domingo, 4 de maio de 2014

Livro em estudo: Nos domínios da mediunidade
Tema: Capítulo 5
Assimilação de Correntes Mentais
Faltavam apenas dois minutos para as vinte horas, quando o dirigente espiritual mais responsável deu entrada no pequeno recinto.
Nosso orientador articulou a apresentação. O Irmão Clementino abraçou-nos, acolhedor. A casa pertencia-nos a todos, explicou sorridente. Estivéssemos, pois, à vontade, na tarefa de que nos achávamos investidos.
A essa altura, diversas entidades do nosso plano colocaram-se junto dos médiuns que estariam de serviço. Clementino avançou em direção de Raul Silva, perto de quem se postou em muda reflexão. Logo após, Áulus convidou-me ao psicoscópio e, graduando-o sob nova modalidade, recomendou-nos acurado exame.
Foquei os companheiros encarnados em concentração mental, identificando-os sob aspecto diferente. Dessa vez, os veículos físicos apareciam quais se fossem correntes eletromagnéticas em elevada tensão. O sistema nervoso, os núcleos glandulares e os plexos emitiam luminescência particular. E, justapondo-se ao cérebro, a mente surgia como esfera de luz característica, oferecendo em cada companheiro determinado potencial de radiação.
Assinalando-nos a curiosidade, o Assistente explicou:
— Em qualquer estudo mediúnico, não podemos esquecer que a individualidade espiritual, na carne, mora na cidadela atômica do corpo, formado por recursos tomados de empréstimo ao ambiente do mundo. Sangue, encéfalo, nervos, ossos, pele e músculos representam materiais que se aglutinam entre si para a manifestação transitória da alma, na Terra, constituindo-lhe vestimenta temporária, segundo as condições em que a mente se acha.
Nesse instante, o irmão Clementino pousou a destra na fronte do amigo que comandava a assembleia, mostrando-se-nos mais humanizado, quase obscuro.
— O benfeitor espiritual que ora nos dirige — acentuou o nosso instrutor — afigura-se-nos mais pesado porque amorteceu o elevado tom vibratório em que respira habitualmente, descendo à posição de Raul, tanto quanto lhe é possível, para benefício do trabalho começante. Influencia agora a vida cerebral do condutor da casa, à maneira dum musicista emérito manobrando, respeitoso, um violino de alto valor, do qual conhece a firmeza e a harmonia.
Notamos que a cabeça venerável de Clementino passou a emitir raios fulgurantes, ao mesmo tempo em que o cérebro de Silva, sob os dedos do benfeitor, se nimbava de luminosidade intensa, embora diversa.
O mentor desencarnado levantou a voz comovente, suplicando a Bênção Divina com expressões que nos eram familiares, expressões essas que Silva transmitiu igualmente em alta voz, imprimindo-lhes diminutas variações. Com a emotividade que nos invadia a todos, brando silêncio se interpôs, durante rápidos minutos. Fios de luz brilhante ligavam os componentes da mesa, dando-nos a perceber que a prece os reunia mais fortemente entre si.
Terminada a oração, acerquei-me de Silva. Desejava investigar mais a fundo as impressões que lhe assaltavam o campo físico, e observei-lhe, então, todo o busto, inclusive braços e mãos, sob vigorosa onda de força, a eriçar-lhe a pele, num fenômeno de doce excitação, como que ―agradável calafrio‖. Essa onda de força descansava sobre o plexo solar, onde se transformava em luminoso estímulo, que se estendia pelos nervos até o cérebro, do qual se derramava pela boca, em forma de palavras.
Acompanhando-me a análise, o Assistente explicou:
— O jato de forças mentais do irmão Clementino atuou sobre a organização psíquica de Silva, como a corrente dirigida para a lâmpada elétrica. Apoiando-se no plexo solar, elevou-se ao sistema neurocerebrino, como a energia elétrica da usina emissora que, atingindo a lâmpada, se espalha no filamento incandescente, produzindo o fenômeno da luz.
— E o problema da voltagem? — indaguei, curioso.
— Não foi esquecido. Clementino graduou o pensamento e a expressão, de acordo com a capacidade do nosso Raul e do ambiente que o cerca, ajustando-se-lhes às possibilidades, tanto quanto o técnico de eletricidade controla a projeção de energia, segundo a rede dos elementos receptivos.
E sorrindo:
— Cada vaso recebe de conformidade com a estrutura que lhe é própria. Os confrontos de Áulus sugeriam belas indagações. A ligação elétrica gera luz na lâmpada. E ali? O contato espiritual, decerto, segundo inferíamos, improvisava forças igualmente a se derramarem do cérebro e da boca de Silva, na feição de palavras e raios luminosos...
O instrutor percebeu-nos a muda inquirição e apressou-se em aclarar:
— A lâmpada em cujo bojo se faz luz arroja de si mesma os fotônios que são elementos vivos da Natureza a vibrarem no ―espaço físico‖, através dos movimentos que lhes são peculiares, e nossa alma, em cuja intimidade se processa a ideia irradiante, lança fora de si os princípios espirituais, condensados na força ponderável e múltipla do pensamento, princípios esses com que influímos no ―espaço mental‖. Os mundos atuam uns sobre os outros pelas irradiações que despedem e as almas influenciam-se mutuamente, por intermédio dos agentes mentais que produzem.
A palavra serena e precisa do orientador compelia-nos à meditação, embora rápida. Os claros apontamentos, em torno da energia mental, conduziam-me a preciosas reflexões.
Então, o pensamento não escapava às realidades do mundo corpuscular, ponderei de mim para comigo. Assim como possuímos na Terra valiosas observações alusivas à química da matéria densa, relacionando-lhe as unidades atômicas, o campo da mente oferecia largas ensanchas ao estudo de suas combinações...
