Cap. XXVIII – Itens 46 a 52
Pelos nossos inimigos e pelos que nos querem mal
Pelos nossos inimigos e pelos que nos querem mal
46. PREFÁCIO. Disse Jesus: Amai os vossos
inimigos. Esta máxima é o sublime da caridade cristã; mas, enunciando-a,
não pretendeu Jesus preceituar que devamos ter para com os nossos Inimigos o
carinho que dispensamos aos amigos. Por aquelas palavras, ele nos recomenda que
lhes esqueçamos as ofensas, que lhes perdoemos o mal que nos façam,
que lhes paguemos com o bem esse mal. Além do merecimento que, aos olhos de
Deus, resulta de semelhante proceder, ele equivale a mostrar aos homens o em que consiste
a verdadeira superioridade. (Cap. XII, nº 3 e nº 4.)
47. Prece. - Meu Deus, perdoo a N... o mal que me fez e o que me
quis fazer, como desejo me perdoes e também ele me perdoe as faltas que eu haja
cometido. Se o colocaste no meu caminho, como prova para mim, faça-se a tua
vontade.
Livra-me, ó meu Deus, da ideia de o maldizer e de todo desejo
malévolo contra ele. Faze que jamais me alegre com as desgraças que lhe
cheguem, nem me desgoste com os bens que lhe poderão ser concedidos, a fim de
não macular minha alma por pensamentos indignos de um cristão.
Possa a tua bondade, Senhor, estendendo-se sobre ele, induzi-lo a
alimentar melhores sentimentos para comigo!
Bons Espíritos, inspirai-me o esquecimento do mal e a lembrança do
bem. Que nem o ódio, nem o rancor, nem o desejo de lhe retribuir o mal com outro
mal me entrem no coração, porquanto o ódio e a vingança só são próprios dos
Espíritos maus, encarnados e desencarnados! Pronto esteja eu, ao contrário, a
lhe estender mão fraterna, a lhe pagar com o bem o mal e a auxiliá-lo, se
estiver ao meu alcance.
Desejo, para experimentar a sinceridade do que digo, que ocasião se
me apresente de lhe ser útil; mas, sobretudo, ó meu Deus, preserva-me de
fazê-lo por orgulho ou ostentação, abatendo-o com uma generosidade humilhante,
o que me acarretaria a perda do fruto da minha ação, pois, nesse caso, eu
mereceria me fossem aplicadas estas palavras do Cristo: Já recebeste a tua
recompensa. (Cap. XIII, nº 1 e seguintes.)
Ação de graças pelo bem concedido aos nossos inimigos
48. PREFÁCIO. Não desejar mal aos seus inimigos é ser
apenas meio caridoso. A verdadeira caridade quer que lhes almejemos o bem e que
nos sintamos felizes com o bem que lhes advenha. (Cap. XII, nº 7 e nº 8.)
49. Prece. - Meu
Deus, entendeste em tua justiça encher de júbilo o coração de N... Agradeço-te
por ele, sem embargo do mal que me fez ou que tem procurado fazer-me. Se desse
bem ele se aproveitasse para me humilhar, eu receberia isso como uma prova para
a minha caridade.
Bons Espíritos que
me protegeis, não permitais que me sinta pesaroso por isso. Isentai-me da
inveja e do ciúme que rebaixam. Inspirai-me, ao contrário, a generosidade que
eleva. A humilhação está no mal e não no bem; e sabemos que, cedo ou tarde,
justiça será feita a cada um, segundo suas obras.
50. Bem-aventurados
os famintos de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os
que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Ditosos sereis,
quando os homens vos carregarem de maldições, vos perseguirem e falsamente
disserem contra vós toda espécie de mal, por minha causa. - Rejubilai-vos,
então, porque grande recompensa vos está reservada nos céus, pois assim
perseguiram eles os profetas enviados antes de vós. (S. MATEUS, cap. V, vv. 6 e
10 a 12.)
Não temais os que
matam o corpo, mas que não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode
perder alma e corpo no inferno. (S. MATEUS, cap. X, v. 28.)
51. PREFÁCIO. De todas as liberdades, a mais inviolável é
a de pensar, que abrange a de consciência. Lançar alguém anátema sobre os que
não pensam como ele é reclamar para si essa liberdade e negá-la aos outros, é
violar o primeiro mandamento de Jesus: a caridade e o amor do próximo.
