segunda-feira, 17 de abril de 2017

Estudo do livro Nosso Lar


O MÉDICO ESPIRITUAL



O estudo do capítulo 4 tem como informações gerais:
1)  Personagem: André Luiz, Clarêncio, Henrique de Luna
2)  Resumo geral: Recolhido no quarto é visitado por Clarêncio e o irmão Henrique de Luna. Este realiza Serviço de Assistência Médica da colônia espiritual e diagnosticou o suicídio como motivo de desencarne de André.
3)  Tema: suicídio.

”O MÉDICO ESPIRITUAL
No dia imediato, após reparador e profundo repouso, experimentei a bênção radiosa do Sol amigo, qual suave mensagem ao coração. Claridade reconfortante atravessava ampla janela, inundando o recinto de cariciosa luz. Sentia-me outro. Energias novas tocavam-me o íntimo. Tinha a impressão de sorver a alegria da vida, a longos haustos. Na alma, apenas um ponto sombrio - a saudade do lar, o apego à família que ficara distante. Numerosas interrogações pairavam-me na mente, mas tão grande era a sensação de alívio que eu sossegava o espírito, longe de qualquer interpelação.
Quis levantar-me, gozar o espetáculo da Natureza cheia de brisas e de luz, mas não o consegui e concluí que, sem a cooperação magnética do enfermeiro, tornava-se-me impossível deixar o leito.”

Após o descanso “reparador”, André tem suas energias refeitas e com esperanças benéficas espirituais, apesar de ter dúvidas e sentir saudades da família.
Convém ressaltar o reconhecimento por parte dele a respeito do auxílio experiente que estava recebendo desde que foi recolhido do local onde se encontrava.
Além disso, é preciso atentar que quando o ser está encarnado e enfermo, ele vai ao hospital e recebe todos os cuidados de toda equipe hospitalar, inclusive, no que se refere a ingestão de medicamentos relacionados a matéria na qual ele faz parte. No entanto, quando está desencarnado, o tipo de medicamento acaba sendo relacionado ao magnetismo dos que estão auxiliando no cuidado do paciente.
Atualmente, a mídia tem apresentado diversas matérias no que concerne a cura pela oração e pelo passe, ou seja, sem os recursos de máquinas; contudo, esta cura não se concretiza de fato, se não houver fé e reforma íntima de quem está recebendo os cuidados de refazimento corporal.
Entretanto, pode-se ressaltar que Jesus, quando esteve encarnado, utilizou de sua força magnética para realizar a cura daqueles quem a desejassem.
Emmanuel, através de Francisco Cândido Xavier no livro Segue-me, esclarece:
O PASSE
Por Emmanuel e Chico Xavier
 “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças.” (Mateus, 8:17)
 Meu amigo, o passe é transfusão de energias físio-psíquicas, operação de boa vontade, dentro da qual o companheiro do bem recebe de si mesmo em teu benefício.
Se a moléstia, a tristeza e a amargura são remanescentes de nossas imperfeições, enganos e excessos, importa considerar que, no serviço do passe, as tuas melhoras resultam da troca de elementos vivos e atuantes.
Trazes detritos e aflições e alguém te confere recursos novos e bálsamos reconfortantes.
No clima de provas e da angustia, és portador da necessidade e do sofrimento.
Na esfera da prece e do Amor, um amigo se converte no instrumento da infinita Bondade, para que recebas remédio e assistência.
Ajuda o trabalho de socorro aqui mesmo, com esforço da limpeza interna.
Esquece os males que te apoquentam, desculpa as ofensas das criaturas que te não compreendem, foge ao desânimo destrutivo e enche-te de simpatia e entendimento para com todos os que te cercam.
O mal é sempre a ignorância, e a ignorância reclama perdão e auxílio para que se desfaça em favor da nossa própria tranqüilidade.
Se pretendes, pois, guardar as vantagens do Passe que, em substância, é ato sublime de fraternidade cristã, purifica o sentimento e o raciocínio, o coração e o cérebro.
Ninguém deita alimento indispensável em vaso impuro.
Não abuses, sobretudo, daqueles que te auxiliam. Não tomes o lugar do verdadeiro necessitado, tão só porque teus caprichos e melindres pessoais estejam feridos.
O passe exprime também gastos de forças e não deves provocar o dispêndio de energia do Alto com infantilidades e ninharias.
Se necessitas de semelhantes intervenção, recolhe-te à boa vontade, centraliza a tua expectativa nas fontes celestes do suprimento divino, humilha-te, conservando a receptividade edificante, inflama o teu coração na confiança positiva e, recordando que alguém vai arcar com o peso das tuas aflições, retifica o teu caminho, considerando igualmente o sacrifício incessante de Jesus por todos nós, porque, de conformidade com as letras sagradas, “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças”.

”Não voltara a mim das surpresas consecutivas, quando se abriu a porta e vi entrar Clarêncio acompanhado por simpático desconhecido. Cumprimentaram-me, atenciosos, desejando-me paz. Meu benfeitor da véspera indagou do meu estado geral. Acorreu o enfermeiro, prestando informações.”

Neste parágrafo, pode-se verificar que os procedimentos dos médicos e dos assistentes desencarnados são como os dos encarnados: cuidados, aferição, colher informações,... todavia, a uma palavrinha chave nele que se pode atentar: paz. Quem se recorda de algum médico encarnado que tenha se referido a esta palavra ao paciente? Muito pouco. De qualquer forma, preciso é refletir a respeito deste tema: a paz. O indivíduo pode até falar, mas senti-la realmente poucos a sentem, que dirá transmiti-la.
Então o que seria ter, sentir e transmitir paz??? O que o ser espiritual precisa praticar para conseguir tê-la?
No livro Fonte Viva, Emannuel traz a seguinte mensagem:
Viver em Paz
"..Vivei em paz..."
Paulo, (II CORÍNTIOS. 13:11.) 
Mantém-te em paz. 
É provável que os outros te guerreiem gratuitamente, hostilizando-te a maneira de viver; entretanto, podes avançar em teu roteiro, sem guerrear a ninguém. 
Para isso, contudo - para que a tranquilidade te banhe o pensamento -, é necessário que a compaixão e a bondade te sigam todos os passos. 
Assume contigo mesmo o compromisso de evitar a exasperação. 
Junto da serenidade, poderás analisar cada acontecimento e cada pessoa no lugar e na posição que lhes dizem respeito. 
Repara, carinhosamente, os que te procuram no caminho... 
Todos os que surgem, aflitos ou desesperados, coléricos ou desabridos, trazem chagas ou ilusões. Prisioneiros da vaidade ou da ignorância, não souberam tolerar a luz da verdade e clamam irritadiços... Unge-te de piedade e penetra-lhes os recessos do ser, e identificarás em todos eles crianças espirituais que se sentem ultrajadas ou contundidas. 
Uns acusam, outros choram. 
Ajuda-os, enquanto podes. 
Pacificando-lhes a alma, harmonizarás, ainda mais, a tua vida. 
Aprendamos a compreender cada mente em seu problema. 
Recorda-te de que a Natureza, sempre divina em seus fundamentos, respeita a lei do equilíbrio e conserva-a sem cessar. 
Ainda mesmo quando os homens se mostram desvairados, nos conflitos abertos, a Terra é sempre firme e o Sol fulgura sempre. 
Viver de qualquer modo é de todos, mas viver em paz consigo mesmo é serviço de poucos.”
                                    