Pensamentos de crueldade, revolta, tristeza, amor, compreensão, esperança ou alegria teriam natureza diferenciada, com característicos e pesos próprios, adensando a alma ou sutilizando-a, além de lhe definirem as qualidades magnéticas...
A onda mental possuiria determinados coeficientes de força na concentração silenciosa, no verbo exteriorizado ou na palavra escrita...
Compreendia, desse modo, mais uma vez, e sem qualquer obscuridade, que somos naturalmente vítimas ou beneficiários de nossas próprias criações, segundo as correntes mentais que projetamos, escravizando-nos a compromissos com a retaguarda de nossas experiências ou libertando-nos para a vanguarda do progresso, conforme nossas deliberações e atividades, em harmonia ou em desarmonia com as Leis Eternas...
O solilóquio, porém, não devia alongar-se. Nosso orientador, atento aos objetivos de nossa permanência na casa, chamou-me a novas observações:
— Repararam na comunhão entre Clementino e Silva, no momento da prece?
E, ante a nossa expectação de aprendizes, continuou:
— Vimos aqui o fenômeno da perfeita assimilação de correntes mentais que preside habitualmente a quase todos os fatos mediúnicos. Para clareza de raciocínio, comparemos a organização de Silva, nosso companheiro encarnado, a um aparelho receptor, quais os que conhecemos na Terra, nos domínios da radiofonia. A emissão mental de Clementino, condensando-lhe o pensamento e a vontade, envolve Raul Silva em profusão de raios que lhe alcançam o campo interior, primeiramente pelos poros, que são miríades de antenas sobre as quais essa emissão adquire o aspecto de impressões fracas e indecisas. Essas impressões apóiam-se nos centros do corpo espiritual, que funcionam à guisa de condensadores, atingem, de imediato, os cabos do sistema nervoso, a desempenharem o papel de preciosas bobinas de indução, acumulando-se aí num átimo e reconstituindo-se, automaticamente, no cérebro, onde possuímos centenas de centros motores, semelhante a milagroso teclado de eletroímãs, ligados uns aos outros e em cujos fulcros dinâmicos se processam as ações e as reações mentais, que determinam vibrações criativas, através do pensamento ou da palavra, considerando-se o encéfalo como poderosa estação emissora e receptora e a boca por valioso alto-falante. Tais estímulos se expressam ainda pelo mecanismo das mãos e dos pés ou pelas impressões dos sentidos e dos órgãos, que trabalham na feição de guindastes e condutores, transformadores e analistas, sob o comando direto da mente.
A elucidação não podia ser mais simples, contudo oferecia oportunidade a mais amplas indagações.
— Temos então aqui a técnica do próprio pensamento? — perguntou Hilário, com interesse.
— Não tanto — adiantou o interlocutor —; o pensamento que nos é exclusivo flui incessantemente de nosso campo cerebral, tanto quanto as ondas magnéticas e caloríficas que nos são particulares, e usamo-lo normalmente, acionando os recursos de que dispomos.
— Não será, porém, tão fácil estabelecer a diferença entre a criação mental que nos pertence daquela que se nos incorpora à cabeça... — ponderou meu colega intrigado.
— Sua afirmativa carece de base — exclamou o Assistente. —pessoa que saiba manejar a própria atenção observará a mudança, de vez que o nosso pensamento vibra em certo grau de frequência, a concretizar-se em nossa maneira especial de expressão, no círculo dos hábitos e dos pontos de vista, dos modos e do estilo que nos são peculiares.
E, bem-humorado, comentou:
— Em assuntos dessa ordem, é imprescindível muito cuidado no julgar, porque, enquanto afinamos o critério pela craveira terrena, possuímos uma vida mental quase sempre parasitária, de vez que ocultamos a onda de pensamento que nos é própria, para refletir e agir com os preconceitos consagrados ou com a pragmática dos costumes preestabelecidos, que são cristalizações mentais no tempo, ou com as modas do dia e as opiniões dos afeiçoados que constituem fácil acomodação com o menor esforço. Basta, no entanto, nos afeiçoemos aos exercícios da meditação, ao estudo edificante e ao hábito de discernir para compreendermos onde se nos situa a faixa de pensamento, identificando com nitidez as correntes espirituais que passamos a assimilar.
Hilário pensou alguns instantes e, estampando na fisionomia o contentamento de quem fizera importante descoberta, falou satisfeito:
— Agora percebo como podem surgir fenômenos mediúnicos em comezinhas situações da vida, tanto nos feitos notáveis da genialidade, como nos dramas cotidianos...
— Sim, sim... — acentuou o orientador, agora preocupado com o tempo que a nossa palestração consumia — a mediunidade é um dom inerente a todos os seres, como a faculdade de respirar, e cada criatura assimila as forças superiores ou inferiores com as quais sintoniza. Por isso mesmo, o Divino Mestre recomendou-nos oração e vigilância para não cairmos nas sugestões do mal, porque a tentação é o fio de forças vivas a irradiar-se de nós, captando os elementos que lhe são semelhantes e tecendo, assim, ao redor de nossa alma, espessa rede de impulsos, por vezes irresistíveis.
E, buscando o lugar que lhe competia nos trabalhos em andamento, ajuntou:
— Estudemos trabalhando. O tempo utilizado a serviço do próximo é bênção que entesouramos, em nosso próprio favor, para sempre.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1) O que fez com que os componentes encarnados emitissem tanta luz, conforme a descrição de A.L., antes do início da reunião ?  Todas as pessoas tem essa mesma capacidade ? Explique.

