segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Conclusão do Capítulo 18 - Apontamentos à Margem

1) Que benefícios o intercâmbio mediúnico pode trazer para encarnados e desencarnados?
A humanidade é uma só. Encarnação e desencarnação são meros estados transitórios, fenômenos biológicos ainda necessários ao espírito imortal em evolução. Ninguém evolui sozinho.  Todos temos de evoluir juntos, impulsionando ao progresso, simultaneamente, o Planeta Terra que nos abriga. Fazendo parte de uma única e grande coletividade, encarnados e desencarnados têm seus destinos atrelados uns aos outros, influenciando-se mutuamente.
Neste contexto, o intercâmbio mediúnico possibilita aos que se encontram encarnados colaborarem, como médiuns, com os benfeitores do plano espiritual, no serviço de amparo e orientação aos que se encontram em trânsito pelo mundo carnal. Colaborando com os Espíritos executores dos planos de Jesus, estarão se creditando a, no futuro, quando retornarem ao plano espiritual, receberem o amparo tão necessário nesse momento de transição entre uma e outra forma de vida. Como explicou Áulus, "os homens, cooperando com os Espíritos esclarecidos e benevolentes, atraem simpatias preciosas para a vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão construindo facilidades para o dia de amanhã, quando de volta à lide terrestre." 
Martins Peralva, no livro "Estudando a Mediunidade", apresenta, no capítulo XXIX, um quadro em que sintetiza "os principais benefícios da prática mediúnica com Jesus":
            Para os encarnados:
Cooperação com encarnados e desencarnados, no serviço de reconforto e esclarecimento
Auto-educação, pela renovação dos sentimentos, com aproveitamento das mensagens de elevado teor
Construção de afeições preciosas no plano espiritual, consolidando, assim as bases da cooperação e da amizade superior.
          Para os desencarnados:
Preparação de facilidades para os que tiverem de reiniciar o aprendizado, pela reencarnação, mediante o auxílio aos atuais desencarnados.
Auxílio a reencarnados e desencarnados no esforço de libertação das teias da ignorância e do sofrimento.
Transmissão, aos reencarnados, dos esclarecimentos edificantes dos grandes Instrutores que operam com Jesus na redenção da Humanidade.

2) Que lições podemos extrair das seguintes passagens evangélicas mencionadas por Áulus:
" Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido  a  modificar  a  sua conduta. Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se  no árduo combate da renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão."
Áulus quis demonstrar que mesmo aqueles que, conhecendo os ensinamentos de Jesus, operaram transformações em suas vidas, fizeram-no mediante esforço próprio, sem se isentarem de suas provas. O auxílio do Alto sempre chegará, mas nunca nos carregará no colo. Os Espíritos amigos não nos trazem uma solução pronta.
Como bem mencionou André Luiz, equivocamo-nos quando "no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução decisiva e absoluta para inúmeros problemas que se nos deparam...".  Se os Espíritos pusessem termo às dificuldades humanas que temos de experienciar na vida terrena, estariam furtando-nos o trabalho que sustentará o nosso progresso e subtraindo a lição que necessitamos como aprendizes ainda imaturos.
Portanto, o mentor quis deixar claro que os desencarnados não podem oferecer uma solução concreta aos sofrimentos dos encarnados, pois não é esse o papel que devem desempenhar na obra do Criador. O papel do plano espiritual é de cooperação, de fortalecimento, de sustentação na nossa fé, sem, contudo, eliminar uma prova que seja pela qual devamos nos submeter.  Zaqueu, Maria de Magdala, Lázaro e mais notadamente Paulo foram iluminados pelos ensinos de Jesus e souberam assimilá-los, transformando-se profundamente.  No entanto, ainda assim, tiveram que passar por suas provas, como vemos com o exemplo de Paulo, submetido a dolorosos flagelos até o sacrifício final, impostos pela incompreensão e falta de sensibilidade dos poderosos de então, enquanto desempenhava a missão que lhe fora confiada pelo Cristo, de levar o Evangelho a todos os cantos do mundo onde as precárias condições materiais da época o permitiam.

