Capítulo 8 -
Preparativos para o retorno
O estudo na Mansão era fascinante, mas
reclamava tempo.
No entanto, a oportunidade que nos fora
oferecida era das mais valiosas.
Hilário e eu solicitamos o assentimento das
autoridades a que devíamos consideração e efetuamos proveitosa entrosagem de
serviços, permanecendo sediados no instituto por alguns meses, de maneira a
recolher ensinamentos e fixar observações. Foi assim que nos dispusemos a
partilhar com Silas o trabalho atinente ao “processo Antônio Olímpio”, a cuja
fase inicial assistíramos com fervoroso interesse.
Após seis dias sobre a reunião em que ouvimos a
palavra de Sânzio, o grande Ministro, a irmã Alzira veio ao estabelecimento, em
obediência ao programa que Druso passou a traçar para as tarefas que lhe diriam
respeito. Designado pelo diretor da casa, Silas recebeu-a em nossa companhia,
alegando que, juntos, atenderíamos ao problema, agindo em cooperação.
A nobre criatura, depois das saudações usuais,
esclareceu-nos que, amparada por amigos de certa colônia socorrista, fazia o
possível por ajudar ao filho que deixara na Terra.
– Luís, cujo espírito se afinava com os antigos
sentimentos paternos, apegando-se aos lucros materiais exagerados –
informou-nos a interlocutora –, sofria tremenda obsessão no próprio lar. Sob
teimosa vigilância dos tios desencarnados, que lhe acalentavam a mesquinhez,
detinha larga fortuna, sem aplicá-la em coisa alguma. Enamorara-se do ouro com
extremada volúpia. Submetia a esposa e dois filhinhos, às mais duras
necessidades, receoso de perder os haveres que tudo fazia por defender e
multiplicar. Clarindo e Leonel, não satisfeitos com lhe seviciarem a mente,
conduziam para a fazenda usurários e tiranos rurais desencarnados, cujos
pensamentos ainda se enrodilhavam na riqueza terrestre, para lhe agravarem a
sovinice. Luís, desse modo, respirava num mundo de imagens estranhas, em que o
dinheiro se erigia em tema constante. Perdera, por isso, o contato com a
dignidade social. Tornara-se inimigo da educação e acreditava tão-somente no
poder do cofre recheado para solucionar as dificuldades da vida. Adquirira o
doentio temor de todas as situações em que pudessem surgir despesas
inesperadas. Possuía grandes somas em estabelecimentos bancários que a própria
companheira desconhecia, tanto quanto mantinha em custódia no lar enormes bens.
Fugia deliberadamente à convivência afetiva, relaxara a própria apresentação
individual e encravara-se em deplorável misantropia, obcecado pelo pesadelo do
ouro que lhe consumia a existência.
Em seguida, a distinta senhora, buscando
orientar as nossas futuras atividades, participou-nos que o afogamento dos
cunhados se verificara em seus tempos de recém-casada, quando o filhinho mal
ensaiava os primeiros passos, e que, após seis anos sobre a dolorosa
ocorrência, encontrara, ela também, a desencarnação no lago terrível. Antônio
Olímpio lhe sobrevivera, na esfera carnal, quase três lustros e, por vinte
anos, precisamente, padecia nas trevas. Luís, dessa forma, alcançava a madureza
plena, tendo atravessado os quarenta anos de experiência física.
Ante a palavra do Assistente, que indagou
quanto aos seus tentames de socorro ao marido desencarnado, Alzira declarou que
isso lhe fora realmente impossível, porque as vítimas se haviam transformado em
carcereiros ferozes do infeliz delinquente, e como, até então, não conseguira
escudar-se em qualquer equipe de trabalho assistencial, não lhe permitiam os
verdugos qualquer aproximação. Ainda assim, em ocasiões fortuitas, dispensava
ao filho, à nora e aos dois netos algum amparo, o que se lhe fazia extremamente
difícil, de vez que os obsessores velavam, irredutíveis, guerreando-lhe as
influências.
À vista da pausa espontânea que se fizera em nosso
entendimento, num testemunho de comovedora humildade consultou a Silas se a
Mansão poderia facultar-lhe uma visita ao esposo, antes da viagem à procura do
filho, segundo as tarefas programadas.
O Assistente aquiesceu, com o maior carinho, e
guiamo-la, nós três, até o compartimento em que Antônio Olímpio repousava.
Avizinhando-se-lhe do leito, e ao vê-lo ainda
prostrado e inconsciente, notei que o semblante da nobre senhora acusava
visível alteração. As lágrimas borbulhavam-lhe, incoercíveis, dos olhos, agora
conturbados por imensa dor. Afagou-lhe a cabeça, em que os traços fisionômicos,
a meu ver, se reajustavam, pouco a pouco, e chamou-o pelo nome várias vezes.
O enfermo abriu os olhos, pousando-os sobre nós
sem qualquer expressão de lucidez, pronunciando monossílabos desconexos.
Registrando-lhe a ruína mental, a notável
mulher pediu a Silas permissão para orar, em nossa companhia, junto do esposo,
o que lhe foi concedido prazerosamente.
Diante da nossa surpresa, Alzira ajoelhou-se à
cabeceira, conchegou-lhe o busto de encontro ao colo, à maneira de abnegada mãe
procurando conservar entre os braços um filhinho doente, e, levantando os olhos
lacrimosos para o Alto, clamou, humilde, segundo a sua fé:
“Mãe
Santíssima!
“Anjo
tutelar dos náufragos da Terra, compadece-te de nós e estende-nos tuas mãos
doces e puras!...
“Reconheço,
Senhora, que ninguém te dirige, debalde, a palavra de aflição e de dor...
“Sabemos
que o teu coração compassivo é luz para os que se tresmalham nas sombras do
crime, e amor para todos os que mergulham nos abismos do ódio...
“Perdoaste aos que te aniquilaram o Filho
Divino nos tormentos da cruz e, além da paciência com que lhes suportaste os
insultos, vieste ainda do Céu, ofertando-lhes braços protetores!
“Mãe
Bondosa, tu que ergues os caídos de tantas gerações terrenas e que saras,
piedosamente, as feridas de quantos se petrificaram na crueldade, lança
caridoso olhar sobre nós, meu esposo e eu, jungidos às consequências de duplo
homicídio que nos fazem sangrar os corações. Eu e ele estamos enovelados nas
teias de nosso delito. Embora estivesse ele sem mim, nas águas fatídicas,
enquanto nossos irmãos experimentavam a asfixia mortal, sou-lhe partícipe das
responsabilidades e identifico-me associada ao crime, também eu...