2) Qual a dedução que podemos tirar da seguinte explicação do Assistente: "Em qualquer estudo mediúnico, não podemos esquecer que a individualidade espiritual, na carne, mora na cidadela atômica do corpo, formado por recursos tomados de empréstimo ao ambiente do mundo.  Sangue, encéfalo, nervos, ossos, pele e músculos representam materiais que se aglutinam entre si para a manifestação transitória da alma, na Terra, constituindo-lhe vestimenta temporária, segundo as condições em que a mente se acha."

3) Como é possível aos espíritos desencarnados amortecer o seu tom vibratório, como fez o irmão Clementino, e com que finalidade fazem isso?

4) Porque os espíritos desencarnados necessitam dos encarnados para socorrer os necessitados?  Não poderiam por eles mesmos efetuar esse socorro? 

5) Pode um espírito desencarnado comunicar-se através de qualquer um dos médiuns ?  O que é necessário para que haja tal comunicação?

6) O que é o "plexo solar" e qual a sua importância e finalidade?

7) Quais os fatores que podem influenciar na eficácia de um grupo de trabalhos mediúnicos?

8) Comente as seguintes assertivas:

8 - a) "A lâmpada em cujo bojo se faz luz arroja de si mesma os fotônios que são elementos vivos da Natureza a vibrarem no "espaço físico", através dos movimentos que lhes são peculiares, e nossa alma, em cuja intimidade se processa a ideia irradiante, lança fora de si os princípios espirituais, condensados na força ponderável e múltipla do pensamento, princípios esses com que influímos no "espaço mental".  Os mundos atuam uns sobre os outros pelas irradiações que despedem e as almas influenciam-se mutuamente, por intermédio dos agentes mentais que produzem."

8 -b) "(...) ... Pensamentos de crueldade, revolta, tristeza, amor, compreensão, esperança ou alegria teriam natureza diferenciada, com característicos e pesos próprios, adensando a alma ou sutilizando-a além de lhe definirem as qualidades magnéticas... A onda mental possuiria determinados coeficientes de força na concentração silenciosa, no verbo exteriorizado ou na palavra escrita...
Compreendia, desse modo, mais uma vez, e sem qualquer obscuridade, que somos naturalmente vítimas ou beneficiários de nossas próprias criações, segundo as correntes mentais que projetamos, escravizando-nos a compromissos com a retaguarda de nossas experiências ou libertando-nos para a vanguarda do progresso, conforme nossas deliberações e atividades, em harmonia ou em desarmonia com as Leis Eternas..."

9) Como poderá um médium distinguir se um pensamento é seu ou de um espírito?


Bibliografia de apoio sugerida:
LM  - LE

Estudando a Mediunidade - Martins Peralva

Diálogo com as Sombras - Hermínio C. Miranda


Perguntas extraídas do site cvdee.org.br

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