3) André Luiz narra o comparecimento de um espírito suicida, em estado de grande desequilíbrio, que fora evocado pela mãe, presente à reunião. Quais as consequências ocasionadas pelo suicídio para o espírito?
Como é comum aos casos de suicídio, o rapaz evocado pela mãe apresentou-se na reunião em deplorável estado de desequilíbrio, afirmando encontrar-se em grande sofrimento. Como demonstra o infeliz rapaz, a primeira grande decepção com que se depara o suicida é constatar que continuava vivo e que o ato praticado de nada adiantou.
Experimentava o rapaz um sentimento de frustração, consciente que se encontrava de que o fim da vida física resultou absolutamente inútil. Já demonstrava arrependimento pelo desatinado ato e absorvia os efeitos da condenação imposta sua consciência, ao declarar-se envergonhado. Ao invés de se livrar de um problema, adquiriu outro, provavelmente ainda mais graves, com sofrimentos futuros indescritíveis. A vida física nos é concedida por Deus e somente a Ele assiste o direito de definir o momento de dela nos retirar, conforme as leis cósmicas que comanda o Universo.
Uma vez mais recorremos a Martins Peralva, que, na obra acima citada, apresenta, no capítulo XXX, um breve resumo das consequências que o ato do suicídio acarreta para o espírito infrator:
                     - Visão, pela própria alma, do corpo em decomposição;
                     - Flagelações nos planos inferiores;
                     - Frustrações de tentativas para a reencarnação;
                     - Reencarnações dolorosas, com agravamento das provas.

4) Áulus explica que o fenômeno mediúnico não é novo e que "nova é tão somente a forma de mobilização dele." Que ensinamento pretendeu transmitir o orientador com essa afirmação? Como o Espiritismo se enquadra nesse ensino?
A mensagem do mentor é no sentido de que a mediunidade existe de todo o sempre. Vem de épocas remotas. É uma faculdade inerente à condição humana. Todas as criaturas a possuem, umas, em estado de latência, quase imperceptível; outras, de modo permanente e ostensivo. Conforme explicou, as castas sacerdotais de antigamente a guardavam como um privilégio seu, utilizando-a em demonstrações nos culto exteriores, como forma de impor seu domínio sobre as classes menos esclarecidas. Os profetas do passado, que aparecem com frequência tanto no Antigo como no Novo Testamento, eram inspirados por Espíritos Superiores. Tanto um como outro livro são obras de origem mediúnica. 
O uso da mediunidade, então, não tinha o mesmo caráter de ajuda, de comunhão espiritual, de intercâmbio com os espíritos desencarnados, como hoje se pratica nos centros espíritas. Os portadores de mediunidade eram tidos como pessoas especiais, dotadas de poderes sobrenaturais e a prática mediúnica se dava em ambientes fechados, restritos a determinados grupos e com objetivos nem sempre nobres. Com o advento do Espiritismo, o fenômeno mediúnico ganhou nova dimensão e seriedade, passando a ser uma conquista de toda a humanidade. O Espiritismo libertou os seus princípios em benefício de todos, trazendo-os ao seio do povo. Tirou a mediunidade do campo do sobrenatural, transformando-a num instrumento de comprovação da sobrevivência do espírito e da eternidade da Criação.
Para trazer esses novos conceitos à humanidade, Deus enviou ninguém menos que o próprio Jesus, Governador Espiritual do Planeta, o Cristo Planetário, para que, com seus ensinamentos e, principalmente, com seu exemplo, viesse conduzir a humanidade a ingressar numa nova era. Para tanto, legou-nos seu ensino moral, curou enfermos, pacificou aflitos, fez paralíticos andarem, cegos enxergarem, aliviou obsediados e terminou por deixar o sepulcro vazio, como forma de demonstrar a continuação da vida.

5) André Luiz finaliza o presente capítulo com a transcrição de uma mensagem final de Gabriel, dirigente espiritual da reunião. Vamos interpretar alguns trechos desta mensagem:
                                            
5.a) "...é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior."      
R - A mediunidade deve ser usada para a prática da caridade. É uma oportunidade preciosa que é concedida  ao espírito como meio de impulsionar a sua evolução. Não nos é concedida para a busca de soluções para os problemas do dia a dia, para as questões corriqueiras que a vida na matéria se nos apresenta e que temos de resolver por nós mesmos. Tampouco deve ser exercitada com outra finalidade que não a prática da caridade. O médium que a utiliza como meio de obter alguma vantagem pessoal, seja ela material ou não, ao invés  de  encontrar  "o caminho  direito de nosso ajustamento à vida superior", como ensinou o Instrutor, estará encontrando o duro caminho da queda.  "Dai de graça o que de graça recebeste", como disse Jesus, é o mandamento primeiro do medianeiro.
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5.b) "O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo,..."
Pouco antes de deixar a vida física, Jesus prometeu-nos que retornaria. As religiões que se formaram em torno de seus ensinamentos interpretam essa promessa literalmente, como, aliás, desse modo interpretam todo o ensinamento do Mestre. E estão aí, a aguardar uma nova vinda do Cristo à carne. Jesus, na realidade, nunca nos deixou.  Está e sempre esteve no meio de nós, como o guia e modelo da humanidade terrena, governando os destinos do Planeta e nos enviando seus emissários, de tempos em tempos, para nos impulsionar o progresso.
O retorno prometido pelo Cristo não tem natureza material. É um retorno de natureza espiritual, como o foi todo o seu ensinamento. É o retorno de sua Doutrina, que não foi até hoje assimilada corretamente pelos homens. O Espiritismo, como a Terceira Revelação das Leis de Deus, veio para relembrar os ensinamentos e o exemplo do Cristo, esclarecendo sobre coisas que a humanidade, á época de sua passagem pela vida material, não estava ainda evoluída o suficiente para compreender. Cumpre-se, com o seu advento, a promessa de Jesus de que retornaria ao mundo.

