O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita
I
Para
coisas novas, palavras novas são necessárias, assim o requer a clareza da
linguagem, para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo dos mesmos
termos. As palavras espiritual[1],
espiritualista[2], espiritualismo[3], possuem uma acepção bem
definida; dar-lhes uma nova para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria
multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do
materialismo; quem quer que acredite possuir em si outra coisa além da matéria
é espiritualista; mas daí não se conclui que creia na existência dos Espíritos
ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras
ESPIRITUAL, ESPIRITUALISMO, empregamos, para designar essa última crença, as de
espírita e de espiritismo cuja forma lembra a origem e o sentido
radical, e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis,
reservando à palavra espiritualismo sua acepção própria. Diremos,
portanto, que a Doutrina Espírita
ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com
os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou,
se quiserem, os espiritistas. Como especialidade,
O Livro
dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, ele se
prende à Doutrina Espiritualista da qual apresenta uma das fases. Esta é
a razão pela qual ele traz no topo de seu título às palavras: Filosofia
Espiritualista.
II
Há uma
outra palavra sobre a qual convém igualmente se entenderem, porque é um dos
esteios de toda doutrina moral, e porque é objeto de numerosas controvérsias,
por falta de uma acepção bem determinada; é a palavra alma.[4]
A divergência de opiniões sobre a natureza da alma vem da aplicação particular
que cada um faz desta palavra. Uma língua perfeita, em que cada ideia tivesse
sua representação através de um termo próprio, evitaria muitas discussões; com
uma palavra para cada coisa, todo o mundo se entenderia.
Segundo
uns, a alma é o princípio da vida material orgânica; ela não tem,
absolutamente, existência própria e termina com a vida: é o materialismo puro.
Neste sentido, e por comparação, falam de um instrumento rachado que não emite
mais som: ele não tem alma. Conforme essa opinião, a alma seria um efeito e não
uma causa.
Outros
pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada
ser absorve uma porção. Segundo eles, não haveria para todo o Universo senão
uma alma que distribui centelhas entre os diversos seres inteligentes, durante
a vida destes; depois da morte, cada centelha retorna à fonte comum onde ela se
confunde no todo, como os riachos e os rios retornam ao mar de onde saíram.
Esta
opinião difere da precedente pelo fato de que, nesta hipótese, há em nós mais do
que a matéria, e de que alguma coisa subsiste após a morte; mas é quase como se
nada restasse, visto que, não possuindo mais individualidade, não teríamos mais
consciência de nós mesmos. Conforme esta opinião, a alma universal seria Deus,
e cada ser uma porção da Divindade; é uma variação do panteísmo.
Segundo
outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e
que conserva sua individualidade após a morte. Esta acepção é, certamente, a
mais geral, porque, sob um nome ou sob outro, a ideia desse ser que sobrevive
ao corpo encontra-se no estado de crença instintiva e independente de qualquer
ensino, em todos os povos, qualquer que seja o grau de sua civilização. Esta
doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito, é a dos espiritualistas.
Sem
discutir o mérito destas opiniões, e apenas considerando o aspecto linguístico
da questão, diremos que estas três aplicações da palavra alma constituem
três ideias distintas que pediriam, cada qual, um termo diferente. Esta palavra
tem, portanto, uma tripla acepção, e cada qual tem razão, sob seu ponto de
vista, na definição que lhe dá; a dificuldade ocorre porque a língua possui uma
só palavra para três ideias. Para evitar qualquer equívoco, seria necessário
restringir a acepção da palavra alma a uma destas três ideias; a escolha
é indiferente, o importante é que todos se entendam, é uma questão de
convenção. Acreditamos mais lógico tomá-la na sua acepção mais vulgar; é por
isso que chamamos ALMA o ser imaterial e individual que reside em nós e que
sobrevive ao corpo. Se este ser não existisse, sendo apenas um produto da
imaginação, ainda assim, seria preciso um termo para designá-lo.
Por falta
de uma palavra especial para cada uma das duas outras acepções nós chamamos:
Princípio
vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que seja sua
fonte e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem.
