A QUARTA FORÇA
Definição e conceito. O homem psicológico maduro.
Modelos e paradigmas. A nova estrutura do ser humano
Os estudiosos da criatura humana, embora os rígidos
controles exercidos pelas conquistas freudianas, anelavam por ampliar os
horizontes da compreensão em torno de fenômenos complexos e abrangentes,
transumanos, capazes de elucidar problemas profundos da personalidade.
As explicações junguianas amplas, procurando enfeixar
nos arquétipos todas as ocorrências ela paranormalidade, deixaram espaços para
reformulações de conceitos e especulações que se libertam dos modelos e
paradigmas acadêmicos, atendendo com mais cuidado, e observações menos
ortodoxas, os acontecimentos desprezados, por considerados patológicos ou
fraudulentos.
Vez que outra, surgiram ensaios e tentativas de ampliação
de conteúdos, como efeito das experiências de Rhine, Wilber, Grof, Kübler Ross,
Moody Jr., Maslow, Walsh, Vaughan, Assagioli, Capra e outros corajosos
pioneiros, que se preocuparam em ir além dos padrões estabelecidos, penetrando
a sonda da investigação no inconsciente e concluindo por novas realidades,
antes execradas, lentamente acumulando dados capazes de suportar refutação,
crítica e desprezo.
Era necessário revisar o potencial humano em toda a
sua complexidade, sem preconceitos nem receias.
As teorias apressadas, que pretendiam reduzir a alma a
um epifenômeno de vida efêmera, vinham sendo superadas pelas pesquisas de
laboratório na área da Parapsicoloqia,' da Psicobiofísica, da Psicotrônica e da
Ciência Espírita, cujos dados valiosos avolumaramse de tal forma, com a
contribuição da Transcomunicação Instrumental, que não havia outra alternativa senão
ampliar o esquema de interpretação do psiquismo, criando-se o que se
convencionou denominar como a Quarta Força - além do Comportamentalismo (Behaviorismo),
da Psicanálise e da Psicologia Humanista - que é a Psicologia Transpessoal ou
profunda.
Indispensável coragem para enfrentar o cepticismo e a
arrogância dos acadêmicos, dos reducionistas que, mesmo diante do numinoso, de
Jung, permaneciam aferrados ao organicismo e à hereditariedade, aos fatores
derivados das pressões de toda ordem, às sequelas das enfermidades infecciosas,
aos traumatismos físicos e psicológicos....
Os avanços da Física Quântica, a Relatividade do Tempo
e do Espaço, a Teoria da Incerteza, abriram perspectivas psicológicas dantes
sequer sonhadas, tendo-se em vista o conceito do vir-a-ser.
A abrangência da consciência como estágio mais levado
do processo antropológico-sociológico-psicológico do ser, passou a exigir mais
acurada penetração, ampliando o quadro de entendimento dos dementes (autist
savant ou sábio idiota), portadores de capacidades e aptidões luminosas,
perturbadoras... Revelando-se matemáticos, músicos, artistas plásticos, linguistas
que, de repente, romperam o véu do silêncio e passaram a comunicar-se com
lucidez, apresentando dotes de excepcional capacidade realizadora, puseram-se a
exigir elucidações que destruam as tradições negativas, atualizando a
predominância do Espírito sobre a matéria, da mente sobre' o cérebro gravemente
danificado, assim demonstrando que preexistem aos órgãos e os sobrevivem, ao
invés de serem suas elaborações ou efeitos dos seus mecanismos.
A grandiosa contribuição do pensamento oriental, de
Buda a Vivekananda, a Ramakrishna e outros, dos taoístas tibetanos aos físicos
nucleares, enseja a revisão dos parâmetros aceitos, bem como dos modelos
estabelecidos, propondo a identificação de fórmulas com aparência diversa, no
entanto, que se harmonizam, unindo as duas culturas - a do passado e a do presente
- em uma síntese perfeita, em favor de um homem e de uma mulher holísticos,
completos, ao revés de examinados em partes.
Esse concurso que se vinha insinuando multissecularmente,
logrou impor-se através das terapias liberadoras de conflitos, tais a
meditação, a respiração, a oração, a magnetização da água, a bioenergia, os
exercícios da tai-chi-chuan, o controle mental de inegáveis resultados nas mais
variadas áreas do comportamento, do inter-relacionamento pessoal, da saúde ...
