domingo, 4 de junho de 2017

Estudo do livro Nosso Lar


EXPLICAÇÕES DE LÍSIAS

O estudo do capítulo 7 tem como informações gerais:
1) Personagem: André Luiz, Lísias
2) Resumo geral: Lísias, o visitador dos serviços de saúde, assiste a André, aproveitando para fornece-lhe esclarecimentos a respeito de seus familiares.
3) Temas: Família; amor incondicional; prece.

7
“EXPLICAÇÕES DE LÍSIAS
Repetiram-se as visitas periódicas de Clarêncio e a atenção diária de Lísias.
À medida que procurava habituar-me aos deveres novos, sensações de desafogo me aliviavam o coração. Diminuíram as dores e os impedimentos de locomoção fácil. Notava, porém, que, a recordações mais fortes dos fenômenos físicos, me voltavam a angústia, o receio do desconhecido, a mágoa da inadaptação. Apesar de tudo, encontrava mais segurança dentro de mim.”

Como em qualquer lugar de repouso e hospital, o paciente necessita de tempo para refazer suas forças e isso acrescido à entrega aos trabalhos acaba acontecendo de forma gradual e certa de que o tempo não só cura as feridas, como também ensina a utilizar os recursos próximos para o próprio auxílio individual e coletivo. Sem contar que o mesmo, – o tempo-, coloca ao alcance de todo e qualquer indivíduo, outros irmãos com fim de ajudar no caminhar do bem.

“Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às janelas espaçosas. Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quase tudo, melhorada cópia da Terra. Cores mais harmônicas, substâncias mais delicadas. Forrava-se o solo de vegetação. Grandes árvores, pomares fartos e jardins deliciosos. Desenhavam-se montes coroados de luz, em continuidade à planície onde a colônia repousava.
Todos os departamentos apareciam cultivados com esmero. A pequena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se a espaços regulares, exibindo formas diversas. Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabrochavam, aqui e ali, adornando o verde de cambiantes variados. Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu.”

“Melhorada cópia da Terra”? Boa reflexão a ser realizada.
Se o espírito quando desencarna volta para a pátria, será o plano espiritual a cópia da Terra ou a Terra será a cópia dele?!
Respondendo a pergunta, cabe refletir sobre os ensinamentos deixados pelos espíritos desencarnados na codificação espírita de responsabilidade do irmão Alan Kardec. Para um melhor esclarecimento, o Livro dos Espíritos traz o  seguinte apontamento: “O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e que sobrevive a tudo.”

 “Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque. Extremamente surpreendido, identificava animais domésticos, entre as árvores frondosas, enfileiradas ao fundo.
Nas minhas lutas introspectivas, perdia-me em indagações de toda sorte. Não conseguia atinar com a multiplicidade de formas análogas às do planeta, considerando a circunstância de me encontrar numa esfera propriamente espiritual.”

Para estes dois parágrafos, cabe a seguinte explanação:
“Mundo normal primitivo
84. Os Espíritos constituem um mundo à parte, fora daquele que vemos?
“Sim, o mundo dos Espíritos ou das inteligências incorpóreas.”

85. Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corporal, é o principal, na ordem das coisas?
“O mundo espírita; ele é preexistente e sobrevive a tudo.”

86. O mundo corporal poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem alterar a essência do mundo espírita?
 “Sim; eles são independentes e, todavia, a correlação entre eles é incessante, pois reagem, incessantemente, um sobre o outro.”

87. Os Espíritos ocupam uma região determinada e circunscrita no espaço?
“Os Espíritos estão por toda a parte; povoam os espaços sem fim, até o infinito. Estão, constantemente, ao vosso lado, vos observam e atuam sobre vós, sem que o percebais, pois os Espíritos são uma das potências da Natureza e os instrumentos de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios providenciais. Porém, nem todos vão a toda parte, porquanto há regiões interditadas aos menos adiantados.”


“Lísias, o companheiro amável de todos os dias, não regateava explicações.
A morte do corpo não conduz o homem a situações miraculosas, dizia. Todo processo evolutivo implica gradação. Há regiões múltiplas para os desencarnados, como existem planos inúmeros e surpreendentes para as criaturas envolvidas de carne terrestre. Almas e sentimentos, formas e coisas, obedecem a princípios de desenvolvimento natural e hierarquia justa.”