 “Sorridente, o velhinho amigo apresentou-me o companheiro. Tratava-se, disse, do irmão Henrique de Luna, do Serviço de Assistência Médica da colônia espiritual. Trajado de branco, traços fisionômicos irradiando enorme simpatia, Henrique auscultou-me demoradamente, sorriu e explicou:
- É de lamentar que tenha vindo pelo suicídio.”

Nestes dois parágrafos, o médico benfeitor ausculta e dá o parecer de suicida ao paciente. Suicídio?! O que vem a ser “suicídio?
No Livro dos Espíritos, as perguntas 943, 944 e 957 informam:
“Desgosto da Vida. Suicídio
943. De onde provém o desgosto da vida que se apodera de alguns indivíduos, sem motivos plausíveis?
“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, frequentemente, da saciedade. Para aquele que exerce suas faculdades com um fi m útil e de acordo com suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida passa mais rapidamente; suporta-lhe as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, porquanto age tendo em vista a felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”

944. O homem tem o direito de dispor de sua própria vida?
“Não, só Deus tem este direito. O suicídio voluntário é uma transgressão desta lei.”

a) O suicídio não é sempre voluntário?
 “O louco que se mata não sabe o que faz.”

[...]

957. Em geral, quais são as consequências do suicídio, relativamente ao estado de Espírito?
“As consequências do suicídio são muito diversas; não há penas fixas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que o produziram; mas existe uma consequência à qual o suicida não pode escapar: é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos: depende das circunstâncias; alguns expiam suas faltas imediatamente, outros, numa nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam.”
A observação mostra, de fato, que os efeitos do suicídio nem sempre são os mesmos; porém, há alguns comuns a todos os casos de morte violenta, consequência da interrupção brusca da vida. Primeiramente, há a persistência mais prolongada e mais tenaz do elo que une o Espírito ao corpo, porque esse elo está, quase sempre, na plenitude de sua força, no momento em que é partido, enquanto que, na morte natural, ele se enfraquece gradualmente e, frequentemente, se desfaz, antes que a vida esteja completamente extinta. As consequências desse estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, depois da ilusão que, durante um tempo mais ou menos longo, faz com que o espírito acredite que ainda pertence ao número dos vivos. (155 e 165)
A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no Espírito, que sente, assim, contra a vontade, os efeitos da decomposição, experimentando uma sensação cheia de angústias e de horror.
Este estado pode persistir, também, durante tanto tempo quanto devesse durar a vida que interromperam. Tal efeito não é geral; mas, em nenhum caso, o suicida fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia seu erro, de um jeito ou de outro. É assim que alguns Espíritos, que tinham sido muito infelizes na Terra, disseram ter-se suicidado na existência anterior e submetido, voluntariamente, a novas provas, para tentar suportá-las com mais resignação. Em alguns, há uma espécie de ligação à matéria, de que procuram, em vão, desembaraçar-se, para voarem para mundos melhores, cujo acesso lhes está interditado; na maioria, há o pesar de ter feito uma coisa inútil, já que só decepções experimentam.
A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário à lei natural; todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar, voluntariamente, a sua vida; mas, por que não temos esse direito? Por que não somos livres para pôr um termo aos nossos sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que não se trata apenas de uma falta representativa de infração a uma lei moral, consideração de pouco peso para alguns indivíduos, mas de um ato estúpido, visto que nada se ganha com ele, longe disso; não é a teoria que ele nos ensina, são os fatos que nos patenteia.”

 “Enquanto Clarêncio permanecia sereno, senti que singular assomo de revolta me borbulhava no íntimo.
Suicídio? Recordei as acusações dos seres perversos das sombras. Não obstante o cabedal de gratidão que começava a acumular, não calei a incriminação.”

Para o tema referente ao suicídio, cabe o chamado de Emmanuel:

“ANTE  O  SUICÍDIO
 Se a ideia do suicídio alguma vez te visita o pensamento, reflete no infortúnio de alguém que haja tentado inutilmente destruir a si mesmo, quando pela própria imortalidade, está claramente incapaz de morrer.
Na hipótese de haver arremessado um projétil sobre si, ingerido esse ou aquele veneno, recusado a vida pelo enforcamento ou procurado extinguir as próprias forças orgânicas por outros meios, indubitavelmente arrastará consigo as consequências desse ato, a se lhe configurarem no próprio ser, na forma dos chamados complexos de culpa.
Entendendo-se que a morte do corpo denso é semelhante a um sono profundo, de que a pessoa ressurgirá sempre, é natural que esse alguém penetre no Mundo Maior, na condição de vítima de si mesmo.
Não nos é lícito esquecer que os suicidas, na Espiritualidade, não são órfãos da Misericórdia Divina, e, por isso mesmo, inúmeros benfeitores lhes propiciam o socorro possível.
Entretanto, benfeitor algum consegue eximi-los, de imediato, do tratamento de recuperação que, na maioria das vezes, lhes custará longo tempo.
Ponderando quanto ao realismo do assunto, por maiores se te façam as dificuldades do caminho, confia em Deus que, em te criando a vida, saberá defender-te e amparar-te nos momentos difíceis.
Observa que não existem provações sem causa e, em razão disso, seja onde for, estejamos preparados para facear os resultados de nossas próprias ações do presente ou do passado, em nos referindo às existências anteriores.
Cientes de que não existem problemas sem solução, por mais pesada a carga de sofrimento, em que te vejas, segue à frente, trabalhando e  servindo, lançando um olhar par a retaguarda, de modo a verificar quantas  criaturas existem carregando fardos de tribulações muito maiores e mais  constrangedores do que os nossos.
O melhor meio de nos premunirmos na Terra contra o suicídio, será sempre o de nos conservarmos no trabalho que a vida nos confia, porque o  trabalho, invariavelmente dissolve quaisquer sombras que nos envolva a  mente.
E, por fim, consideremos, nas piores situações em que nos sintamos, que Deus, cujo infinito amor nos sustentou até ontem, embora os nossos erros,  em nos assinalando os propósitos de regeneração e melhoria, nos sustentará  também hoje.”

