quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita
I
Para coisas novas, palavras novas são necessárias, assim o requer a clareza da linguagem, para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo dos mesmos termos. As palavras espiritual[1], espiritualista[2], espiritualismo[3], possuem uma acepção bem definida; dar-lhes uma nova para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite possuir em si outra coisa além da matéria é espiritualista; mas daí não se conclui que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras ESPIRITUAL, ESPIRITUALISMO, empregamos, para designar essa última crença, as de espírita e de espiritismo cuja forma lembra a origem e o sentido radical, e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo sua acepção própria. Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas. Como especialidade,
O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, ele se prende à Doutrina Espiritualista da qual apresenta uma das fases. Esta é a razão pela qual ele traz no topo de seu título às palavras: Filosofia Espiritualista.
II
Há uma outra palavra sobre a qual convém igualmente se entenderem, porque é um dos esteios de toda doutrina moral, e porque é objeto de numerosas controvérsias, por falta de uma acepção bem determinada; é a palavra alma.[4] A divergência de opiniões sobre a natureza da alma vem da aplicação particular que cada um faz desta palavra. Uma língua perfeita, em que cada ideia tivesse sua representação através de um termo próprio, evitaria muitas discussões; com uma palavra para cada coisa, todo o mundo se entenderia.
Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica; ela não tem, absolutamente, existência própria e termina com a vida: é o materialismo puro. Neste sentido, e por comparação, falam de um instrumento rachado que não emite mais som: ele não tem alma. Conforme essa opinião, a alma seria um efeito e não uma causa.
Outros pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma porção. Segundo eles, não haveria para todo o Universo senão uma alma que distribui centelhas entre os diversos seres inteligentes, durante a vida destes; depois da morte, cada centelha retorna à fonte comum onde ela se confunde no todo, como os riachos e os rios retornam ao mar de onde saíram.
Esta opinião difere da precedente pelo fato de que, nesta hipótese, há em nós mais do que a matéria, e de que alguma coisa subsiste após a morte; mas é quase como se nada restasse, visto que, não possuindo mais individualidade, não teríamos mais consciência de nós mesmos. Conforme esta opinião, a alma universal seria Deus, e cada ser uma porção da Divindade; é uma variação do panteísmo.
Segundo outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte. Esta acepção é, certamente, a mais geral, porque, sob um nome ou sob outro, a ideia desse ser que sobrevive ao corpo encontra-se no estado de crença instintiva e independente de qualquer ensino, em todos os povos, qualquer que seja o grau de sua civilização. Esta doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito, é a dos espiritualistas.
Sem discutir o mérito destas opiniões, e apenas considerando o aspecto linguístico da questão, diremos que estas três aplicações da palavra alma constituem três ideias distintas que pediriam, cada qual, um termo diferente. Esta palavra tem, portanto, uma tripla acepção, e cada qual tem razão, sob seu ponto de vista, na definição que lhe dá; a dificuldade ocorre porque a língua possui uma só palavra para três ideias. Para evitar qualquer equívoco, seria necessário restringir a acepção da palavra alma a uma destas três ideias; a escolha é indiferente, o importante é que todos se entendam, é uma questão de convenção. Acreditamos mais lógico tomá-la na sua acepção mais vulgar; é por isso que chamamos ALMA o ser imaterial e individual que reside em nós e que sobrevive ao corpo. Se este ser não existisse, sendo apenas um produto da imaginação, ainda assim, seria preciso um termo para designá-lo.
Por falta de uma palavra especial para cada uma das duas outras acepções nós chamamos:
Princípio vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que seja sua fonte e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Podendo a vida existir, abstração feita da faculdade de pensar, o princípio vital é uma coisa distinta e independente. A palavra vitalidade não daria a mesma ideia. Para uns, o princípio vital é uma propriedade da matéria, um efeito que se produz quando a matéria se encontra em dadas circunstâncias; segundo outros, e é a ideia mais comum, ele reside num fluido especial, universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parte durante a vida, como vemos os corpos inertes absorver a luz; este seria, então, o fluido vital que, segundo algumas opiniões, não seria outro senão o fluido elétrico animalizado, também designado sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.
Seja como for, há um fato que não se poderia contestar, pois é um resultado de observação, é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima que produz o fenômeno da vida, enquanto essa força existe; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e que é independente da inteligência e do pensamento; que a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de algumas espécies orgânicas; finalmente, que, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma dotada de um senso moral especial que lhe dá uma incontestável superioridade sobre os outros, é a espécie humana.
Concebe-se que, com um sentido múltiplo, a alma não exclui o materialismo, nem o panteísmo. O próprio espiritualista pode muito bem entender a alma de acordo com uma ou outra das duas primeiras definições, sem prejuízo do ser imaterial distinto ao qual ele dará, então, um nome qualquer. Assim, esta palavra não representa uma opinião: é um Proteu que cada um acomoda à sua maneira; daí a fonte de intermináveis disputas.
Evitar-se-ia igualmente a confusão, ao empregar a palavra alma nos três casos, se a ela se acrescentasse um qualificativo que especificaria o ponto de vista sob o qual ela é encarada, ou a aplicação que dela se faz. Seria, então, uma palavra genérica, representando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, da inteligência e do senso moral e que se distinguiria, através de um atributo, como os gases, por exemplo, que se distinguem acrescentando as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto. Portanto, poder-se-ia dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital para o princípio da vida material, a alma intelectual para o princípio inteligente, e a alma espírita para o princípio de nossa individualidade após a morte. Como se vê, tudo isso é uma questão de palavras, porém uma questão muito importante para que nos entendamos. Desta forma, a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria dos animais e dos homens; e a alma espírita pertenceria apenas ao homem.
Julgamos necessário insistir um tanto mais nessas explicações porque a Doutrina Espírita repousa, naturalmente, sobre a existência em nós de um ser independente da matéria e que sobrevive ao corpo. Devendo a palavra alma se reproduzir frequentemente no decorrer desta obra, era importante ser fixada no sentido que lhe atribuímos, a fim de evitar qualquer engano.
Passemos, agora, ao objeto principal desta instrução preliminar.