“Meu
esposo, Mãe do Céu, devia ter o coração envolvido em pesada nuvem, quando se
desvairou na estranha deliberação que nos chagou as consciências...
“Para
os outros poderá ele ser tido como um impenitente que se apropriou de recursos
alheios, infligindo a morte aos próprios irmãos, menos para meu filho e para
mim, que lhe recebemos os maiores testemunhos de amor... Para outros, será réu,
diante da Lei... Para nós, porém, é o companheiro e o amigo fiel... Para os
outros, parecerá um egoísta sem direito à remissão, mas, para nós, é o
benfeitor que nos assistiu na Terra, com imensurável ternura...
“Como
não ser egoísta e criminosa também eu, Mãe Querida, se lhe usufruí os bens e me
alimentei do carinho de seu coração? como não ser igualmente responsável na
culpa, se toda a culpa dele se prendia ao propósito, embora louco, de
assegurar-me superioridade em minha condição de mulher e de mãe?!...
“Advoga-nos
a causa, Mediadora Celeste! “Faze-nos voltar, juntos, à carne em que
delinquimos, para que possamos expiar nossos erros!...
“Concede-me a graça de segui-lo. como
servidora contente e agradecida, religada a quem devo tanta felicidade!...
“Reúne-nos
novamente no mundo e auxilia-nos a devolver com lealdade e valor aquilo que
roubamos.
“Não
permitas, Anjo Divino, que venhamos a sonhar com o Céu, antes de resgatar
nossas contas na Terra, e ajuda-nos a aceitar, dignamente, a dor que reedifica
e salva!...
“Mãe,
atende-nos!
“Estrela
de nossa vida, arranca-nos da escuridão do vale da morte!...”
Diante de nós, o inesperado compelia-nos ao
êxtase.
Enquanto falava em lágrimas, coroara-se Alzira
de safirino esplendor.
A doce claridade a se lhe irradiar do coração
inundara todo o aposento e, assim que a sua voz emudeceu, embargada e ofegante,
excelso jorro de prateada luz desceu do Alto, atingindo-nos a todos e
comunicando-se especialmente ao enfermo, que desferiu longo gemido de dor
humanizada e consciente.
A prece de Alzira lograra um êxito que as
operações magnéticas de Druso não haviam conseguido alcançar.
Antônio Olímpio descerrou desmesuradamente as
pálpebras e mostrou no olhar a lucidez dos que despertam de longo e torturado
sono... Agitou-se, sentindo na face as lágrimas da esposa que o beijava,
enternecida, e bradou, tomado de selvagem contentamento:
– Alzira! Alzira!...
Ela conchegou-o, de encontro ao peito, com mais
ternura, como quem quisesse pacificar-lhe o espírito atormentado, mas, a um
sinal de Silas, dois enfermeiros aproximaram-se, restituindo-o ao sono.
Tentei algo dizer à sublime mulher, cuja oração
nos erguera a tão culminante emotividade, mas não consegui. Somente aqueles que
viajaram, por muitos e muitos anos, sob a névoa da saudade e da angústia,
poderão entender a comoção que naquela hora nos dominara, irresistível.
Procurei observar o semblante de Hilário, mas meu companheiro mergulhara a
cabeça nas mãos e, fitando o valoroso Assistente, notei que Silas buscava
enxugar as lágrimas dos olhos... Consolei-me.
Os grandes corações daquela casa de amor
igualmente choravam, tanto quanto eu, mísero pecador, em luta por sanar minhas
deficiências e, contemplando Alzira, que se achava agora de pé, acariciando os
cabelos do infeliz, tive a ideia de que um anjo do Céu visitava um penitente do
inferno.
Foi Silas quem nos arrancou ao silêncio,
oferecendo o braço à abnegada irmã, para a saída, e explicando, prestimoso:
– A oração trouxe-lhe imenso bem, mas não lhe
convém o despertamento senão gradativo. O sono natural e reparador ainda é uma
necessidade em sua restauração positiva.
Alzira afastou-se como que mais tranquila,
apesar da flagelação moral do reencontro.
Minutos de valiosa conversação desfrutamos,
ainda, nos diversos setores de trabalho do grande instituto, até que, no
momento aprazado, nos ausentamos, os quatro, devorando o caminho que para a
nossa companheira representava uma senda de retorno ao antigo lar.
Na paisagem terrestre, enchia-se a madrugada de
névoa rala e fria.
De volta aos velhos sítios que lhe haviam
assinalado a dolorosa experiência, Alzira não disfarçava a emoção de que se via
objeto. Levemente amparada pelo braço de Silas, designava, aqui e ali, esse ou
aquele trecho dos caminhos e pastagens que lhe evocavam mais expressivas
recordações...
De repente, desvelou-se-nos, em estreita
planície, o casario em que se lhe desenvolvera o drama funesto. Em verdade, o luar
revelava sólida construção em franca decadência. Extensos pátios laterais
exibiam grandes jardins arruinados pelo pisoteio constante dos bovinos de
grande porte. Porteiras desconjuntadas, tapumes derruídos e as varandas imundas
falavam, sem palavras, da desídia dos moradores. E entidades estranhas,
embuçadas em largos véus de sombra, transitavam, absortas, nos grandes
terreiros, como se ignorassem a presença umas das outras.
Com o visível receio de se fazer ouvida, a
esposa de Olímpio notificou-nos, em surdina:
– São onzenários desencarnados, trazidos
sub-repticiamente até aqui por Leonel e Clarindo, de modo a fortalecerem a
usura no espírito de meu filho.
– Não nos enxergam? – perguntou Hilário
compreensivelmente intrigado.
– Não – confirmou Silas. – Com certeza nos
identificam a chegada, entretanto, pelo que deduzo, encontram-se demasiadamente
fixados nas ideias em que se mancomunam. Não se preocupam com a nossa presença,
desde que lhes não penetremos a faixa mental, comungando-lhes os interesses.
– Isso quer dizer – comentei – que se algo lhes
falássemos acerca da fortuna terrena, excitando-lhes o gosto da posse humana,
indiscutivelmente nos dispensariam a melhor atenção...
– Exatamente.
– E por que não o fazer? – inquiriu meu
companheiro, curioso.
– Não nos seria lícito desperdiçar tempo –
respondeu-nos o amigo –, mesmo porque o trabalho que nos compete espera por nós
a reduzidos passos, e ignoramos, até agora, como se nos desdobrarão as tarefas.
Com efeito, entramos e o movimento no interior
doméstico era de pasmar. Desencarnados de horripilante aspecto iam e vinham,
através dos corredores extensos, conversando, aloucados, como se estivessem
falando para dentro de si próprios. Tentei algo registrar do que me era dado
ouvir e o ouro constituía assunto fundamental de todos os solilóquios a se
entrechocarem sem nexo.
