quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita
Item VI
Como o dissemos, os seres que assim se comunicam designam a si próprios pelo nome de Espíritos ou gênios e como tendo pertencido, pelos menos alguns, aos homens que viveram na Terra. Eles constituem o mundo espiritual, como nós constituímos, durante nossa vida, o mundo corporal.
Resumimos, aqui, em poucas palavras, os pontos mais marcantes da doutrina que eles nos transmitiram, a fim de responder mais facilmente a algumas objeções.
“Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom.
Criou o Universo que compreende todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal, e os seres imateriais, o mundo invisível ou espírita, isto é, dos Espíritos.
O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e que sobrevive a tudo.
O mundo corporal é apenas secundário; ele poderia deixar de existir, ou jamais ter existido, sem alterar a essência do mundo espiritual.
Os Espíritos revestem, temporariamente, um envoltório material perecível, cuja destruição pela morte devolve-os à liberdade.
Entre as diferentes espécies de seres corporais, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a um certo grau de desenvolvimento, é o que lhe dá a superioridade moral e intelectual sobre todas as outras.
A alma é um espírito encarnado e o corpo é apenas seu envoltório.
Há no homem três coisas: 1o) o corpo ou ser material, análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2o) a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3o) o elo que une a alma e o corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.
O homem tem, assim, duas naturezas: por seu corpo, ele participa da natureza dos animais dos quais possui os instintos; pela sua alma, ele participa da natureza dos Espíritos.
O elo ou perispírito que une o corpo e o Espírito é uma espécie de envoltório semi-material. A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro, o Espírito conserva o segundo envoltório que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, mas que pode tornar-se, acidentalmente, visível e até tangível, como acontece no fenômeno das aparições.
Assim, o Espírito não é, absolutamente, um ser abstrato, indefinido, que apenas o pensamento pode conceber; é um ser real, circunscrito, que, em certos casos, é apreciável pelos sentidos da visão, da audição e do tato.
Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros por sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, a pureza de seus sentimentos e seu amor pelo bem: são os anjos ou puros Espíritos. As outras classes afastam-se cada vez mais dessa perfeição: os das ordens inferiores são inclinados à maioria de nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc.; eles se comprazem no mal. Entre estes, há os que nem são muito bons, nem muito maus; mais perturbadores e intrigantes do que malvados, a malícia e as inconsequências parecem ser sua característica: são os Espíritos inconsequentes ou levianos.
Os Espíritos não pertencem perpetuamente à mesma ordem. Todos se melhoram, passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esta melhora se dá pela encarnação que é imposta a uns, como expiação e a outros, como missão. A vida material é uma prova a que devem se submeter, repetidamente, até que tenham atingido a perfeição absoluta; é uma espécie de peneira ou filtro de onde saem mais ou menos purificados.
Deixando o corpo, a alma retorna ao mundo dos Espíritos de onde tinha saído, para retomar uma nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual ela permanece no estado de Espírito errante.[1]
Devendo o Espírito passar por várias encarnações, daí resulta que todos nós tivemos várias existências e que ainda teremos outras, mais ou menos aperfeiçoadas, seja nesta Terra, seja em outros mundos.
A encarnação dos Espíritos sempre aconteceu na espécie humana; seria um erro acreditar que a alma ou Espírito pudesse encarnar-se no corpo de um animal.
As diferentes existências corporais do Espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; porém a rapidez do progresso depende dos esforços que fazemos para chegar à perfeição.
As qualidades da alma são as do Espírito que está encarnado em nós: assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito e o homem perverso, a de um Espírito impuro.
A alma possuía sua individualidade antes de sua encarnação; ela a conserva após sua separação do corpo.
No seu retorno ao mundo dos Espíritos, a alma aí reencontra todos aqueles que conheceu na Terra, e todas as suas existências anteriores se desenham em sua memória, com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que fez.
O Espírito encarnado está sob a influência da matéria; o homem que supera esta influência, através da elevação e depuração de sua alma, aproxima-se dos bons Espíritos, com os quais estará um dia. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões e coloca todas as alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, aproxima-se dos Espíritos impuros, dando preponderância à natureza animal.
Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.
Os Espíritos não-encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita: eles estão por toda a parte, no Espaço e ao nosso lado, vendo-nos e esbarrando em nós incessantemente; é toda uma população invisível que se agita em torno de nós.
Os Espíritos exercem, sobre o mundo moral e até sobre o mundo físico, uma ação incessante; agem sobre a matéria e sobre o pensamento, e constituem uma das potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então inexplicados ou mal explicados, e que não encontram uma solução racional senão no Espiritismo.
As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos estimulam ao bem, nos sustentam nas provas da vida e nos auxiliam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos incitam ao mal: é para eles uma satisfação ver-nos sucumbir e assemelhar-nos a eles.
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As comunicações ocultas acontecem pela influência boa ou má que eles exercem sobre nós, à nossa revelia; cabe à nossa razão discernir as boas e as más inspirações. As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou outras manifestações materiais, com mais frequência por intermédio dos médiuns que lhes servem de instrumentos.
Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação. Podem-se evocar todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os dos personagens mais ilustres, qualquer que seja a época em que tenham vivido; os de nossos parentes, de nossos amigos ou de nossos inimigos, e deles obter, através das comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre sua situação de além-túmulo, sobre seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelações que lhes é permitido fazer-nos.
Os Espíritos são atraídos em razão de sua simpatia pela natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde dominam o amor do bem e o desejo sincero de se instruir e de se melhorar. Sua presença afasta destas os Espíritos inferiores que encontram, ao contrário, um livre acesso e podem agir com toda liberdade, entre as pessoas frívolas ou guiadas apenas pela curiosidade e onde quer que se encontrem maus instintos. Longe de obter deles bons conselhos, ou informações úteis, não se deve esperar deles senão futilidades, mentiras, brincadeiras de mau gosto ou mistificações, pois, frequentemente, tomam nomes venerados para melhor induzir ao erro.
A distinção dos bons e dos maus Espíritos é extremamente fácil; a linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, impregnada da mais elevada moralidade, livre de qualquer paixão inferior; seus conselhos exalam a mais pura sabedoria e têm sempre por objetivo nosso melhoramento e o bem da Humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, frequentemente trivial e até grosseira; se eles dizem, às vezes, coisas boas e verdadeiras, dizem-nos, mais frequentemente, coisas falsas e absurdas, por malícia ou por ignorância; zombam da credulidade e se divertem às custas daqueles que os interrogam, lisonjeando sua vaidade, embalando seus desejos com falsas esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na mais ampla acepção do termo, só se dão nos centros sérios, naqueles cujos membros estão unidos por uma comunhão íntima de pensamentos, objetivando o bem.
A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: Agir para com os outros, como quereríamos que os outros agissem para conosco; isto é, fazer o bem e não fazer absolutamente o mal. O homem encontra neste princípio a regra universal de conduta para suas menores ações.
Eles nos ensinam que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que, ainda neste mundo, se desligue da matéria através do desprezo às futilidades mundanas e do amor ao próximo, aproxima-se da natureza espiritual; que cada um de nós deve se tornar útil, conforme as faculdades e os meios que Deus colocou em suas mãos para experimentá-lo; que o Forte e o Poderoso devem apoio e proteção ao Fraco, pois aquele que abusa de sua força e de seu poder para oprimir seu semelhante viola a lei de Deus. Ensinam, finalmente, que nada podendo estar oculto, no mundo dos Espíritos o hipócrita será desmascarado e todas as suas torpezas reveladas; que a presença inevitável e de todos os instantes daqueles para com os quais tivermos agido mal é um dos castigos que nos estão reservados; que ao estado de inferioridade e de superioridade dos Espíritos correspondem penas e gozos que nos são desconhecidos na Terra.
Mas eles nos ensinam, também, que não há faltas irremissíveis e que não possam ser apagadas pela expiação. Para tal, o homem encontra o meio nas diferentes existências que lhe permitem avançar, conforme o seu desejo e seus esforços, no caminho do progresso em direção à perfeição, que é seu objetivo final.
Este é o resumo da Doutrina Espírita, assim como ela resulta do ensinamento dado pelos Espíritos superiores. Vejamos, agora, as objeções que se lhe opõem.