Estes parágrafos resumem a seguinte frase: a vida continua...
Apesar deste resumo nem tudo são flores. Isso, porém ocorre, pois os filhos de Deus não procedem da mesma maneira nem muito menos fazem o bem a si como ao próximo.
Em virtude disso, existem muitos deles a se banquetear com o amor e outros a ficarem famintos dele, por conseguinte, a sofrerem e a praticarem atos contrários a ele e a favor do seu sofrimento.
Não obstante, aqueles que conseguem alcançar a compreensão divina do amor ao próximo, conquistam formas de auxiliar o próximo a fim de que ele atinja o grau de evolução do bem.

“Preocupava-me, todavia, permanecer ali, num parque de saúde, havia muitas semanas, sem a visita sequer de um conhecido do mundo. Afinal, não fora eu a única pessoa do meu círculo a decifrar o enigma da sepultura. Meus pais me haviam antecipado na grande jornada. Amigos vários, noutro tempo, me haviam precedido. Por que, então, não apareciam naquele quarto de enfermidade espiritual, para conforto do meu coração dolorido? Bastariam alguns momentos de consolação.”

Momento de reflexão: no caso de André, em determinado momento no hospital, ele refletiu a respeito das pessoas que ele conheceu e que, como ele, não estão encarnados; e, tendo este conhecimento, o mesmo meditou acerca deles não o terem visitado. Por que será?
Por que, quando o homem está hospitalizado gostaria de receber visita e quando não, nem visita quem está no hospital?

“Um dia, não pude conter-me e perguntei ao solícito visitador:
- Meu caro Lísias, acha possível, aqui, o encontro com aqueles que nos antecederam na morte do corpo físico?
- Como não? Pensa que está esquecido?!...
- Sim. Por que não me visitam? Na Terra, sempre contei com a abnegação maternal. Minha mãe, entretanto, até agora não deu sinal de vida. Meu pai, igualmente, fez a grande viagem; três anos antes do meu trespasse.”

O que acontece com os espíritos desencarnados após o desenlace? E aqueles que conviveram próximos quando encarnados, tais como pai, mãe, filho, irmão,...? Qual a importância da família na vida do encarnado? Esta importância permanece após o desencarne? Quem são os pais, os filhos? Qual a importância do tema família na vida espiritual?
Para dilucidar a respeito do tema família, o Livro dos Espíritos sinaliza:

Parentesco, filiação
203. Os pais transmitem aos seus filhos uma porção de suas almas, ou apenas lhes dão a vida animal à qual, mais tarde, uma nova alma vem acrescentar a vida moral?
“Somente a vida animal, pois a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes e vice-versa.”

204. Visto que tivemos várias existências, a parentela ultrapassa a da nossa existência atual?
“Isto não pode ser de outra maneira. A sucessão das existências corporais estabelece, entre os Espíritos, laços que remontam às vossas existências anteriores; daí, com frequência, as causas de simpatia entre vós e alguns Espíritos que vos parecem estranhos.”

205. Aos olhos de algumas pessoas, a doutrina da reencarnação parece destruir os laços de família, fazendo-os anteriores à nossa existência atual.
“Ela os distende, porém, não os destrói. Sendo a parentela baseada em afeições anteriores, os laços que unem os membros de uma mesma família são menos precários. Ela aumenta os deveres da fraternidade, visto que, no vosso vizinho, ou no vosso criado, pode encontrar-se um Espírito que tenha sido ligado a vós pelos laços do sangue.”

a) Todavia, ela diminui a importância que alguns dão à sua filiação, já que se pode ter tido como pai um Espírito que tenha pertencido a uma outra raça,* ou vivido numa condição inteiramente diversa.
“É verdade, mas esta importância está fundamentada no orgulho; o que a maioria honra, nos seus antepassados, são os títulos, a classe social, a fortuna.
Alguém, que coraria de ter tido como ancestral um honesto sapateiro, gabar-se-ia de descender de um nobre debochado. Porém, apesar do que digam ou façam, não impedirão as coisas de serem como elas são, pois Deus não estabeleceu as leis da Natureza segundo a vaidade deles.”