Qual se percebesse, com mais funda acuidade, as
tramas do ambiente, Silas estacou de chofre e, deixando-nos os três em recuado
ângulo de velha sala, ausentou-se, recomendando-nos aguardar-lhe o retorno,
cautelosamente.
Pretendia estudar, com antecipação, nosso
quadro de serviço. Decorridos alguns minutos, voltou a buscar-nos. Conduziu a
irmã Alzira para o aposento em que Adélia, a dona da casa, repousava junto dos
filhinhos, explicando que não era conveniente que Alzira se encontrasse logo
com os irmãos transformados em verdugos, e ali a deixamos sob a custódia de
Hilário que, evidentemente, a contragosto se deixou ficar distanciado de nós,
atendendo aos imperativos de vigilância.
A sós comigo, o Assistente esclareceu que, para
efetuar o socorro com o proveito desejável, precisaríamos, antes de tudo, saber
ouvir e que, em razão disso, procurasse de minha parte não lhe estorvar as
atividades, na hipótese de me sentir assaltado por qualquer estranheza, diante
das atitudes que ele fosse obrigado a assumir.
Compreendi quanto queria Silas dizer e
dispus-me a observar, aprender e contribuir, sem alarde.
Penetramos estreito compartimento, onde alguém
contemplava grandes maços de papel-moeda, acariciando-os com um sorriso
malicioso.
No intuito de trazer-me bem informado, o
Assistente segredou- me ao ouvido:
– Este é Luís, que, desligado do corpo pela
influência do sono, vem afagar o dinheiro que lhe nutre as paixões.
Tínhamos pela frente um homem maduro, mas de
fisionomia ainda moça, relaxado nas maneiras, cujos olhos parados sobre as
cédulas encimavam-lhe a esquisita expressão de cobiça vitoriosa.
Relanceou apressadamente o olhar em volta, com
a indiferença de quem não nos conseguia ver, e, tão logo após um minuto de
observação nossa, qual se estivera ele vigiado por cérberos invisíveis, dois
homens desencarnados, de presença desagradável, penetraram no pequeno recinto
e, dirigindo-se desabridamente para nós, um deles interrogou:
– Quem são? quem são vocês?
– Somos amigos – replicou Silas, maquinalmente.
– Bem – aventou o outro –, nesta casa ingressam
somente aqueles que saibam valorizar o dinheiro...
E, designando Luís, acrescentou:
– Para que ele não se esqueça de preservar a
fortuna que é nossa.
Intuitivamente concluí que encarávamos com
Leonel e Clarindo, os irmãos espoliados de outro tempo. Certo, porque lhes
devêssemos algum esclarecimento à expectativa feroz com que nos seguiam os
mínimos movimentos, Silas ajuntou:
– Sim, sim... quem não estimará os haveres que
lhe pertençam?
– Muito bem! muito bem!... – responderam,
satisfeitos, ambos os perseguidores, esfregando as mãos, na alegria de quem
supostamente encontrava mais combustível para a fogueira de vingança a que se
entregavam com desvario espantoso. E, adquirindo imediata confiança em nós,
ante as palavras com que o Assistente lhes sossegara a inquietação, Clarindo, o
mais brutalizado dos dois, passou a dizer:
– Fomos vítimas de terrível traição e perdemos
o corpo aos golpes de um irmão infeliz que nos pilhou os bens, e aqui estamos
para o desforço justo.
Gargalhou de estranha maneira e acentuou:
– O maldito, porém, acreditou que a morte lhe
apagaria o crime e que nós, os desventurados que lhe sucumbimos às mãos,
estaríamos reduzidos a pó e cinza. Apossou-se-nos dos haveres, depois de
promover um acidente espetacular, no qual fomos por ele assassinados sem
compaixão. De que lhe valeu, no entanto, gozar à nossa custa, se a morte não
existe e se os delinquentes, no corpo ou fora dele, estão algemados às
consequências das suas ações? O bandido sofrerá os resultados da infâmia contra
nós e aqui respira o filho dele, cujos menores movimentos governaremos, até que
nos restitua a fortuna de que somos legítimos senhores...
Por tempo relativamente longo, ambos
despenderam largo repertório de lamentações, reforçando as cores do sinistro
painel mental a que se acomodavam. E, talvez cansados de martelar nas mesmas
alegações, sem qualquer resposta de nossa parte, confiaram- se a pausa mais
dilatada, que Clarindo rompeu, dirigindo-se ao Assistente em tom amargo:
– Não admitem vocês que temos razão?
– Sim – aprovou Silas, enigmático –, todos
temos razão, entretanto...
– Entretanto? – atalhou Leonel, algo cínico –
quererá, porventura, interferir em nossos propósitos?
– Nada disso – consertou meu amigo com inflexão
jovial. – Desejo simplesmente lembrar que por dinheiro já lutei excessivamente,
crendo que o direito prevalecia de meu lado...
Certo porque a observação algo dúbia chocava os
interlocutores, o chefe de nossa expedição valeu-se da expectativa natural e
perguntou:
– Amigos, vemos que esta casa permanece
largamente povoada de irmãos nossos ensandecidos... Serão todos eles credores
desta família infortunada?
O olhar inteligente que o companheiro me
endereçou deu-me a perceber que o inquérito afetuoso guardava o objetivo de
entreter a confiança dos vingadores intrigados.
Leonel, que me parecia o cérebro da empresa
delituosa, foi presto na resposta.
– É que, até agora – falou, impassível –,
precisávamos dividir o tempo entre pai e filho, e, por isso, localizamos aqui,
temporariamente, os onzenários enlouquecidos que, fora do campo carnal, apenas
mentalizam o ouro e os bens a que se afeiçoaram no mundo, de modo a nos
favorecerem a tarefa. Acompanhando o sovina que nos obedece ao comando,
constrangem-no a viver, tanto quanto possível, com a imaginação aprisionada ao
dinheiro que ele ama com tresloucada paixão.
– No entanto, presentemente – informou
Clarindo, magoado –, o criminoso que sitiávamos nas trevas nos foi arrebatado à
vigilância. Disporemos de mais tempo para acelerar a nossa desforra. Pagará o
filho dobrado preço, já que o assassino foi ocultado aos nossos olhos...
Longe de qualquer precipitação na defesa da
verdade e do bem, o Assistente falou, calmo:
– O esclarecimento nos faz crer que este homem,
– e designou Luís, que prosseguia fascinado pelos maços de cédulas da gaveta
abarrotada –, além do apego enfermiço à precária riqueza humana, ainda sofre a
pressão de outras mentes, alucinadas quanto à dele, nos enganos da posse
material. Neste caso, o doentio desejo de que se sente objeto é naturalmente
elevado à tensão máxima...