Perseguir os outros, por motivos de suas crenças, é atentar contra o mais
sagrado direito que tem todo homem o de crer no que lhe convém e de adorar a
Deus como o entenda. Constrangê-los a atos exteriores semelhantes aos nossos é mostrarmos
que damos mais valor à forma do que ao fundo, mais às aparências, do que à
convicção. Nunca a abjuração forçada deu a quem quer que fosse a fé; apenas
pode fazer hipócritas. E um abuso da força material, que não prova a
verdade. A verdade é senhora de si: convence e não
persegue, porque não precisa perseguir.
O Espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse (1) até uma
religião, por que se não teria a liberdade de se dizer espírita, como se tem a
de se dizer católico, protestante, ou judeu, adepto de tal ou qual doutrina
filosófica, de tal ou qual sistema econômico? Essa crença é falsa, ou é
verdadeira. Se é falsa, cairá por si mesma, visto que o erro não pode
prevalecer contra a verdade, quando se faz luz nas inteligências. Se é
verdadeira, não haverá perseguição que a torne falsa.
(1) Ver "Reformador" de 1946, pág. 253; "Revue
Spirite", de dezembro de 1868; "Allan Kardec", de Zêus Wantuil e
Francisco Thiesen, vol. III, pág. 100. Nota da Editora da FEB.
A perseguição é o
batismo de toda ideia nova, grande e justa e cresce com
a magnitude e a importância da ideia.
O furor e o desabrimento dos seus inimigos são proporcionais ao temor que ela
lhes inspira. Tal a razão por que o Cristianismo foi perseguido outrora e por
que o Espiritismo o é hoje, com a diferença, todavia, de que aquele o foi pelos
pagãos, enquanto o segundo o é por cristãos. Passou o tempo das perseguições
sangrentas. é exato; contudo, se já não matam o corpo, torturam a alma,
atacam-na até nos seus mais íntimos sentimentos, nas suas mais caras afeições.
Lança-se a desunião nas famílias, excita-se a mãe contra a filha, a mulher
contra o marido; investe-se mesmo contra o corpo, agravando-se-lhe as
necessidades materiais, tirando-se-lhe o ganha-pão, para reduzir pela fome o
crente. (Cap. XXIII, nº 9 e seguintes.)
Espíritas, não vos
aflijais com os golpes que vos desfiram, pois eles provam que estais com a
verdade. Se assim não fosse, deixar-vos-iam tranquilos e não vos procurariam ferir. Constitui
uma prova para a vossa fé, porquanto é pela vossa coragem, pela vossa
resignação e pela vossa paciência que Deus vos reconhecerá entre os seus
servidores fiéis, a cuja contagem ele hoje procede, para dar a cada um a parte
que lhe toca, segundo suas obras.
A exemplo dos
primeiros cristãos, carregai com altivez a vossa cruz. Crede na palavra do
Cristo, que disse: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da
justiça, que deles é o reino dos céus. Não temais os que matam o corpo, mas que
não podem matar a alma." Ele também disse: "Amai os vossos inimigos,
fazei bem aos que vos fazem mal e orai pelos que vos perseguem. Mostrai que
sois seus verdadeiros discípulos e que a vossa doutrina é boa, fazendo o que
ele disse e fez.
A perseguição pouco
durará. Aguardai com paciência o romper da aurora, pois que já rutila no
horizonte a estrela d'alva. (Cap. XXIV, nº 13 e seguintes.)
52. Prece. -
Senhor, tu nos disseste pela boca de Jesus, o teu Messias:
"Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça; perdoai
aos vossos inimigos; orai pelos que vos persigam." E ele próprio nos deu o
exemplo, orando pelos seus algozes.
Seguindo esse
exemplo, meu Deus, imploramos a tua misericórdia para os que desprezam os teus
sacratíssimos preceitos, únicos capazes de facultar a paz neste mundo e no
outro. Como o Cristo, também nós te dizemos: "Perdoa-lhes, Pai, que eles não
sabem o que fazem."
Dá-nos forças para
suportar com paciência e resignação, como provas para a nossa fé e a nossa
humildade, seus escárnios, injúrias, calúnias e perseguições; isenta-nos de
toda ideia de represálias, visto que para todos
soará a hora da tua justiça, hora que esperamos submissos à tua vontade santa.
B - Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - O que Jesus quis dizer com “Amai os
vossos inimigos”?
2 - É suficiente não desejar mal aos inimigos?
3 - Extraia do texto acima a frase ou parágrafo que mais
gostou e justifique.
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