sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020


Estudo do livro Nosso Lar


NOTÍCIAS DO PLANO


O estudo do capítulo 11 tem como informações gerais:
1)  Personagem: André Luiz, Lísias
2)  Temas: Organização colonial

“11
NOTÍCIAS DO PLANO
Desejaria meu generoso companheiro facultar-me observações diferentes, nos diversos bairros da colônia, mas obrigações imperiosas chamavam-no ao posto.
- Terá você ocasião de conhecer as diversas regiões dos nossos serviços - exclamou bondosamente -' pois, conforme vê, os Ministérios do "Nosso Lar" são enormes células de trabalho ativo. Nem mesmo alguns dias de estudo oferecem ensejo à visão detalhada de um só deles. Não lhe faltará oportunidade, porém. Ainda que me não seja possível acompanhá-lo, Clarêncio tem poderes para obter-lhe ingresso fácil em qualquer dependência.”

os Ministérios do "Nosso Lar" são enormes células de trabalho ativo.”  Enormes células? Trabalho ativo?
Em todo lugar do universo há trabalho e há lugares imensos onde permite que todos exerçam atividades produtivas em prol do próprio progresso espiritual e dos que estão ao redor.

 “Voltamos ao ponto de passagem do aeróbus, que não se fez esperar. Agora, sentia-me quase à vontade. A presença de muitos passageiros não me constrangia. A experiência anterior fizera-me benefícios enormes. Esfervilhava-me o cérebro de úteis indagações. Interessado em resolvê-las, aproveitei o minuto para valer-me do companheiro, quando possível.
- Lísias, amigo - perguntei -, poderá informar-me se todas as colônias espirituais são idênticas a esta? Os mesmos processos, as mesmas características?
- De modo algum. Se nas esferas materiais, cada região e cada estabelecimento revelam traços peculiares, imagine a multiplicidade de condições em nossos planos. Aqui, tal como na Terra, as criaturas se identificam pelas fontes comuns de origem e pela grandeza dos fins que devem atingir; mas importa considerar que cada colônia, como cada entidade, permanece em degraus diferentes na grande ascensão. Todas as experiências de grupo diversificam-se entre si e "Nosso Lar" constitui uma experiência coletiva dessa natureza. Segundo nossos arquivos, muitas vezes os que nos antecederam buscaram inspiração nos trabalhos de abnegados trabalhadores de outras esferas; em compensação, outros agrupamentos buscam o nosso concurso para outras colônias em formação. Cada organização, todavia, apresenta particularidades essenciais.”

Toda organização tem trabalhos diversos a serem realizados por espíritos que se identificam por afinidades seja de evolução, de pensamentos e/ou atitudes.

“Observando que o intervalo se fazia mais longo, interroguei:
- Partiu daqui a interessante formação de Ministérios?
- Sim, os missionários da criação de "Nosso Lar" visitaram os serviços de "Alvorada Nova", uma das colônias espirituais mais importantes que nos circunvizinham e ali encontraram a divisão por departamentos. Adotaram o processo, mas substituíram a palavra departamento por Ministério, com exceção dos serviços regeneradores, que, somente com o Governador atual, conseguiram elevação. Assim procederam, considerando que a organização em Ministérios é mais expressiva, como definição de espiritualidade.”

Na maioria das vezes, diante dos obstáculos, o ser espiritual, - encarnado ou desencarnado -, se desespera e, como sempre, o tempo se encarrega de colocar a situação em ordem e se ajustando e se adequando as novas situações.

 “- Muito bem! - acrescentei.
- E não é tudo - prosseguiu o enfermeiro, atencioso -, a instituição é eminentemente rigorosa, no que concerne à ordem e à hierarquia. Nenhuma condição de destaque é concedida aqui a título de favor. Somente quatro entidades conseguiram ingressar, com responsabilidade definida, no curso de dez anos, no Ministério da União Divina. Em geral, todos nós, decorrido longo estágio de serviço e aprendizado, voltamos a reencarnar, para atividades de aperfeiçoamento.”