Leonel, percebendo que Silas penetrava o âmago
do problema com surpreendente facilidade, explicou, entusiasmado:
– Sim, aprendemos nas escolas de vingadores[1]
que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em qualquer fase da
vida, um “desejo-central” ou “tema básico” dos interesses mais íntimos. Por
isso, além dos pensamentos vulgares que nos aprisionam a experiência rotineira,
emitimos com mais frequência os pensamentos que nascem do “desejo-central” que
nos caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante
de nossa personalidade. Desse modo, é fácil conhecer a natureza de qualquer
pessoa, em qualquer plano, através das ocupações e posições em que prefira
viver. Assim é que a crueldade é o reflexo do criminoso, a cobiça é o reflexo
do usurário, a maledicência é o reflexo do caluniador, o escárnio é o reflexo
do ironista e a irritação é o reflexo do desequilibrado, tanto quanto a
elevação moral é o reflexo do santo... Conhecido o reflexo da criatura que nos
propomos retificar ou punir é, assim, muito fácil superalimentá-la com
excitações constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes
na imaginação e criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa
forma, a fixação mental. Com esse objetivo, basta alguma diligência para
situar, no convívio da criatura malfazeja que precisamos corrigir, entidades
outras que se lhe adaptem ao modo de sentir e de ser, quando não possamos por
nós mesmos, à falta de tempo, criar as telas que desejemos, com vistas aos fins
visados, por intermédio da determinação hipnótica. Através de semelhantes
processos, criamos e mantemos facilmente o “delírio psíquico” ou a “obsessão”,
que não passa de um estado anormal da mente, subjugada pelo excesso de suas
próprias criações a pressionarem o campo sensorial, infinitamente acrescidas de
influência direta ou indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas por
seu próprio reflexo.
E, sorrindo, o inteligente perseguidor disse,
sarcástico:
– Cada um é tentado exteriormente pela tentação
que alimenta em si próprio.
De mim mesmo, achava-me perplexo. Nunca ouvira
um verdugo, aparentemente vulgar, com tanto conhecimento e consciência de seu
papel. Figurava-se-me assistir a um curso rápido de sadismo mental,
extravagante e frio.
Silas, mais treinado que eu, no trato com os
amigos daquela condição, não exteriorizou qualquer sentimento de pesar ou de
assombro, na fisionomia serena. Entremostrando, porém, grande interesse em
torno da preleção, considerou:
– Indiscutivelmente, a exposição é perfeita.
Cada qual de nós vive e respira nos reflexos mentais de si mesmo, angariando as
influências felizes ou infelizes que nos mantêm na situação que buscamos... Os
Céus ou as Esferas Superiores são constituídos pelos reflexos dos Espíritos
santificados e o inferno...
– É o reflexo de nós mesmos – completou Leonel
com uma gargalhada.
Creio que, em me assinalando o interesse no
aprendizado em curso, o Assistente pediu ao irmão de Clarindo alguma
demonstração prática do que afirmara teoricamente para nosso estudo, ao que ele
assentiu com prazer, informando:
– O avarento sob nossa vista guarda o propósito
de comprar ou extorquir determinada gleba vizinha, a qualquer preço, mesmo em
se tratando de transação criminosa, para valorizar as aguadas da propriedade
que nos pertence. Tratando-se de assunto no tema essencial da existência dele,
que é a cobiça, facilmente recolherá as imagens que eu lhe deseje transmitir,
utilizando-me da própria onda mental em que as suas ideias habitualmente se
exprimem...
E, passando das palavras para a ação, colocou a
destra sobre a fronte de Luís, mantendo-se na profunda atenção do hipnotizador
governando a presa.
Vimos o pobre amigo, desligado do corpo físico,
arregalar os olhos com a volúpia do faminto que contempla um prato saboroso, a
distância, e exibir uma carantonha de maldade satisfeita, falando a sós:
– Agora! agora! as terras serão minhas! muito
minhas! Ninguém concorrerá com meus preços! ninguém!...
Logo após, afastou-se, lépido, com a expressão
indefinível de um louco. Acompanhamo-lo até à saída e, da extensa varanda,
podíamos vê-lo, avançando, à pressa, desaparecendo, por fim, no grande maciço
de arvoredo próximo, na direção de fazendola fronteiriça.
– Viram? – exclamou Leonel, contente –
transmiti-lhe ao campo mental um quadro fantástico, através do qual as terras
do vizinho estariam em leilão, caindo-lhe, enfim, nas unhas. Bastou que eu
mentalizasse uma tela nesse sentido, arquitetando o sítio à venda, para que ele
a tomasse por realidade indiscutível, porquanto, em se tratando de nosso
reflexo fundamental, somos induzidos a crer naquilo que desejamos aconteça...
Tão logo termine o fluxo controlado de minha influenciação hipnótica, retomará
o corpo carnal, lambendo os beiços, na certeza de haver sonhado com a falência
da granja sobre a qual pretende um título de posse. Silas, com manifesta
intenção, ajuntou, sereno:
– Ah! sim!... Estamos diante de um processo de
transmissão de imagens, até certo ponto análogo aos princípios dominantes na
televisão, no reino da eletrônica, atualmente em voga no plano terrestre.
Sabemos que cada um de nós é um fulcro gerador de vida, com qualidades
específicas de emissão e recepção. O campo mental do hipnotizador, que cria no
mundo da própria imaginação as formas-pensamentos que deseja exteriorizar, é
algo semelhante à câmara de imagem do transmissor comum, tanto quanto esse
dispositivo é idêntico, em seus valores, à câmara escura da máquina
fotográfica. Plasmando a imagem da qual se propõe extrair o melhor efeito,
arroja-a sobre o campo mental do hipnotizado que, então, procede à guisa do
mosaico em televisão ou à maneira da película sensível do serviço fotográfico.