Questões para estudo:

01) comente explicando e justificando as assertivas abaixo:

01a) "O mundo espirita e o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. "O mundo corporal e secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espirita."

01b) "Ha no homem três coisas: 1) o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo principio vital; 2), a alma ou ser imaterial, Espirito encarnado no "corpo; 3) o laco que prende a alma ao corpo, principio intermediário entre a matéria e o "Espírito. "Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos "instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos."

01c) ""Os Espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos se melhoram passando pelos diferentes graus da hierarquia espirita. Esta melhora se efetua por meio da "encarnação, que e imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material e "uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, ate que hajam atingido a absoluta perfeição moral.
"Deixando o corpo, a alma volve ao mundo dos Espíritos, donde saíra, para passar por nova existência material, apos um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual "permanece em estado de Espírito errante."

01d) ""As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suporta-las com coragem e resignação. Os maus nos impelem para o mal: é-lhes um gozo ver-nos e assemelhar-nos a eles.
"As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As ocultas se verificam pela influencia boa ou má que exercem sobre nos, a nossa revelia. Cabe ao nosso juízo discernir as boas das mas inspirações.
As comunicações ostensivas se dão por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, quase sempre pelos médiuns que lhes servem de instrumentos."




[1] Há entre esta doutrina da reencarnação e a da metempsicose, tal como a admitem algumas seitas, uma diferença característica que é explicada na sequência desta obra.

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