O Ser
Consciente
Esmagado por conflitos que não amainam de intensidade,
o homem moderno procura mecanismos escapistas, em vãs tentativas de driblar as
aflições transferindo-se para os setores do êxito exterior, do aplauso e da
admiração social, embora os sentimentos permaneçam agrilhoados e ferreteados
pela angústia e pela insatisfação.
As realizações externas podem acalmar as ansiedades do
coração, momentaneamente, não, porém, erradicá-las, razão por que o triunfo
externo não apazigua interiormente.
Condicionado para a conquista das coisas, na concepção
da meta plenificadora, o indivíduo procura soterrar os conflitos sob as
preocupações contínuas, mantendo-os, no entanto, vivos e pulsantes, até quando
ressumam e sobrepõem-se a todos os disfarces, desencadeando novos sofrimentos e
perturbações devastadoras.
O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria
mente.
Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com
insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que devem
ser estudadas pacientemente, a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais
- parecer e ser-, as inquietações e tendências que o comandam, estabelecendo os
paradigmas corretos para a jornada, liberado dos choques interiores em relação
ao comportamento externo.
Ignorar uma situação não significa eliminá-la ou superá-la.
Tal postura permite que os seus fatores constitutivos cresçam e se desenvolvam,
até o momento em que se tornam insustentáveis, chamando a atenção para
enfrentá-los.
O mesmo ocorre com os conflitos psicológicos. Estão presentes
no homem, que, invariavelmente, não lhes dá valor, evitando deter-se neles,
analisar a própria fragilidade, de modo a encontrar os recursos que lhe
facultem diluí-los.
Enraizados profundamente, apresentam-se na consciência
sob disfarces diferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os
narcisismos, a agressividade, a culpa, a timidez, até os estados graves de
alienação mental.
Todo conflito gera insegurança, que se expressa multifacetadamente,
respondendo por inomináveis comportamentos nas sombras do medo e das condutas
compulsivas.
Suas vítimas padecem situações muito afligentes, tombando
no abandono de si mesmas, quando as resistências disponíveis se exaurem.
O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do
ponto inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e
aprimorando-se sem cessar.
Somente consegue essa lucidez aquele que se autoanalise,
disposto a encontrar-se sem máscara, sem deterioração. Para isso, não se julga,
nem se justifica, não se acusa nem se culpa. Apenas descobre-se.
À identificação segue-se o trabalho da transformação interior
para melhor, utilizando-se dos instrumentos do auto amor, da autoestima, da
oração que estimula a capacidade de discernimento, da relaxação que libera das
tensões, da meditação que faculta o crescimento interior.
" O auto amor ensina-o a encontrar-se e desvela
os potenciais de força íntima nele jacentes.
A alo-estima leva-o à fraternidade, ao convívio saudável
com o seu próximo, igualmente necessitado.
A oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência
e da Vida real.
A relaxação proporciona-lhe harmonia, horizontes largos
para a movimentação.
A meditação ajuda-o a crescer de dentro para fora, realizando-se
em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de consciência.
O autoconhecimento se torna uma necessidade prioritária
na programática existencial da criatura. Quem o posterga, não se realiza
satisfatoriamente, porque permanece perdido em um espaço escuro, ignorado
dentro de si mesmo.
Foi necessário que surgissem a Psicologia Transpessoal
e outras áreas doutrinárias com paradigmas bem definidos a respeito do ser
humano integral, para que se pudesse propor à vida melhores momentos e mais
amplas perspectivas de felicidade.
A contribuição da Parapsicologia, da Psicobiofísica,
da Psicotrônica, ampliou os horizontes do homem, propicioulhe o encontro com
outras dimensões da vida e possibilidades extrafísicas de realização, que
permaneciam soterradas sob os escombros do inconsciente profundo, ou
adormecidas nos alicerces da Consciência.
Antes, porém, de todas essas disciplinas psicológicas
e doutrinas parapsíquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa
possibilidade de ser consciente, concitando-a ao auto-encontro e à
autodescoberta a respeito da vida além dos estreitos limites materiais.
Perfeitamente identificado com os elevados objetivos
da existência terrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espíritos
Benfeitores: "Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se
melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?"
Eles responderam: «: Um sábio da antiguidade vo-lo disse:
Conhece-te a ti mesmo."!')
Comentando a resposta, Santo Agostinho, Espírito, entre
outras considerações explicitou: " ... 0 conhecimento de si mesmo é,
portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém
julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as
faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente;
o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um
meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre
o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificarieis se praticada por
outra pessoa ... ". "E prosseguiu: " ... dê balanço no seu dia
moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros, e eu
vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder
dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o
despertar na outra vida. "
Na análise diária e contínua dos atos, o auto e o aloamor
serão decisivos para a avaliação. A oração e a meditação irão constituir
recurso complementar para afixação das conquistas.
Quem ora, fala; quem medita, ouve, dispondo dos recursos
para exteriorizar-se e interiorizar-se.
Há, no entanto, estruturas psicológicas muito frágeis ou
assinaladas por distúrbios de comportamento grave. Nesses casos, urge o
concurso da Ciência Espírita, com as terapias profundas que dispõe; e, de
acordo com a intensidade do distúrbio, torna-se necessária a ajuda do
psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema, que será equacionado pela
Psicologia, pela Psicanálise ou pela Psiquiatria.
Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interferências
espirituais variadas, gerando quadros de obsessões complexas, para os quais
somente as técnicas espíritas alcançam os resultados desejados, por se
tratarem, esses agentes perturbadores, de Entidades extracorpóreas, porém portadores
dos mesmos potenciais das suas vítimas: sentimentos e emoções, inteligência e
lucidez, experiências e vidas.
*
O ser consciente é austero, mas sem carranca; é
jovial, porém sem vulgaridade; é complacente, no entanto sem conivência; é
bondoso, todavia sem anuência com o erro. Ajuda e promove aquele que lhe recebe
o socorro, seguindo adiante sem cobrar retribuição.
É responsável, e não se permite o vão repouso enquanto
o dever o aguarda. Conhecendo suas possibilidades, colocassem ação sempre que
necessário, aberto ao amor e ao bem.
Só o amadurecimento psicológico, através das experiências
vividas, libera a consciência do ser, e, ao consegui-la, ei-lo feliz,
conquistando a Terra da Promissão bíblica.
*
Este modesto livro, que ora trazemos à análise do caro
Leitor, pretende, sem presunção, auxiliá-lo na conquista da consciência.
Não apresenta qualquer técnica nova ou milagrosa. Estuda
algumas problemáticas humanas à luz da Quarta Força em Psicologia, colocando
uma ponte na direção da Doutrina Espírita, que é portadora de uma visão
profunda e integral do ser.
Confiamos que será útil a alguém que se encontre
aflito ou fugindo de si mesmo, ajudando-o na solução do seu problema, e isto
nos compensará plenamente .
Salvador, 19 de maio de 1993.
Joanna de Ângelis
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