Capítulo XV – Itens de 1 a 3
O de que precisa o Espírito para ser salvo.
Parábola do bom samaritano.
1. Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade,
acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; - reunidas
diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos
bodes as ovelhas, - e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua
esquerda.
Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita:
vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o
princípio do mundo; - porquanto, tive fome e me destes de comer; tive sede e me
destes de beber; careci de teto e me hospedastes; - estive nu e me vestistes;
achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Então, responder-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi
que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? -
Quando foi que te vimos sem teto e te hospedamos; ou despido e te vestimos? - E
quando foi que te soubemos doente ou preso e fomos visitar-te? - O Rei lhes
responderá: Em verdade vos digo, todas as vezes que isso fizestes a um destes
mais pequeninos dos meus irmãos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Dirá em seguida aos que estiverem à sua esquerda:
Afastai-vos de mim, malditos; ide para o fogo eterno, que foi preparado para o
diabo e seus anjos; - porquanto, tive fome e não me destes de comer, tive sede
e não me destes de beber; precisei de teto e não me agasalhastes; estive sem
roupa e não me vestistes; estive doente e no cárcere e não me visitastes.
Também eles replicarão: Senhor, quando foi que te
vimos com fome e não te demos de comer, com sede e não te demos de beber, sem
teto ou sem roupa, doente ou preso e não te assistimos? - Ele então lhes
responderá: Em verdade vos digo: todas a vezes que faltastes com a assistência
a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo.
E esses irão para o suplício eterno, e os justos para
a vida eterna. (S.
MATEUS, cap. XXV, vv. 31 a 46.)
2. Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para
o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? - Respondeu-lhe
Jesus: Que é o que está escrito na lei? Que é o que lês nela? - Ele respondeu:
Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as
tuas forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo. -
Disse-lhe Jesus: Respondeste muito bem; faze isso e viverás.
Mas, o homem, querendo parecer que era um justo, diz a
Jesus: Quem é o meu próximo? - Jesus, tomando a palavra, lhe diz:
Um homem, que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em
poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram,
deixando-o semimorto. - Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo
mesmo caminho, o viu e passou adiante. -Um levita, que também veio àquele
lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. - Mas, um samaritano que
viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de
compaixão. - Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as
pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele.
- No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata
muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando
regressar.
Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele
que caíra em poder dos ladrões? - O doutor respondeu: Aquele que usou de
misericórdia para com ele. - Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (S. LUCAS,
cap. X, vv. 25 a 37.)
3. Toda a
moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes
contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas
duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade: Bem-aventurados,
disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos
céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são
brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso
próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai
os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o
bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros.
Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele
próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E
não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos
como condição absoluta da felicidade futura.
No quadro que
traçou do juízo final, deve-se, como em muitas outras coisas, separar o que é
apenas figura, alegoria. A homens como os a quem falava, ainda incapazes de
compreender as questões puramente espirituais, tinha ele de apresentar imagens
materiais chocantes e próprias a impressionar. Para melhor apreenderem o que
dizia, tinha mesmo de não se afastar muito das ideias correntes, quanto à
forma, reservando sempre ao porvir a verdadeira interpretação de suas palavras
e dos pontos sobre os quais não podia explicar-se claramente. Mas, ao lado da
parte acessória ou figurada do quadro, há uma ideia dominante: a da felicidade
reservada ao justo e da infelicidade que espera o mau.
Naquele
julgamento supremo, quais os considerandos da sentença? Sobre que se baseia o
libelo? Pergunta, porventura, o juiz se o inquirido preencheu tal ou qual
formalidade, se observou mais ou menos tal ou qual prática exterior? Não;
inquire tão-somente de uma coisa: se a caridade foi praticada, e se pronuncia
assim: Passai à direita, vós que assististes os vossos irmãos; passai à
esquerda, vós que fostes duros para com eles. Informa-se, por acaso, da
ortodoxia da fé? Faz qualquer distinção entre o que crê de um modo e o que cru
de outro'? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que
pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não
considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação,
mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria
declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela
implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a
benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e porque é a negação absoluta do
orgulho e do egoísmo.
Questões para estudo
1 - Que
sentido podemos atribuir à expressão "posse do reino", usada por
Jesus nessa passagem?
2 - Como Jesus
considera a boa ação, praticada em favor dos necessitados?
3 - Por que
socorrendo o próximo, estamos agradando a Deus?
4 – Por que
toda a moral do Cristo é embasada na caridade e na humildade?
5 – No quadro
do juízo final traçado por Jesus, qual é a ideia dominante (descartando-se o
que é alegoria)?
Nenhum comentário:
Postar um comentário