da sua eficácia é punido na hora, porque se ressente, no mesmo
instante, das dolorosas angústias da aflição.
O Senhor marcou com o seu sinal todos aqueles que creem
nele. Cristo vos disse que com a fé transportam-se montanhas e eu vos digo que
aquele que sofre e que tem a fé como apoio, será colocado sob sua proteção e
não sofrerá mais; os momentos das dores mais fortes serão para ele as primeiras
notas da alegria da eternidade. Sua alma se desprender á de tal maneira de seu
corpo que, enquanto este se torcer em convulsões, ela planará nas regiões
celestes, cantando com os anjos os hinos de reconhecimento e de glória ao
Senhor.
Felizes aqueles que choram e que sofrem! Que suas almas
estejam alegres porque serão atendidas por Deus. (Santo Agostinho. Paris,
1863.)”
“Olhos brilhantes, encorajado pelo
esclarecimento recebido, exclamei, resoluto:
- Desejarei, então,
com todas as minhas forças... ela virá. . . ela virá...”
O resumo para estes dois parágrafos se resume em uma só palavra: fé.
Ela é capaz de mover montanhas, se for sentida com sinceridade.
Para completar a análise, o Evangelho Segundo o Espiritismo dilucida:
“Poder da fé
1. Quando Jesus foi para junto do povo, um homem
aproximou-se dele e, pondo-se de joelhos aos seus pés, disse-lhe: .Senhor, tem
piedade de meu filho que é lunático, que sofre muito, pois, muitas vezes cai no
fogo e muitas, na água. Eu o apresentei aos teus discípulos, mas eles não
puderam curá-lo... E Jesus lhe respondeu dizendo: “Ó raça incrédula e
depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei
aqui esse menino.” E Jesus, tendo ameaçado o demônio, o fez sair do menino, que
ficou curado no mesmo instante. Então os discípulos vieram se encontrar com
Jesus em particular e lhe perguntaram: “Por que nós não pudemos expulsar esse
demônio?” E Jesus lhes respondeu: “Por causa da vossa incredulidade, porque em
verdade vos digo que, se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a este
monte: passa daqui para acolá, e ele passaria, e nada vos seria impossível.”
(Mateus, XVII: 14 a 20.)
2. No bom sentido, é certo que a confiança em suas
próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais que não se
podem fazer, quando se duvida de si mesmo; mas, aqui, é unicamente no sentido
moral que se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé transporta
são as dificuldades, as resistências, em uma palavra, a má vontade que se
encontra entre os homens, mesmo quando se trata das melhores coisas. Os
preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do
fanatismo, as paixões orgulhosas são outras montanhas que barram o caminho
de qualquer pessoa que trabalhe pelo progresso da
humanidade. A fé segura proporciona a perseverança, a energia e os recursos que
permitem vencer os obstáculos, tanto nas pequenas coisas como nas grandes. A fé
vacilante traz a incerteza, a hesitação, de que se aproveitam aqueles que
devemos combater; ela não procura os meios de vencer, porque não acredita que
possa vencer.
3. Em uma outra acepção, entende-se como fé a confiança
que se tem na realização de algo, a certeza de se alcançar um objetivo. Ela dá
uma espécie de lucidez que faz ver, pelo pensamento, o objetivo que se almeja e
os meios de a ele chegar, de tal maneira que aquele que a possui caminha, por
assim dizer, com segurança. Tanto em um como em outro caso, ela pode fazer com
que se realizem grandes coisas.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma; ela dá a
paciência que sabe esperar, porque tendo seu ponto de apoio na inteligência e
na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao seu objetivo. A fé
duvidosa sente sua própria fraqueza; quando é estimulada pelo interesse
torna-se furiosa, e acredita suplantar com a violência a força que não tem. A
calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao
contrário, é uma prova de fraqueza e de dúvida em si mesmo.
4. É preciso evitar confundir a fé com a presunção. A
verdadeira fé se alia à humildade; aquele que a possui coloca sua confiança
mais em Deus do que em si mesmo, porque sabe que, como simples instrumento da
vontade divina, ele nada pode sem Deus, essa é a razão por que os bons
espíritos vêm em sua ajuda. A presunção é mais orgulho do que fé, e o orgulho,
cedo ou tarde, sempre é castigado pela decepção e pelos fracassos que lhe são
impostos.
5. O poder da fé tem aplicação direta e especial na
ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica
suas qualidades e lhe dá um impulso, por assim dizer, irresistível. Eis o
motivo por que aquele que junta uma fé ardente a um grande poder fluídico
normal pode, apenas pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses
estranhos fenômenos de cura e outros, que antigamente eram considerados como
prodígios, e que são, simplesmente, a consequência de uma lei natural. Tal é o
motivo pelo qual Jesus disse aos seus apóstolos: “Se não conseguistes curar,
foi porque não tivestes fé..”
“Lísias sorriu com
inteligência, e, como quem previne, generoso, afirmou ao despedir-se:
- Convém não
esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos fundamentais, a
saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e, terceiro, merecer, ou, por
outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e merecimento justo.
O visitador ganhou a
porta de saída, sorridente, enquanto eu me detinha silencioso, a meditar no
extenso programa formulado em tão poucas palavras.”
Não basta somente o pensar ter fé. É preciso conhecer e sentir o verdadeiro
significado de ter e sentir a fé. É preciso ser puro de coração. É preciso
trabalho contínuo de reforma íntima retirando as mazelas de angústia, de ódio,
de vingança. É preciso transformação benéfica do amor dentro de si mesmo.
