"DIVORCIO E ESPIRITUALIDADE"
O divórcio é uma prática muito antiga. No tempo de Moisés, era permitido
ao marido repudiar qualquer uma de suas mulheres (a mulher era propriedade do
marido) e lhe passar uma “carta de divórcio” por qualquer motivo.
Antes, o adultério da mulher era punido com a lapidação (apedrejamento)
e Jesus queria evitar essa calamidade. Tal como Jesus, também achamos que o
divórcio pode ser um recurso a ser acionado para se evitar um mal maior. Pode
ser uma medida contra o suicídio, homicídio, agressões e outras desgraças.
Apesar de não dever ser estimulado ou facilitado, às vezes deve ser usado como
recurso, não como solução.
Houve uma época, aqui no Brasil, em que o divórcio foi tema de acirrada
polêmica. Uma verdadeira disputa político-religiosa. De um lado os antidivorcistas
e de outro, os pró-divorcistas. O projeto tramitou no Congresso Nacional, cheio
de “lobbies”, com ampla discussão, enorme repercussão e finalmente foi
aprovado. Depois, regulamentado por lei, foi colocado em prática. Passou a ser
fato consumado, sem despertar mais interesse para discussões. No entanto, o seu
mérito e as repercussões familiares precisam continuar a ser enfocados.
Temos compromisso com a evolução. O casamento será sempre um instituto
benemérito, acolhendo, no limiar, em flores de alegria e esperança, aqueles que
a vida aguarda para o trabalho do seu próprio aperfeiçoamento e perpetuação.
Com ele o progresso ganha novos horizontes e a lei do renascimento atinge os
fins para os quais se encaminha. Ocorre, entretanto, que a Sabedoria Divina
jamais institui princípios de violência e o espírito, conquanto em muitas
situações agrave os próprios débitos, dispõe da faculdade de interromper,
recusar, modificar, discutir ou adiar, transitoriamente, o desempenho dos
compromissos que abraça.
Em muitos lances da experiência, é a própria individualidade, na vida espiritual,
física, chamando a si o parceiro ou a parceira de
existência pretérita para os ajustes que lhe pacificarão a consciência, à vista
de erros perpetrados em outras épocas. Reconduzida, porém, à ribalta terrestre
e assumida a união esponsalícia que atraiu a si mesma, ei-la desencorajada à
face das dificuldades que se lhe desdobram à frente. Por vezes, o companheiro
ou a companheira voltam ao exercício da crueldade de outro tempo, seja através
de menosprezo, desrespeito, violência ou deslealdade, e o cônjuge prejudicado
nem sempre encontra recursos em si para se sobrepor aos processos de lapidação
moral de que é vítima.
Compelidos, muitas vezes às últimas fronteira da resistência, é natural
que o esposo ou a esposa, relegado a sofrimento no qual acha indébito valha-se
do divórcio por medida extrema contra o suicídio, o homicídio ou calamidades
outras que complicariam ainda mais o seu destino. Nesses lances da experiência,
surge a separação à maneira de bênção necessária e o cônjuge prejudicado,
encontra no tribunal da própria consciência o apoio moral da auto aprovação,
para renovar o caminho que lhe diga respeito, acolhendo ou não nova companhia
para a jornada humana.
É obvio que não é lícito, de maneira nenhuma, estimular o divórcio em
tempo algum, competindo a nós, encarnados, tão somente nesse sentido,
reconfortar e reanimar os irmãos em luta nos casamentos de provação, a fim de
que se sobreponham às próprias suscetibilidades e aflições, vencendo as duras
etapas de provação ou expiação em prol à regeneração que pediram antes do
nascimento no plano físico ou lhes foram impostas pelo plano superior como
prova a ser ressarcida como premente necessidade. Em auxilio de si mesmos.
Ainda assim, é justo reconhecer que a escravidão não vem de Deus e ninguém
possui o direito de torturar ninguém, face às leis eternas.
O divórcio, pois, baseado em razões justas, é a providência humana e
claramente compreensível nos processos de evolução pacífica.
Efetivamente, Jesus ensinou que “não separeis o que Deus juntou” e não
nos cabe interferir na vida de cônjuge algum, no intuito de afastá-lo do
convívio do lar, das obrigações a que se comprometeu. Ocorrer, porém que, se
não nos cabe separar aqueles que as leis de Deus reuniu para determinados fins,
são eles mesmos, os amigos que se enlaçaram pelos vínculos do casamento, que
desejam a separação entre si, tocando-nos unicamente a obrigação de
respeitar-lhes a livre escolha, sem ferir-lhes a decisão
Assim, devemos, antes de qualquer decisão precipitada, entender que no
lar se compre a lei da reencarnação, como se fosse um filtro sagrado a
depurar-nos das paixões em que nos enredamos em passado próximo ou remoto.
A lei do amor nos estimula. Se o casamento, contudo, revelar-se difícil,
problemático, convém saber que tal situação decorre de nossas próprias
necessidades evolutivas e é produto de nossa própria escolha.
Por vezes, contudo, o casal perde a coragem e o gosto pela vida a dois
e, não raro, um ou ambos voltam a se ferir, seja na crueldade, na violência, no
desespero ou na deslealdade. Quando tal situação se apresenta, é natural que um
dos cônjuges recorra ao divórcio, para evitar outras consequências ainda mais
comprometedoras e dolorosas.
Os filhos do casal, se houver, poderão sofrer. Contudo, se a criatura
prejudicada pela guerra instalada no lar tiver a aprovação da própria
consciência, nada impedirá que ela renove o seu caminho após o divórcio,
buscando nova companhia.
Reflita, contudo, com muita prudência diante do casamento assaltado por
dificuldade, para saber se, com o um pouco mais de tolerância, um tanto mais de
paciência, o casamento não poderia ser sustentado. Evite, se houver a
separação, de utilizar os filhos no consórcio como armas contra o outro
cônjuge, e assim pervertendo-os em seus sentimentos mais profundos.
Reexamine-se, antes de tomar a decisão definitiva da separação,
ponderando se a angústia e o sofrimento dentro do lar não são reflexos de vocês
mesmos.
Lembre-se de que a vida é, em essência, processo de evolução e, por
isso, o lar não deve ser desfeito debaixo de nossos impulsos primários, de
nossas queixar e lamentações.
Cada cônjuge é herdeiro de si mesmo. O lar é sempre um educandário.
Antes da separação, contra a qual não se opõem as Leis Divinas, reflita
se o companheiro ou companheira do lar não é a alma de que você mais necessita
para se superar.
Artigo publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 10
Compilado por Arnaldo Leite dos Santos
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