206. Do fato de não haver filiação entre os Espíritos dos descendentes de uma mesma família, resulta que o culto dos ancestrais seja uma coisa ridícula?
“Certamente que não, pois devemos ser felizes por pertencer a uma família na qual Espíritos elevados encarnaram. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, não têm menos afeição por aqueles que estão ligados a eles pelos laços de família, pois estes Espíritos são, frequentemente, atraídos para tal ou qual família, por causa da simpatia, ou por laços anteriores; acreditai, porém, que os Espíritos de vossos ancestrais não ficam honrados com o culto que lhes prestais por orgulho; o mérito deles não se reflete sobre vós, senão quando vos esforçais para seguir os bons exemplos que eles vos têm dado e é somente, então, que vossa lembrança pode não apenas lhes ser agradável, mas até lhes ser útil.””

 “- Pois note - esclareceu Lísias -, sua mãe o tem ajudado dia e noite, desde a crise que antecipou sua vinda. Quando se acamou para abandonar o casulo terrestre, duplicou-se o interesse maternal a seu respeito. Talvez não saiba ainda que sua permanência nas esferas inferiores durou mais de oito anos consecutivos. Ela jamais desanimou. Intercedeu, muitas vezes, em "Nosso Lar", a seu favor. Rogou os bons ofícios de Clarêncio, que começou a visitá-lo frequentemente, até que o medico da Terra, vaidoso, se afastasse um tanto, a fim de surgir o filho dos Céus. Compreendeu?”

A cegueira, a surdez e o egoísmo individual de todo e qualquer ser não permitem que o indivíduo consiga sentir e perceber que ele nunca está só e que sempre está recebendo o amparo necessário independente da situação.
No caso de André, que é um exemplo, já que isso acontece com a maioria dos seres espirituais – encarnados ou não -, ele não identificou o achego materno e ficou na situação do sofrimento interno durante oito anos; porém, quantos desencarnados, ou até mesmo, encarnados, mantém-se neste ou num período maior sem sentir as fagulhas e bênçãos de amor incondicional daqueles que lhes foram mais caros e mais próximos na estrada da vida?!
Para esclarecer a respeito da contribuição da família na vida espiritual, convém atentar para as seguintes pontuações do Evangelho Segundo Espiritismo:

“Parentesco corporal e parentesco espiritual
8. Os laços de sangue não determinam forçosamente os laços entre os espíritos. O corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito, porque já existia antes da formação do corpo, não é o pai que cria o espírito do seu filho, ele só lhe fornece um invólucro corporal, mas deve ajudá-lo a desenvolver-se intelectual e moralmente, para que possa progredir.
Os espíritos que encarnam na mesma família, principalmente como parentes próximos, são, na maioria das vezes, espíritos que se simpatizam, unidos por relações anteriores, que se traduzem pela afeição que nutrem reciprocamente na vida terrestre. No entanto, também pode acontecer que esses espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem da mesma forma por seu antagonismo na Terra, para lhes servir de prova.
Os verdadeiros laços de família não são, por conseguinte, os fixados pela consanguinidade, mas os firmados pela simpatia e pela comunhão de  pensamentos que unem os espíritos antes, durante e após sua encarnação. De onde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo espírito, do que se o fossem pelo sangue.
Eles podem atrair-se, procurar-se, sentirem prazer em estarem juntos, enquanto que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como se observa diariamente; problema moral que só o Espiritismo pode resolver com a pluralidade das existências. (Cap. IV, item 13.)
Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. As primeiras, duráveis, fortificam-se pela depuração e se perpetuam no mundo dos espíritos, por intermédio das diversas migrações da alma; as outras, frágeis como a própria matéria, com o passar do tempo se extinguem, e muitas vezes se dissolvem moralmente desde a vida atual. Foi isso o que Jesus desejou que compreendêssemos, dizendo aos seus discípulos: “Eis minha mãe e meus irmãos., isto é, minha família pelos laços do espírito, porquanto todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade de seus irmãos é claramente expressa pela narração de Marcos, pois que eles, como afirma o evangelista, pretendiam apoderar-se de Jesus sob o pretexto de que ele havia perdido o espírito. Ao ser avisado da chegada da sua família, e conhecendo o sentimento deles a seu respeito, era natural que Ele dissesse, referindo-se aos seus discípulos, sob o ponto de vista espiritual: .Eis os meus verdadeiros irmãos.. Sua mãe encontrava-se com eles, e Jesus generaliza o seu ensinamento, o que não significa, de maneira alguma, que Ele tenha pretendido dizer que sua mãe, segundo o corpo, não lhe era nada como espírito, e que por ela só sentia indiferença. Sua conduta, em outras circunstâncias, provou suficientemente o contrário.”

