Projeção
A repressão inconsciente dos conflitos da
personalidade leva o ego a projetá-los nos outros indivíduos, nas
circunstâncias e lugares, evadindo-se à aceitação dos erros e da
responsabilidade por eles.
Se tropeça em uma pedra na rua, a culpa é da
administração pública municipal; se choca com outrem, a culpa é dele...
A projeção alcança reações surpreendentes.
Um jovem esbarrou noutro na rua e reagiu,
interrogando: “Você é cego?”, ao que o interlocutor respondeu: “Sim, sou cego.”
Atropelara o invidente e se permitia o luxo de
fazer-se vítima.
Há uma natural e mórbida tendência no ser humano de
ignorar certas deficiências pessoais para projetá-las nos outros.
Toda vez que alguém combate com exagerada veemência
determinados traços do caráter de alguém, projeta-se nele, transferindo do eu,
que o ego não deseja reconhecer como deficiente, a qualidade negativa que lhe é
peculiar. Torna a sua vítima o espelho no qual se reflete inconscientemente.
Há uma necessidade de combater nos outros o que é
desagradável em si.
Pessoas existem que se dizem perturbadas pelas demais,
perseguidas onde se encontram, desgostadas em toda parte, revelando caráter e
comportamento paranóicos, assim projetando a animosidade que mantêm por si
próprias nos outros indivíduos, sob a alegação de que não os estimam, e tentam
interditar-lhes o passo, o avanço.
A projeção é facilmente identificável e pode ser
combatida mediante honesta aceitação de si mesmo, de como se é, trabalhando-se
para tornar-se melhor.
Introjeção
Outro mecanismo de disfarce do ego é a introjeção, que
se caracteriza como a conscientização de que as qualidades das pessoas lhe
pertencem. Os valores relevantes que são observados noutrem, são traços do
próprio caráter, constituindo uma armadilha —defesa do ego.
A pessoa introjeta-se na vida dos heróis aos quais ama
e com quem se identifica, aceitando ser parecida com eles. Assume-lhes a forma,
os hábitos, os traquejos e trejeitos, o modo de falar e de comportar-se...
Pode acontecer também que se adote o comportamento
infeliz de personagens dos dramas do cotidiano, das películas cinematográficas,
das telenovelas, das tragédias narradas pelos periódicos.
Na atualidade, ao lado dos inúmeros vícios sociais e
dependências dos alcoólicos, tabaco e drogas outras, há, também, a dependência
das telenovelas, mediante as quais as personagens, especialmente as infelizes, são
introjetadas nos telespectadores angustiados.
Essa morbidez deve ser liberada e o indivíduo tem a
necessidade, que lhe cumpre atender, de assumir a realidade interior,
identificando-se numa harmoniosa combinação entre o self e o ego, mantendo o
equilíbrio emocional através do exercício de autodescobrimento, eliminando as
ilusões, os romances imaginários, pois que tais mecanismos de fuga, não
obstante o momentâneo prazer que dispensam, terminam por alienar o ser.
Racionalização
A racionalização é o mecanismo de fuga de maior
gravidade do ego, por buscar justificar o erro mediante aparentes motivos
justos, que degeneram o senso crítico, de integridade moral, assumindo posturas
equivocadas e perniciosas. Sempre há uma razão para creditar-se favoravelmente
os atos, mesmo os mais irrefletidos e graves, através das razões apresentadas,
que não são legítimas. Essa dicotomia — o que se justifica e o que se é —
torna-se um mecanismo perturbador, por negar-se o real a favor do que se
imagina.
As razões legítimas dos hábitos e condutas são
mascaradas por alegações falsas. Por não admitir o que se prefere fazer ou ser,
e se tem em conta de que é errado, assume-se a máscara egóica da
racionalização.
Essa falta de honestidade, como expressão falsa do eu,
torna-se um desequilíbrio psicológico, que termina em perda de sentido
existencial.
Ninguém pode mudar um mal em bem, apenas porque se
recusa a aceitar conscientemente esse mal, que lhe cumpre trabalhar para
melhor, ao invés de ignorá-lo ou justificá-lo com a racionalização.
A tendência humana da escolha é sempre direcionada
para o bem. Assim, há uma repulsa natural pelo mal, de que a racionalização
tenta alterar a contextura, a fim de apaziguar a consciência, gerando a
perturbação psicológica.
Essa luta, que se trava entre o intelecto e a razão,
busca justificativa para tornar o mal em um bem, que é irreal. Desse modo,
quando a pessoa age erradamente e a razão lhe reprocha, o intelecto busca uma
alegação justa para reprimir o bem e prossegui na ação.
A execução supera a razão e a mente justifica o mal,
do qual surgirá um bem, para si ou para outrem, como racionaliza o ego em
desequilíbrio.
Somente uma vontade severa e nobre, exercendo sua
força sobre os mecanismos de evasão, para preservar o equilíbrio entre a razão
e o intelecto com a emoção do bem e do justo, propondo o ajustamento
psicológico do ser.
Fora disso, tais mecanismos de camuflagem da realidade
conduzem à alienação, ao sofrimento.
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