“- Creio haja engano - asseverei, melindrado -, meu regresso do mundo não teve essa causa. Lutei mais de quarenta dias, na Casa de Saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas operações graves, devido a oclusão intestinal...”

E quem quer admitir que praticou o ato do suicídio quando este não foi feito de forma consciente?

 “- Sim - esclareceu o médico, demonstrando a mesma serenidade superior -, mas a oclusão radicava-se em causas profundas. Talvez o amigo não tenha ponderado bastante. O organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo. E inclinando-se, atencioso, indicava determinados pontos do meu corpo:”

O livro O céu e o inferno clarifica:
“Em regra, o homem não tem o direito de dispor da vida, por isso que esta lhe foi dada visando deveres a cumprir na Terra, razão bastante para que não a abrevie voluntariamente, sob pretexto algum. Mas ao homem — visto que tem o seu livre-arbítrio — ninguém impede a infração dessa lei. Sujeita-se, porém, às suas consequências. O suicídio mais severamente punido é o resultante do desespero que visa à redenção das misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar-se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se devera cumprir. O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. Não se pode tachar de suicida aquele que dedicadamente se expõe à morte para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem. (O evangelho segundo o espiritismo, cap. V, itens 5, 6, 18 e 19.)”

 “- Vejamos a zona intestinal - exclamou. - A oclusão derivava de elementos cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do meu estimado irmão, no campo da sífilis. A moléstia talvez não assumisse características tão graves, se o seu procedimento mental no planeta estivesse enquadrado nos princípios da fraternidade e da temperança. Entretanto, seu modo especial de conviver, muita vez exasperado e sombrio, captava destruidoras vibrações naqueles que o ouviam. Nunca imaginou que a cólera fosse manancial de forças negativas para nós mesmos? A ausência de autodomínio, a inadvertência no trato com os semelhantes, aos quais muitas vezes ofendeu sem refletir, conduziam-no frequentemente à esfera dos seres doentes e inferiores. Tal circunstância agravou, de muito, o seu estado físico.”

O corpo perispiritual de André estava apresentando diversas anormalidades devido ao nível de pensamentos realizados durante a sua encarnação. Em virtude disso, ele era considerado um suicida.
No Capítulo extraído do livro O HOMEM INTEGRAL ditado pelo espírito Joanna de Ângelis, há os seguintes esclarecimentos:
“Herdeiro de si mesmo, carregando, no inconsciente, as experiências transatas, o homem não foge aos atavismos que ojungem ao primitivismo, embora as claridades arrebatado­ras do futuro chamando-o para as grandes conquistas. 
Liberar-se do forte cipoal das paixões animalizantes para os logros da razão é o grande desafio que tem pela frente.
Onde quer que vá, encontra-se consigo mesmo.
A sua evolução sócioantropológica é a história das contí­nuas lutas, em que o artista — o Espírito — arranca do bloco grotesco — a matéria — as expressões de beleza e grandiosida­de que lhe dormem imanentes.
Os mitos de todos os povos, na história das artes, das filo­sofias e das religiões, apresentam a luta contínua do ser liber­tando-se da argamassa celular, arrebentando algemas para fir­mar-se na liberdade que passa a usar, agressivamente, no co­meço, até converter-se em um estado de consciência ética plenificador, carregado de paz.
Em cada mito do passado surge o homem em luta contra forças soberanas que o punem, o esmagam, o dominam.
Gerado o conceito da desobediência, o reflexo da puni­ção assoma dominador, reduzindo o calceta a uma posição ínfima, contra a qual não se pode levantar, sequer justificar a fragilidade.
Essa incapacidade de enfrentar o imponderável — as for­ças desgovernadas e prepotentes — mais tarde se apresenta camuflada em forma de rebelião inconsciente contra a exis­tência física, contra a vida em si mesma.
Obrigado mais a temer esses opressores, do que a os amar, compelido a negociar a felicidade mediante oferendas e cul­tos, extravagantes ou não, sente-se coibido na sua liberdade de ser, então rebelando-se e passando a uma atitude formal em prejuízo da real, a um comportamento social e religioso conveniente ao invés de ideal, vivendo fenômenos neuróti­cos que o deprimem ou o exaltam, como efeitos naturais de sua rebelião íntima.
Ao mesmo tempo, procurando deter os instintos agressi­vos nele jacentes, sem os saber canalizar, sofre reações psi­cológicas que lhe perturbam o sistema emocional.
O ressentimento — que é uma manifestação da impotência agressiva não exteriorizada — converte-se em travo de amar­gura, a tornar insuportável a convivência com aqueles contra os quais se volta.
Antegozando o desforço — que é a realização íntima da fraqueza, da covardia moral — dá guarida ao ódio que o com­bure, tornando a sua existência como a do outro em um ver­dadeiro inferno.
O ódio é o filho predileto da selvageria que permanece em a natureza humana. Irracional, ele trabalha pela destrui­ção de seu oponente, real ou imaginário, não cessando, mes­mo após a derrota daquele.
Quando não pode descarregar as energias em descontrole contra o opositor, volta-se contra si mesmo articulando me­canismos de autodestruição, graças aos quais se vinga da so­ciedade que nele vige.
Os danos que o ódio proporciona ao psiquismo, por des­trambelhar a delicada maquinaria que exterioriza o pensa­mento e mantém a harmonia do ser, tornam-se de difícil cata­logação.
Simultaneamente, advêm reações orgânicas que se refletem nas funções hepáticas, digestivas, circulatórias, dando origem a futuros processos cancerígenos, cardíacos, cere­brais...
A irradiação do ódio é portadora de carga destrutiva que, não raro, corrói as engrenagens do emissor como alcança aquele contra quem vai direcionada, caso este sintonize em faixa de equivalência vibratória.
Lixo do inconsciente, o ódio extravasa todo o conteúdo de paixões mesquinhas, representativas do primarismo evo­lutivo e cultural.
Algumas escolas, na área da psicologia, preconizam como terapia, a liberação da agressividade, do ódio, dos recalques e castrações, mediante a permissão do vocabulário chulo, das diatribes nas sessões de grupo, das acusações recíprocas, pre­tendendo o enfraquecimento das tensões, ao mesmo tempo a conquista da auto realização, da segurança pessoal.
Sem discutirmos a validade ou não da experiência, o ho­mem é pássaro cativo fadado a grandes voos; ser equipado com recursos superiores, que viaja do instinto para a razão, desta para a intuição e, por fim, para a sua fatalidade plena, que é a perfeição.
Uma psicologia baseada em terapêutica de agressão e li­bertação de instintos, evitando as pressões que coarctam os anseios humanos, certamente atinge os primeiros propósitos, sem erguer o paciente às cumeadas da realização interior, da identificação e vivência dos valores de alta monta, que dão cor, objetivo e paz à existência.
Assumir a inferioridade, o desmando, a alucinação é ex­travasá-los, nunca sanar o mal, libertar-se dele por desneces­sário.
Se não é recomendável para as referidas escolas, a repres­são, pelos males que proporciona, menos será liberar alguns, aos outros agredindo, graças aos falsos direitos que tais paci­entes requeiram para si, arremetendo contra os direitos alheios.
A sociedade, considerada como castradora, marcha para terapias que canalizem de forma positiva as forças humanas, suavizando as pressões, eliminando as tensões através de pro­gramas de solidariedade, recreio e serviços compatíveis com a clientela que a constitui.
O ódio pressiona o homem que se frustra, levando-o ao suicídio. Tem origens remotas e próximas.
Nas patologias depressivas, há muito fenômeno de ódio embutido no enfermo sem que ele se dê conta. A indiferença pela vida, o temor de enfrentar situações novas, o pessimis­mo disfarçam mágoas, ressentimentos, iras não digeridas, ódios que ressumam como desgosto de viver e anseio por interromper o ciclo existencial.
Falhando a terapia profunda de soerguimento do enfer­mo, o suicídio é o próximo passo, seja através da negação de viver ou do gesto covarde de encerrar a atividade física.
Todos os indivíduos experimentam limites de alguma pro­cedência.
Os extrovertidos conquistadores ocultam, às vezes, lar­gos lances de timidez, solidão e desconfiança, que têm difi­culdade em superar.
Suas reuniões ruidosas são mais mecanismos de fuga do que recursos de espairecimento e lazer.
Os alcoólicos que usam, as músicas ensurdecedoras que os aturdem, encarregam-se de mantê-los mais solitários na confusão do que solidários uns com os outros.
As gargalhadas, que são esgares festivos, substituem os sorrisos de bem-estar, de satisfação e humor, levando-os de um para outro lugar-nenhum, embora se movimentem por cidades, clubes e reuniões diversos.
O ser humano deve ter a capacidade de discernimento para eleger os valores compatíveis com as necessidades reais que lhe são inerentes.
Descobrir a sua realidade e crescer dentro dela, aumen­tando a capacidade de ser saudável, eis a função da inteligên­cia individual e coletiva, posta a benefício da vida.
As transformações propõem incertezas, que devem ser enfrentadas naturalmente, como as oposições e os adversári­os encarados na condição de ocorrências normais do proces­so de crescimento, sem ressentimentos, nem ódios ou fugas para o suicídio.
O homem que progride cada dia, ascende, não sendo atin­gido pelas famas dos problematizados que o não podem acom­panhar, por enquanto, no processo de crescimento.
Alcançado o acume desejado, este indivíduo está em con­dições de descer sem diminuir-se, a fim de erguer aquele que permanece na retaguarda.
Ora, para alcançar-se qualquer meta e, em especial, a da paz, torna-se necessário um planejamento, que deflui da au­toconsciência, da consciência ética, da consciência do conhe­cimento e do amor,
O planejamento precede a ação e desempenha papel fun­damental na vida do homem.
Somente uma atitude saudável e uma emoção equilibra­da, sem vestígios de ódio, desejo de desforço, podem plane­jar para o bem, o êxito, a felicidade.”