QUESTOES PARA ESTUDO:

1) Que significa a assertiva de Kardec que diz para as coisas novas necessitam-se palavras novas?

2) Há diferencia entre Espiritualismo e Espiritismo?

3) O que o Espiritismo considera como Alma?

4) Qual o seu entendimento  para os conceitos Principio vital e Fluido Vital, acima citado por Kardec.?




CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

ITEM 1

Diferença entre Espiritismo e Espiritualismo Espiritualismo Doutrina filosófica que admite a existência de Deus e da alma. Contrapõe-se ao Materialismo, que só admite a matéria. Segundo o Materialismo no ser humano só haveria o corpo físico. Até as funções superiores como a memória, o raciocínio, as emoções, os sentimentos poderiam ser reduzidos a simples reações físico-químicas do sistema nervoso, do sangue, das glândulas internas. O Universo seria formado por acaso e seria explicado dentro das leis das ciências exatas (Matemática, Física, Química, Astronomia etc.). Esta é a tese do Materialismo Filosófico, que não deve ser confundido com o Materialismo Pragmático e Hedonista adotado por aquele que, embora se diga até mesmo religioso, só quer mesmo é gozar os prazeres da vida terrena, nem que seja em cima da miséria alheia. Todos os religiosos, como aceitam a Alma e Deus, são, por isto mesmo, espiritualistas. Assim, a pala espiritualista tem significado muito vasto, abrangendo o católico, o protestante, o umbandista, o candomblecista, o israelita ou judeu, o islâmico ou mamometano etc. Espiritismo Doutrina filosófica também espiritualista, mas que se diferencia das outras correntes filosóficas por Ter características bem definidas, a saber: a – concepção tríplice do homem: Espírito – Perispírito – Corpo Físico; b – sobrevivência do Espírito como individualidade; c – continuidade da responsabilidade individual; d – progressividade do Espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza; e – comunicação mediúnica disciplinada voltada para o esclarecimento e a consolação de encarnados e desencarnados; f – volta do Espírito à matéria (reencarnação) tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição relativa a que se destina, não admitindo, no entanto, a metempsicose, ou seja, a volta do Espírito no corpo de animal para pagar dívidas, como aceita o Hinduísmo. Conforme o Espiritismo, o Espírito não retroagrada; g – ausência total de hierarquia sacerdotal; h – abnegação na prática do bem, ou seja, não se dobra nada por esta ou aquela atividade espírita; i – terminologia própria, como por exemplo, perispírito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita, e nunca corpo astral, karma, Exu, Orixá, "cavalo", "aparelho", "terreiro", "encosto", vocábulos utilizados por outras religiões e que não têm cabimento no meio espírita; j – total ausência de culto material (imagens, altares, roupas especiais, oferendas, velas etc.); l – na prática espírita não há batismo nem culto ou cerimônia para oficializar casamento; m – respeito a todas as demais religiões, embora não incorpore a seu corpo doutrinário os princípios e rituais delas; n – a moral espírita é a moral cristã: "Fazer ao próximo aquilo que dele se deseje".