Os diques erguidos pela intolerância romperamse ante
as novas conquistas, e as técnicas regressivas da memória, com exclusiva
definição terapêutica, o uso de algumas drogas psicodélicas como o ácido lisérgico,
a hipnose, demonstraram que muitos fatores psicopatogênicos são anteriores à
concepção do ser, eliminando a predominância genética na condição de
desencadeadora de psicoses, neuroses, conflitos e tormentos degeneradores da
personalidade...
A telepatia, a clarividência, os fenômenos retro e precognitivos,
as ectoplasmias, os deslocamentos de objetos sem contatos e outros facultaram
mais acurados exames do indivíduo, que a análise transpessoal pode abordar com
segurança ou neles apoiarse, a fim de solucionar os enigmas predominantes em pacientes
marginalizados pelas outras correntes da Psicologia ou facilmente rotulados de
psicopatas.
O ser humano é constituído de elementos complexos, que
escapam a uma observação superficial.
A conceituação materialista de forma alguma atende-lhe
as necessidades éticas e sociológicas, não logrando elucidar o ser psicológico,
exceto quando, ignorando-lhe a realidade transcendente, relega-a à indiferença,
à desconsideração catalogada de patologia irreversível.
O ser dual - Espírito e matéria - do espiritualismo
ortodoxo, permanece incompleto, deixando escapar incontáveis expressões de
conteúdo, por falta do elemento intermediário, processador de inúmeros fenômenos
que lhe completam a existência.
Somente quando estudado na sua plenitude Espírito,
perispírito e matéria - podem-se resolver todos os questionamentos e desafios
que o compõem, alargando-lhe as possibilidades de desenvolvimento do deus
interno, facultando completude, realização plenificadora, estado de Nirvana, de
samadhi, ou de reino dos Céus que lhe cumpre alcançar.
Essa gigantesca tarefa cabe à moderna Psicologia
Transpessoal ou Quarta Força, que inicia um período de real compreensão da
criatura como ser indestrutível que é, fadado à felicidade.
Definição e
conceito
Definir, de alguma forma, é limitar, restringir. Mesmo
quando as definições são elásticas, reduzem o pensamento e o enclausuram em
palavras, retendo as largas possibilidades que necessitam ser penetradas.
Conceituando a psicologia transpessoal, não nos podemos
furtar aos seus paradigmas, que ampliam as linhas das definições clássicas da
doutrina psicológica em si mesma, de modo a dar-lhe a abrangência que alcança o
ser humano na sua estrutura física, psíquica e transcendental.
Remontando-se à história do pensamento psicológico,
encontraremos os seus primeiros postulados na ética filosófica ancestral, que
se iniciou no ocidente com Anaxímenes e Anaxágoras, percorrendo todos os
períodos históricos até a sua formação organicista, na segunda metade do século
XIX, e prosseguindo pelas várias escolas freudiana, junguiana, adleriana, enquanto
se ia ampliando nas concepções humanista, comportamentalista e psicanalítica.
Nos seus primórdios, a ciência da alma encontrava-se
embutida nos conceitos socráticos e platônicos, preocupados com a criatura
humana dual, cujas origens se encontravam no mundo das ideias, para onde retornava
após o périplo carnal, a fim de experimentar felicidade ou desdita.
A sua ética moral, otimista, estimulava ao equilíbrio
mente-corpo, conduta saudável e solidariedade com as demais criaturas.
Procedente de uma realidade metafísica, o ser a ela
retornava com o somatório das experiências adquiridas, que lhe plasmariam
futuros renas cimentos na Terra, conforme os conteúdos existenciais vividos.
Nessa paisagem, o planeta terrestre pode ser considerado
uma escola, na qual se forma e aprimora o caráter, desenvolvendo o germe divino
que nele dorme, qual ocorre na semente com o vegetal...
Posteriormente, Aristóteles lhe agregou a enteléquia,
e propôs uma criatura trinária, seguindo os modelos da filosofia oriental e
recusando-se à aceitação dos episódios reencamacionistas necessários à
evolução.
Concomitantemente, as propostas atomistas reduziam o
ser humano ao amontoado de partículas infinitamente pequenas, esféricas, com
ganchos, segundo uns, ou deles destituídos, conforme outros, unindo-se e
desestruturando-se graças ao vácuo e ao movimento, resultando, portanto, do
capricho do acaso que os reúne e desagrega, produzindo vida e morte ao sabor
das ocorrências anômalas, eventuais.
Avançando, paralelamente, em antagonismo estrutural,
alcançaram culminâncias ora uma, ora outra corrente, através de São Tomaz de
Aquino ou de Leibniz, de Descartes ou Bacon ...
