Referenciais
para a identificação do si
Inevitavelmente,
as pessoas necessitam de experienciar algumas dessas escamoteações do ego, seus
jogos, por falta de estrutura psicológica para suportar a realidade, a verdade.
O mecanismo de
fuga pode constituir uma necessidade de reprimir algo para cuja manifestação o
ser não se sente preparado.
É sempre um
risco intentar-se, de inopino, empurrar o indivíduo para o encontro claro e
imediato com o si, face à sua ausência de valores íntimos para reconhecer-se
frágil — sem deprimir-se, necessitado — sem insegurança em relação ao futuro,
aturdido — sem esperança...
O ser
psicológico é, estruturalmente, a soma das suas emoções e conquistas, que
caracterizam a individualidade pessoal no processo de evolução.
A libertação,
portanto, dos complexos artifícios de fuga, dar-se-á mediante terapias
adequadas, que facultarão o amadurecimento psicológico para a autoestima e o
enfrentamento da realidade suportável.
Qualquer
tentativa de esgrimir a verdade — afinal, a verdade de cada qual — pode
resultar em conflito mais grave. A queda da máscara desnuda o indivíduo e nem
sempre ele deseja ser visto como é — mesmo porque se ignora —, podendo sofrer
um choque com o descobrimento prematuro ou alienar-se, por saber-se
identificado de forma inadequada, desagradável.
A verdade é
absorvida, a pouco e pouco, através da identificação dos valores reais em
detrimento dos aparentes, do descobrimento do significado da existência e da
sua finalidade.
Os convites
existenciais que propelem para o exterior, para a aparência, modelam a
personalidade impondo inúmeros mecanismos de sobrevivência do ego, aos quais o
indivíduo se aferra, permanecendo ignorante quanto à sua realidade e aos
relevantes objetivos da vida.
As ilusões,
desse modo, são comensais da criatura, que se apresenta conforme gostaria de
ser e não de acordo com o si, o eu profundo, o que é.
Extirpá-las é
condenar o outro ao desamparo, retirar-lhe as bengalas psicológicas de apoio.
Isto não
significa apoio aos comportamentos falsos, às personalidades esteriotipadas,
antes é respeito ao direito de cada um viver como pode, e não consoante
gostaria de ser.
Imprescindível
que se seja leal, honesto para consigo mesmo, desvelando-se e trabalhando-se
interiormente.
A experiência
de identificação do si é um passo avançado no processo de autodescobrimento, de
auto amadurecimento.
Essa busca
interior expressa-se como uma forma de insatisfação em relação ao já conseguido
— os valores possuídos não preenchem mais os espaços interiores, deixando
vazios emocionais; uma necessidade de aprimoramento psicológico, superando os
formalismos, os modismos, o estatuído circunstancial, nos quais a forma é mais
importante do que o conteúdo, o exterior é mais relevante que o interior; uma
consciência lúcida, que desperta para os patamares superiores da existência
física; uma incontida aspiração pelas conquistas metafísicas, face à vigência
permanente do fenômeno da morte em ameaça contínua, pois que a transitoriedade
da experiência física se apresenta de exíguo tempo, facultando frustração; uma imperiosa
busca de paz desvestida de adornos e de condicionais, e um amplo anseio de
plenitude.
Com estes
referenciais há uma inevitável auto penetração psicológica, uma busca do si, do autodescobrimento, a fim
de bem discernir o que se anseia e para que, o que se possui e qual a sua
aplicação, a análise do futuro e como se apresentará.
A emersão do
si, predominando no indivíduo, e característica de cristificação, de libertação
do deus interno, de plenitude.
Quando começa,
uma transformação psicológica se opera automaticamente, a escala de valores se
altera e o comportamento muda de expressão.
A saúde
emocional e mental se estabelece, ensejando uma visão correta em torno dos
acidentes orgânicos, que não mais desequilibram, e o fenômeno morte se torna
perfeitamente natural, sem fantasmas apavorantes ou anelos de antecipação.
Ocorre uma
plena harmonia entre o viver — existência física — e a Vida — realidade total.
O self, em
razão do processo reencarnatório, fica imerso na névoa carnal, adormecido pelos
tóxicos e vapores da indumentária física sob a pressão das experiências
humanas, dos relacionamentos sociais, nos quais a astúcia e não a sabedoria, a
simulação e não a honestidade, a falácia e não o silêncio promovem o indivíduo,
granjeiam lugar de destaque na comunidade. Essa conduta irregular, tal
critério, são impeditivos para a liberação do si.
Campeiam as
psicopatologias como efeito da atitude do ego em relação ao eu, estando a
exigir maior conhecimento das necessidades legítimas.
A conquista do
self é processo que se deve começar imediatamente, recorrendo-se às terapias
próprias e, simultaneamente, aos recursos da oração, da meditação, das ações
edificantes.
Cada logro
enseja a ambição de alcançar novo patamar, que se torna um desafio atraente,
estimulador.
Ninguém, pois,
pode deter-se nos níveis inferiores de consciência, relegando a plano secundário
o si, a realidade ambicionada.
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