5.c) "Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem aguardamos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe."
R - Como temos visto, a mediunidade não é salvação para ninguém. Aliás, o Espiritismo nos ensina que ninguém salva ninguém, nem mesmo os Espíritos amigos, que através do fenômeno mediúnico tanto nos auxiliam. A lei é de evolução e a chamada "salvação", tão utilizada por alguns segmentos religiosos, nada mais é do que o  alcance da perfeição relativa a que estamos irreversivelmente destinados e da felicidade definitiva. No entanto, estas são conquistas próprias do espírito imortal, que somente as alcançará através do árduo trabalho em busca da ascensão.
O médium é uma ferramenta preciosa de que os Espíritos benfeitores se utilizam para nos orientarem. São nossos parceiros de luta evolutiva. Não são os nossos salvadores nem a mediunidade nosso porto milagroso. Mais uma vez recordemos a lição de Jesus: "Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos;  e  então retribuirá a cada um segundo as suas obras."

5.d) "Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar,  segundo  os  velhos  hábitos  que  nos caracterizam a preguiça mental na Terra: - Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?
Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos informes, quanto à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal,
com as legítimas noções da consciência cósmica."
No Espiritismo e na Mediunidade encontramos os ensinamentos que, se colocados em prática, nos conduzirão ao caminho da felicidade. Trazem-nos os ensinamentos de Jesus em espírito e verdade, o conhecimento de leis cósmica que regem a matéria e a vida espiritual e que eram até então desconhecidas. Mostram-nos a nossa realidade existencial, como os seres inteligentes do Universo, espíritos imortais em evolução.  No entanto,  como vimos nas questões anteriores, o Espiritismo nem a mediunidade solucionam nossas dificuldades. Dificuldades temos que vencer, usando o nosso livre-arbítrio. Ajudam-nos a nos transformar, mediante o consolo e o esclarecimento. Mas quem opera essa transformação imprescindível somos nós. Com a certeza na vida futura que o Espiritismo comprova de modo tão claro, o homem adquire força para seguir sua caminhada, certo de que um dia esse Deus interno que existe dentro de nós resplenderá inteiramente e ofuscará de vez o homem velho que ainda trazemos conosco.


