Cap.
III – Itens 6 a 12
Destinação
da Terra. - Causas das misérias humanas
6. Muitos se admiram de que na Terra haja tanta
maldade e tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de toda
natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste coisa é. Provém esse
juízo do acanhado ponto de vista em que se colocam os que o emitem e que lhes
dá uma falsa ideia do conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a
Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade. Com efeito, a
espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros
orbes do Universo. Ora, que é a população da Terra, em face da população total
desses mundos? Muito menos que a de uma aldeia, em confronto com a de um grande
império. A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que
espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que
a habitam.
7. Faria dos habitantes de uma grande cidade
falsíssima ideia quem os julgasse pela população dos seus quarteirões mais íntimos
e sórdidos. Num hospital, ninguém vê senão doentes e estropiados; numa
penitenciária, veem-se reunidas todas as torpezas, todos os vícios; nas regiões
insalubres, os habitantes, em sua maioria são pálidos, franzinos e enfermiços.
Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciaria,
um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso, e compreender-se-á por que
as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os
que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal
praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de
deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se
encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a
Humanidade inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os que se curaram e
da prisão os que cumpriram suas penas, o homem deixa a Terra, quando está
curado de suas enfermidades morais.
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
8. A qualificação de mundos inferiores e mundos
superiores nada tem de absoluta; é, antes, muito relativa. Tal mundo é inferior
ou superior com referência aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala
progressiva.
Tomada a Terra por termo de comparação, pode-se fazer ideia
do estado de um mundo inferior, supondo os seus habitantes na condição das
raças selvagens ou das nações bárbaras que ainda entre nós se encontram restos
do estado primitivo do nosso orbe. Nos mais atrasados, são de certo modo
rudimentares os seres que os habitam. Revestem a forma humana, mas sem nenhuma
beleza. Seus instintos não têm a abrandá-los qualquer sentimento de delicadeza
ou de benevolência, nem as noções do justo e do injusto. A força bruta é, entre
eles, a única lei. Carentes de indústrias e de invenções, passam a vida na
conquista de alimentos. Deus, entretanto, a nenhuma de suas criaturas abandona;
no fundo das trevas da inteligência jaz, latente, a vaga intuição, mais ou
menos desenvolvida, de um Ente supremo. Esse instinto basta para torná-los superiores
uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa,
porquanto eles não são seres degradados, mas crianças que estão a crescer.
Entre os degraus inferiores e os mais elevados,
inúmeros outros há, e difícil é reconhecer-se nos Espíritos puros,
desmaterializados e resplandecentes de glória, os que foram esses seres
primitivos, do mesmo modo que no homem adulto se custa a reconhecer o embrião.
9. Nos mundos que chegaram a um grau superior, as
condições da vida moral e material são muitíssimo diversas das da vida na
Terra. Como por toda parte, a forma corpórea aí é sempre a humana, mas
embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada. O corpo nada tem da
materialidade terrestre e não está, conseguintemente, sujeito às necessidades,
nem às doenças ou deteriorações que a predominância da matéria provoca. Mais
apurados, os sentidos são aptos a percepções a que neste mundo a grosseria da
matéria obsta. A leveza específica do corpo permite locomoção rápida e fácil:
em vez de se arrastar penosamente pelo solo, desliza, a bem dizer, pela
superfície, ou plana na atmosfera, sem qualquer outro esforço além do da
vontade, conforme se representam os anjos, ou como os antigos imaginavam os
manes nos Campos Elíseos. Os homens conservam, a seu grado, os traços de suas
passadas migrações e se mostram a seus amigos tais quais estes os conheceram,
porém, irradiando uma luz divina, transfigurados pelas impressões interiores,
então sempre elevadas. Em lugar de semblantes descorados, abatidos pelos sofrimentos
e paixões, a inteligência e a vida cintilam com o fulgor que os pintores hão
figurado no nimbo ou auréola dos santos.
A pouca resistência que a matéria oferece a Espíritos
já muito adiantados torna rápido o desenvolvimento dos corpos e curta ou quase
nula a infância. Isenta de cuidados e angústias, a vida é proporcionalmente
muito mais longa do que na Terra. Em princípio, a longevidade guarda proporção
com o grau de adiantamento dos mundos. A morte de modo algum acarreta os
horrores da decomposição; longe de causar pavor, é considerada uma
transformação feliz, por isso que lá não existe a dúvida sobre o porvir.
Durante a vida, a alma, já não tendo a constringi-la a matéria compacta,
expande-se e goza de uma lucidez que a coloca em estado quase permanente de
emancipação e lhe consente a livre transmissão do pensamento.
10. Nesses mundos venturosos, as relações, sempre
amistosas entre os povos, jamais são perturbadas pela ambição, da parte de
qualquer deles, de escravizar o seu vizinho, nem pela guerra que daí decorre.
Não há senhores, nem escravos, nem privilegiados pelo nascimento; só a
superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá
a supremacia. A autoridade merece o respeito de todos, porque somente ao mérito
é conferida e se exerce sempre com justiça. O
homem não procura elevar-se acima do homem, mas acima de si mesmo,
aperfeiçoando-se. Seu objetivo é
galgar a categoria dos Espíritos puros, não lhe constituindo um tormento esse
desejo, porem, uma ambição nobre, que o induz a estudar com ardor para os
igualar. Lá, todos os sentimentos delicados e elevados da natureza humana se
acham engrandecidos e purificados; desconhecem-se os ódios, os mesquinhos
ciúmes, as baixas cobiças da inveja; uni laço de amor e fraternidade prende uns
aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos. Possuem
bens, em maior ou menor quantidade, conforme os tenham adquirido, mais ou menos
por meio da inteligência; ninguém, todavia, sofre, por lhe faltar o necessário,
uma vez que ninguém se acha em expiação. Numa palavra: o mal, nesses mundos,
não existe.
11. No vosso, precisais do mal para sentirdes o bem;
da noite, para admirardes a luz; da doença, para apreciardes a saúde. Naqueles
outros não há necessidade desses contrastes. A eterna luz, a eterna beleza e a
eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria eterna, livre de ser
perturbada pelas angústias da vida material, ou pelo contato dos maus, que lá
não têm acesso. Isso o que o espírito humano maior dificuldade encontra para
compreender. Ele foi bastante engenhoso para pintar os tormentos do inferno,
mas nunca pôde imaginar as alegrias do céu. Por quê? Porque, sendo inferior, só
há experimentado dores e misérias, jamais entreviu as claridades celestes; não
pode, pois, falar do que não conhece. A medida, porém, que se eleva e depura, o
horizonte se lhe dilata e ele compreende o bem que está diante de si, como
compreendeu o mal que lhe está atrás.
12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes
privilegiados, visto que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a
todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais
mundos. Fá-los partir todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos
outros; a todos são acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a
eles conquistá-las pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer
inativos por séculos de séculos no lodaçal da Humanidade. (Resumo do ensino de todos os
Espíritos superiores.)
Questões
para estudo e diálogo virtual:
1 – Por que é equivocada a afirmação: “a espécie
humana bem triste coisa é”?
2 – Faça um paralelo entre os mundos inferiores e os
mundos superiores.
3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo
que mais gostou e justifique.
Nenhum comentário:
Postar um comentário