Cap. XXVIII – Itens 59 a 63
Por alguém que acaba de morrer
59. PREFÁCIO. As preces pelos Espíritos que
acabam de deixar a Terra não objetivam, unicamente, dar-lhes um testemunho de
simpatia: também têm por efeito auxiliar-lhes o desprendimento e, desse modo,
abreviar-lhes a perturbação que sempre se segue à separação, tornando-lhes mais
calmo o despertar. Ainda aí, porém, como em qualquer outra circunstância, a
eficácia está na sinceridade do pensamento e não na quantidade das palavras que
se profiram mais ou menos pomposamente e em que, amiúde, nenhuma parte toma o
coração.
As preces que
deste se elevam ressoam em torno do Espírito, cujas ideias ainda estão confusas, como as vozes
amigas que nos fazem despertar do sono. (Cap. XXVII, n° l0.)
60. Prece. - Onipotente Deus, que a tua misericórdia se derrame sobre a alma de
N..., a quem acabaste de chamar da Terra. Possam ser-lhe contadas as provas que
aqui sofreu, bem como ter suavizadas e encurtadas as penas que ainda haja de
suportar na Espiritualidade!
Bons Espíritos que o viestes receber e tu,
particularmente, seu anjo guardião, ajudai-o a despojar-se da matéria; dai-lhe
luz e a consciência de si mesmo, a fim de que saia presto da perturbação
inerente à passagem da vida corpórea para a vida espiritual. inspirai-lhe o
arrependimento das faltas que haja cometido e o desejo de obter permissão pata
as reparar, a fim de acelerar o seu avanço rumo à vida eterna bem-aventurada.
N..., acabas de entrar no mundo dos Espíritos e, no
entanto, presente aqui te achas entre nós; tu nos vês e ouves, por isso que de
menos do que havia, entre ti e nós, só há o corpo perecível que vens de
abandonar e que em breve estará reduzido a pó.
Despiste o envoltório grosseiro, sujeito a
vicissitudes e à morte, e conservaste apenas o envoltório etéreo, imperecível e
inacessível aos sofrimentos. Já não vives pelo corpo; vives da vida dos
Espíritos, vida essa isenta das misérias que afligem a Humanidade.
Já não
tens diante de ti o véu que às nossas vistas oculta os esplendores da vida no
Além. Podes, doravante, contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda
continuamos mergulhados em trevas.
Vais,
em plena liberdade, percorrer o espaço e visitar os mundos, enquanto nós
rastejaremos penosamente na Terra, à qual se conserva preso o nosso corpo
material, semelhante, para nós, a pesado fardo.
Diante
de ti, vai desenrolar-se o panorama do Infinito e, em face de tanta grandeza,
compreenderás a vacuidade dos nossos desejos terrestres, das nossas ambições
mundanas e dos gozos fúteis com que os homens tanto se deleitam.
A
morte, para os homens, mais não é do que uma separação material de alguns
instantes. Do exílio onde ainda nos retém a vontade de Deus, bem assim os
deveres que nos correm neste mundo, acompanhar-te-emos pelo pensamento, até que
nos seja permitido juntar-nos a ti, como tu te reuniste aos que te precederam.
Não
podemos ir onde te achas, mas tu podes vir ter conosco. Vem, pois, aos que te
amam e que tu amaste; ampara-os nas provas da vida; vela pelos que te são
caros; protege-os, como puderes; suaviza-lhes os pesares, fazendo-lhes perceber,
pelo pensamento, que és mais ditoso agora e dando-lhes a consoladora certeza de
que um dia estareis todos reunidos num mundo melhor.
Nesse,
onde te encontras, devem extinguir-se todos os ressentimentos. Que a eles,
daqui em diante, sejas inacessível, a bem da tua felicidade futura! Perdoa,
portanto, aos que hajam incorrido em falta para contigo, como eles te perdoam
as que tenhas cometido para com eles.
Nota. - Podem acrescentar-se a esta prece,
que se aplica a todos, algumas palavras especiais, conforme as circunstâncias
particulares de família ou de relações, bem como a posição social que ocupava o
defunto.
Se se trata de
uma criança, ensina-nos o Espiritismo que não está ali um Espírito de criação
recente, mas um que já viveu e que pode, mesmo, já ser muito adiantado. Se foi
curta a sua última existência, é que não devia passar de um complemento de prova, ou constituir uma prova para
os pais. (Cap.V, n° 21.)
61. (Outra) - (1). Senhor onipotente, que a tua misericórdia se estenda sobre os nossos
irmãos que acabam de deixar a Terra! Que a tua luz brilhe para eles! Tira-os
das trevas; abre-lhes os olhos e os ouvidos! Que os bons Espíritos os cerquem e
lhes façam ouvir palavras de paz e de esperança!