Todo ser espiritual precisa praticar atividades e tentar aprender a fim de se aperfeiçoar e evoluir.

 “Enquanto eu ouvia essas informações, justamente curioso, Lísias continuava:
- Quando os recém-chegados das zonas inferiores do Umbral se revelam aptos a receber cooperação fraterna, demoram no Ministério do Auxílio; quando, porém, se mostram refratários, são encaminhados ao Ministério da Regeneração. Se revelam proveito, com o correr do tempo são admitidos aos trabalhos de Auxílio, Comunicação e Esclarecimento, a fim de se prepararem, com eficiência, para futuras tarefas planetárias. Somente alguns conseguem atividade prolongada no Ministério da Elevação, e raríssimos, em cada dez anos, os que alcançam intimidade nos trabalhos da União Divina. E não suponha que os testemunhos sejam vagas expressões de atividade idealista. Já não estamos na esfera do globo, onde o desencarnado é promovido compulsoriamente a fantasma. Vivemos em circulo de demonstrações ativas. As tarefas de Auxílio são laboriosas e complicadas, os deveres no Ministério da Regeneração constituem testemunhos pesadíssimos, os trabalhos na Comunicação exigem alta noção da responsabilidade individual, os campos do Esclarecimento requisitam grande capacidade de trabalho e valores intelectuais profundos, o Ministério da Elevação pede renúncia e iluminação, as atividades da União Divina requerem conhecimento justo e sincera aplicação do amor universal. A Governadoria, por sua vez, é sede movimentada de todos os assuntos administrativos, numerosos serviços de controle direto, como, por exemplo, o de alimentação, distribuição de energias elétricas, trânsito, transporte e outros. Aqui, em verdade, a lei do descanso é rigorosamente observada, para que determinados servidores não fiquem mais sobrecarregados que outros; mas a lei do trabalho é também rigorosamente cumprida. No que concerne ao repouso, a única exceção é o próprio Governador, que nunca aproveita o que lhe toca, nesse terreno.”

Há sempre trabalho para todo e qualquer criatura que deseja sair da zona do sofrimento; assim como, toda uma organização preparada para recebê-la auxiliando no seu progresso e o do Universo.


“- Mas, nunca se ausenta ele do palácio? - interroguei.
- Somente nas ocasiões que o bem público o exige. A não ser em obediência a esse imperativo, o Governador vai semanalmente ao Ministério da Regeneração, que representa a zona de "Nosso Lar" onde há maior número de perturbações, dada a sintonia de muitos dos seus abrigados com os irmãos do Umbral. Numerosas multidões de espíritos desviados ali se encontram recolhidas. Aproveita ele, pois, as tardes de domingo, depois de orar com a cidade no Grande Templo da Governadoria, para cooperar com os Ministros da Regeneração, atendendo-lhes os difíceis problemas de trabalho. Nesse mister, priva-se, às vezes, de alegrias sagradas, amparando a desorientados e sofredores.”

Todos na Colônia Espiritual precisam trabalhar; assim como, ter o descanso necessário para o refazimento de suas energias; e, todos, podem utilizar o tempo disponível para realizar as tarefas que desejarem.


“Deixara-nos o aeróbus nas vizinhanças do hospital, onde me aguardava o aposento confortador.
Em plena via pública, ouviam-se, tal qual observara à saída, belas melodias atravessando o ar. Notando-me a expressão indagadora, Lísias explicou fraternalmente:
- Essas músicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de "Nosso Lar". Após consecutivas observações, reconheceu a Governadoria que a música intensifica o rendimento do serviço, em todos os setores de esforço construtivo. Desde então, ninguém trabalha em "Nosso Lar", sem esse estimulo de alegria.
Nesse ínterim, porém, chegáramos à Portaria. Atencioso enfermeiro adiantou-se e notificou:
- Irmão Lísias, chamam-no ao pavilhão da direita para serviço urgente.
O companheiro afastou-se, calmo, enquanto eu me recolhia ao aposento particular, repleto de indagações íntimas.”

Tudo é harmonia nas diversas casas do Pai desde a “simples” paisagem como o som transmitido com amor e por amor.

