segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Referenciais para a identificação do si

Inevitavelmente, as pessoas necessitam de experienciar algumas dessas escamoteações do ego, seus jogos, por falta de estrutura psicológica para suportar a realidade, a verdade.
O mecanismo de fuga pode constituir uma necessidade de reprimir algo para cuja manifestação o ser não se sente preparado.
É sempre um risco intentar-se, de inopino, empurrar o indivíduo para o encontro claro e imediato com o si, face à sua ausência de valores íntimos para reconhecer-se frágil — sem deprimir-se, necessitado — sem insegurança em relação ao futuro, aturdido — sem esperança...
O ser psicológico é, estruturalmente, a soma das suas emoções e conquistas, que caracterizam a individualidade pessoal no processo de evolução.
A libertação, portanto, dos complexos artifícios de fuga, dar-se-á mediante terapias adequadas, que facultarão o amadurecimento psicológico para a autoestima e o enfrentamento da realidade suportável.
Qualquer tentativa de esgrimir a verdade — afinal, a verdade de cada qual — pode resultar em conflito mais grave. A queda da máscara desnuda o indivíduo e nem sempre ele deseja ser visto como é — mesmo porque se ignora —, podendo sofrer um choque com o descobrimento prematuro ou alienar-se, por saber-se identificado de forma inadequada, desagradável.
A verdade é absorvida, a pouco e pouco, através da identificação dos valores reais em detrimento dos aparentes, do descobrimento do significado da existência e da sua finalidade.
Os convites existenciais que propelem para o exterior, para a aparência, modelam a personalidade impondo inúmeros mecanismos de sobrevivência do ego, aos quais o indivíduo se aferra, permanecendo ignorante quanto à sua realidade e aos relevantes objetivos da vida.
As ilusões, desse modo, são comensais da criatura, que se apresenta conforme gostaria de ser e não de acordo com o si, o eu profundo, o que é.
Extirpá-las é condenar o outro ao desamparo, retirar-lhe as bengalas psicológicas de apoio.
Isto não significa apoio aos comportamentos falsos, às personalidades esteriotipadas, antes é respeito ao direito de cada um viver como pode, e não consoante gostaria de ser.
Imprescindível que se seja leal, honesto para consigo mesmo, desvelando-se e trabalhando-se interiormente.
A experiência de identificação do si é um passo avançado no processo de autodescobrimento, de auto amadurecimento.
Essa busca interior expressa-se como uma forma de insatisfação em relação ao já conseguido — os valores possuídos não preenchem mais os espaços interiores, deixando vazios emocionais; uma necessidade de aprimoramento psicológico, superando os formalismos, os modismos, o estatuído circunstancial, nos quais a forma é mais importante do que o conteúdo, o exterior é mais relevante que o interior; uma consciência lúcida, que desperta para os patamares superiores da existência física; uma incontida aspiração pelas conquistas metafísicas, face à vigência permanente do fenômeno da morte em ameaça contínua, pois que a transitoriedade da experiência física se apresenta de exíguo tempo, facultando frustração; uma imperiosa busca de paz desvestida de adornos e de condicionais, e um amplo anseio de plenitude.
Com estes referenciais há uma inevitável auto penetração psicológica,  uma busca do si, do autodescobrimento, a fim de bem discernir o que se anseia e para que, o que se possui e qual a sua aplicação, a análise do futuro e como se apresentará.
A emersão do si, predominando no indivíduo, e característica de cristificação, de libertação do deus interno, de plenitude.
Quando começa, uma transformação psicológica se opera automaticamente, a escala de valores se altera e o comportamento muda de expressão.
A saúde emocional e mental se estabelece, ensejando uma visão correta em torno dos acidentes orgânicos, que não mais desequilibram, e o fenômeno morte se torna perfeitamente natural, sem fantasmas apavorantes ou anelos de antecipação.
Ocorre uma plena harmonia entre o viver — existência física — e a Vida — realidade total.
O self, em razão do processo reencarnatório, fica imerso na névoa carnal, adormecido pelos tóxicos e vapores da indumentária física sob a pressão das experiências humanas, dos relacionamentos sociais, nos quais a astúcia e não a sabedoria, a simulação e não a honestidade, a falácia e não o silêncio promovem o indivíduo, granjeiam lugar de destaque na comunidade. Essa conduta irregular, tal critério, são impeditivos para a liberação do si.
Campeiam as psicopatologias como efeito da atitude do ego em relação ao eu, estando a exigir maior conhecimento das necessidades legítimas.
A conquista do self é processo que se deve começar imediatamente, recorrendo-se às terapias próprias e, simultaneamente, aos recursos da oração, da meditação, das ações edificantes.
Cada logro enseja a ambição de alcançar novo patamar, que se torna um desafio atraente, estimulador.

Ninguém, pois, pode deter-se nos níveis inferiores de consciência, relegando a plano secundário o si, a realidade ambicionada.

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