Podendo a vida existir, abstração feita da faculdade de pensar, o princípio
vital é uma coisa distinta e independente. A palavra vitalidade não
daria a mesma ideia. Para uns, o princípio vital é uma propriedade da matéria,
um efeito que se produz quando a matéria se encontra em dadas circunstâncias;
segundo outros, e é a ideia mais comum, ele reside num fluido especial,
universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parte
durante a vida, como vemos os corpos inertes absorver a luz; este seria, então,
o fluido vital que, segundo algumas opiniões, não seria outro senão o
fluido elétrico animalizado, também designado sob os nomes de fluido
magnético, fluido nervoso, etc.
Seja como
for, há um fato que não se poderia contestar, pois é um resultado de
observação, é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima que produz o
fenômeno da vida, enquanto essa força existe; que a vida material é comum a
todos os seres orgânicos e que é independente da inteligência e do pensamento;
que a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de algumas espécies
orgânicas; finalmente, que, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência
e de pensamento, há uma dotada de um senso moral especial que lhe dá uma
incontestável superioridade sobre os outros, é a espécie humana.
Concebe-se
que, com um sentido múltiplo, a alma não exclui o materialismo, nem o
panteísmo. O próprio espiritualista pode muito bem entender a alma de acordo
com uma ou outra das duas primeiras definições, sem prejuízo do ser imaterial
distinto ao qual ele dará, então, um nome qualquer. Assim, esta palavra não
representa uma opinião: é um Proteu que cada um acomoda à sua maneira; daí a
fonte de intermináveis disputas.
Evitar-se-ia
igualmente a confusão, ao empregar a palavra alma nos três casos, se a ela se
acrescentasse um qualificativo que especificaria o ponto de vista sob o qual
ela é encarada, ou a aplicação que dela se faz. Seria, então, uma palavra
genérica, representando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, da
inteligência e do senso moral e que se distinguiria, através de um atributo, como
os gases, por exemplo, que se distinguem acrescentando as palavras hidrogênio,
oxigênio ou azoto. Portanto, poder-se-ia dizer, e talvez fosse o
melhor, a alma vital para o princípio da vida material, a alma
intelectual para o princípio inteligente, e a alma espírita para o
princípio de nossa individualidade após a morte. Como se vê, tudo isso é uma
questão de palavras, porém uma questão muito importante para que nos
entendamos. Desta forma, a alma vital seria comum a todos os seres
orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria
dos animais e dos homens; e a alma espírita pertenceria apenas ao homem.
Julgamos
necessário insistir um tanto mais nessas explicações porque a Doutrina Espírita
repousa, naturalmente, sobre a existência em nós de um ser independente da
matéria e que sobrevive ao corpo. Devendo a palavra alma se reproduzir
frequentemente no decorrer desta obra, era importante ser fixada no sentido que
lhe atribuímos, a fim de evitar qualquer engano.
Passemos,
agora, ao objeto principal desta instrução preliminar.
QUESTOES
PARA ESTUDO:
1) Que
significa a assertiva de Kardec que diz para as coisas novas necessitam-se
palavras novas?
2) Há
diferencia entre Espiritualismo e Espiritismo?
3) O que o
Espiritismo considera como Alma?
4) Qual o
seu entendimento para os conceitos
Principio vital e Fluido Vital, acima citado por Kardec.?