Não ignoramos que na transmissão de imagens, a distância, o mosaico, recolhendo
os quadros que a câmara está explorando, age como um espelho sensibilizado,
convertendo os traços luminosos em impulsos elétricos e arremessando-os sobre o
aparelho de recepção que os recebe, através de antenas especiais,
reconstituindo com eles as imagens pelos chamados sinais de vídeo, e
recompondo, dessa forma, as cenas televisadas na face do receptor comum. No
problema em estudo, você, Leonel, criou os quadros que se propôs transmitir ao
pensamento de Luís, e, usando as forças positivas da vontade, coloriu-os com os
seus recursos de concentração na sua própria mente, que funcionou como câmara
de imagem. Aproveitando a energia mental, muito mais poderosa que a força
eletrônica, projetou-os, como legítimo hipnotizador, sobre o campo mental de
Luís, que funcionou qual mosaico, transformando as impressões recebidas em
impulsos magnéticos, a reconstituírem as formas-pensamentos plasmadas por você
nos centros cerebrais, por intermédio dos nervos que desempenham o papel de
antenas específicas, a lhes fixarem as particularidades na esfera dos sentidos,
num perfeito jogo alucinatório, em que o som e a imagem se entrosam
harmoniosamente, como acontece na televisão, em que a imagem e o som se associam
com o apoio eficiente de aparelhos conjugados, apresentando no receptor uma
sequência de quadros que poderíamos considerar como sendo “miragens técnicas”.
Os vingadores, tanto quanto eu mesmo,
registraram o esclarecimento, sumamente surpreendidos. O Assistente, psicólogo,
valera-se de argumentação à altura da que assinaláramos na boca de Leonel,
certamente para cientificá-lo de que ele também, Silas, conhecia os processos
da obsessão em suas minudências.
Leonel, admirado, abraçou-o e exclamou:
– Companheiro, companheiro, de que escola
procede você?
Sua inteligência interessa-nos.
O chefe de nossa expedição pronunciou alguns
monossílabos e chamou-me à retirada, pretextando serviço a fazer. Os irmãos,
avezados à rebeldia, permutaram estranho olhar, como a dizerem entre si que
pertencíamos a algum núcleo infernal distante e que lhes não convinha
molestar-nos. Insistiram, porém, conosco a que retornássemos no dia seguinte
para a troca de ideias, ao que Silas anuiu com evidente satisfação.
Mais alguns minutos e o Assistente, em minha
companhia, retirou
Alzira e Hilário para o exterior, colocando-nos
todos de regresso à Mansão.
O prestimoso servidor do bem, na viagem de
volta, mantinha-se silencioso, pensando, pensando... Contudo, diante de minha
perplexidade, aclarou, fraterno:
– Não, André. Ainda é cedo para apresentar
Alzira aos infortunados verdugos. Pela conversação de Leonel, percebi que
cruzamos o caminho de duas vigorosas inteligências, cuja modificação inicial há
de ser feita com amor para realizar-se com segurança.
Voltaremos amanhã, sem a presença de nossa
amiga, para um entendimento mais estável e, por isso mesmo, mais valioso.
Passei, desse modo, a esperar ansiosamente pelo dia seguinte.
QUESTÕES
PROPOSTAS PARA ESTUDO :
1) "Luís, cujo espírito se afinava com os
antigos sentimentos paternos, apegando-se aos lucros materiais exagerados -
informou-nos a interlocutora -, sofria tremenda obsessão no próprio lar. "
1a - Comentar sobre afinidade: o que é? como se
dá? quais seus efeitos?
1b - Comentar sobre obsessão: o que é? como se
dá? que tipo podemos perceber no caso narrado no capítulo? Quais suas
consequências?
1c - Comentar sobre o apego excessivo aos bens
materiais
2) "Registrando-lhe
a ruína mental, a notável mulher pediu a Silas permissão para orar, em nossa
companhia, junto do esposo, o que lhe
foi concedido prazerosamente."
Comente a oração: o que é? quais seus
benefícios? quais seus efeitos?
3) " E
entidades estranhas, embuçadas em largos véus de sombra, transitavam, absortas,
nos grandes terreiros, como se
ignorassem a presença umas das outras.
Com o
visível receio de se fazer ouvida, a esposa de Olímpio notificou-nos, em
surdina:
- São
onzenários desencarnados, trazidos sub-repticiamente até aqui por Leonel e
Clarindo, de modo a fortalecerem a usura no espírito de meu filho.
- Não
nos enxergam? - perguntou Hilário compreensivelmente intrigado.
- Não
- confirmou Silas. - Com certeza nos identificam a chegada, entretanto, pelo
que deduzo, encontram-se demasiadamente fixados nas idéias em que se
mancomunam.
Não se
preocupam com a nossa presença, desde que lhes não penetremos a faixa mental,
comungando-lhes os interesses.
- Isso
quer dizer - comentei - que se algo lhes falássemos acerca da fortuna terrena,
excitando-lhes o gosto da posse humana, indiscutivelmente nos dispensariam a
melhor atenção...
-
Exatamente."
3a - comente sobre a fixação mental: o que é? quais
seus efeitos?
3b - comente sobre faixa mental.
4) "Com
efeito, entramos e o movimento no interior doméstico era de pasmar.
Desencarnados de horripilante aspecto iam e vinham, através dos corredores
extensos, conversando, aloucados, como
se estivessem falando para dentro de si próprios."
Comente sobre ambiente espiritual doméstico
5) "-
Este é Luís, que, desligado do corpo pela influência do sono, vem afagar o
dinheiro que lhe nutre as paixões."
Comente sobre desligamento do corpo pela
influência do sono: o que é? Como ocorre? quais seus aspectos?
6) "
- Sim,
aprendemos nas escolas de vingadores (4) que todos possuímos, além dos desejos
imediatistas comuns, em qualquer fase da vida, um "desejo-central"
ou "tema básico" dos
interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos vulgares que nos
aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais freqüência os pensamentos
que nascem do "desejo-central" que nos caracteriza, pensamentos esses
que passam a constituir o reflexo dominante de nossa personalidade. Desse modo,
é fácil conhecer a natureza de qualquer pessoa, em qualquer plano, através das
ocupações e posições em que prefira viver. Assim é que a crueldade é o reflexo
do criminoso, a cobiça é o reflexo do usurário, a maledicência é o reflexo do
caluniador, o escárnio é o reflexo do ironista e a irritação é o reflexo do
desequilibrado, tanto quanto a elevação moral é o reflexo do santo... Conhecido o reflexo da criatura que nos
propomos retificar ou punir é, assim, muito fácil superalimentá-la com
excitações constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes
na imaginação e criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa
forma, a fixação mental. Com esse objetivo, basta alguma diligência para
situar, no convívio da criatura malfazeja que precisamos corrigir, entidades
outras que se lhe adaptem ao modo de sentir e de ser, quando não possamos por
nós mesmos, à falta de tempo, criar as telas que desejemos, com vistas aos fins
visados, por intermédio da determinação hipnótica. Através de semelhantes
processos, criamos e mantemos facilmente o "delírio psíquico" ou a
"obsessão", que não passa de um estado anormal da mente, subjugada
pelo excesso de suas próprias criações a pressionarem o campo sensorial,
infinitamente acrescidas de influência direta ou indireta de outras mentes
desencarnadas ou não, atraídas por seu próprio reflexo.