 “Depois de longa pausa, em que me examinava atentamente, continuou:
- Já observou, meu amigo, que seu fígado foi maltratado pela sua própria ação; que os rins foram esquecidos, com terrível menosprezo às dádivas sagradas?”

Além do pensamento, muitas das vezes o encarnado enjere alimentos prejudiciais ao corpo espiritual.
A pergunta 952 do Livro dos Espíritos traz a seguinte explanação:
“952. O homem que perece vítima do abuso de paixões que ele sabia que deveriam apressar o seu fi m, mas às quais não tinha mais o poder de resistir, porque o hábito as transformara em verdadeiras necessidades físicas, comete um suicídio?
“É um suicídio moral. Não compreendeis que, neste caso, o homem é duplamente culpado? Há nele falta de coragem e bestialidade e, além disso, o esquecimento de Deus.”


 “Singular desapontamento invadira-me o coração. Parecendo desconhecer a angústia que me oprimia, continuava o médico, esclarecendo:
- Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas, segundo os desígnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades, esperdiçado patrimônios preciosos da experiência física. A longa tarefa, que lhe foi confiada pelos Maiores da Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativas de trabalho que não se consumou. Todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. Devorou-lhe a sífilis energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável.”

Nestes parágrafos, apesar da decepção em tomar conhecimento do diagnóstico em relação ao desencarne de André, é preciso atentar para as palavras do médico no que concerne ao “corpo somático”. O que seria o corpo somático?
Djalma Santos no site da casa do espiritismo faz a seguinte menção:  Os bilhões de células que formam o corpo físico são fragmentos de inteligência, sob o comando da mente espiritual, que, através do perispírito, modela, organiza e direciona o microcosmo da massa somática do corpo físico. O corpo somático é, na realidade, uma extensão do perispírito, muito bem rotulado pelo Dr. Hernani de Guimarães Andrade como sendo o "modelador organizador biológico", e que sobrevive à morte, acompanhando o espírito na volta ao mundo espiritual, enquanto o corpo físico volta à Terra, para formar novas vidas."

Por conseguinte, nestas palavras é necessário esclarecer a respeito do períspirito e o Livro dos Espíritos explica:
Perispírito
93. O Espírito, propriamente dito, está a descoberto ou, como alguns o pretendem, encontra-se envolto numa substância qualquer?
“O Espírito é envolvido por uma substância vaporosa para ti, porém, ainda muito grosseira para nós; todavia, bastante vaporosa para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde ele queira.”
Como o gérmen de um fruto está envolto pelo perisperma, assim também o Espírito, propriamente dito, reveste-se de um invólucro que, por comparação, pode-se chamar de perispírito.
94. De onde o Espírito retira seu envoltório semi-material?
“Do fluido universal de cada globo. É por isso que não é idêntico em todos os mundos; passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.”
a) Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm até nós, tomam um perispírito mais grosseiro?
“É preciso que se revistam da vossa matéria; já o dissemos.”
95. O envoltório semimaterial do Espírito dispõe de formas determinadas e pode ser perceptível?
“Sim, uma forma correspondente à vontade do Espírito; é assim que ele vos aparece algumas vezes, quer nos sonhos, quer no estado de vigília, e que pode tomar uma forma visível e até mesmo palpável.”