CONSIDERAÇÕES
IMPORTANTES
ITEM 1
Diferença
entre Espiritismo e Espiritualismo Espiritualismo Doutrina filosófica que
admite a existência de Deus e da alma. Contrapõe-se ao Materialismo, que só
admite a matéria. Segundo o Materialismo no ser humano só haveria o corpo
físico. Até as funções superiores como a memória, o raciocínio, as emoções, os sentimentos
poderiam ser reduzidos a simples reações físico-químicas do sistema nervoso, do
sangue, das glândulas internas. O Universo seria formado por acaso e seria
explicado dentro das leis das ciências exatas (Matemática, Física, Química,
Astronomia etc.). Esta é a tese do Materialismo Filosófico, que não deve ser
confundido com o Materialismo Pragmático e Hedonista adotado por aquele que,
embora se diga até mesmo religioso, só quer mesmo é gozar os prazeres da vida
terrena, nem que seja em cima da miséria alheia. Todos os religiosos, como
aceitam a Alma e Deus, são, por isto mesmo, espiritualistas. Assim, a pala
espiritualista tem significado muito vasto, abrangendo o católico, o
protestante, o umbandista, o candomblecista, o israelita ou judeu, o islâmico
ou mamometano etc. Espiritismo Doutrina filosófica também espiritualista, mas
que se diferencia das outras correntes filosóficas por Ter características bem
definidas, a saber: a – concepção tríplice do homem: Espírito – Perispírito –
Corpo Físico; b – sobrevivência do Espírito como individualidade; c –
continuidade da responsabilidade individual; d – progressividade do Espírito
dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza; e – comunicação
mediúnica disciplinada voltada para o esclarecimento e a consolação de
encarnados e desencarnados; f – volta do Espírito à matéria (reencarnação)
tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição relativa a que se
destina, não admitindo, no entanto, a metempsicose, ou seja, a volta do
Espírito no corpo de animal para pagar dívidas, como aceita o Hinduísmo.
Conforme o Espiritismo, o Espírito não retroagrada; g – ausência total de
hierarquia sacerdotal; h – abnegação na prática do bem, ou seja, não se dobra
nada por esta ou aquela atividade espírita; i – terminologia própria, como por
exemplo, perispírito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita, e nunca
corpo astral, karma, Exu, Orixá, "cavalo", "aparelho",
"terreiro", "encosto", vocábulos utilizados por outras
religiões e que não têm cabimento no meio espírita; j – total ausência de culto
material (imagens, altares, roupas especiais, oferendas, velas etc.); l – na
prática espírita não há batismo nem culto ou cerimônia para oficializar
casamento; m – respeito a todas as demais religiões, embora não incorpore a seu
corpo doutrinário os princípios e rituais delas; n – a moral espírita é a moral
cristã: "Fazer ao próximo aquilo que dele se deseje".
Disponível
em: http://chicoparasemprexavier.blogspot.com.br/2012/04/diferenca-entre-espiritismo-e.html
ITEM 2
A alma
134. Que é
a alma?
“Um Espírito encarnado.”
a) Que era
a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”
b) As
almas e os espíritos são, portanto, identicamente, a mesma coisa?
“Sim, as almas são apenas os Espíritos. Antes
de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo
invisível e que revestem, temporariamente, um envoltório carnal, para se
purificarem e se esclarecerem.”
135. Há no
homem outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o elo que une a alma e o corpo.”
a) Qual a
natureza desse elo?
“Semimaterial, isto é, intermediária entre o
Espírito e o corpo. E é preciso que assim seja, para que eles possam comunicar-se
um com o outro. É através desse elo que o Espírito age sobre a matéria e
reciprocamente.”
O homem é,
assim, formado de três partes essenciais:
1º – O
corpo, ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio
vital;
2º – A
alma, Espírito encarnado cujo corpo é a habitação;
3º – O
princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que
serve de primeiro envoltório ao Espírito e une a alma ao corpo. Tais são, num
fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.
136. A
alma é independente do princípio vital?
“O corpo é apenas o envoltório, repetimo-lo
incessantemente.”
a) O corpo
pode existir sem a alma?
“Sim, entretanto, desde que o corpo cesse de
viver, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre
a alma e o corpo; enquanto que, depois que esta união foi estabelecida, a morte
do corpo rompe os laços que o unem à alma e esta o deixa. A vida orgânica pode
animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado da vida
orgânica.”
b) Que
seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
“Uma massa de carne sem inteligência, tudo o
que quiserdes, exceto um homem.”
137. O
mesmo Espírito pode encarnar em dois corpos diferentes, simultaneamente?
“Não, o Espírito é indivisível e não pode
animar, ao mesmo tempo, dois seres distintos.” (Ver, em O Livro dos Médiuns, capítulo: Bicorporeidade e Transfiguração)
138. O que
se deve pensar da opinião daqueles que veem a alma como o princípio da vida
material?