Textos relacionados com o capítulo que servem de reflexão e compreensão

Relações de Além-túmulo
274. As diferentes ordens de Espíritos estabelecem entre estes uma hierarquia de poderes; há entre eles subordinação e autoridade?
“Sim, muito grande; os Espíritos têm uns sobre os outros uma autoridade relativa à sua superioridade, que eles exercem por um ascendente moral irresistível.”

Necessidade do Trabalho
675. Só se devem entender por trabalho as ocupações materiais?
“Não; o Espírito trabalha, assim como o corpo. Toda ocupação útil é um trabalho.”

683. Qual é o limite do trabalho?
“O limite das forças; além disso, Deus deixa o homem livre.”

685. O homem tem direito ao repouso, na sua velhice?
 “Sim, sua obrigação vai apenas até o limite de suas forças.”

a) Mas de que recurso disporá o velho que precisa trabalhar para viver e não
pode?
“O forte deve trabalhar para o fraco; não tendo ele família, a sociedade deve
fazer as vezes desta: é a lei de caridade.”
(Livro dos Espíritos)

É pela bênção do trabalho que podemos esquecer os pensamentos que nos perturbam, olvidar os assuntos amargos, servindo ao próximo, no enriquecimento de nós mesmos.
Com o trabalho, melhoramos nossa casa e engrandecemos o trecho de terra onde a Providência Divina nos situou.
Ocupando a mente, o coração e os braços nas tarefas do bem, exemplificamos a verdadeira fraternidade, e adquirimos o tesouro da simpatia, com o qual angariaremos o respeito e a cooperação dos outros.
Quem não sabe ser útil não corresponde à Bondade do Céu, não atende aos seus justos deveres para com a Humanidade nem retribui a dignidade da pátria amorosa que lhe serve de Mãe.
O trabalho é uma instituição de Deus.
*
"Quem move as mãos no serviço,
Foge à treva e à tentação.
Trabalho de cada dia
É senda da perfeição."
XAVIER, Francisco Cândido. Pai Nosso. Pelo Espírito Meimei. FEB.
Disponível em http://www.reflexoesespiritas.org/mensagens-espiritas/1472-bencao-do-trabalho

“Dever e Trabalho
O compromisso de trabalho inclui o dever de associar-se a criatura ao esforço de equipe na obra a realizar.
Obediência digna tem o nome de obrigação cumprida no dicionário da realidade.
Quem executa com alegria as tarefas consideradas menores, espontaneamente se promove as tarefas consideradas maiores.
A câmara fotográfica nos retrata por fora, mas o trabalho nos retrata por dentro.
Quem escarnece da obra que lhe honorifica a existência, desprestigia a si mesmo.
Servir além do próprio dever não é bajular e sim entesourar apoio e experiência, simpatia e cooperação.
Na formação e complementação de qualquer trabalho, é preciso compreender para sermos compreendidos.
Quando o trabalhador converte o trabalho em alegria, o trabalho se transforma na alegria do trabalhador.”
Francisco Cândido Xavier. Da obra: Sinal Verde.
Ditado pelo Espírito André Luiz.
42a edição. Uberaba, MG: CEC, 1996. 
Disponível em http://www.fraseespirita.com.br/2014/12/dever-e-trabalho-andre-luiz.html