Para se compreender a mensagem do Filho Pródigo, Emmanuel comenta no livro
O Pão Nosso:
“Filhos pródigos
“E caindo em si,
disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço
de fome!”
(Lucas, 15:17)
Examinando-se a
figura do filho pródigo, toda gente idealiza um homem rico, dissipando
possibilidades materiais nos festins do mundo.
O quadro, todavia,
deve ser ampliado, abrangendo as modalidades diferentes.
Os filhos pródigos
não respiram somente onde se encontra o dinheiro em abundância.
Acomodam-se em todos
os campos da atividade humana, resvalando de posições diversas.
Grandes cientistas
da Terra são perdulários da inteligência, destilando venenos intelectuais,
indignos das concessões de que foram aquinhoados. Artistas preciosos gastam,
por vezes, inutilmente, a imaginação e a sensibilidade, através de aventuras
mesquinhas, caindo, afinal, nos desvãos do relaxamento e do crime.
Em toda parte vemos
os dissipadores de bens, de saber, de tempo, de saúde, de oportunidades...
São eles que,
contemplando os corações simples e humildes, em marcha para Deus, possuídos de
verdadeira confiança, experimentam a enorme angústia da inutilidade e,
distantes da paz íntima, exclamam desalentados:
– “Quantos
trabalhadores pequeninos guardam o pão da tranquilidade, enquanto a fome de paz
me tortura o espírito!”
O mundo permanece
repleto de filhos pródigos e, de hora a hora, milhares de vozes proferem
aflitivas exclamações iguais a esta.”
No que concerne ao tema da fé, Joanna de Angelis transmite o seguinte
recado:
“A FÉ INDISPENSÁVEL
A fé é um alimento espiritual de que ninguém pode
prescindir. Encontra-se insculpida nos recessos do espírito, e mesmo quando
solapada pelos interesses mesquinhos ou esmagada pelas circunstâncias
inditosas, prossegue e revela-se com mil faces, em variadas expressões.
Apresenta-se espontânea, natural, graças aos impositivos da própria vida.
Inconscientemente se manifesta na tácita aceitação dos múltiplos fatores que
organizam a existência humana, tanto quanto surge nas atividades, sem que o homem
lhe perceba a injunção, sem a qual, suspeitoso e inconformado, se estiolaria,
padecendo dominadores e injustificados receios.
A fé humana está presente em todos cometimentos da
própria conjuntura física.
A fé divina, no entanto, em considerando as frágeis expressões em que as organizações religiosas a têm apresentado, surge e esmaece no espírito, conforme as disposições que o dominam no dia-a-dia da romagem carnal na busca do destino, da vida imperecível.
A fé divina, no entanto, em considerando as frágeis expressões em que as organizações religiosas a têm apresentado, surge e esmaece no espírito, conforme as disposições que o dominam no dia-a-dia da romagem carnal na busca do destino, da vida imperecível.
* * *
A fé religiosa somente sobrevive se calcada na razão e
na envergadura superior dos fatos que lhe servem de base.
Conquista intelectual se robustece, mediante exercício
e análise, estudo e observação, com que se fixa, produzindo os milagres da
transformação íntima da criatura que se encoraja à abnegação e mesmo ao
sacrifício, ao holocausto. É elemento vitalizador dos ideais de enobrecimento e
sustentáculo da caridade.
* * *
Transitam em muitas direções aqueles que iniciam as
abençoadas experiências evolutivas e, destituídos da experiência da fé, se
apresentam céticos e frios.
Não tiveram tempo de vivê-la ou de comprová-la.
Outrossim, alguns que se aninharam em muitas escolas
religiosas do passado, formando nelas os conceitos espirituais, ao defrontarem
a realidade do além-túmulo, decepcionaram-se por não encontrar as glórias de
mentira que anelavam, tornando-se, lamentavelmente, descrentes desde então.
Conquista que requer zelo e esforço, a fé, além de ser virtude preciosa, também se reveste do valor racional, sem o que não suporta as vicissitudes, nem os sofrimentos.
Conquista que requer zelo e esforço, a fé, além de ser virtude preciosa, também se reveste do valor racional, sem o que não suporta as vicissitudes, nem os sofrimentos.
* * *
Disse Jesus a Jairo, o chefe da Sinagoga que lhe rogava
socorro para a filha considerada morta: “Não temas, crê somente”, e chegando à
casa da enferma despertou-a para a saúde e a vida.
Busca Jesus nos momentos difíceis quando bruxuleiem os
fulgores da tua fé e reveste-te da necessária humildade, a fim de submeter-te
aos impositivos da evolução embora o tributo de aflição e lágrima que seja
necessário oferecer.
Não duvides, porém, do auxílio divino, em todos os dias da tua vida.
A fé é uma necessidade imprescindível para a felicidade, fator essencial para as conquistas íntimas nos rumos da evolução.”
Não duvides, porém, do auxílio divino, em todos os dias da tua vida.
A fé é uma necessidade imprescindível para a felicidade, fator essencial para as conquistas íntimas nos rumos da evolução.”
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
FRANCO, Divaldo P. Rumos
Libertadores. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Bahia: Livraria Espírita Alvorada,
1978.
KARDEC, Allan. A
Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon
Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O céu e o
inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Trad. de Manuel Justiniano
Quintão. 57. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O Evangelho
segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa rev.,
corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
______. O Livro dos
Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 2005.
XAVIER, Francisco
Cândido. Pão Nosso. Pelo espírito
Emmanuel. Editora FEB, 1950.
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