ITEM 2

A alma

134. Que é a alma?
“Um Espírito encarnado.”

a) Que era a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”

b) As almas e os espíritos são, portanto, identicamente, a mesma coisa?
“Sim, as almas são apenas os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível e que revestem, temporariamente, um envoltório carnal, para se purificarem e se esclarecerem.”

135. Há no homem outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o elo que une a alma e o corpo.”

a) Qual a natureza desse elo?
“Semimaterial, isto é, intermediária entre o Espírito e o corpo. E é preciso que assim seja, para que eles possam comunicar-se um com o outro. É através desse elo que o Espírito age sobre a matéria e reciprocamente.”

O homem é, assim, formado de três partes essenciais:
1º – O corpo, ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2º – A alma, Espírito encarnado cujo corpo é a habitação;
3º – O princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e une a alma ao corpo. Tais são, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.

136. A alma é independente do princípio vital?
“O corpo é apenas o envoltório, repetimo-lo incessantemente.”

a) O corpo pode existir sem a alma?
“Sim, entretanto, desde que o corpo cesse de viver, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois que esta união foi estabelecida, a morte do corpo rompe os laços que o unem à alma e esta o deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado da vida orgânica.”

b) Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
“Uma massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.”

137. O mesmo Espírito pode encarnar em dois corpos diferentes, simultaneamente?
“Não, o Espírito é indivisível e não pode animar, ao mesmo tempo, dois seres distintos.” (Ver, em O Livro dos Médiuns, capítulo: Bicorporeidade e Transfiguração)

138. O que se deve pensar da opinião daqueles que veem a alma como o princípio da vida material?
 “É uma questão de palavras; não nos atemos a isso; começai por vos entenderdes a vós próprios.”

139. Alguns Espíritos, e, antes deles, alguns filósofos definiram a alma como: Uma centelha anímica emanada do grande Todo; por que esta contradição?
“Não há contradição; isso depende da acepção das palavras. Por que não tendes uma palavra para cada coisa?”
A palavra alma é empregada para exprimir coisas muito diferentes. Uns a chamam, assim, o princípio da vida e, nessa acepção, é exato dizer, figuradamente, que: a alma é uma centelha anímica emanada do grande Todo. Estas últimas palavras indicam a fonte universal do princípio vital de que cada ser absorve uma porção que, após a morte, retorna à massa da qual saiu. Esta ideia não exclui, absolutamente, a de um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade. É a este ser que, igualmente, se chama alma e é nesta acepção que se pode dizer que a alma é um Espírito encarnado. Dando definições diferentes da alma, os Espíritos falaram de acordo com a aplicação que faziam da palavra e conforme as ideias terrestres das quais ainda estavam mais ou menos imbuídos. Isto se deve à insuficiência da linguagem humana, que não dispõe de uma palavra para cada ideia e daí a origem de uma enormidade de equívocos e de discussões: eis por que os Espíritos superiores nos dizem para nos entendermos, primeiro, com relação às palavras.

140. Que se deve pensar da teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos e presidindo, assim, a cada uma das funções do corpo?
“Isto também depende do sentido que se atribua à palavra alma; têm razão, se a entendem como o fluido vital; se a entendem como Espírito encarnado, enganam-se. Já o dissemos, o Espírito é indivisível; ele transmite o movimento aos órgãos, através do fluido intermediário, sem que para isto se divida.”

a) Todavia, há espíritos que deram esta definição.
“Os espíritos ignorantes podem tomar o efeito pela causa.”

A alma age por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital, que se reparte entre eles e, mais abundantemente, naqueles que são os centros ou focos do movimento. Porém, esta explicação não pode convir à alma, considerada como sendo o espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa por ocasião da morte.

141. Há alguma coisa de verdadeiro na opinião daqueles que pensam que a alma é exterior ao corpo e o circunda?
“A alma não se acha encerrada no corpo, como o pássaro numa gaiola; ela irradia e se manifesta exteriormente, como a luz através de um globo de vidro, ou, como o som, em torno de um centro sonoro; é assim que se pode dizer que ela é exterior, porém, nem por isso constitui o envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios: um, sutil e leve, é o primeiro: aquele que chamas de perispírito; o outro, grosseiro, material e pesado: é o corpo. A alma é o centro de todos estes envoltórios, como o gérmen da planta em um caroço, já dissemos.”

142. O que dizer dessa outra teoria, segundo a qual a alma, na criança, completa-se, a cada período da vida?
 “O Espírito é único; está inteiro na criança, como no adulto; são os órgãos ou instrumentos das manifestações da alma que se desenvolvem e se completam. Ainda aí toma-se o efeito pela causa.”