O Valor do Trabalho
Ninguém contestava os nobres sentimentos de Cecília Montalvão; entretanto, era de todos sabida sua aversão ao trabalho. No fundo, excelente criatura cheia de conceitos filosóficos, por indicar ao próximo os melhores caminhos. Palestra fácil e encantadora, gestos espontâneos e afetuosos, seduzia quem lhe escutasse o verbo carinhoso. Se a família adotasse outros princípios que não fossem os do Espiritismo cristão, Cecília propenderia talvez à vida conventual. Assim, não ocultava sua admiração pelas moças que, até hoje, de quando em quando se recolhem voluntariamente à sombra do claustro. Mais por ociosidade que por espírito de adoração a Deus, entrevia nos véus freiráticos o refúgio ideal. No entanto, porque o Espiritismo não lhe possibilitava ensejo de ausentar-se do ambiente doméstico, a pretexto de  religiosa, cobrava-se em longas conversações sobre os mundos felizes. Dedicava-se, fervorosa, a toda expressão literária referente às esferas de paz reservadas aos que muito sofreram nos serviços humanos. As mensagens do Além, que descrevessem tais lugares de repouso, eram conservadas com especial dedicação. As descrições dos planetas superiores causavam-lhe arroubos indefiníveis. Cecília não cuidava de outra coisa que não fosse a antevisão das glórias celestiais. Embalde a velha mãezinha a convocava à lavanderia ou à copa. Nem mesmo nas ocasiões em que o genitor se recolhia ao leito, tomado de tenaz enxaqueca, a jovem abandonava semelhantes atitudes de alheamento às tarefas necessárias. Não raro discutia sobre as festividades magnificentes a que teria direito, após a morte do corpo. Ao seu pensar, o círculo evolutivo que a esperava devia ser imenso jardim de Espíritos redimidos, povoado de perfumes e zéfiros harmoniosos.
No grupo íntimo de preces da família, costumava cooperar certa entidade generosa e evolvida, que se dava a conhecer pelo nome de Eliezer. Cecília interpretava-lhe as advertências de modo puramente individual. Se o amigo exortava ao trabalho, não admitia que a indicação se referisse a serviços na Terra.
– Este planeta – dizia enfaticamente – é lugar indigno, escura paragem de almas criminosas e enfermas. Seria irrespirável o ar terrestre se não fora o antegozo dos mundos felizes. Oh! como deve ser sublimes vida em Júpiter, a beleza dos dias em Saturno, seguidos de noites iluminadas de anéis resplandecentes! O pântano terrestre envenena as almabem formadas e não poderemos fugir à repugnância e ao tédio doloroso!...
– Mais, minha filha – objetava a genitora complacente –, não devemos adotar opiniões tão extremistas. Não é o planeta inútil e mau assim. Não será justo interpretar nossa existência terrena como fase de preparação educativa? Sempre notei que qualquer trabalho, desde que honesto, é título de glória para a criatura...
Todavia, antes que a velha completasse os conceitos, voltava a filha intempestivamente, olvidando carinhosas observações de Eliezer:
– Nada disso! A senhora, mamãe, cristalizada como se encontra, entre pratos e caçarolas, não me poderá compreender. Suas observações resultam da rotina cruel, que se esforça por não quebrar. Este mundo é cárcere sombrio, onde tudo é miséria angustiosa e creio mesmo que o maior esforço, por extinguir sofrimentos, seria igual ao de alguém que desejasse apagar um vulcão com algumas gotas d’água. Tudo inútil. Estou convencida de que a Terra foi criada para triste destinação. Só a morte física pode restituir-nos a liberdade. Transportar-nos-emos a esferas ditosas, conheceremos paraísos iluminados e sem-fim.
A senhora Montalvão contemplava a filha, lamentando-lhe a atitude mental, e, esganando os móveis, por não perder tempo, respondia tranquila, encerrando a conversa:
– Prefiro crer, minha filha, que tanto a vela de sebo, como a estrela luminosa, representam dádivas de Deus às criaturas. E, se não sabemos valorizar ainda a vela pequenina que está neste mundo, como nos atreveremos a invadir a grandeza dos astros?
E antes que a moça voltasse a considerações novas, a bondosa genitora corria à cozinha, a cuidar do jantar.
Qualquer tentativa, tendente a esclarecer a jovem, redundava infrutífera. Solicitações enérgicas dos pais, pareceres criteriosos dos amigos, advertências do plano espiritual, eram relegados a completo esquecimento.
Fervorosa admiradora da vida e obras de Teresa de Jesus, a notável religiosa da Espanha do século XVI, Cecília endereçava-lhe ardentes rogativas, idealizando a missionária do Carmelo num jardim de delicias, diariamente visitada por Jesus e seus anjos. Não queria saber se a grande mística trabalhava, ignorava-lhe as privações e sofrimentos, para só recordá-la em genuflexão ao pé dos altares.
Acentuando-se-lhe a preguiça mental, vivia segregada, longe de tudo e de todos.
Essa atitude influía vigorosamente no seu físico, e muito antes de trinta anos Cecília regressava ao plano espiritual, absolutamente envolvida na atmosfera de ilusões. Por isso mesmo, dolorosas lhe foram as surpresas da vida real.
Despertou além-túmulo, sem lobrigar vivalma. Depois de longos dias solitários e tristes, a caminhar sem destino, encontrou uma Colônia espiritual, onde, no entanto, não havia criaturas em ociosidade. Todos trabalhavam afanosamente. Pediu, receosa, admissão à presença do respectivo diretor. Recebeu-a generoso ancião, em espaçoso recinto. Observando-lhe, porém, as lânguidas atitudes, o velhinho amorável sentenciou:
– Minha filha, não posso hoje dispor de muito tempo ao seu lado, pelo que espero manifeste seus propósitos sem delongas.
Estupefata ante o que ouvia, ela expôs suas mágoas e desilusões, com lágrimas amargurosas. Supunha que após a morte do corpo não houvesse trabalho. Estava confundida em angustioso abatimento. Sorriu o ancião benévolo e acrescentou:
– Essas fantasias são neblinas no céu dos pensamentos. Esqueça-as, bondosa menina. Não se gaste em referências pessoais.
E entremostrando preocupação de serviço, concluía:
– Por não termos descanso para hoje, gostaria dissesse em que lhe posso ser útil.
Desapontada, lembrou a jovem a bondade de Eliezer e explicou o desejo de encontrá-lo.
O velhinho pensou alguns momentos e esclareceu:
– Não disponho de auxiliares que possam ajudá-la, mas posso orientá-la quanto à direção que precisa tomar.
Colocada a caminho, Cecília Montalvão viu-se perseguida de elementoinferiores; figuras repugnantes apresentavam-se-lhe na estrada, perguntando pelas regiões de repouso. Depois de emoções amargas, chegou à antiga residência, onde os familiares não lhe perceberam a nova forma. Ia retirar-se em pranto, quando viu alguém sair da cozinha num halo de luz. Era o generoso Eliezer que a ela se dirigia com sorriso afetuoso. Cecília caiu-lhe nos braços fraternais e queixou-se, lacrimosa:
– Ah! meu venerando amigo, estou abandonada de todos. Compadecei-vos de mim!... Guiai-me, por caridade, aos caminhos da paz!...
– Acalma-te – murmurou o benfeitor plácido e gentil –, hoje estou bastante ocupado; entretanto, aconselho-te a orar fervorosamente, renovando resoluções.
– Ocupado? – bradou a jovem, desesperada – não sois instrutor na revelação espiritual?
– Sim, sim, de dias a dias coopero no serviço das verdades divinas, mas tenho outras responsabilidades a atender.
– E que tereis no dia de hoje, em caráter tão imperativo, abandonando-me também à maneira dos outros? – interrogou a recém-desencarnada revelando funda revolta.
– Devo auxiliar tua mãezinha nos encargos domésticos – ajuntou Eliezer brandamente –, logo mais tenho serviço junto a irmãos nossos. Não te recordas do tintureiro da esquina próxima? Preciso contribuir no tratamento da filha, que se feriu no trabalho, ontem à noite, por excesso de fadiga no ganha-pão. Lembras-te do nosso Natércio, o pedreiro? O pobrezinho caiu hoje de grande altura, machucou-se bastante e aguarda-me no hospital.
A interlocutora estava envergonhada. Somente agora se reconhecia vítima de si mesma.
– Não poderíeis localizar-me aqui, auxiliando a mamãe? – perguntou suplicante.
– É impossível, por enquanto – esclareceu o amigo solícito –, só podemos cooperar com êxito no trabalho para cuja execução nos preparamos devidamente. A preocupação de fugir aos espanadores e caçarolas tornou-te inapta ao concurso eficiente. Estiveste mais de vinte e cinco anos terrestres, nesta casa, e teimaste em não compreender a laboriosa tarefa da genitora. Não é possível que te habilites a ombrear com ela no trabalho, de um instante para outro.
A jovem compreendeu o alcance da observação e chorou amargamente. Abraçou-a Eliezer, com ternura fraternal, e falou:
– Procura o conforto da prece. Não eras tão amiga de Teresa? Esqueceste-a? Essa grande servidora de Jesus tem a seu cargo numerosas tarefas. Se puder, não te deixará sem a luz do serviço.
Cecília ouviu o conselho e orou como nunca havia feito. Lágrimas quentes lavavam-lhe o rosto entristecido. Incoercível força de atração requisitou-a a imenso núcleo de atividade espiritual, região essa, porém, que conseguiu atingir somente após dificuldades e obstáculos oriundos da influenciação de seres inferiores, identificados com as sombras que lhe envolviam o coração.
Em lugar de maravilhosos encantos naturais, a ex-religiosa de Espanha recebeu-a generosamente. Ante as angustiosas comoções que paralisavam a voz da recém-chegada, a servidora do Cristo esclareceu amorável:
– Nossas oficinas de trabalho estão hoje grandemente sobrecarregadas de compromissos; mas as tuas preces me tocaram o coração. Conforme vês, Cecília, depois de abandonares a oportunidade de realização divina, que o mundo te oferecia, só encontraste, sem deveres, as criaturas infernais. Onde haja noção do Bem e da Verdade, há imensas tarefas a realizar.
Vendo que a jovem soluçava, continuou:
– Estás cansada e abatida, enquanto os que trabalham no bem se envolvem no manto generoso da paz, mesmo nas esferas mais rudes do globo terrestre. Pedes medicamento para teus males e recurso contra tentações; no entanto, para ambos os casos eu somente poderia aconselhar o remédio do trabalho. Não aquele que apenas saiba receitar obrigações para outrem, ou que objetive remunerações e vantagens isoladas; mas o trabalho sentido e vivido dentro de ti mesma. Este é o guia na descoberta de nossas possibilidades divinas, no processo evolutivo do aperfeiçoamento universal. Nele, Cecília, a alma edifica a própria casa, cria valores para a ascensão sublime. Andaste enganada no mundo quando julgavas que o serviço fosse obrigação exclusiva dos homens. Ele é apanágio de todas as criaturas, terrestres e celestes. A verdadeira  não te poderia ensinar tal fantasia. Sempre te ouvi as orações; no entanto, nunca abriste o espírito às minhas respostas fraternais. Ninguém vive aqui em beatitude descuidosa, quando tantas almas heroicas sofrem e lutam nobremente na Terra.
Enquanto a voz da bondosa serva do Evangelho fazia uma pausa, Cecília ajuntou de mãos postas:
– Benfeitora amada, concedei-me lugar entre aqueles que cooperam convosco!...
Teresa, sinceramente comovida, esclareceu com bondade:
– Os quadros de meus serviços estão completos, mas tenho uma oportunidade a oferecer-te. Requisitam minha atenção num velho asilo de loucos, na Espanha.
Desejas ajudar-me ali?
Cecília não cabia em si de gratidão e júbilo.
E, naquele mesmo dia, voltava à Terra com obrigações espirituais, convicta de que, auxiliando os desequilibrados, havia de encontrar o próprio equilíbrio.
Disponível em https://dirceurabelo.wordpress.com/2011/12/09/chico-xavier-obra-completa-em-ordem-cronologica/