“Eu tinha os olhos úmidos. Ignorava o número de anos que me distanciavam da gleba terrestre. Desejei conhecer os processos de proteção imperceptível, mas não consegui. Minhas cordas vocais estavam entorpecidas, com o nó de lágrimas represadas no coração.”

E em meio ao conhecimento da verdade, não há como não se arrepender e sentir quanto tempo se perde quando se faz uso da teimosia e do próprio egoísmo consigo mesmo; visto que, o indivíduo só consegue se prejudicar quando teima em não enxergar, ouvir e perceber o amparo divino a todo e qualquer momento.

 “- No dia em que você orou com tanta alma - prosseguiu o enfermeiro visitador -, quando compreendeu que tudo no Universo pertence ao Pai Sublime, seu pranto era diferente. Não sabe que há chuvas que destroem e chuvas que criam? Lágrimas há também, assim. É lógico que o Senhor não espera por nossas rogativas para nos amar; no entanto, é indispensável nos colocarmos em determinada posição receptiva, a fim de compreender-lhe a infinita bondade. Um espelho enfuscado não reflete a luz. Desse modo, o Pai não precisa de nossas penitências, mas convenhamos que as penitências prestam ótimos serviços a nós mesmos. Entendeu? Clarêncio não teve dificuldade em localizá-lo, atendendo aos apelos de sua carinhosa genitora da Terra; você, porém, demorou muito a encontrar Clarêncio. E quando sua mãezinha soube que o filho havia rasgado os véus escuros com o auxílio da oração, chorou de alegria, segundo me contaram...”

Então, em determinado período e cansado de tanto “bater a cabeça na parede”, ou seja, esgotado de tanto sofrimento sem razão de ser, o ser espiritual clama humildemente – e como dever ser -, a assistência D’aquele em que o criou e espera que o “filho pródigo” retorne a sua casa,...amparando-o.

“- E onde está minha mãe? - exclamei, por fim. Se me é permitido, quero vê-la, abraçá-la, ajoelhar-me a seus pés!
- Não vive em "Nosso Lar" - esclareceu Lísias -, habita esferas mais altas, onde trabalha não somente por você.”

Há diversas moradas na casa de nosso Pai.
Para estes parágrafos, a mensagem do Evangelho segundo o Espiritismo auxilia a compreensão:

“Diferentes estados da alma na erraticidade
2. A casa do Pai é o Universo; as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem aos espíritos encarnados locais apropriados ao seu adiantamento. Independente da diversidade dos mundos, essas palavras também podem ser entendidas como o estado feliz ou infeliz do espírito na erraticidade. Segundo a situação do espírito mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais o meio onde ele se encontra, o aspecto das coisas, as sensações que experimenta e as percepções que possui variam ao infinito. Enquanto uns não se podem afastar do meio em que viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto certos espíritos culpados ficam vagando nas trevas, os felizes usufruem de uma luz resplandecente e do sublime espetáculo do infinito.
Enfim, enquanto o mau, perseguido pelos remorsos e pelo arrependimento, frequentemente sozinho, sem consolações, separado dos objetos da sua afeição, padece sob a pressão dos sofrimentos morais, o justo, reunido àqueles que ama, desfruta as doçuras de uma inefável felicidade. Portanto, ali também há várias moradas, ainda que não sejam circunscritas nem localizadas.”
                        
“Observando meu desapontamento, acrescentou, fraterno:
- Virá vê-lo, por certo, antes mesmo do que pensamos. Quando alguém deseja algo ardentemente, já se encontra a caminho da realização. Tem você, nesse particular, a lição do próprio caso. Anos a fio rolou, como pluma, albergando o medo, as tristezas e desilusões; mas, quando mentalizou firmemente a necessidade de receber o auxílio divino, dilatou o padrão vibratório da mente e alcançou visão e socorro.”

