O Essencial
Face ao
inevitável processo de crescimento do Eu profundo, a vida assume
características variadas, e as oportunidades se deparam convidativas, acenando
com a libertação, que somente se consegue a penosos esforços.
Na fase
inicial da predominância egocêntrica, o ser projeta-se no mundo com o qual se
identifica, aprisionando-se no emaranhado das coisas exteriores, sob conflitos
que não tem condições de administrar, quase sempre desequilibrando-se e
passando a estados neuróticos de insatisfação, ansiedade, medo ou a alucinações
variadas.
O apego, essa
fixação perturbadora à impermanência, a que pretende dar perenidade,
constitui-lhe a meta existencial.
Mais tarde, em
tentativas de desvencilhamento da situação psicológica infantil, avança para a
posição egoísta, cultivando os valores pessoais, narcisistas, com os quais se
engolfa, despertando na amargura, sob os camartelos do tempo degenerador e da
frustração tormentosa.
O essencial,
quase sempre, permanece-lhe em plano secundário na paisagem psicológica das
aspirações conflitivas.
À medida que
amadurece, transfere-se das coisas e prisões egóicas para a conquista da sua
realidade: o desenvolvimento do Eu profundo que deve predominar comandando os
anelos e programas de libertação.
Somente a
consciência de si propiciar-lhe-á a visão diferenciadora dos fenômenos
perturbadores, em relação àqueloutros de plenificação.
Em tentativas
brilhantes e sucessivas de penetrar os níveis, os patamares da consciência,
psicólogos e estudiosos outros, das áreas das ciências psíquicas, levantam-lhe
a cartografia que, variando de escola e estágio, segue os mesmos processos de
desenvolvimento que são compatíveis com o crescimento do ser, conforme as suas
experiências vivenciais na busca da saúde real.
Desejando
ampliar o campo da análise dos seus pacientes, enquanto Freud fundamentava a
Psicanálise e a difundia, Roberto Assagioli, na Itália, porque defrontava com
dificuldades para aplicar, em alguns deles, as recomendações da doutrina que
absorvera do mestre vienense, começou a trabalhar na organização da
Psicossíntese, na qual encontrou mais amplos recursos terapêuticos para
liberá-los, assim alargando os campos do entendimento das personalidades
conflitivas.
Posteriormente,
o bioquímico Robert De Ropp, estudando carinhosamente as reações cerebrais,
entre outras experiências, e buscando produzir estados alterados de
consciência, formulou as bases e os paradigmas da sua Psicologia Criativa,
inspirando-se nas experiências de George Ivanovitch Gurdjieff, com os seus
complexos contributos psicológicos e cosmológicos místicos.
Buscando
interpretar o mestre russo, De Ropp classificou os níveis de consciência em
cinco estágios: consciência de sono sem sonhos; de sono com sonho; de sono
acordado; de transcendência do eu e de consciência cósmica...[1]
Para ele, o
homem evolve de maneira inesperada, às vezes, de um para outro nível,
especialmente nos dois primeiros estágios de adormecimento...
Mediante
psicoterapia acurada e exercícios cuidadosos, logra-se o avanço pelos diversos
patamares, até a etapa final, que se torna de difícil verbalização face às
emoções e descobrimentos conseguidos, nesse momento de perfeita integração com
o que poderíamos chamar o Logos, o pensamento divino.
No primeiro
nível — quando se transita no sono sem sonhos — apenas os fenômenos orgânicos
automáticos se exteriorizam, assim mesmo sem o conhecimento da consciência,
tais: respiração, digestão, reprodução, circulação sanguínea...
Como se
estivesse anestesiada, ela não tem ação lúcida sobre os acontecimentos em torno
da própria existência, e a ausência de vontade do indivíduo contribui para o
seu trânsito lento do instinto aos pródromos da razão.
No segundo
nível, o sono com sonhos, ele libera clichês e lentamente incorpora-os à
realidade, passando pelas fases dramáticas — os pesadelos, os pavores — para os
da líbido — ação dos estímulos sexuais — e os reveladores — que dizem respeito
à parcial libertação do Espírito quando o corpo está em repouso...
O
desenvolvimento da consciência atinge o terceiro nível, o de sono acordado, no
qual a determinação pessoal, aliada à vontade, conduz o ser aos ideais de
enobrecimento, à descoberta da finalidade da sua existência, às aspirações do
que lhe é essencial, ao auto encontro, à realização total.
Naturalmente,
a partir daí, ascende ao quarto estado, que é a descoberta da transcendência do
eu, a identificação consigo mesmo, com a consequente liberação do Eu profundo,
realizando a harmonia íntima com os ideais superiores, seu real objetivo
psicológico existencial.
A superação
dos conflitos, das angústias, a desidentificação dos conteúdos psicológicos
afugentes, permitem a iluminação, e a próxima é a meta da vinculação com a
consciência cósmica.
Nem sempre,
porém, o homem e a mulher conseguem alcançar esse nível ideal, fenômeno que,
não obstante, será realizado através das reencarnações que lhes facultarão a
vitória sobre os carmas negativos e, mediante as leis de causa e efeito, passo
a passo, em esforço contínuo poderão fazê-lo.
Da mesma
forma, a reencarnação aclara a cartografia da consciência de De Ropp, quando
ele analisa os níveis que diferenciam os indivíduos na imensa mole humana.
As
experiências acumuladas promovem ou retêm o indivíduo nos fenômenos decorrentes
das ações praticadas, beneficiando-os ou afligindo-os com as sombras que lhes
permanecem dominadoras, na condição de resíduos espirituais. A consciência
filtra-os e, por não os poder digerir, transforma-os em conflitos,
perturbações, estados psicopatológicos, requerendo terapias especializadas e
contínuas.
Em qualquer
nível, porém, a partir do sono com sonhos, a vontade desempenha um papel
relevante, impulsionando o ser a novas realizações e conquistas completadoras
que enriquecem o arsenal psicológico, amadurecendo o essencial à vida e
selecionando-o do amontoado egóico do supérfluo.
Psicoterapeuta
Excepcional com a Sua visão realista e criativa, Jesus definiu a necessidade de
buscar-se primeiro o reino dos Céus, pois que esse fanal ensejaria a conquista
de todas as outras coisas. E óbvio que, ao se adquirir o essencial, todas as
coisas perdem o significado, por se encontrarem destituídas de valor face ao
que somente é fundamental. Outrossim, alertou sobre o imperativo de fazer-se ao
próximo o que se gostaria que este lhe fizesse, fixando no amor o processo de
libertação, na ação edificante o meio de crescimento e na oração fortalecedora
a energia que proporciona o desiderato.
Esse
desempenho favorece a perfeita identificação do sentimento com o conhecimento,
resultando na conquista do Eu profundo em sintonia com a Consciência Cósmica.
[1]
(*) Vide:
Rumo às estrelas — Luis C. Postiglioni — Capítulo 20 — Espíritos
diversos
— Instituto de Difusão Espírita. Médiuns e Mediunidade —
Espírito
Vianna de Carvalho — Capítulo 5 — Editora Arte e Cultura. - Nota
da Autora espiritual.
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