O Trabalho como Benção da Vida
Você já reparou quantas vezes reclamamos do trabalho? Se vamos falar de trabalho, sempre o associamos à dificuldade, ao desprazer, a algo difícil e penoso de se fazer.
Será mesmo o trabalho algo tão ruim, como se fosse um castigo a se cumprir?
origem da palavra trabalho remonta à Roma antiga, quando essa palavra era associada a um instrumento de tortura, o tripalium.
Vem daí a conotação do trabalho com sofrimento. Mas será essa mesma a função do trabalho?
Se observarmos a natureza, será fácil verificar que não há quem não trabalhe. Seja o joão-de-barro construindo o ninho para acolher sua companheira e a futura prole; ou a lagarta, tecendo o casulo que guarda a beleza da borboleta em gérmen; ou ainda a abelha colhendo o pólen para fabricar seu doce alimento.
Tudo em a natureza trabalha. Não poderia ser diferente com o homem.
Para os animais, o trabalho é sinônimo de sobrevivência. Trabalha a ave, o inseto, o grande e o pequeno, todos trabalham, como lei de sobrevivência, lei do instinto que os faz buscar o alimento, construir o abrigo, proteger a prole.
E para que serve o trabalho para nós?
Longe da conotação latina de tortura, devemos entender o trabalho como ferramenta que a Divindade nos oferece como processo de aprendizado.
Sendo o trabalho toda ocupação útil a que nos vinculamos, serve como exercício do desenvolvimento de nossas capacidades intelectuais, morais ou emocionais.
Dessa forma, trabalha a dona de casa, ao buscar o asseio do lar, ao confeccionar a comida saborosa para nutrir a família.
Trabalham o pedreiro e o engenheiro na construção do edifício, trabalha o voluntário, doando seu tempo em nome do amor ao próximo.
De uma ou de outra forma, é o trabalho a ferramenta bendita que a Divindade nos oferece para o progresso pessoal.
O ócio, o tempo descomprometido, servem como oportunidades para que os desajustes de nossa intimidade ganhem corpo, ao longo das horas vazias.
Ao contrário, a hora preenchida pela ocupação útil é oportunidade de aprendizado, de interiorizar novas capacidades, nos mais variados campos de nossa intimidade.
Jesus nos lembrava que Ele trabalhava sem cessar, assim como o Pai Celeste igualmente trabalha.
Assim, nunca reclamemos do trabalho que a vida nos ofereça. Ao contrário, a cada dia, agradeçamos a Deus o trabalho bendito e honesto, que nos será passaporte para dias mais felizes, nessa e na outra vida.
O descanso é necessidade natural do organismo, e direito de todos nós, após a jornada de trabalho, a fim de refazer ânimos e recuperar as energias.