A seguinte comunicação de Santo Agostinho deixada no Evangelho Segundo o Espiritismo retrata a mensagem contida nestes parágrafos:

“O mal e o remédio
19. É a Terra um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não ressoa mais aos vossos ouvidos? Ele não proclamou que nela haveria prantos e ranger de dentes para aqueles que nascessem nesse vale de dores? Vós que viestes viver na Terra, esperai, pois, lágrimas dolorosas e sofrimentos amargos, e quanto mais agudas e profundas forem as vossas dores, olhai o céu e bendizei o Senhor por haver querido vos submeter à prova.
Oh, homens! Não reconhecereis o poder do vosso Senhor senão quando houver curado as chagas de vosso corpo e coroado os vossos dias de beatitude e de alegria? Vós só reconhecereis o seu amor quando Ele houver adornado vosso corpo de todas as glórias e lhe restituído seu brilho e sua brancura?
Imitai aquele que vos foi dado como exemplo; chegado ao último grau da abjeção e da miséria, estendido em uma estrumeira, disse a Deus: .Senhor, conheci todas as alegrias da opulência, e vós me haveis reduzido à miséria mais profunda; obrigado, obrigado, meu Deus, por haverdes querido experimentar vosso servidor!. Até quando vossos olhares se deterão nos horizontes fixados pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá arrojar-se para além dos limites do túmulo? Porém, se devêsseis chorar e sofrer toda uma vida, o que isso representaria comparado à eternidade de glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação?
Procurai, pois, as consolações para os vossos males no futuro que Deus vos prepara, e a causa desses males no vosso passado; e vós, que mais sofreis, considerai-vos os bem-aventurados da Terra.
No estado de desencarnados, quando estáveis no espaço, escolhestes vossa prova julgando-vos bastante fortes para suportá-la; por que lamentar agora? Vós que pedistes a fortuna e a glória, era para sustentar a luta contra a tentação e vencê-la. Vós que pedistes para lutar de corpo e alma contra o mal moral e físico, sabíeis que quanto mais difícil fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória e que, se saísseis vencedor dessa prova, ainda que vosso corpo devesse ser lançado em uma estrumeira, ao morrer ele deixaria escapar uma alma resplandecente de brancura e purificada pela expiação e pelo sofrimento.
Que remédio, então, receitar para aqueles que foram atingidos por obsessões cruéis e males pungentes? Só um é infalível: a fé, voltar os olhos para Deus. Se, no auge dos vossos mais cruéis sofrimentos, vossa voz louvar o Senhor, o anjo, à vossa cabeceira, vos indicará o sinal da salvação e o lugar que deveis ocupar um dia. A fé, é o remédio certo para o sofrimento; ela sempre mostra os horizontes do infinito diante dos quais desaparecem os poucos dias sombrios do presente.
Não nos pergunteis, portanto, qual remédio é preciso empregar para curar tal úlcera ou tal chaga, tal tentação ou tal prova; lembrai-vos de que aquele que crê se fortaleceu com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua eficácia é punido na hora, porque se ressente, no mesmo instante, das dolorosas angústias da aflição.
O Senhor marcou com o seu sinal todos aqueles que creem nele. Cristo vos disse que com a fé transportam-se montanhas e eu vos digo que aquele que sofre e que tem a fé como apoio, será colocado sob sua proteção e não sofrerá mais; os momentos das dores mais fortes serão para ele as primeiras notas da alegria da eternidade. Sua alma se desprender á de tal maneira de seu corpo que, enquanto este se torcer em convulsões, ela planará nas regiões celestes, cantando com os anjos os hinos de reconhecimento e de glória ao Senhor.
Felizes aqueles que choram e que sofrem! Que suas almas estejam alegres porque serão atendidas por Deus. (Santo Agostinho. Paris, 1863.)”


 “Olhos brilhantes, encorajado pelo esclarecimento recebido, exclamei, resoluto:
- Desejarei, então, com todas as minhas forças... ela virá. . . ela virá...”

