sábado, 21 de fevereiro de 2015

Cap. IX – Itens 8 a 10

Obediência e resignação

A doutrina de Jesus ensina, por toda a parte, a obediência e a resignação, duas virtudes que acompanham a doçura, e que são muito ativas, embora os homens as confundam, erradamente, com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração. As duas são forças ativas, pois levam o fardo das provas que a revolta insensata deixa cair. O covarde não pode ser um resignado, assim como o orgulhoso e o egoísta não podem ser criaturas obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade materialista desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade romana naufragava nos desmandos da corrupção; Ele veio fazer brilhar, no meio da humanidade oprimida, os triunfos do sacrifício e da renúncia à sensualidade.
Cada época é marcada pela virtude ou pelo vício que deverão salvá-la ou perdê-la. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, somente, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, sozinho, os horizontes que a multidão só verá depois dele, enquanto que a atividade é a reunião dos esforços de todos para atingir um objetivo menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos ao impulso que viemos dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. Infeliz do espírito preguiçoso, daquele que fecha o seu entendimento! Infeliz dele! Porque nós, que somos os guias da humanidade em marcha, o chicotearemos, e forçaremos a sua vontade rebelde, com o duplo esforço do freio e da espora; mais cedo ou mais tarde toda a resistência orgulhosa deverá ceder, mas bem-aventurados os que são mansos, porquanto ouvirão docilmente os ensinamentos. (Lázaro. Paris, 1863.)

A cólera

9. O orgulho faz com que a criatura se julgue superior ao que é realmente, e não suporte passar por uma comparação que possa rebaixá-la; faz também com que se considere de tal forma acima dos seus semelhantes, seja em aptidões, seja em posição social, seja em vantagens pessoais que o menor paralelo a irrita e a fere; e então o que acontece? Ela se entrega à cólera.
Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos fazem perder o sangue frio e a razão e vos assemelham ao bruto; procurai, e quase sempre achareis o orgulho ferido como base de tudo. Não é o amor-próprio que, ferido por uma contradição, vos faz rejeitar observações justas, e repudiar com cólera os mais sábios conselhos? Até mesmo as impaciências, causadas por contrariedades, muitas vezes pueris, dependem da importância que atribuís à personalidade, diante da qual julgais que todos se devem curvar.
No seu desvario, o homem colérico se revolta contra tudo, desde a natureza bruta aos objetos inanimados que ele quebra porque não lhe obedecem. Ah, se nesses momentos ele pudesse se ver a sangue frio, teria pena de si mesmo, ou se acharia bem ridículo. Que julgue por aí, a impressão que deve causar nos outros. Ainda que seja por respeito a si mesmo, ele deveria se esforçar para vencer uma tendência que o faz digno de piedade.
Se pensasse que a cólera não serve para nada, que altera a saúde, compromete até a sua vida, ele perceberia que é a sua primeira vítima; mas existe ainda uma consideração que deveria detê-lo: o pensamento de que torna infelizes todos aqueles que o cercam. Se tem coração, não deve sentir remorsos por fazer sofrer as pessoas que mais ama? E que remorso mortal não sentiria se, em um acesso de fúria, cometesse um ato do qual tivesse que se arrepender por toda a sua vida.
Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede que se pratique muito mais o bem permitindo que se possa fazer muito mais o mal. Isso deve ser suficiente para induzir o homem a empreender esforços para dominá-la. O espírita, aliás, é induzido a isso por outro motivo, o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs. (Um espírito protetor. Bordeaux, 1863.)

10. De acordo com a ideia, completamente falsa, de que não pode reformar a sua própria natureza, o homem acredita que não tem obrigação de fazer esforços para se corrigir dos defeitos nos quais ele se compraz voluntariamente ou que, para serem eliminados, exigiriam muita perseverança. É assim, por exemplo, que o homem com tendência à cólera quase sempre se desculpa por seu temperamento. Em vez de reconhecer a sua culpa, ele transfere a falha para o seu organismo, acusando, dessa forma, a Deus por seus próprios defeitos. É ainda uma consequência do orgulho que se encontra misturado a todas as suas imperfeições.
Sem a menor dúvida, existem temperamentos que se prestam mais que outros a atos violentos, assim como existem músculos mais flexíveis que se prestam melhor a grandes esforços. Não acrediteis, porém, que aí se encontre a principal causa da cólera; ficai certos de que um espírito pacífico, mesmo em um corpo irascível, será sempre pacífico, e que um espírito violento, mesmo em um corpo sem energia, não será brando. A violência somente tomará uma outra característica, porquanto, não tendo um organismo próprio para manifestá-la, a cólera ficará contida, enquanto que no outro caso se mostrará livremente.
O corpo não dá impulsos de cólera a quem não a possui, assim como não dá outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao espírito, sem isso onde estaria o mérito e a responsabilidade? O homem que é deformado não pode tornar-se direito, porque o espírito não tem nada com isso, mas ele pode modificar o que é do espírito quando tem uma vontade firme. A experiência não vos prova, espíritas, até onde pode ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que vedes acontecer? Dizei, pois, que o homem permanece vicioso porque quer ficar vicioso; mas aquele que deseja se corrigir sempre pode fazê-lo, se assim não fosse, a lei do progresso não existiria para o homem. (Hahnemann.(83) Paris, 1863.)

Questões para estudo:

1 – Por que está incorreto compreender a obediência e a resignação como sendo a negação do sentimento e da vontade?

2 – O que podemos fazer para evitar os acessos de cólera?

3 – Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.


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