(...)
- Cada
um é tentado exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio."
Comente sobre desejo: o que é? qual sua ligação
com o pensamento? quais suas consequências?
7) "- Viram? - exclamou Leonel, contente -
transmiti-lhe ao campo mental um quadro
fantástico, através do qual as terras do vizinho estariam em leilão,
caindo-lhe, enfim, nas unhas. Bastou que eu mentalizasse uma tela nesse
sentido, arquitetando o sítio à venda, para que ele a tomasse por realidade
indiscutível, porquanto, em se tratando de nosso reflexo fundamental, somos
induzidos a crer naquilo que desejamos aconteça... "
Comente sobre: (a) transmissão de imagens, (b)
formas-pensamento, (c) influenciação hipnótica.
8)
Comente sobre a seguinte assertiva: "Pela conversação de Leonel,
percebi que cruzamos o caminho de duas vigorosas inteligências, cuja
modificação inicial há de ser feita com amor para realizar-se com
segurança"
Conclusão do Capítulo 8 -
Preparativos para o retorno
Centro Virtual de Divulgação e
Estudo do Espiritismo - CVDEE
(www.cvdee.org.br)
Sala de Estudos André Luiz
Livro em estudo: Ação e reação
Tema: Capítulo 8 -
Preparativos para o retorno (Conclusão)
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1) "Luís, cujo espírito
se afinava com os antigos sentimentos paternos, apegando-se aos lucros
materiais exagerados -
informou-nos a interlocutora
-, sofria tremenda obsessão no próprio lar. "
1a) Comentar sobre afinidade:
o que é? Como se dá? Quais seus efeitos?
R - Em Espiritismo, podemos definir afinidade
como uma relação resultante da semelhança de ações e pensamentos praticados por
dois ou mais espíritos, estejam eles encarnados ou desencarnados. Diz-se,
então, que se tratam de espíritos afins, pois alimentam idéias da mesma
natureza, coincidindo os mesmos gostos e sentimentos. O efeito da relação de
afinidade entre os espíritos é a sintonia mental, que é a ressonância psíquica
entre espíritos afins, imantando-se pelo pensamento e vinculando-se
magneticamente uns aos outros. Dessa forma, identificam-se quanto à faixa
vibratória em que transitam. Conforme ensinamento dos Espíritos, pela Lei de
Afinidade, os semelhantes se atraem, os diferentes se repulsam e os positivos
predominam sobre os negativos.
1b) Comentar sobre obsessão: o
que é? Como se dá? Que tipo podemos perceber no caso narrado no capítulo? Quais
suas conseqüências?
R - Podemos definir a obsessão
como a ação persistente que um espírito mau, encarnado ou desencarnado, exerce
sobre outro, que também pode se encontrar encarnado ou não, levando-o a adotar
pensamentos diferentes dos que habitualmente pratica.
Apresenta características que
vão desde as simples influência moral, sem sinais exteriores, até a perturbação
completa do organismo físico e das faculdades mentais da vítima. Decorre sempre
de uma imperfeição moral do obsidiado, que permite, pela sintonia, a
ascendência de um espírito mau. No caso em questão, Luís, por seus pensamentos
e sentimentos apegados aos valores materiais, sem qualquer preocupação com os
valores morais, permitiu a sintonia e, em conseqüência, a influência de
espíritos que, como ele, sustentavam paixões de natureza inferior.
1c) Comentar sobre o apego
excessivo aos bens materiais.
R - O apego excessivo aos bens
materiais, ainda muito presente na humanidade terrena, é reflexo do estágio
evolutivo em que se encontram os espíritos a ela vinculados. É irmão siamês do
egoísmo. Do ponto de vista espiritual, as suas conseqüências estendem-se até
após a desencarnação, provocando um desequilíbrio no espírito que está
iniciando uma nova passagem pelo mundo espiritual. Para aqueles cuja vida foi
toda voltada para as coisas materiais, às quais se manteve excessivamente
apegado, o desprendimento do espírito em relação ao corpo físico é mais
demorado e penoso. Pode durar dias, semanas e até meses ou anos. O caso de Luís
é um exemplo disso. Desdobrado em relação ao corpo físico pelo sono, quando o
espírito vive, temporariamente, uma vida semelhante à que levará após deixar a
matéria, buscou a companhia do dinheiro, sinalizando o que certamente viria
acontecer após a desencarnação, caso não se modificasse. Devemos usufruir, sim,
dos bens materiais, utilizando-os como instrumentos indispensáveis ao
cumprimento dos nossos compromissos terrenos e ao nosso progresso. Porém,
devemos estar sempre conscientes de que esta é uma circunstância passageira e
de que, a qualquer momento, podemos ser chamados a partir para uma nova forma
de vida, deixando na Terra todos os bens materiais que acumulamos. Devemos
utilizá-los, sim, mas sem apego, atribuindo-lhes um valor relativo às nossas
necessidades, para que não fiquemos presos a eles e tornemos o momento da
partida um instante de sofrimento, que se prolongará durante a vida no plano
espiritual.
2) "Registrando-lhe a
ruína mental, a notável mulher pediu a Silas permissão para orar, em nossa
companhia, junto do
esposo, o que lhe foi
concedido prazerosamente."
2a) Comente a oração: o que é?
Quais seus benefícios? Quais seus efeitos?
R - A prece é um dos modos de
nos comunicarmos com o plano espiritual superior para (a) pedir, por nós ou por
outros, (b) agradecer pelo que já recebemos ou estamos recebendo e (c) para
louvar, quando, sentindo e entendendo a sabedoria, bondade e poder de Deus,
manifestamos-lhe nossa admiração, contentamento, confiança.
Estando Deus em toda a parte e
ligado diretamente ao nosso pensamento, a prece nunca se perde e sempre chega
ao seu destino. Deve refletir um sentimento sincero, vindo de dentro. Não é
necessário proferir palavras convencionais. Como ensinou Jesus, "quando orares, entra no teu quarto e,
fechando a porta, ora a teu Pai que está oculto; e teu Pai, que vê em segredo,
te recompensará." Praticando a prece, estaremos sempre em
contato com o Criador e receberemos a influência dos benfeitores espirituais
que estão a seu serviço. É abençoada luz, assimilando correntes superiores de
força mental que nos auxiliam no resgate ou na ascensão, ou seja, quando
estamos expiando algum equívoco do passado, a prece nos auxilia, nos conforta,
dando-nos força e resignação para suportar a provação; quando estamos no
serviço edificante que nos elevará, não só nos fortifica para que prossigamos
no trabalho, como nos dá a intuição e a inspiração para que melhor possamos
desempenhar nossa missão.