“É uma
questão de palavras; não nos atemos a isso; começai por vos entenderdes a vós
próprios.”
139.
Alguns Espíritos, e, antes deles, alguns filósofos definiram a alma como: Uma
centelha anímica emanada do grande Todo; por que esta contradição?
“Não há contradição; isso depende da acepção
das palavras. Por que não tendes uma palavra para cada coisa?”
A palavra alma
é empregada para exprimir coisas muito diferentes. Uns a chamam, assim, o
princípio da vida e, nessa acepção, é exato dizer, figuradamente, que: a
alma é uma centelha anímica emanada do grande Todo. Estas últimas palavras
indicam a fonte universal do princípio vital de que cada ser absorve uma porção
que, após a morte, retorna à massa da qual saiu. Esta ideia não exclui,
absolutamente, a de um ser moral, distinto, independente da matéria e que
conserva sua individualidade. É a este ser que, igualmente, se chama alma e
é nesta acepção que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado. Dando
definições diferentes da alma, os Espíritos falaram de acordo com a aplicação
que faziam da palavra e conforme as ideias terrestres das quais ainda estavam
mais ou menos imbuídos. Isto se deve à insuficiência da linguagem humana, que
não dispõe de uma palavra para cada ideia e daí a origem de uma enormidade de
equívocos e de discussões: eis por que os Espíritos superiores nos dizem para
nos entendermos, primeiro, com relação às palavras.
140. Que
se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os
músculos e presidindo, assim, a cada uma das funções do corpo?
“Isto também depende do sentido que se atribua
à palavra alma; têm razão, se a
entendem como o fluido vital; se a entendem como Espírito encarnado,
enganam-se. Já o dissemos, o Espírito é indivisível; ele transmite o movimento
aos órgãos, através do fluido intermediário, sem que para isto se divida.”
a)
Todavia, há espíritos que deram esta definição.
“Os espíritos ignorantes podem tomar o efeito
pela causa.”
A alma age
por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital, que se
reparte entre eles e, mais abundantemente, naqueles que são os centros ou focos
do movimento. Porém, esta explicação não pode convir à alma, considerada como
sendo o espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por ocasião da
morte.
141. Há
alguma coisa de verdadeiro na opinião daqueles que pensam que a alma é exterior
ao corpo e o circunda?
“A alma não se acha encerrada no corpo, como o
pássaro numa gaiola; ela irradia e se manifesta exteriormente, como a luz
através de um globo de vidro, ou, como o som, em torno de um centro sonoro; é
assim que se pode dizer que ela é exterior, porém, nem por isso constitui o
envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios: um, sutil e leve, é o
primeiro: aquele que chamas de perispírito;
o outro, grosseiro, material e pesado: é o corpo. A alma é o centro de todos
estes envoltórios, como o gérmen da planta em um caroço, já dissemos.”
142. O que
dizer dessa outra teoria, segundo a qual a alma, na criança, completa-se, a
cada período da vida?
“O
Espírito é único; está inteiro na criança, como no adulto; são os órgãos ou
instrumentos das manifestações da alma que se desenvolvem e se completam. Ainda
aí toma-se o efeito pela causa.”
143. Por
que nem todos os Espíritos definem a alma da mesma forma?
“Nem todos os espíritos estão igualmente
esclarecidos sobre estes assuntos; há Espíritos ainda limitados, que não
compreendem as coisas abstratas; são como as crianças entre vós. Há também
Espíritos pseudo-sábios, que fazem ostentação de palavras para se impor: é
assim como acontece entre vós. E depois, os próprios Espíritos esclarecidos
podem se exprimir em termos diferentes, que, no fundo, têm o mesmo valor,
sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem é impotente para
traduzir com clareza; são necessárias figuras, comparações, que tomais como
realidade.”
144. Que
se deve entender por alma do mundo?
“É o princípio universal da vida e da
inteligência, de onde nascem as individualidades. Mas, os que se servem destas
palavras, frequentemente, não se compreendem entre si. A palavra alma é tão elástica que cada um a
interpreta ao sabor de seus devaneios. Algumas vezes, tem-se atribuído à Terra
uma alma; isto se deve entender como o conjunto dos Espíritos devotados, que
dirigem vossas ações para o bom caminho, quando os escutais e que são, de certo
modo, os adjuntos de Deus, junto ao vosso globo.”
