Capítulo XI - Itens 14 e 15
Caridade para com os criminosos
A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes
ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os
verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os
criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a
misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas
faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis,
mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as
mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes
será pedido do que a vós.
Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus
caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será
aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar
incorreis. Ignorais que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de
pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?
A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola
que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é
apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou,
também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para
com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a
seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas
palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.
Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse
planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do
Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas.
Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os
outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém
desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que
vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se encontrarem
submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses
ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos
inferiores, de acordo com as suas inclinações.
Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas
preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: ~ um
miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um
ser de tal espécie, a morte que lhe infligem." Não, não é assim que vos
compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de
si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de
piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas,
pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que
ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se
orardes com fé. E tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma,
transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar;
ajudai-o, pois, a sair do lameiro e orai por ele. Elisabeth de França. (Havre,
1862.)
Deve-se expor a vida por um malfeitor?
Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem
um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se
escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o segundo arriscar-se
para o salvar?
Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode
apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral,
pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um
malfeitor. O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto,
socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será
somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? E, talvez,
a toda a sua vida passada. Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que
lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu
passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega
cedo demais; a reencarnação poderá vir a ser-lhe terrível. Lançai-vos, então, ó
homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai-vos,
arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria morrido a
blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o
fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a essa voz do
coração, que vos diz: "Podes salvá-lo, salva-o!" - Lamennais. (Paris,
1862.)
Questões para estudo
1 - Como fazer a caridade a um criminoso?
2 - A desencarnação seria um bem para o criminoso?
3 - Pode um homem vir a se arrepender de seus atos
incorretos, se tiver, diante da morte iminente, a chance de ser salvo?
4 – Em que consiste a verdadeira caridade?
5 – Deve-se expor a vida por um malfeitor?
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