Capítulo XII
– Item 9
A vingança
9. A vingança é um
dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre
os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens
sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que
a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se
dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse
sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame
espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo:
"Perdoai aos vossos inimigos", que aquele que se nega a perdoar não
somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração
tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a
baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase
nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o
outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a
paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências
hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o
animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada
desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do
outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo
propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno. Quando seu ódio não chega a
tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da
calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos,
se vão avolumando pelo caminho. Em consequência, quando o perseguido se
apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar
com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o
acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a
apertar as suas. Enfim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais
caros amigos e parentes se afastam e o evitam, Ah! o covarde que se vinga assim
é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em
plena face.
Fora, pois, com
esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos! Todo
espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de
figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há
salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande
família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão
para perdoar. - Júlio Olivier. (Paris, 1862.)
Questões para estudo
1 - Por que a
vingança é condenável?
2 - Como devemos
agir, se o sentimento de vingança for mais forte que o desejo de perdoar?
3 - Qual a consequência
da vingança para quem a pratica?
4 – Por que o
caluniador é vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta
em plena face?
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