O resumo para estes dois parágrafos se resume em uma só palavra: fé.
Ela é capaz de mover montanhas, se for sentida com sinceridade.
Para completar a análise, o Evangelho Segundo o Espiritismo dilucida:

“Poder da fé
1. Quando Jesus foi para junto do povo, um homem aproximou-se dele e, pondo-se de joelhos aos seus pés, disse-lhe: .Senhor, tem piedade de meu filho que é lunático, que sofre muito, pois, muitas vezes cai no fogo e muitas, na água. Eu o apresentei aos teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo... E Jesus lhe respondeu dizendo: “Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei aqui esse menino.” E Jesus, tendo ameaçado o demônio, o fez sair do menino, que ficou curado no mesmo instante. Então os discípulos vieram se encontrar com Jesus em particular e lhe perguntaram: “Por que nós não pudemos expulsar esse demônio?” E Jesus lhes respondeu: “Por causa da vossa incredulidade, porque em verdade vos digo que, se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a este monte: passa daqui para acolá, e ele passaria, e nada vos seria impossível.” (Mateus, XVII: 14 a 20.)

2. No bom sentido, é certo que a confiança em suas próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais que não se podem fazer, quando se duvida de si mesmo; mas, aqui, é unicamente no sentido moral que se devem entender essas palavras. As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, em uma palavra, a má vontade que se encontra entre os homens, mesmo quando se trata das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas são outras montanhas que barram o caminho
de qualquer pessoa que trabalhe pelo progresso da humanidade. A fé segura proporciona a perseverança, a energia e os recursos que permitem vencer os obstáculos, tanto nas pequenas coisas como nas grandes. A fé vacilante traz a incerteza, a hesitação, de que se aproveitam aqueles que devemos combater; ela não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.

3. Em uma outra acepção, entende-se como fé a confiança que se tem na realização de algo, a certeza de se alcançar um objetivo. Ela dá uma espécie de lucidez que faz ver, pelo pensamento, o objetivo que se almeja e os meios de a ele chegar, de tal maneira que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com segurança. Tanto em um como em outro caso, ela pode fazer com que se realizem grandes coisas.
A fé sincera e verdadeira é sempre calma; ela dá a paciência que sabe esperar, porque tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao seu objetivo. A fé duvidosa sente sua própria fraqueza; quando é estimulada pelo interesse torna-se furiosa, e acredita suplantar com a violência a força que não tem. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, é uma prova de fraqueza e de dúvida em si mesmo.

4. É preciso evitar confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se alia à humildade; aquele que a possui coloca sua confiança mais em Deus do que em si mesmo, porque sabe que, como simples instrumento da vontade divina, ele nada pode sem Deus, essa é a razão por que os bons espíritos vêm em sua ajuda. A presunção é mais orgulho do que fé, e o orgulho, cedo ou tarde, sempre é castigado pela decepção e pelos fracassos que lhe são impostos.

5. O poder da fé tem aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica suas qualidades e lhe dá um impulso, por assim dizer, irresistível. Eis o motivo por que aquele que junta uma fé ardente a um grande poder fluídico normal pode, apenas pela força da sua vontade dirigida para o bem, operar esses estranhos fenômenos de cura e outros, que antigamente eram considerados como prodígios, e que são, simplesmente, a consequência de uma lei natural. Tal é o motivo pelo qual Jesus disse aos seus apóstolos: “Se não conseguistes curar, foi porque não tivestes fé..”

“Lísias sorriu com inteligência, e, como quem previne, generoso, afirmou ao despedir-se:
- Convém não esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos fundamentais, a saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e, terceiro, merecer, ou, por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e merecimento justo.
O visitador ganhou a porta de saída, sorridente, enquanto eu me detinha silencioso, a meditar no extenso programa formulado em tão poucas palavras.”


Não basta somente o pensar ter fé. É preciso conhecer e sentir o verdadeiro significado de ter e sentir a fé. É preciso ser puro de coração. É preciso trabalho contínuo de reforma íntima retirando as mazelas de angústia, de ódio, de vingança. É preciso transformação benéfica do amor dentro de si mesmo.