Mas jamais nos permitamos o descanso em excesso, fazendo como aqueles que se iludem com os objetivos da vida, imaginando-se em um parque de diversões.
Tenhamos em mente que nascemos todos em bendita oficina de trabalho, que é a Terra, a fim de forjar nossos caracteres e valores.
E, ao início e fim de cada jornada de trabalho, agradeçamos a ocupação útil, remunerada ou voluntária, dentro ou fora do lar, lembrando de todos aqueles que adorariam poder estar em nosso lugar.”
Disponível em http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=4222


Indispensabilidade do Trabalho
O progresso, nas suas mais variadas expressões, tem as suas diretrizes fixadas na lei do trabalho, sem o que não se conseguiria sustentar.
Desse modo, em todo o Universo, o trabalho é a expressão de grandeza que reflete a glória do Pai Criador.
O silêncio sideral é somente pobreza da humana acústica, quanto o repouso é colocação improcedente, de referência às realidades da vida.
Em tudo e em toda a parte, onde pulsa a vida, a lei do trabalho produz e comanda as soberanas realizações.
Ninguém que dele se encontre isento a pretexto algum ou possa prescindir do seu relevante cometimento.
Portanto, não te escuses do seu sagrado compromisso.
Vives o teu maior momento e é imprescindível que o aproveites com sabedoria, galgando os degraus da evolução, a penates que sejam de dor e pranto, de ansiedade e sofrimento, porém, com as mãos na charrua da ação edificante, amando e servindo sem cansaço.
Aqueles que encontramos Jesus, aprendemos que serviço é a honra que nos cumpre disputar em qualquer situação em que nos encontremos.
Há sofrimento que nos espia e ação que nos aguarda.
Os santos, os cientistas e heróis não nasceram concluídos, fizeram-se através de infatigável trabalho com que se lapidaram as arestas, superando-se, até poderem esculpir no imo d’alma a destinação gloriosa de todos nós.
Ninguém que se encontre em regime especial ou condição de privilegiado, eximindo-se ao trabalho.
A luta é lugar comum para todos nós, Espíritos imperfeitos que reconhecemos ser.
Mediante o trabalho, fomenta-se a grandeza do mundo e estabelecem-se as condições de harmonia e paz entre as criaturas humanas.
Regiões insalubres, vales tristes e ermos, pântanos letais, desertos sáfaros aguardam a ação do trabalho com que se converterão em celeiros de bênçãos e oásis de paz.
Trabalha e trabalha sempre, renovando-te sem cessar.
Jesus, o Excelso trabalhador, continua até hoje laborando a nosso benefício e aguardando que, a nosso turno, façamos o mesmo a benefício próprio e do mundo.”
Por Joanna de Angelis
Disponível em http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2086