 “Meditei nos problemas dos caminhos humanos, refletindo nas oportunidades perdidas. Na vida humana, conseguia ajustar numerosas máscaras ao rosto, talhando-as conforme as situações. Aliás, não poderia supor, noutro tempo, que me seriam pedidas contas de episódios simples, que costumava considerar como fatos sem maior significação. Conceituara, até ali, os erros humanos, segundo os preceitos da criminologia. Todo acontecimento insignificante, estranho aos códigos, entraria na relação de fenômenos naturais. Deparava-se-me, porém, agora, outro sistema de verificação das faltas cometidas. Não me defrontavam tribunais de tortura, nem me surpreendiam abismos infernais; contudo, benfeitores sorridentes comentavam-me as fraquezas como quem cuida de uma criança desorientada, longe das vistas paternas. Aquele interesse espontâneo, no entanto, feria-me a vaidade de homem. Talvez que, visitado por figuras diabólicas a me torturarem, de tridente nas mãos, encontrasse forças para tornar a derrota menos amarga. Todavia, a bondade exuberante de Clarêncio, a inflexão de ternura do médico, a calma fraternal do enfermeiro, penetravam-me fundo o espírito. Não me dilacerava o desejo de reação; doía-me a vergonha. E chorei. Rosto entre as mãos, qual menino contrariado e infeliz, pus-me a soluçar com a dor que me parecia irremediável. Não havia como discordar. Henrique de Luna falava com sobejas razões. Por fim, abafando os impulsos vaidosos, reconheci a extensão de minhas leviandades de outros tempos. A falsa noção da dignidade pessoal cedia terreno à justiça. Perante minha visão espiritual só existia, agora, uma realidade torturante: era verdadeiramente um suicida, perdera o ensejo precioso da experiência humana, não passava de náufrago a quem se recolhia por caridade”.

Enquanto encarnado, o homem no meio onde vive e de acordo com os seus mais ínfimos desejos, acaba se perdendo de si e deixando que a vaidade e o egoísmo prevaleçam deixando de aproveitar precioso tempo na construção de um “mundo” melhor dentro de seu íntimo. Desta maneira, quando desencarna acaba por recolher o fruto, mesmo que estragado, de suas desventuras; acaba percebendo a inutilidade que foi a oportunidade de progresso espiritual; acaba, enfim, sofrendo...

 “Foi então que o generoso Clarêncio, sentando-se no leito, a meu lado, afagou-me paternalmente os cabelos e falou comovido:
- Oh! meu filho, não te lastimes tanto. Busquei-te atendendo à intercessão dos que te amam, dos planos mais altos. Tuas lágrimas atingem seus corações. Não desejas ser grato, mantendo-te tranquilo no exame das próprias faltas? Na verdade, tua posição é a do suicida inconsciente; mas é necessário reconhecer que centenas de criaturas se ausentam diariamente da Terra, nas mesmas condições. Acalma-te, pois. Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda a bênção do remorso, embora tardio, sem esquecer que a aflição não resolve problemas. Confia no Senhor e em nossa dedicação fraternal. Sossega a alma perturbada, porque muitos de nós outros já perambulamos igualmente nos teus caminhos.”

De acordo com a leitura deste capítulo, há dois tipos de suicídio: o consciente e o inconsciente. No caso de André, ele realizou este último. Neste, o ato se concretiza quando o encarnado tem atitudes contrárias a prática do amor ao próximo, quando prejudica o seu corpo físico dia a dia sem dar a devida importância, o devido cuidado.  Já o caso daquele, é quando o encarnado escolhe por conta própria extrair a vida corpórea cedida pelo Supremo Pai.
Ambos os tipos ocasionam a criatura desencarna, quando começa a ter consciência do ato praticado, o arrependimento... e, infelizmente, muitas pessoas, apesar de estarem encarnadas e terem conhecimento da triste atitude praticada consigo mesmas, continuam, permanecem cegas e acabam exterminando a oportunidade de evolução em direção ao bem, ao amor, a luz, a paz que tanto almejam, que tanto procuram...
A maioria pode até contestar dizendo que não sabiam o que estavam fazendo; contudo, lá no íntimo elas tem este tipo de conhecimento.
De certa forma, quando conseguem perceber a escolha equivocada feita, não conseguem deter as lágrimas de amargura derramadas.
De qualquer maneira e em qualquer momento, ninguém nunca está sozinho, tem sempre outro ser transmitindo carinho, atenção e amor.

 “Ante a generosidade que transbordava dessas palavras, mergulhei a cabeça em seu colo paternal e chorei longamente.”

Apesar do sofrimento, é preciso ser forte o suficiente para perceber e reconhecer os erros cometidos. É preciso ser humilde o suficiente para compreender e aceitar aquilo que não se pode mudar uma vez já feito. É preciso ser humilde o suficiente para chorar quando a amargura bate na porta do coração.


Refletindo a respeito da morte, convém ler o texto de Léon Denis:

“TRABALHO, SOBRIEDADE, CONTINÊNCIA
O trabalho é uma lei para as humanidades planetárias, assim como para as sociedades do espaço. Desde o ser mais rudimentar até os Espíritos angélicos que velam pelos destinos dos mundos, cada um executa sua obra, sua parte, no grande concerto universal.
Penoso e grosseiro para os seres inferiores, o trabalho suaviza-se à medida que o Espírito se purifica. Torna-se uma fonte de gozos para o Espírito adiantado, insensível às atrações materiais, exclusivamente ocupado com estudos elevados.
É pelo trabalho que o homem doma as forças cegas da Natureza e preserva-se da miséria; é por ele que as civilizações se formam, que o bem-estar e a Ciência se difundem.
O trabalho é a honra, é a dignidade do ser humano. O ocioso que se aproveita, sem nada produzir, do trabalho dos outros não passa de um parasita. Quando o homem está ocupado com sua tarefa, as paixões aquietam-se.
A ociosidade, pelo contrário, instiga-as, abrindo-lhes um vasto campo de ação. O trabalho é também um grande consolador, é um preservativo salutar contra as nossas aflições, contra as nossas tristezas. Acalma as angústias do nosso espírito e fecunda a nossa inteligência. Não há dor moral, decepções ou reveses que não encontrem nele um alívio; não há vicissitudes que resistam à sua ação prolongada. O trabalho é sempre um refúgio seguro na prova, um verdadeiro amigo na tribulação. Não produz o desgosto da vida. Mas quão digna de piedade é a situação daquele a quem as enfermidades condenam à imobilidade, à inação! E quando esse ser experimenta a grandeza, a santidade do trabalho, quando, acima do seu interesse próprio, vê o interesse geral, o bem de todos e nisso também quer cooperar, eis então uma das mais cruéis provas que podem estar reservadas ao ser vivente.
Tal é, no espaço, a situação do Espírito que faltou aos seus deveres e desperdiçou a sua vida. Compreendendo muito tarde a nobreza do trabalho e a vileza da ociosidade, sofre por não poder então realizar o que sua alma concebe e deseja.
O trabalho é a comunhão dos seres. Por ele nos aproximamos uns dos outros, aprendemos a auxiliarmo-nos, a unirmo-nos; daí à fraternidade só há um passo. A antiguidade romana havia desonrado o trabalho, fazendo dele uma condição de escravatura. Disso resultou sua esterilidade moral, sua corrupção, suas insípidas doutrinas.
A época atual tem uma concepção da vida muito diferente. Encontra-se já satisfação no trabalho fecundo e regenerador. A filosofia dos Espíritos reforça ainda mais essa concepção, indicando-nos na lei do trabalho o germe de todos os progressos, de todos os aperfeiçoamentos, mostrando-nos que a ação dessa lei estende-se à universalidade dos seres e dos mundos. Eis por que estávamos autorizados a dizer: Despertai, á vós todos que deixais dormitar as vossas faculdades e as vossas forças latentes! Levantai-vos e mãos à obra!
Trabalhai, fecundai a terra, fazei ecoar nas oficinas o ruído cadenciado dos martelos e os silvos do vapor. Agitai-vos na colmeia imensa. Vossa tarefa é grande e santa. Vosso trabalho é a vida, é a glória, é a paz da Humanidade.
Obreiros do pensamento, perscrutai os grandes problemas, estudai a Natureza, propagai a Ciência, espalhai por toda parte tudo o que consola, anima e fortifica. Que de uma extremidade a outra do mundo, unidos na obra gigantesca, cada um de nós se esforce a fim de contribuir para enriquecer o domínio material, intelectual e moral da Humanidade!
*
A primeira condição para se conservar a alma livre, a inteligência sã, a razão lúcida é a de ser sóbrio e casto. Os excessos de alimentação perturbam-nos o organismo e as faculdades; a embriaguez faz-nos perder toda a dignidade e toda a moderação. O seu uso continuo produz uma série de moléstias, de enfermidades, que acarretam uma velhice miserável.
Dar ao corpo o que lhe é necessário, a fim de torná-lo servidor útil e não tirano, tal é a regra do homem criterioso. Reduzir a soma das necessidades materiais, comprimir os sentidos, domar os apetites vis é libertar-se do jugo das forças Inferiores, é preparar a emancipação do Espírito. Ter poucas necessidades é também uma das formas da riqueza.
A sobriedade e a continência caminham juntas. Os prazeres da carne enfraquecem-nos, enervam-nos, desviam-nos da sabedoria. A volúpia é como um abismo onde o homem vê soçobrar todas as suas qualidades morais.
Longe de nos satisfazer, atiça os nossos desejos. Desde que a deixamos penetrar em nosso seio, ela invade-nos, absorve-nos e, como uma vaga, extingue tudo quanto há de bom e generoso em nós. Modesta visitante ao princípio, acaba por dominar-nos, por se apossar de nós completamente.
Evitai os prazeres corruptores em que a juventude se estiola, em que a vida se desseca e altera. Escolhei em momento oportuno uma companheira e sede-lhe fiel. Constituí uma família. A família é o estado natural de uma existência honesta e regular. O amor da esposa, a afeição dos filhos, a sã atmosfera do lar são preservativos soberanos contra as paixões. No meio dessas criaturas que nos são caras e veem em nós seu principal arrimo, o sentimento de nossas responsabilidades se engrandece; nossa dignidade e nossa circunspeção acentuam-se; compreendemos melhor os nossos deveres e, nas alegrias que essa vida concede-nos, colhemos as forças que nos tornam suave o seu cumprimento. Como ousar cometer atos que fariam envergonhar-nos sob o olhar da esposa e dos filhos? Aprender a dirigir os outros é aprender a dirigir-se a si próprio, a tornar-se prudente e criterioso, a afastar tudo o que pode manchar-nos a existência.
É condenável o viver insulado. Dar, porém, nossa vida aos outros, sentirmo-nos reviver em criaturas de que soubemos fazer pessoas úteis, servidores zelosos para a causa do bem e da verdade, morrermos depois de deixar cimentado um sentimento profundo do dever, um conhecimento amplo dos destinos é uma nobre tarefa.
Se há uma exceção a essa regra, esta será em favor daqueles que, acima da família, colocam a Humanidade e que, para melhor servi-la, para executar em seu proveito alguma missão maior ainda, quiseram afrontar sozinhos os perigos da vida, galgar solitários a vereda árdua, consagrar todos os seus instantes, todas as suas faculdades, toda a sua alma a uma causa que muitos ignoram, mas que eles jamais perderam de vista.
A sobriedade, a continência, a luta contra as seduções dos sentidos não são, como pretendem os mundanos, uma infração às leis morais, um amesquinhamento da vida; ao contrário, elas despertam em quem as observa e executa uma percepção profunda das leis superiores, uma intuição precisa do futuro. O voluptuoso, separado pela morte de tudo o que amava, consome-se em vãos desejos. Frequenta as casas de deboche, busca os lugares que lhe recordam o modo de vida na Terra e, assim, prende-se cada vez mais a cadeias materiais, afasta-se da fonte dos puros gozos e vota-se à bestialidade, às trevas.
Atirar-se às volúpias carnais é privar-se por muito tempo da paz que usufruem os Espíritos elevados. Essa paz somente pode ser adquirida pela pureza. Não se observa isso desde a vida presente? As nossas paixões e os nossos desejos produzem imagens, fantasmas que nos perseguem até no sono e perturbam as nossas reflexões. Mas, longe dos prazeres enganosos, o Espírito bom concentra-se, retempera-se e abre-se às sensações delicadas.
Os seus pensamentos elevam-se ao infinito. Desligado com antecedência das concupiscências ínfimas, abandona sem pesar o seu corpo exausto.
Meditemos muitas vezes e ponhamos em prática o provérbio oriental: Sê puro para seres feliz e para seres forte!”