(1) Esta prece foi ditada a um médium de Bordéus, na
ocasião em que passava pela sua casa o féretro de um desconhecido.
Senhor, ainda que muito indignos, ousamos implorar a
tua misericordiosa indulgencia para este irmão nosso que acaba de ser chamado
do exílio. Faze que o seu regresso seja o do filho pródigo. Esquece, ó meu
Deus, as faltas que haja cometido, para te lembrares somente do bem que haja
praticado. Imutável é a tua justiça, nós o sabemos; mas, imenso é o teu amor.
Suplicamos-te que abrandes aquela, na fonte de bondade que emana do teu seio.
Brilhe
a luz para os teus olhos, irmão que vens de deixar a Terra! Que os bons
Espíritos de ti se aproximem, te cerquem e ajudem a romper as cadeias terrenas!
Compreende e vê a grandeza do nosso Senhor: submete-te, sem queixumes, à sua
justiça, porém, não desesperes nunca da sua misericórdia. Irmão! que um sério
retrospecto do teu passado te abra as portas do futuro, fazendo-te perceber as
faltas que deixas para trás e o trabalho cuja execução te incumbe para as
reparares! Que Deus te perdoe e que os bons Espíritos te amparem e animem. Por
ti orarão os teus irmãos da Terra e pedem que por eles ores.
62. PREFÁCIO. Que horrenda é a ideia do Nada! Quão de lastimar são os que
acreditam que no vácuo se perde, sem encontrar eco que lhe responda, a voz do
amigo que chora o seu amigo! Jamais conheceram as puras e santas afeições os
que pensam que todo morre com o corpo; que o gênio, que com a sua vasta
inteligência iluminou o mundo; é uma combinação de matéria, que, qual sopro, se
extingue para sempre; que do mais querido ente, de um pai, de uma mãe, ou de um
filho adorado não restará senão um pouco de pó que o vento irremediavelmente
dispersará.
Como pode um
homem de coração conservar-se frio a essa ideia?
Como não o gela de terror a ideia de um aniquilamento absoluto e não lhe
faz, ao menos, desejar que não seja assim? Se até hoje não lhe foi suficiente a
razão para afastar de seu espírito quaisquer dúvidas, aí está o Espiritismo a
dissipar toda incerteza com relação ao futuro, por meio das provas materiais
que dá da sobrevivência da alma e da existência dos seres de além-túmulo. Tanto
assim é que por toda a parte essas provas são acolhidas com júbilo; a confiança
renasce, pois que o homem doravante sabe que a vida terrestre é apenas uma breve
passagem conducente a melhor vida; que seus trabalhos neste mundo não lhe ficam
perdidos e que as mais santas afeições não se despedaçam sem mais esperanças.
(Cap. IV, n° 18; Cap. V, n° 21.)
63. Prece. - Digna-te, ó meu Deus, de
acolher, benévolo, a prece que te dirijo pelo Espírito N... Faze-lhe entrever
as claridades divinas e torna-lhe fácil o caminho da felicidade eterna. Permite
que os bons Espíritos lhe levem as minhas palavras e o meu pensamento.
Tu, que tão caro me eras neste mundo, escuta a minha
voz, que te chama para te oferecer novo penhor da minha afeição. Permitiu Deus
que te libertasses antes de mim e eu disso me não poderia queixar sem egoísmo,
porquanto fora querer-te sujeito ainda às penas e sofrimentos da vida. Espero,
pois, resignado, o momento de nos reunirmos de novo no mundo mais venturoso no
qual me precedeste.
Sei que é
apenas temporária a nossa separação e que, por mais longa que me possa parecer,
a sua duração nada é em face da ditosa eternidade que Deus promete aos seus
escolhidos. Que a sua bondade me preserve de fazer o que quer que retarde esse
desejado instante e me poupe assim à dor de te não encontrar, ao sair do meu
cativeiro terreno.
Oh! quão doce
e consoladora é a certeza de que não há entre nós mais do que um véu material
que te oculta às minhas vistas! de que podes estar aqui, ao meu lado, a me ver
e ouvir como outrora, senão ainda melhor do que outrora; de que não me
esqueces, do mesmo modo que eu te não esqueço; de que os nossos pensamentos
constantemente se entreluzam e que o teu sempre me acompanha e ampara.
Que a paz do
Senhor seja contigo.
Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - Cite
objetivos das preces pelos
Espíritos que acabam de deixar a Terra?
2 - Busque,
no texto, ideias a favor da necessidade da existência de algo mais além da
matéria.
3 - Extraia do
texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.