segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Projeção
A repressão inconsciente dos conflitos da personalidade leva o ego a projetá-los nos outros indivíduos, nas circunstâncias e lugares, evadindo-se à aceitação dos erros e da responsabilidade por eles.
Se tropeça em uma pedra na rua, a culpa é da administração pública municipal; se choca com outrem, a culpa é dele...
A projeção alcança reações surpreendentes.
Um jovem esbarrou noutro na rua e reagiu, interrogando: “Você é cego?”, ao que o interlocutor respondeu: “Sim, sou cego.”
Atropelara o invidente e se permitia o luxo de fazer-se vítima.
Há uma natural e mórbida tendência no ser humano de ignorar certas deficiências pessoais para projetá-las nos outros.
Toda vez que alguém combate com exagerada veemência determinados traços do caráter de alguém, projeta-se nele, transferindo do eu, que o ego não deseja reconhecer como deficiente, a qualidade negativa que lhe é peculiar. Torna a sua vítima o espelho no qual se reflete inconscientemente.
Há uma necessidade de combater nos outros o que é desagradável em si.
Pessoas existem que se dizem perturbadas pelas demais, perseguidas onde se encontram, desgostadas em toda parte, revelando caráter e comportamento paranóicos, assim projetando a animosidade que mantêm por si próprias nos outros indivíduos, sob a alegação de que não os estimam, e tentam interditar-lhes o passo, o avanço.
A projeção é facilmente identificável e pode ser combatida mediante honesta aceitação de si mesmo, de como se é, trabalhando-se para tornar-se melhor.

Introjeção
Outro mecanismo de disfarce do ego é a introjeção, que se caracteriza como a conscientização de que as qualidades das pessoas lhe pertencem. Os valores relevantes que são observados noutrem, são traços do próprio caráter, constituindo uma armadilha —defesa do ego.
A pessoa introjeta-se na vida dos heróis aos quais ama e com quem se identifica, aceitando ser parecida com eles. Assume-lhes a forma, os hábitos, os traquejos e trejeitos, o modo de falar e de comportar-se...
Pode acontecer também que se adote o comportamento infeliz de personagens dos dramas do cotidiano, das películas cinematográficas, das telenovelas, das tragédias narradas pelos periódicos.
Na atualidade, ao lado dos inúmeros vícios sociais e dependências dos alcoólicos, tabaco e drogas outras, há, também, a dependência das telenovelas, mediante as quais as personagens, especialmente as infelizes, são introjetadas nos telespectadores angustiados.
Essa morbidez deve ser liberada e o indivíduo tem a necessidade, que lhe cumpre atender, de assumir a realidade interior, identificando-se numa harmoniosa combinação entre o self e o ego, mantendo o equilíbrio emocional através do exercício de autodescobrimento, eliminando as ilusões, os romances imaginários, pois que tais mecanismos de fuga, não obstante o momentâneo prazer que dispensam, terminam por alienar o ser.

Racionalização
A racionalização é o mecanismo de fuga de maior gravidade do ego, por buscar justificar o erro mediante aparentes motivos justos, que degeneram o senso crítico, de integridade moral, assumindo posturas equivocadas e perniciosas. Sempre há uma razão para creditar-se favoravelmente os atos, mesmo os mais irrefletidos e graves, através das razões apresentadas, que não são legítimas. Essa dicotomia — o que se justifica e o que se é — torna-se um mecanismo perturbador, por negar-se o real a favor do que se imagina.
As razões legítimas dos hábitos e condutas são mascaradas por alegações falsas. Por não admitir o que se prefere fazer ou ser, e se tem em conta de que é errado, assume-se a máscara egóica da racionalização.
Essa falta de honestidade, como expressão falsa do eu, torna-se um desequilíbrio psicológico, que termina em perda de sentido existencial.
Ninguém pode mudar um mal em bem, apenas porque se recusa a aceitar conscientemente esse mal, que lhe cumpre trabalhar para melhor, ao invés de ignorá-lo ou justificá-lo com a racionalização.
A tendência humana da escolha é sempre direcionada para o bem. Assim, há uma repulsa natural pelo mal, de que a racionalização tenta alterar a contextura, a fim de apaziguar a consciência, gerando a perturbação psicológica.
Essa luta, que se trava entre o intelecto e a razão, busca justificativa para tornar o mal em um bem, que é irreal. Desse modo, quando a pessoa age erradamente e a razão lhe reprocha, o intelecto busca uma alegação justa para reprimir o bem e prossegui na ação.
A execução supera a razão e a mente justifica o mal, do qual surgirá um bem, para si ou para outrem, como racionaliza o ego em desequilíbrio.
Somente uma vontade severa e nobre, exercendo sua força sobre os mecanismos de evasão, para preservar o equilíbrio entre a razão e o intelecto com a emoção do bem e do justo, propondo o ajustamento psicológico do ser.

Fora disso, tais mecanismos de camuflagem da realidade conduzem à alienação, ao sofrimento.

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