O Livro dos Espíritos esclarece a respeito do que concerne o tema do suicídio:
“Desgosto da Vida. Suicídio
943. De onde provém o desgosto da vida que se apodera de alguns indivíduos,
sem motivos plausíveis?
“Efeito da ociosidade, da falta de fé e, frequentemente, da saciedade. Para aquele que exerce suas faculdades com um fim útil e de acordo com suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida passa mais rapidamente; suporta-lhe as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, porquanto age tendo em vista a felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”

944. O homem tem o direito de dispor de sua própria vida?
“Não, só Deus tem este direito. O suicídio voluntário é uma transgressão desta lei.”

a) O suicídio não é sempre voluntário?
 “O louco que se mata não sabe o que faz.”

945. O que pensar do suicídio que tem como causa o desgosto da vida?
“Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes teria sido tão pesada!”

946. O que pensar do suicídio que tem como objetivo escapar das misérias e das decepções deste mundo?
“Pobres Espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência!
Deus ajuda aqueles que sofrem e, não, aqueles que não possuem força nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações; felizes os que as suportam sem murmurar, pois serão recompensados por isso! Infelizes, ao contrário, aqueles que esperam sua salvação daquilo que, na sua impiedade, chamam de acaso ou fortuna! O acaso ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um instante, mas é para lhes fazer sentir, mais tarde e mais cruelmente, o nada que representam essas palavras.”

a) Aqueles que tenham conduzido o infeliz a esse ato de desespero sofrerão as consequências disso?
“Oh! Esses, pobres deles, pois responderão por isso, como por um assassinato.”

947. O homem que luta contra a necessidade e que se deixa morrer de desespero pode ser considerado como um suicida?
“É um suicídio, mas aqueles que o causaram, ou que poderiam impedi-lo, são mais culpados do que ele e a indulgência o espera. Entretanto, não creiais que ele seja inteiramente absolvido, se lhe faltaram firmeza e perseverança e se não usou de toda a sua inteligência, para sair do atoleiro. Pobre dele, principalmente, se seu desespero nasce do orgulho; quero dizer, se ele for desses homens em quem o orgulho paralisa os recursos da inteligência, que corariam de dever sua existência ao trabalho de suas mãos e que preferem morrer de fome a descer daquilo que chamam de sua posição social! Não haverá cem vezes mais grandeza e dignidade em lutar contra a adversidade, em afrontar a crítica de um mundo fútil e egoísta, que só tem boa-vontade para com aqueles a quem nada falta e que vos vira as costas, assim que precisais dele? Sacrificar sua vida à consideração desse mundo é uma coisa estúpida, pois ele nenhuma importância dá a isso.”

948. O suicídio que tem por objetivo escapar da vergonha de uma ação má é tão reprovável quanto aquele que é causado pelo desespero?
“O suicídio não apaga a falta; ao contrário, em vez de uma, haverá duas. Quando se teve a coragem de fazer o mal, é preciso ter a de sofrer-lhe as consequências. Deus julga e, conforme a causa, pode, algumas vezes, diminuir os seus rigores.”

949. O suicídio será desculpável, quando tenha por objetivo impedir que a vergonha caia sobre os filhos, ou sobre a família?
 “O que assim age, não faz bem, mas acredita que o faz e isso Deus lhe leva em conta, pois é uma expiação que a si mesmo impõe. Atenua a sua falta pela intenção, mas nem por isso deixa de cometer uma falta. De resto, aboli os abusos de vossa sociedade e vossos preconceitos e não haverá mais desses suicídios.”

Aquele que tira a própria vida, para escapar à vergonha de uma ação má, prova que valoriza mais a estima dos homens do que a de Deus, pois vai retornar à vida espiritual carregado das suas iniquidades e tendo-se privado dos meios de repará-las, durante a sua vida. Deus é, frequentemente, menos inexorável do que os homens; ele perdoa ao que se arrepende sinceramente e leva em conta a reparação; o suicídio nada repara.

950. Que pensar daquele que tira a sua vida, na esperança de chegar mais depressa a uma vida melhor?
“Outra loucura! Que faça o bem e estará mais seguro de a ela chegar, pois, retardando sua entrada num mundo melhor, ele próprio pedirá para vir concluir esta vida que ele interrompeu, por um equívoco. Uma falta, qualquer que seja, nunca abre o santuário dos eleitos.”

951. O sacrifício da própria vida não é, algumas vezes, meritório, quando tem como objetivo salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes?
“Isso é sublime, conforme a intenção, e o sacrifício da vida não constitui suicídio; mas Deus se opõe a um sacrifício inútil e não pode vê-lo com bons olhos, se ele é manchado pelo orgulho. Um sacrifício só é meritório pelo desinteresse e aquele que o pratica tem, algumas vezes, uma segunda intenção que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.”
Todo sacrifício feito às custas de sua própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, pois constitui a prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o bem terrestre pelo qual o homem tem maior apreço, aquele que a ela renuncia, pelo bem dos seus semelhantes, não comete um atentado: realiza um sacrifício. Mas, antes de fazê-lo, deve avaliar se sua vida não poderia ser mais útil do que sua morte.

952. O homem que perece vítima do abuso de paixões que ele sabia que deveriam apressar o seu fi m, mas às quais não tinha mais o poder de resistir, porque o hábito as transformara em verdadeiras necessidades físicas, comete um suicídio?
“É um suicídio moral. Não compreendeis que, neste caso, o homem é duplamente culpado? Há nele falta de coragem e bestialidade e, além disso, o esquecimento de Deus.”

a) É mais ou menos culpado do que aquele que tira sua vida por desespero?
“Ele é mais culpado, porque tem tempo de refletir sobre seu suicídio; naquele que o faz instantaneamente, há, algumas vezes, uma espécie de desvario que se assemelha à loucura; o outro será muito mais punido, pois as penas são sempre proporcionais à consciência que se tem das faltas cometidas.”

953. Quando uma pessoa vê diante de si uma morte inevitável e terrível, é culpada por abreviar de alguns instantes seus sofrimentos, através de uma morte voluntária?
 “Somos sempre culpados por não esperar o termo fixado por Deus. Além disso, estaremos bem certos de que, apesar das aparências, esse termo tenha chegado e de que não poderemos receber um socorro inesperado, no último momento?”

a) Concebe-se que, nas circunstâncias comuns, o suicídio seja condenável, mas supomos o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é abreviada de alguns instantes.
“É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.”

b) Quais são, nesse caso, as consequências desta ação?
“Uma expiação proporcional à gravidade da falta, conforme as circunstâncias,
como sempre.”

954. Uma imprudência que compromete a vida, sem necessidade, é condenável?
“Não há culpabilidade, quando não há intenção, ou consciência perfeita de praticar o mal.”