145. Como
tantos filósofos antigos e modernos discutiram, durante tanto tempo, sobre a
ciência psicológica, sem terem chegado à verdade?
“Esses homens foram os precursores da eterna
Doutrina Espírita; eles prepararam os caminhos. Eram homens, logo, podem ter se
enganado, porque tomaram suas próprias ideias pela luz; porém, seus próprios
erros servem para fazer realçar a verdade, mostrando o pró e o contra; aliás,
entre estes erros encontram-se grandes verdades que um estudo comparativo vos
faz compreender.”
146. A
alma tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita?
“Não; porém, ela reside mais particularmente
na cabeça, nos grandes gênios e em todos aqueles que pensam muito e, no
coração, naqueles que sentem muito e cujas ações, todas, referem-se à
Humanidade.”
a) O que
pensar da opinião daqueles que situam a alma num centro vital?
“Quer dizer que o espírito habita de
preferência essa parte do vosso organismo, visto que todas as sensações para
ali convergem. Os que a situam naquilo que consideram como o centro da
vitalidade, confundem-na com o fluido ou princípio vital. Todavia, pode-se
dizer que a sede da alma está, mais particularmente, nos órgãos que servem às
manifestações intelectuais e morais.”
Disponível
no Livro dos Espíritos.
Estudo da Parte Primeira
Capitulo I - De Deus
Panteísmo
14. Deus é
um ser distinto, ou, conforme a opinião de alguns, a resultante de todas as
forças e de todas as inteligências do Universo reunidas?
“Se assim fosse, Deus não existiria, pois
seria o efeito e não a causa; ele não pode ser, ao mesmo tempo, um e outra.”
“Deus existe, disso não podeis duvidar; é o
essencial. Crede-me, não vades além; não vos percais num labirinto de onde não
poderíeis sair; isso não vos tornaria melhores, mas, talvez um pouco mais
orgulhosos, porque acreditaríeis saber e, na realidade, nada saberíeis. Deixai,
portanto, de lado todos estes sistemas; tendes coisas sufi cientes, que vos
tocam mais diretamente, a começar por vós mesmos; estudai vossas próprias
imperfeições, a fim de vos livrardes delas; isto ser-vos-á mais útil do que
querer penetrar no que é impenetrável.”
15. Que se
deve pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os
seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam,
em conjunto, a própria Divindade, isto é, da doutrina panteísta?
“O homem, não podendo fazer-se Deus, quer,
pelo menos, ser uma parte de Deus.”
16.
Aqueles que professam esta doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de
alguns dos atributos de Deus: sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso
mesmo, infinito; não havendo o vazio ou o nada em parte alguma, Deus está por
toda a parte; estando Deus por toda a parte, visto que tudo é parte integrante
de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente.
Que se pode opor a este raciocínio?
“A razão; refleti maduramente e não vos será
difícil reconhecer-lhe o absurdo.”
Esta
doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de uma inteligência
suprema, seria, em ponto grande, o que somos em ponto pequeno. Ora, se fosse
assim, com a matéria transformando-se incessantemente, Deus não teria
estabilidade alguma; estaria sujeito a todas as vicissitudes, até mesmo a todas
as necessidades da Humanidade; ele careceria de um dos atributos essenciais da
Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matéria não podem se aliar à
ideia de Deus, sem rebaixá-lo em nosso entendimento, e nenhuma sutileza do
sofisma conseguirá resolver o problema de sua natureza íntima. Não sabemos tudo
o que ele é, mas sabemos o que ele não pode deixar de ser e este sistema está
em contradição com suas propriedades mais essenciais; ele confunde o Criador
com a criatura, exatamente como se quisesse que uma máquina engenhosa fosse
parte integrante do mecânico que a criou.
A
inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu
quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, tanto quanto o quadro não
é o pintor que o concebeu e executou.
Disponível
no Livro dos Espíritos.
Outras
informações:
Nenhum comentário:
Postar um comentário