Enquanto o pensamento oriental estruturava o fenômeno
psicológico em um ser herdeiro de Deus e a Ele semelhante, isto é, portador de
recursos inimagináveis que lhe cabe desenvolver, ampliaram-se as concepções em
torno do universo, da criação, da vida, muito antes que a cultura ocidental se
apercebesse da causalidade do existir.
Como verdadeiro ponto de equilíbrio apareceu o pensamento
ético de Jesus, colocando uma ponte psicológica e filosófica entre as duas
civilizações, desenvolvendo o idealismo socrático e o reencamacionismo do vedanta
e do budismo, então fecundado pelo amor, único tesouro que logra produzir a
plenificação do ser humano.
Psicoterapeuta superior, Jesus não foi apenas o filósofo
e o psicólogo que compreendeu os problemas humanos e ensejou conteúdos
libertadores, mas permanece como terapeuta que rompeu as barreiras da personalidade
dos pacientes e penetrou-lhes a consciência de onde arrancou a culpa, a fim de
proporcionar a catarse salvadora e a recomposição da individualidade aturdida,
quando não em total infelicidade.
Possuidor de transcendente capacidade de penetração
nos arquivos do inconsciente individual e coletivo, Ele tornou-se o marco mais
importante da psicologia transpessoal, por adotar a postura mediante a qual
considera o indivíduo um ser essencialmente espiritual, em transitória
existência física, que faz parte do seu programa de autoburilamento.
Conscientizando as criaturas a respeito da sua responsabilidade
pessoal diante da vida, estabeleceu terapias de invulgar atualidade,
trabalhando a estruturação da personalidade, com o passo de segurança para a
aquisição da consciência.
No postulado não fazer ao próximo o que não deseja que
ele lhe faça, estatuiu a condição de segurança para a identificação do
indivíduo consigo mesmo, com o seu irmão e com o mundo no qual se encontra, proporcionando
urna ética simples e facilmente aplicável, no inter-relacionamento pessoal, sem
conflito nem culpa.
Da mesma forma, propondo o auto aperfeiçoamento pela
superação das paixões dissolventes, trouxe o futuro para o presente, tornando o
reino dos céus um estado de consciência lúcida, longe do sono, do sonho e das
psicoses totalmente superadas.
O Cristianismo, no entanto, através dos tempos, sofrendo
as injunções dos pseudoconversos, invariavelmente portadores de grandes traumas
e conflitos, procurou castrar e coibir todas as fontes de prazer, as expressões
existenciais, mediante regras e dogmas punitivos, que se caracterizaram pela
repressão, restrição e condenação.
Não obstante os luminares que, de vez em quando,
buscaram libertar os indivíduos do temor e do ódio, levando-os à confiança e ao
amor, quais São Francisco de Assis, Santa Tereza de Ávila e alguns outros,
predominaram a ignorância e o terror, produzindo urna consciência de culpa
coletiva, verdadeiro arquétipo de natureza punitiva, que venceu as gerações e
ressurge, ainda hoje, nos indivíduos e grupamentos sociais, fazendo-os responsáveis
pelo deicídio no Calvário - confundindo Jesus com Deus - ou, mais remotamente,
com a herança da tentação, em que Eva tombou, levando Adão ao erro, assim
tornando a mulher inferior no processo humano da evolução, em flagrante
desrespeito ao simbolismo da criação humana, que passou à condição de realidade.
O culto ao mito, ao símbolo, ao fantasioso, à aceitação
do modelo, são necessidades psicológicas, para os mecanismos de transferência
da realidade e fugas da consciência responsável.
Assumindo a postura teológica, responde por males que se
repetem milenarmente, possibilitando alienações e desditas inimagináveis.
- A evolução das ciências vem logrando anular esse efeito
pernicioso, e, graças ao advento da psicologia espírita com Allan Kardec,
recupera-se o ser humano do conflito em que se encontrava, promovendo-o à condição
de possuidor de valores preciosos que lhe cumpre desenvolver, embora a esforço
de trabalho paciente e constante.
A quarta força, alargando as imensas possibilidades da
psicologia, faz que sejam descortinadas as possibilidades ímpares para a
perfeita integração da criatura com o seu Criador, e da sua com a Consciência
Cósmica, pulsante e universal.
Nesse homem transpessoal cantam, então, as glórias da
vida e se dilatam os dons nele existentes, em pleno desenvolvimento da sua
realidade, que supera as culpas e as dores, as angústias e as inquietações,
tornando-o pleno e feliz.
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