A prece, por si só, não
modifica nem soluciona as dificuldades por que temos que passar, em decorrência
da leis de causa e efeito. As leis Naturais são inflexíveis e se fazem cumprir
automaticamente, por força de um magnetismo que ainda não estamos
capacitados a compreender inteiramente.
No entanto, quando oramos, reunimos energias que nos fortalecem para o
enfrentamento das provas. Não logramos nos furtar delas, mas, certamente,
estaremos nos habilitando para poder enfrentá-las com outra disposição e, até,
atenuá-las. Não derroga mesmo nenhuma das leis divinas. Mas pode acioná-las em
nosso favor. Ao orar, usamos a capacidade de agir e pensar que Deus nos
concede. Se obtivermos resultado favorável é porque o que havíamos pedido era
possível, faltando apenas que movimentássemos nossas forças nesse sentido, o
que fizemos com a oração.
3) "E entidades estranhas,
embuçadas em largos véus de sombra, transitavam, absortas, nos grandes
terreiros, como
se ignorassem a presença umas
das outras.
Com o visível receio de se
fazer ouvida, a esposa de Olímpio notificou-nos, em surdina:
- São onzenários desencarnados,
trazidos sub-repticiamente até aqui por Leonel e Clarindo, de modo a
fortalecerem a
usura no espírito de meu
filho.
- Não nos enxergam? -
perguntou Hilário compreensivelmente intrigado.
- Não - confirmou Silas. - Com
certeza nos identificam a chegada, entretanto, pelo que deduzo, encontram-se
demasiadamente
fixados nas idéias em que se
mancomunam.
Não se preocupam com a nossa
presença, desde que lhes não penetremos a faixa mental, comungando-lhes os
interesses.
- Isso quer dizer - comentei -
que se algo lhes falássemos acerca da fortuna terrena, excitando-lhes o gosto
da posse humana, indiscutivelmente nos dispensariam a melhor atenção...
- Exatamente."
3a) Comente sobre a fixação
mental: o que é? Quais os seus efeitos?
R - Fixação mental, como a própria
expressão dá a entender, é a atitude adotada pelo espírito que o leva a deter
seu psiquismo em determinado fato do passado. Quando ocorre, o espírito
abstrai-se de tudo o mais acontecido em sua existência para viver unicamente em
função desse fato. Para o espírito se
encontra nessa situação, a presença da vítima é constante em seu pensamento,
com os fatos passados aparecendo com freqüência em sua tela mental. Abstrai-se
de tudo o mais que acontece em sua existência, mantendo seu psiquismo fixado unicamente
em torno do fato que a gerou.
3b) Comente sobre faixa
mental.
R - Podemos entender como
"faixa mental" a zona fluídica em que o espírito se situa em razão
dos atos e pensamentos que pratica. De acordo com a faixa mental em que se
situará, o espírito irá se sintonizar com espíritos bons ou com maus espíritos,
por eles sendo influenciados.
O espírito, mesmo enquanto encarnado, irradia ao seu redor, envolvendo-se numa
espécie de atmosfera fluídica. Através do pensamento, o espírito atua sobre esses
fluidos. Os fluidos que o envolvem guardam relação direta com a natureza de
seus pensamentos. Os maus pensamentos corrompem os fluidos que estão à sua
volta, do mesmo modo que os pensamentos bons, resultantes de seu adiantamento
moral, são tão puros quanto o seu grau de perfeição. A faixa mental em que o
espírito se situará, portanto, é definida pela natureza de seus pensamentos.
Essa identidade se dá através do perispírito, cuja constituição é formada de
elementos extraídos dos fluidos espirituais.
4) "Com efeito, entramos
e o movimento no interior doméstico era de pasmar. Desencarnados de
horripilante aspecto iam
e vinham, através dos
corredores extensos, conversando,
aloucados, como se estivessem falando para dentro de si próprios."
4a) Comente sobre ambiente
espiritual doméstico
R - Segundo André Luiz, no
livro "Nosso Lar", "o lar é o sagrado vórtice onde o homem e a
mulher se encontram para o entendimento indispensável." Assim, são
reunidos no mesmo ambiente familiar devedores em resgate de antigos
compromissos para o reajuste indispensável. Para que esses compromissos sejam
atendidos, é importante que os espíritos envolvidos contem
com um ambiente espiritual que
favoreça aos ajustes devidos. A manutenção de uma psicosfera propícia se
consegue através da sintonia com os bons espíritos, o que somente obtemos se
praticarmos pensamentos e sentimentos elevados, abstermo-nos de conversas
infamantes, programas televisivos apelativos ao sexo ou à violência e de
hábitos viciosos. É importante, também, dedicarmo-nos diariamente à prece e nos
habituarmos ao culto do Evangelho no lar, que é também um instrumento poderoso
de, transformação do lar numa fortaleza espiritual, trazendo para a nossa convivência os bons espíritos.
5) "- Este é Luís, que, desligado do
corpo pela influência do sono, vem afagar o dinheiro que lhe nutre as
paixões."
5a) Comente sobre desligamento
do corpo pela influência do sono: o que é? Como ocorre? Quais seus aspectos?
R - Todos os dias, enquanto o
corpo físico dorme, afrouxam-se os laços fluídicos que o prendem ao espírito,
que dele se desprende, temporariamente. O espírito, então, fica ligado ao corpo
físico por um laço fluídico conhecido como "cordão de prata",
indispensável para mantê-lo reencarnado e que somente é rompido no momento da
desencarnação. Durante esse período, o espírito passa a viver a verdadeira
vida, que é a espiritual, lançando-se ao espaço e indo a vários lugares, onde
pode se encontrar com aqueles que lhe são afins por afeição ou desafeição,
encarnados também liberados pelo sono físico ou desencarnados. As companhias
espirituais bem como as ações que praticaremos durante o sono serão aquelas com
as quais mantemos afinidades de pensamentos, sentimentos e desejos. No caso que
estamos estudando, Luís, devido ao seu apego aos valores materiais, foi ao
encontro do dinheiro que guardava, pois, como ensinou Jesus, "onde está o
teu tesouro, aí está o teu coração".