955. As mulheres que, em certos países, se queimam voluntariamente sobre os corpos de seus maridos, podem ser consideradas suicidas e sofrem as consequências deste gesto?
“Elas obedecem a um preconceito e, frequentemente, mais à força do que pela sua própria vontade. Creem cumprir um dever e este não é o caráter do suicídio. A desculpa delas está na nulidade moral da maioria e na sua ignorância. Esses usos bárbaros e estúpidos desaparecem com a civilização.”

956. Aqueles que, não podendo suportar a perda de pessoas que lhes são caras, matam-se na esperança de ir juntar-se a elas, atingem o seu objetivo?
“O resultado para eles é completamente diferente daquele que esperavam e, em vez de se reunirem ao objeto de suas afeições, afastam-se dele por muito mais tempo, pois Deus não pode recompensar um ato de covardia e o insulto que lhe é feito, duvidando de sua Providência. Pagarão este instante de loucura com aflições maiores do que as que acreditavam abreviar e não terão, para compensá-las, a satisfação que esperavam.” (934 e seguintes)

957. Em geral, quais são as consequências do suicídio, relativamente ao estado de Espírito?
“As consequências do suicídio são muito diversas; não há penas fixas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que o produziram; mas existe uma consequência à qual o suicida não pode escapar: é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos: depende das circunstâncias; alguns expiam suas faltas imediatamente, outros, numa nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam.”
A observação mostra, de fato, que os efeitos do suicídio nem sempre são os mesmos; porém, há alguns comuns a todos os casos de morte violenta, consequência da interrupção brusca da vida. Primeiramente, há a persistência mais prolongada e mais tenaz do elo que une o Espírito ao corpo, porque esse elo está, quase sempre, na plenitude de sua força, no momento em que é partido, enquanto que, na morte natural, ele se enfraquece gradualmente e, frequentemente, se desfaz, antes que a vida esteja completamente extinta. As consequências desse estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, depois da ilusão que, durante um tempo mais ou menos longo, faz com que o espírito acredite que ainda pertence ao número dos vivos. (155 e 165)
A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no Espírito, que sente, assim, contra a vontade, os efeitos da decomposição, experimentando uma sensação cheia de angústias e de horror.
Este estado pode persistir, também, durante tanto tempo quanto devesse durar a vida que interromperam. Tal efeito não é geral; mas, em nenhum caso, o suicida fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia seu erro, de um jeito ou de outro. É assim que alguns Espíritos, que tinham sido muito infelizes na Terra, disseram ter-se suicidado na existência anterior e submetido, voluntariamente, a novas provas, para tentar suportá-las com mais resignação. Em alguns, há uma espécie de ligação à matéria, de que procuram, em vão, desembaraçar-se, para voarem para mundos melhores, cujo acesso lhes está interditado; na maioria, há o pesar de ter feito uma coisa inútil, já que só decepções experimentam.
A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário à lei natural; todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar, voluntariamente, a sua vida; mas, por que não temos esse direito? Por que não somos livres para pôr um termo aos nossos sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que não se trata apenas de uma falta representativa de infração a uma lei moral, consideração de pouco peso para alguns indivíduos, mas de um ato estúpido, visto que nada se ganha com ele, longe disso; não é a teoria que ele nos ensina, são os fatos que nos patenteia.”

Caibar Schutel auxilia:

“Suicídio
Não somente pelo gesto arrojado nos despenhadeiros da autodestruição, dominado pela loucura e a insensatez, o homem se suicida. Também o faz pelo desrespeito às leis do equilíbrio e da serenidade com que a vida nos dignifica em toda a parte. Suicidas! Quase todos o somos. 
A Lei Divida é roteiro disciplinante e o corpo físico é vaso sagrado para a evolução. No entanto, ao império da desordem, não raro desvalorizamos as bênçãos do amor celeste e geramos as víboras que nos picarão, logo mais, contribuindo com os anéis vigorosos que nos despedaçarão de imediato. 
Coléricos extremados são suicidas impenitentes. Ciumentos inveterados, glutões renitentes, sexualistas descontrolados, ambiciosos incorrigíveis, preguiçosos dissolutos, toxicômanos inconsequentes, alcoólatras insistentes, covardes e melancólicos que cultivam as viciações do corpo e da mente, escravizando-se às paixões aniquilantes em que se comprazem, são suicidas lentos, caminhando para surpresas dolorosas, em que empenharão séculos de luta punitiva e dor reparadora para a própria libertação nos círculos das reencarnações inferiores... 
Em razão disso, afirmou Jesus há vinte séculos: “Buscai a Verdade e a Verdade vos fará livres...” 
E a Doutrina Espírita, parafraseando o Cordeiro de Deus, afirma: “Fora da Caridade não há salvação”. Porque a Caridade, como o amor, é alma da Verdade que, em si mesma, é a vibração da vida. 
Espírita! Tenha cuidado! Ligue-se ao pensamento superior e cultive no Espiritismo a ideia universal do bem, irrigando sua alma de consolo e esperança, a fim de vibrar acima das paixões, tranquilo e feliz, após as lutas necessárias no caminho renovador do aprendizado espiritual, na carne. 
Valorizemos, desse modo, o auxílio ao próximo, mas consideremos que o respeito à própria vida, para preservação do vaso orgânico que nos serve de veículo à evolução, é Caridade que não pode ser desconsiderada em nosso roteiro iluminativo. 
Cultivemos o dever e a disciplina e afinados ao ideal de melhor servir em nome do Servidor Incansável, prossigamos fiéis e dignos em todos os dias da vida. 
Suicidas - suicidas quase todos nós o somos! 
Porém, como Jesus é a “luz do mundo”, busquemo-lo, empenhando-nos nas lides da imortalidade e despertaremos, além-da-morte, como andorinha feliz singrando o ar ridente de Eterna Primavera.”
Disponível em http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=2362



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

DÊNIS, Leon. Depois da morte. 3.ed. Rio de Janeiro: CELD, 2011.
FRANCO, Divaldo P. O homem integral. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 3.ed. Rio de Janeiro: Leal, 1996.
KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Trad. de Manuel Justiniano Quintão. 57. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa rev., corrig. e modif. pelo autor em 1866. 124. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
______. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
XAVIER, Francisco Cândido. Amigo. Pelo espírito Emmanuel. Editora Clarim, 1973.
______. Fonte viva. Pelo espírito Emmanuel. 1.e.d. 6 imp.Brasília: FEB, 2013.
______. Segue-me. Pelo espírito Emmanuel. Editora Clarim, 1973.




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