“Felicidade e Trabalho
Felicidade e trabalho - dois temas da vida que se complementam - à maneira do teto e do alicerce de uma construção.
Indubitavelmente, a Terra ainda é uma estância de provas regenerativas, sem possibilidade de oferecer-nos a felicidade integral; entretanto, nela encontramos todo o material de que necessitamos para alteá-la na categoria dos mundos.
Dificuldade, tribulação, sofrimentos e atritos são alguns dos agentes, com os quais se nos fará possível organizar o aperfeiçoamento de nós mesmos.
Se podemos sugerir o começo do imenso trabalho alusivo á realização que demandamos, é preciso erradicar a insatisfação que tantas vezes nos caracteriza, instalando em nós outros, o amor e a humildade, a paciência e a coragem, por instrumentos de serviço que nos será possível manejar com acerto, em nosso próprio benefício.
Não existe pântano que não possa ser drenado e nem penúria que a benemerência não consiga extinguir.
Em suma, estamos todos - os espíritos vinculados à Terra - num plano de grandes conflitos, carregando o fardo de nossas imperfeições, adquiridas ao longo dos milênios, mas o Supremo Pai jamais nos sonegou a bênção da esperança e, em razão disso, ser-nos-á possível aceitar os agentes de que dispomos, a fim de melhorar-nos, melhorando a vida, em torno de nós.
A vida no Planeta é assinalada por embates e antagonismos diversos, no entanto, a paz e a alegria se nos farão companheiros em todos os dias da Terra e do Mais Além, se nos dispusermos a aceitar a existência que nos foi concedida, a amar aos nossos semelhantes e a servir incessantemente, realizações que demandam unicamente uma só atitude
- Trabalhar.”
Por Emmanuel
Disponível em http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=4491

“Beneficência e Trabalho
Abeiramo-nos de uma época em que a bênção da caridade precisará nascer no imo da prestação de serviço e, por esta mesma razão, as próprias casas de beneficência, no porvir, se manterão por si próprias à custa do esforço e da colaboração dos que se beneficiam delas e daqueles que as dirigem com alma e coração.
homem compreenderá um dia que, colocado à frente do trabalho, encontrará nesse apoio o caminho das próprias realizações.
Tudo se move pelo trabalho, tudo se faz pelo trabalho e com o trabalho sempre mais digno a Humanidade descobrirá os seus mais altos roteiros de redenção.”
Por Batuíra
Disponível em http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=5471


Leitura Complementar



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FRANCO, Divaldo. Oferenda. Pelo espírito Joanna de Angelis. Salvador: Livraria Leal, 2004.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Trad. de Manuel Justiniano Quintão. 57. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
______. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
XAVIER, Francisco Cândido. Mais luz. Pelo espírito Batuíra. Editora GEEM, 1970.
_______. Monte Acima. Pelo espírito Emmanuel. Editora GEEM, 1985.
_______. Pai Nosso. Pelo espírito Meimei. Editora FEB, 1952.

_______. Reportagens de Além-túmulo. Pelo espírito Humberto de Campos. Brasília: Lake, 1943.
_______. Sinal Verde. Pelo espírito André Luiz. Brasília: Edição CEC, 1972.

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