Para se compreender a mensagem do Filho Pródigo, Emmanuel comenta no livro O Pão Nosso:

“Filhos pródigos
“E caindo em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!”
(Lucas, 15:17)
Examinando-se a figura do filho pródigo, toda gente idealiza um homem rico, dissipando possibilidades materiais nos festins do mundo.
O quadro, todavia, deve ser ampliado, abrangendo as modalidades diferentes.
Os filhos pródigos não respiram somente onde se encontra o dinheiro em abundância.
Acomodam-se em todos os campos da atividade humana, resvalando de posições diversas.
Grandes cientistas da Terra são perdulários da inteligência, destilando venenos intelectuais, indignos das concessões de que foram aquinhoados. Artistas preciosos gastam, por vezes, inutilmente, a imaginação e a sensibilidade, através de aventuras mesquinhas, caindo, afinal, nos desvãos do relaxamento e do crime.
Em toda parte vemos os dissipadores de bens, de saber, de tempo, de saúde, de oportunidades...
São eles que, contemplando os corações simples e humildes, em marcha para Deus, possuídos de verdadeira confiança, experimentam a enorme angústia da inutilidade e, distantes da paz íntima, exclamam desalentados:
– “Quantos trabalhadores pequeninos guardam o pão da tranquilidade, enquanto a fome de paz me tortura o espírito!”
O mundo permanece repleto de filhos pródigos e, de hora a hora, milhares de vozes proferem aflitivas exclamações iguais a esta.”

No que concerne ao tema da fé, Joanna de Angelis transmite o seguinte recado:

“A FÉ INDISPENSÁVEL
A fé é um alimento espiritual de que ninguém pode prescindir. Encontra-se insculpida nos recessos do espírito, e mesmo quando solapada pelos interesses mesquinhos ou esmagada pelas circunstâncias inditosas, prossegue e revela-se com mil faces, em variadas expressões. Apresenta-se espontânea, natural, graças aos impositivos da própria vida. Inconscientemente se manifesta na tácita aceitação dos múltiplos fatores que organizam a existência humana, tanto quanto surge nas atividades, sem que o homem lhe perceba a injunção, sem a qual, suspeitoso e inconformado, se estiolaria, padecendo dominadores e injustificados receios.
A fé humana está presente em todos cometimentos da própria conjuntura física.
A fé divina, no entanto, em considerando as frágeis expressões em que as organizações religiosas a têm apresentado, surge e esmaece no espírito, conforme as disposições que o dominam no dia-a-dia da romagem carnal na busca do destino, da vida imperecível.
* * *
A fé religiosa somente sobrevive se calcada na razão e na envergadura superior dos fatos que lhe servem de base.
Conquista intelectual se robustece, mediante exercício e análise, estudo e observação, com que se fixa, produzindo os milagres da transformação íntima da criatura que se encoraja à abnegação e mesmo ao sacrifício, ao holocausto. É elemento vitalizador dos ideais de enobrecimento e sustentáculo da caridade.
* * *
Transitam em muitas direções aqueles que iniciam as abençoadas experiências evolutivas e, destituídos da experiência da fé, se apresentam céticos e frios.
Não tiveram tempo de vivê-la ou de comprová-la.
Outrossim, alguns que se aninharam em muitas escolas religiosas do passado, formando nelas os conceitos espirituais, ao defrontarem a realidade do além-túmulo, decepcionaram-se por não encontrar as glórias de mentira que anelavam, tornando-se, lamentavelmente, descrentes desde então.
Conquista que requer zelo e esforço, a fé, além de ser virtude preciosa, também se reveste do valor racional, sem o que não suporta as vicissitudes, nem os sofrimentos.
* * *
Disse Jesus a Jairo, o chefe da Sinagoga que lhe rogava socorro para a filha considerada morta: “Não temas, crê somente”, e chegando à casa da enferma despertou-a para a saúde e a vida.
Busca Jesus nos momentos difíceis quando bruxuleiem os fulgores da tua fé e reveste-te da necessária humildade, a fim de submeter-te aos impositivos da evolução embora o tributo de aflição e lágrima que seja necessário oferecer.
Não duvides, porém, do auxílio divino, em todos os dias da tua vida.
A fé é uma necessidade imprescindível para a felicidade, fator essencial para as conquistas íntimas nos rumos da evolução.”


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FRANCO, Divaldo P. Rumos Libertadores. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Bahia: Livraria Espírita Alvorada, 1978.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Trad. de Manuel Justiniano Quintão. 57. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
______. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. Pelo espírito Emmanuel. Editora FEB, 1950.


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