Cap. VIII – Itens 8 a 10
8. Então os escribas e os fariseus, que tinham
vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: "Por que
violam os teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos
quando fazem suas refeições?"
Jesus lhes respondeu: "Por que violais vós outros
o mandamento de Deus, para seguir a vossa tradição? Porque Deus pôs este
mandamento: Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: Seja punido de
morte aquele que disser a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós
outros, no entanto, dizeis: Aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: - Toda
oferenda que faço a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei, - ainda que depois
não honre, nem assista a seu pai ou à sua mãe. Tornam assim inútil o mandamento
de Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando
disse: Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em
vão que me honram ensinando máximas e ordenações humanas."
Depois, tendo chamado o povo, disse: "Escutai e
compreendei bem isto: - Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai
da boca do homem é que o macula. -O que sai da boca procede do coração e é o
que torna impuro o homem; - porquanto do coração é que partem os maus
pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os
falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. - Essas são as coisas que
tornam impuro o homem; o comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna
impuro."
Então, aproximando-se, disseram-lhe seus discípulos:
"Sabeis que, ouvindo o que acabais de dizer, os fariseus se
escandalizaram?" - Ele, porém, respondeu: "Arrancada será toda planta
que meu Pai celestial não plantou. - Deixai-os, são cegos que conduzem cegos;
se um cego conduz outro, caem ambos no fosso."( S. Mateus, cap. XV, vv. 1
a 20.)
9. Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu que
fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. - O fariseu entrou
então a dizer consigo mesmo: "Por que não lavou ele as mãos antes de
jantar?" Disse-lhe, porém, o Senhor: "Vós outros, fariseus, pondes
grandes cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior
dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniqüidades. Insensatos que
sois! aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?" (S.
LUCAS, cap. XI. vv., 37 a 40.)
10. Os judeus haviam desprezado os verdadeiros
mandamentos de Deus para se aferrarem à prática dos regulamentos que os homens
tinham estatuído e da rígida observância desses regulamentos faziam casos de
consciência. A substância, muito simples, acabara por desaparecer debaixo da
complicação da forma. Como fosse muito mais fácil praticar atos exteriores, do
que se reformar moralmente, lavar as mãos do que expurgar o coração, iludiram-se
a si próprios os homens, tendo-se como quites para com Deus, por se conformarem
com aquelas práticas, conservando-se tais quais eram, visto se lhes ter
ensinado que Deus não exigia mais do que isso. Dai o haver dito o
profeta: É em vão que este povo me honra de lábios, ensinando máximas e
ordenações humanas.
Verificou-se o mesmo com a doutrina moral do Cristo,
que acabou por ser atirada para segundo plano, donde resulta que muitos
cristãos, a exemplo dos antigos judeus, consideram mais garantida a salvação
por meio das práticas exteriores, do que pelas da moral. E a essas adições,
feitas pelos homens à lei de Deus, que Jesus alude, quando diz: Arrancada
será toda planta que meu Pai celestial não plantou.
O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora,
este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que
não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o
homem julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em
seu principio. Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo.
Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se
cometam assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se
causem danos ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem
supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem.
Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de
tudo, é preciso ter a do coração.
Questões para estudo:
1 – Onde está a verdadeira pureza? Explique.
2 – Como podemos conservar o nosso coração próximo do
Cristo?
3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo
que mais gostou e justifique.
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