6) "- Sim, aprendemos nas
escolas de vingadores (4) que todos possuímos, além dos desejos imediatistas
comuns,
em qualquer fase da vida, um
"desejo-central" ou "tema
básico" dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos
pensamentos vulgares que nos
aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais freqüência os pensamentos
que
nascem do
"desejo-central" que nos caracteriza, pensamentos esses que passam a
constituir o reflexo dominante de
nossa personalidade. Desse
modo, é fácil conhecer a natureza de qualquer pessoa, em qualquer plano,
através das
ocupações e posições em que
prefira viver. Assim é que a crueldade é o reflexo do criminoso, a cobiça é o
reflexo do
usurário, a maledicência é o
reflexo do caluniador, o escárnio é o reflexo do ironista e a irritação é o
reflexo do desequilibrado,
tanto quanto a elevação moral
é o reflexo do santo... Conhecido o
reflexo da criatura que nos propomos retificar ou
punir é, assim, muito fácil
superalimentá-la com excitações constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os
quadros já
existentes na imaginação e
criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa forma, a fixação
mental. Com
esse objetivo, basta alguma
diligência para situar, no convívio da criatura malfazeja que precisamos
corrigir, entidades
outras que se lhe adaptem ao
modo de sentir e de ser, quando não possamos por nós mesmos, à falta de tempo,
criar
as telas que desejemos, com
vistas aos fins visados, por intermédio da determinação hipnótica. Através de
semelhantes
processos, criamos e mantemos
facilmente o "delírio psíquico" ou a "obsessão", que não
passa de um estado anormal
da mente, subjugada pelo
excesso de suas próprias criações a pressionarem o campo sensorial,
infinitamente acrescidas
de influência direta ou
indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas por seu próprio
reflexo.
(...)
- Cada um é tentado
exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio."
6a) Comente sobre desejo: o
que é? Qual sua ligação com o pensamento? Quais suas conseqüência?
R - O desejo é a vontade de
possuir ou de gozar de determinada coisa. Como bem frisou o obsessor no trecho
acima citado, demonstrando conhecer o psiquismo humano, além do desejo que
manifestamos conscientemente, alimentamos o que ele denominou um "desejo
central" ou "tema básico dos interesses mais íntimos". Esse
desejo, que se manifesta de modo inconsciente e, às vezes, até contrariamente
aos nossos objetivos imediatos, reflete a natureza dos nossos pensamentos e o
nível de evolução em que nos situamos, tornando-se um espelho da nossa
personalidade. Através das nossas ações e dos nossos pensamentos, é possível
conhecer esse "desejo central" e, em conseqüência, a nossa natureza.
Esta circunstância é decisiva para definir as nossas companhias espirituais e
as influências às quais estaremos sujeitos, do que podem se aproveitar
espíritos obsessores. Com efeito, os espíritos obsessores não nos criam
imperfeições para dela se utilizarem. Simplesmente, utilizam-se das
imperfeições que cultivamos ao longo de nossas existências físicas. O caso em
estudo é um exemplo disso. Leonel, o principal agente obsessor de Luis, explica
que se aproveitará de seu apego ao dinheiro para nutrir a fixação mental em
torno dele, "robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes na
imaginação e criando outros que se lhes superponham".
Conclui afirmando que
"através de semelhantes processos, criamos e mantemos facilmente o delírio
psíquico ou a obsessão."
7) "- Viram? - exclamou
Leonel, contente - transmiti-lhe ao campo mental um quadro fantástico, através do qual as
terras do vizinho estariam em
leilão, caindo-lhe, enfim, nas unhas. Bastou que eu mentalizasse uma tela nesse
sentido,
arquitetando o sítio à venda,
para que ele a tomasse por realidade indiscutível, porquanto, em se tratando de
nosso
reflexo fundamental, somos
induzidos a crer naquilo que desejamos aconteça... "
7a) Comente sobre: (a) transmissão de
imagens, (b) formas-pensamento, (c) influenciação hipnótica.
R - Segundo explicação do
assistente Silas, a transmissão de imagens se dá através da energia mental, por
meio da qual o obsessor, agindo como hipnotizador, projeta sobre o campo mental
do obsidiado os quadros que deseja transmitir. O campo mental do obsidiado
funciona "qual mosaico, transformando as impressões recebidas em impulsos
magnéticos, a reconstituírem as formas-pensamentos plasmadas nos centros
cerebrais, por intermédio dos nervos que desempenham o papel de antenas
específicas, a lhes fixarem as particularidades na esfera dos sentidos, num
perfeito jogo alucinatório, em que o som e a imagem se entrosam
harmoniosamente, como acontece na televisão, em que a imagem e o som se
associam com o apoio eficiente de aparelhos conjugados, apresentando no receptor
uma seqüência de quadros que poderíamos considerar como sendo miragens
técnicas."
Formas-pensamento são criações
mentais do espírito, que se materializam através do fluido vital e se
exteriorizam por meio
de ondas magnéticas que se
propagam pelo espaço como raios. Os fluidos são o veículo do pensamento, que
atua sobre eles como o som sobre o ar. Mergulhando no fluido cósmico universal,
as formas-pensamento são transportadas a distâncias ilimitadas, chegando às
mentes de encarnados e desencarnados. Com isso, cria um vínculo fluídico entre
os que têm afinidade por pensamentos da mesma natureza, numa troca de valores
mentais de idênticas qualidades.
A influencia hipnótica é a
ação de um agente ativo em relação ao passivo, sugestionando-lhe uma ação ou um
pensamento.
8) Comente sobre a seguinte assertiva:
"Pela conversação de Leonel, percebi que cruzamos o caminho de duas
vigorosas inteligências, cuja
modificação inicial há de ser feita com amor para realizar-se com
segurança"
R - Como comentou André Luiz,
os benfeitores espirituais não estavam, ali, lidando com um obsessor comum.
Tratava-se de obsessor que conhecia o psiquismo humano, suas fraquezas e a
forma de utilizá-las para atingir o seu intento. Era um espírito endurecido e
fixado no desejo de vingança, porém não um ignorante. Pela força da palavra,
com argumentos puramente racionais e ainda que com fundamentos evangélicos, o
Assistente percebeu que nada conseguiria de positivo. Somente através da
poderosa arma do amor os obsessores poderiam ser vencidos. Apenas os envolvendo
num sentimento que talvez jamais tenham experimentado poderiam ser convencidos
da necessidade de mudança de comportamento, o que beneficiaria não somente
Luis,
a vítima de suas ações mas a
eles próprios, pois fomos criados para amarmos uns aos outros e é no amor que
encontraremos
a felicidade definitiva
acenada por Jesus.
Um grande abraço a todos e
muita paz.
Equipe CVDEE
Sala André Luiz
Coordenação:
eqpal@cvdee.org.br
[1] Refere-se a entidade a organizações mantidas por Inteligências
criminosas, homiziadas temporariamente nos planos inferiores. (Nota do Autor
espiritual.)
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