Medo e morte
Os mecanismos de evasão do ego mascaram a realidade do
self, normalmente receoso de emergir e predominar, o que é a sua fatalidade.
Fatores ponderáveis, porém, respondem pelos estados
fóbicos do ser, desde os distúrbios gerados pelo quimismo cerebral,
responsáveis por desarmonias variadas, até os fenômenos de natureza
psicológica, decorrentes dos conflitos vivenciados pela mãe gestante,
reacionária à concepção, tensa ante a responsabilidade, amargurada pelas
incertezas, e os insucessos de parto, predominando os choques pós-natais quando
o ser é retirado do aconchego intrauterino, onde se sente seguro, e colocado
num meio hostil no qual tudo parece ameaçar-lhe a frágil existência.
Podem-se assinalar ainda outros fatores, quais os de
natureza psicogênica, como de caráter preponderante na formação patológica dos comportamentos
fóbicos.
A educação no lar, a mãe dominadora e o pai negligente
ou reciprocamente, não raro esmagam a personalidade do educando durante o trânsito
infantil.
São inumeráveis os fatores preponderantes como
predisponentes nas psicopatologias do medo, responsáveis por estados
lamentáveis na criatura humana.
Insinua-se o medo de forma sutil, aparentemente
lógica, tomando conta das paisagens da psique, como insegurança tormentosa
povoada de pesadelos hórridos, que levam a alucinações e impulsos
incontroláveis de fuga até mediante o concurso da morte.
Com o tempo, alternam-se as condutas no paciente:
apatia mórbida ou pavor contínuo, ambas de gravidade indiscutível.
Na psicogênese, porém, dos estados fóbicos em geral,
não se pode descartar a anterioridade existencial do ser, em Espírito,
peregrino que é de inumeráveis reencarnações, cuja história traz escrita nas
tecelagens intrincadas da própria estrutura espiritual.
Comportamentos irregulares, atividades lesadoras,
ações perversas ocultas que não foram desveladas, inscrevem-se na consciência
profunda como necessidade de reparação, que ressurgem desde a nova concepção, quando
ocorrem os fatores que os despertam, permitindo-lhes a imersão do inconsciente,
e passam a trabalhar o ser real, levando-o da insegurança inicial ao medo
perturbador.
A reencarnação é método para o Espírito aprender,
agir, educar-se, recuperando-se quando erra, reparando quando se compromete negativamente.
Inevitável a sua ocorrência, ela funciona por
automatismo da Vida, impondo as cargas de uma experiência na seguinte, em
mecanismo natural de evolução.
Inscritos os códigos de justiça na consciência
individual, representando a Consciência Cósmica, ninguém se lhe exime aos
imperativos, por ser fenômeno automático e imediato.
A cada ação resulta uma reação semelhante, portadora
da mesma intensidade vibratória.
Quando recalcado o efeito, ele assoma, predominante,
propiciando os estados de libertação ou sofrimento, conforme seja constituído o
seu campo de energia.
O autodescobrimento é a terapia salutar para que sejam
identificadas as causas geradoras e, ao mesmo tempo, a conscientização de quais
recursos se podem utilizar para a liberação.
Conhecendo o fator responsável pelo medo,
antepor-se-lhe-á a confiança nas causas positivas, que resultarão em futuros
equilíbrios de fácil aquisição.
Ao lado das terapias acadêmicas, conforme a
etiopatogenia do medo em cada criatura, a renovação pessoal pelo otimismo, a autoestima,
o hábito das ideações elevadas, da oração, da meditação, constituem eficientes
recursos curativos para o auto encontro, a paz interior.
O medo é inimigo mórbido, que deve ser enfrentado com
naturalidade através do exercício da razão e da lógica.
Entre as várias expressões de medo ressalta o da
morte, herança atávica dos arquétipos ancestrais, das religiões castradoras e
temerárias, dos cultos bárbaros, das conjunturas do desconhecido, das imagens
mitológicas que desenharam no tecido social as impressões do temor, das
punições eternas para as consciências culpadas, dos horrores inomináveis que o
ser humano não tem condições de digerir...
O pavor da morte, às vezes patológico, afigura-se tão
grave, que a criatura se mata a fim de não aguardar a morte...
Compreensivelmente, desde o momento da concepção
manifesta-se o fenômeno da transformação celular ou morte biológica. Nesse
processo de transformações incessantes, chega o momento da parada final dos equipamentos
biológicos, e tal ocorrência é perfeitamente natural, não podendo responder
pelos medos e pavores que têm sido cultivados.
Não é a primeira vez que ocorre a morte do corpo, na
vilegiatura da evolução dos seres. O esquecimento do fenômeno, de maneira
alguma, pode ser considerado como desconhecido pelo Espírito, que já o
vivenciou antes.
Um aprofundamento mental demonstra que a morte não
dói, não apavora, mas o estado psicológico de cada um, em relação à mesma,
transfere as impressões íntimas para o exterior, dando curso às manifestações
aparvalhantes.
A Psicologia transpessoal, lidando com o ser psíquico,
o ser espiritual, sabe-o em processo de evolução, entrando no corpo —
reencarnação — e dele
saindo — desencarnação — da
mesma forma que o corpo se utiliza de roupas, que lhe são necessárias e dispensáveis,
conforme as ocasiões.
O simples hábito de dormir, quando se mergulha na
inconsciência relativa, é uma experiência de morte que deve servir de padrão
comparativo para o fim do processo biológico.
Conforme o eu profundo considere a morte, povoando-a
de incertezas, gênios do mal, regiões punitivas ou aniquilamento, dessa forma a
enfrentará. O oposto igualmente se dá. Vestindo a morte de esperança de
reencontros felizes, de aspirações enobrecidas, de agradável despertar,
ocorrerá o milagre da vida.
O medo da morte decorre da ignorância da realidade
espiritual e do apego ao transitório físico.
Freud afirmava que o instinto da morte é superior ao
de conservação da vida, o que é perfeitamente natural, tendo-se em vista que o
corpo é fenômeno, e este passa, permanecendo a causa, que é a energia, a vida
em si mesma.
A psicoterapia preventiva, como curadora para o medo
da morte, propõe uma conduta harmônica com os níveis superiores de consciência
desperta, lúcida, avançando para a transcendência do eu, até culminar na
identificação com a Cósmica.
Pensar e agir bem.
Amar e amar-se.
Servir, como forma de ser feliz.
Vincular-se à Fonte da Vida Perene, Causal e Terminal.
Meditar, beneficiando-se com o autodescobrimento e
tornando-se um agente de esperança e de paz, eis como viver sem morrer e morrer
para perpetuar a vida.