Cap. XXVIII – Itens 38 a 41
À hora de dormir
38. PREFÁCIO. O sono tem por fim dar repouso ao
corpo; o Espírito, porém, não precisa de repousar. Enquanto os sentidos físicos
se acham entorpecidos, a alma se desprende, em parte, da matéria e entra no
gozo das faculdades do Espírito. O sono foi dado ao homem para reparação das
forças orgânicas e também para a das forças morais. Enquanto o corpo recupera
os elementos que perdeu por efeito da atividade da vigília, o Espírito vai
retemperar-se entre os outros Espíritos. Haure, no que vê, no que ouve e nos
conselhos que lhe dão, ideias que, ao despertar, lhe surgem em
estado de intuição. É a volta temporária do exilado à sua verdadeira pátria. É
o prisioneiro restituído por momentos à liberdade.
Mas, como se dá com o presidiário perverso, acontece
que nem sempre o Espírito aproveita dessa hora de liberdade para seu
adiantamento. Se conserva instintos maus, em vez de procurar a companhia de
Espíritos bons, busca a de seus iguais e vai visitar os lugares onde possa dar
livre curso aos seus pendores.
Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado desta
verdade, o seu pensamento a Deus, quando sinta aproximar-se o sono, e peça o
conselho dos bons Espíritos e de todos cuja memória lhe seja cara, a fim de que
venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes de liberdade que lhe são concedidos,
e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais corajoso diante da
adversidade.
39. Prece. - Minha alma vai estar por alguns
instantes com os outros Espíritos. Venham os bons ajudar-me com seus conselhos.
Faze, meu anjo guardião, que, ao despertar, eu conserve durável e salutar
impressão desse convívio.
40. PREFÁCIO. A fé no futuro, a orientação
do pensamento, durante a vida, para os destinos vindouros, favorecem e aceleram
o desligamento do Espírito, por enfraquecerem os laços que o prendem ao corpo,
tanto que, frequentemente, a vida
corpórea ainda se não extinguiu de todo, e a alma, impaciente, já alçou o voo para
a imensidade. Ao contrário, no homem que concentra nas coisas materiais todos
os seus cuidados, aqueles laços são mais tenazes, penosa e dolorosa é a
separação e cheio de perturbação e ansiedade o despertar no além-túmulo.
41. Prece. - Meu Deus, creio em ti e na tua
bondade infinita e, por isso mesmo, não posso crer hajas dado ao homem a
inteligência, que lhe faculta conhecer-te, e a aspiração pelo futuro, para o
mergulhares no nada.
Creio que o meu corpo é apenas o envoltório perecível
de minha alma e que, quando eu tenha deixado de viver, acordarei no mundo dos
Espíritos.
Deus Todo-Poderoso, sinto se rompem os laços que me
prendem a alma ao corpo e que dentro em pouco irei prestar contas do uso que
fiz da vida que me foge.
Vou experimentar as consequências do bem e do mal que pratiquei. Lá não
haverá ilusões, nem subterfúgios possíveis. Diante de mim vai desenrolar-se
todo o meu passado e serei julgado segundo as minhas obras.
Nada levarei dos bens da Terra. Honras, riquezas,
satisfações da vaidade e do orgulho, tudo, enfim, que é peculiar ao corpo
permanecerá neste mundo. Nem a mais mínima parcela de todas essas coisas me
acompanhará, nem me será de utilidade alguma no mundo dos Espíritos. Apenas
levarei comigo o que pertence à alma, isto é, as boas e as más qualidades, para
serem pesadas na balança da mais rigorosa justiça. E tanto maior severidade
haverá no meu julgamento, quanto maior número de ocasiões para fazer o bem, que
não fiz, me tenha proporcionado a posição que ocupei na Terra. (Cap. XVI, n°
9.)
Deus de misericórdia, que o meu arrependimento te
chegue aos pés! Digna-te de lançar sobre mim o manto da tua indulgência.
Se te aprouver prolongar a minha existência, seja esse
prolongamento empregado em reparar, tanto quanto em mim esteja, o mal que eu
tenha praticado. Se soou, sem dilação possível, a minha hora, levo comigo o
consolador pensamento de que me será permitido redimir-me, por meio de novas
provas, a fim de merecer um dia a felicidade dos eleitos.
Se não me for dado gozar imediatamente dessa
felicidade sem mescla, partilha tão-só do justo por excelência, sei que me não
é defesa para sempre a esperança e que, pelo trabalho, alcançarei o fim, mais
tarde ou mais cedo, conforme os meus esforços.
Sei que próximos de mim, para me receberem, estão
Espíritos bons e o meu anjo de guarda, aos quais dentro em pouco verei, como
eles me veem. Sei que, se o
tiver merecido, encontrarei de novo aqueles a quem amei na Terra e que
aqueles que aqui deixo irão juntar-se a mim, que um dia estaremos todos reunidos
para sempre e que, enquanto esse dia não chegar, poderei vir visitá-los.
Sei também que vou encontrar aqueles a quem ofendi.
Possam eles perdoar-me o que tenham a reprochar-me: o meu orgulho, a minha
dureza, minhas injustiças, a fim de que a presença deles não me acabrunhe de
vergonha!
Perdoo aos
que me tenham feito ou querido fazer mal; nenhum rancor contra eles alimento e
peço-te, meu Deus, que lhes perdoes.
Senhor, dá-me forças para deixar sem pena os prazeres
grosseiros deste mundo, que nada são em confronto com as alegrias sãs e puras
do mundo em que vou penetrar e onde, para o justo, não há mais tormentos, nem
sofrimentos, nem misérias, onde somente o culpado sofre, mas tendo a
confortá-lo a esperança.
A vós, bons Espíritos, e a ti, meu anjo guardião,
suplico que me não deixeis falir neste momento supremo. Fazei que a luz divina
brilhe aos meus olhos, a fim de que a minha fé se reanime, se vier a abalar-se.
Nota - Veja-se, adiante, o parágrafo V:
"Preces pelos doentes e obsidiados".
Questões para estudo e diálogo virtual:
1 - O que faz o Espírito durante o sono do
corpo físico?
2 - Por que a fé no futuro, a orientação do
pensamento, durante a vida, para os destinos vindouros, favorecem e aceleram o
desligamento do Espírito após a
morte do corpo físico?
3 - Extraia do texto acima a frase ou parágrafo
que mais gostou e justifique.