143. Por que nem todos os Espíritos definem a alma da mesma forma?
“Nem todos os espíritos estão igualmente esclarecidos sobre estes assuntos; há Espíritos ainda limitados, que não compreendem as coisas abstratas; são como as crianças entre vós. Há também Espíritos pseudo-sábios, que fazem ostentação de palavras para se impor: é assim como acontece entre vós. E depois, os próprios Espíritos esclarecidos podem se exprimir em termos diferentes, que, no fundo, têm o mesmo valor, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem é impotente para traduzir com clareza; são necessárias figuras, comparações, que tomais como realidade.”

144. Que se deve entender por alma do mundo?
“É o princípio universal da vida e da inteligência, de onde nascem as individualidades. Mas, os que se servem destas palavras, frequentemente, não se compreendem entre si. A palavra alma é tão elástica que cada um a interpreta ao sabor de seus devaneios. Algumas vezes, tem-se atribuído à Terra uma alma; isto se deve entender como o conjunto dos Espíritos devotados, que dirigem vossas ações para o bom caminho, quando os escutais e que são, de certo modo, os adjuntos de Deus, junto ao vosso globo.”

145. Como tantos filósofos antigos e modernos discutiram, durante tanto tempo, sobre a ciência psicológica, sem terem chegado à verdade?
“Esses homens foram os precursores da eterna Doutrina Espírita; eles prepararam os caminhos. Eram homens, logo, podem ter se enganado, porque tomaram suas próprias ideias pela luz; porém, seus próprios erros servem para fazer realçar a verdade, mostrando o pró e o contra; aliás, entre estes erros encontram-se grandes verdades que um estudo comparativo vos faz compreender.”

146. A alma tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita?
“Não; porém, ela reside mais particularmente na cabeça, nos grandes gênios e em todos aqueles que pensam muito e, no coração, naqueles que sentem muito e cujas ações, todas, referem-se à Humanidade.”

a) O que pensar da opinião daqueles que situam a alma num centro vital?
“Quer dizer que o espírito habita de preferência essa parte do vosso organismo, visto que todas as sensações para ali convergem. Os que a situam naquilo que consideram como o centro da vitalidade, confundem-na com o fluido ou princípio vital. Todavia, pode-se dizer que a sede da alma está, mais particularmente, nos órgãos que servem às manifestações intelectuais e morais.”
Disponível no Livro dos Espíritos.

Estudo da Parte Primeira
Capitulo I - De Deus
Panteísmo

14. Deus é um ser distinto, ou, conforme a opinião de alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas?
“Se assim fosse, Deus não existiria, pois seria o efeito e não a causa; ele não pode ser, ao mesmo tempo, um e outra.”
“Deus existe, disso não podeis duvidar; é o essencial. Crede-me, não vades além; não vos percais num labirinto de onde não poderíeis sair; isso não vos tornaria melhores, mas, talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríeis saber e, na realidade, nada saberíeis. Deixai, portanto, de lado todos estes sistemas; tendes coisas sufi cientes, que vos tocam mais diretamente, a começar por vós mesmos; estudai vossas próprias imperfeições, a fim de vos livrardes delas; isto ser-vos-á mais útil do que querer penetrar no que é impenetrável.”

15. Que se deve pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam, em conjunto, a própria Divindade, isto é, da doutrina panteísta?
“O homem, não podendo fazer-se Deus, quer, pelo menos, ser uma parte de Deus.”

16. Aqueles que professam esta doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de alguns dos atributos de Deus: sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio ou o nada em parte alguma, Deus está por toda a parte; estando Deus por toda a parte, visto que tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Que se pode opor a este raciocínio?
“A razão; refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.”

Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de uma inteligência suprema, seria, em ponto grande, o que somos em ponto pequeno. Ora, se fosse assim, com a matéria transformando-se incessantemente, Deus não teria estabilidade alguma; estaria sujeito a todas as vicissitudes, até mesmo a todas as necessidades da Humanidade; ele careceria de um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matéria não podem se aliar à ideia de Deus, sem rebaixá-lo em nosso entendimento, e nenhuma sutileza do sofisma conseguirá resolver o problema de sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o que ele não pode deixar de ser e este sistema está em contradição com suas propriedades mais essenciais; ele confunde o Criador com a criatura, exatamente como se quisesse que uma máquina engenhosa fosse parte integrante do mecânico que a criou.
A inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, tanto quanto o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.

Disponível no Livro dos Espíritos.


Outras informações:









[1] Que é da natureza do espírito.
[2] Partidário ao espiritualismo. Aquele que acredita ter algo além da matéria.
[3] Filosofia religiosa que prega a existência de um ser ou realidade distinto da matéria.
[4] Princípio espiritual do homem, por oposição ao corpo.

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