Capítulo 18 - Apontamentos à Margem
Dona Ambrosina continuava psicografando várias mensagens, endereçadas aos presentes. E um dos oradores, sob a influência de benigno mentor da Espiritualidade, salientava a necessidade de conformação com as Leis Divinas para que a nossa vida mental se refaça, fazendo jus a bênçãos renovadoras. Alguns encarnados jaziam impermeáveis e sonolentos, vampirizados por obsessores caprichosos que os acompanhavam de perto, entretanto, muitos desencarnados de mediana compreensão ouviam, solícitos, e sinceramente aplicados ao ensino consolador.
Gabriel, de olhos percucientes e lúcidos, a tudo presidia com firmeza. Nenhuma ocorrência, por mínima que fosse, lhe escapava à percepção. Aqui, a um leve sinal seu, entidades escarnecedoras eram exortadas à renovação de atitude, ali, socorriam-se doentes que ele indicava com silencioso gesto de recomendação. Era o pulso de comando, forte e seguro, sustentando a harmonia e a ordem, na exaltação do trabalho.
Contemplamos a mesa enorme em que a direção se processava com equilíbrio irrepreensível e, fitando a médium, rodeada de apetrechos do serviço, em atividade constante, Hilário perguntou ao nosso orientador:
— Por que tantas mensagens pessoais dos Espíritos amigos?
— São respostas reconfortantes a companheiros que lhes solicitam assistência e consolo.
— E essas respostas — continuou meu colega — traduzem equação definitiva para os problemas que expõem?
— Isso não — aclarou o Assistente, convicto —; entre o auxílio e a solução vai sempre alguma distância em qualquer dificuldade, e não podemos esquecer que cada um de nós possui os seus próprios enigmas.
— Se é assim, por que motivo o intercâmbio? Se os desencarnados não podem oferecer uma conclusão pacífica aos tormentos dos irmãos que ainda se demoram na carne, por que a porta aberta entre eles e nós?
— Não te esqueças do impositivo da cooperação na estrada de cada ser — disse Áulus com grave entono. — Na vida eterna, a existência no corpo físico, por mais longa, é sempre curto período de aprendizagem. E não nos cabe olvidar que a Terra é o campo onde ferimos a nossa batalha evolutiva. Dentro dos princípios de causa e efeito, adquirimos os valores da experiência com que estruturamos a nossa individualidade para as Esferas Superiores. A mente, em verdade, é o caminheiro buscando a meta da angelitude, contudo, não avançará sem auxílio. Ninguém vive só. Os pretensos mortos precisam amparar os companheiros em estágio na matéria densa, porquanto em grande número serão compelidos a novos mergulhos na experiência carnal. É da Lei que a sabedoria socorra a ignorância, que os melhores ajudem aos menos bons. Os homens, cooperando com os Espíritos esclarecidos e benevolentes, atraem simpatias preciosas para a vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão construindo facilidades para o dia de amanhã, quando de volta à lide terrestre.
— Sim, sim, compreendo... — exclamou Hilário, reconhecido. — Entretanto, colocando-me na situação da criatura vulgar, recordo-me de que no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução decisiva e absoluta para inúmeros problemas que se nos deparam...
— Semelhante atitude, porém — acentuou o orientador —, decorre de antiga viciação mental no Planeta. Para maior clareza do assunto, rememoremos a exemplificação do Divino Mestre. Jesus, o Governador Espiritual do Mundo, auxiliou a doentes e aflitos, sem retirá-los das questões fundamentais que lhes diziam respeito. Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido a modificar a sua conduta. Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se no árduo combate da renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão. Segundo reconhecemos, seria ilógico aguardar dos desencarnados a liquidação total das lutas humanas. Isso significaria furtar o trabalho que corresponde ao sustento do servidor, ou subtrair a lição ao aluno necessitado de luz.
A essa altura, não longe de nós, simpática senhora monologava em pensamento:
— Meu filho! Meu filho! Se você não está morto, visite-me! Venha! Venha! Estou morrendo de saudade, de angústia!... Fale-me alguma palavra pela qual nos entendamos... Se tudo não está acabado, aproxime-se da médium e comunique-se! É impossível que você não tenha piedade...
As frases amargas, embora inarticuladas, atingiam-nos a audição, qual se fossem arremessadas ao ambiente em voz abafadiça. Leve rumor à retaguarda feriu-nos a atenção. Um rapaz desencarnado apresentou-se em lastimáveis condições e avançou para a triste mulher, dominado por invencível atração.
Da boca amarfanhada escorria a amargura em forma de palavras comovedoras.
— Mãe! Mãe! — gritava de joelhos, qual se fora atormentada criança, conchegando-se-lhe ao regaço — não me abandone!... Estou aqui, ouça-me! Não morri... Perdoe-me, perdoe-me!... Sou um renegado, um náufrago!... Busquei a morte quando eu deveria viver para o seu carinho! Agora sim! Vejo o sofrimento de perto e desejaria aniquilar-me para sempre, tal a vergonha que me aflige o coração!...
A matrona não lhe via a figura agoniada, contudo, registrava-lhe a presença, através de intraduzível ansiedade, a constringir-lhe o peito. Dois vigilantes aproximaram-se, arrebatando o moço ao colo materno, e, ladeando por nossa vez o Assistente, que se deu pressa em socorrer a senhora em lágrimas, ouvimo-la clamar, mentalmente:
―Não será melhor segui-lo? Morrer e descansar!... Meu filho, quero meu filho!...
Áulus aplicou-lhe recursos magnéticos, com o que a desventurada criatura experimentou grande alívio, e, em seguida, informou:
— Anotemos o caso desta pobre mãe desarvorada. O filho suicidou-se, há meses, e ainda não consegue forrar-se à flagelação Intima. Em sua devoção afetiva, reclama-lhe a manifestação pessoal sem saber o que pede, porque a chocante posição do rapaz constituir-lhe-ia pavoroso martírio. Não poderá, desse modo, recolher-lhe a palavra direta, entretanto, ao contato do trabalho espiritual que aqui se processa, incorporará energias novas para refazer-se gradualmente.
— Decerto — acrescentou Hilário, com inteligência —, não terá resolvido o problema crucial da sensibilidade ferida, no entanto, adquire forças para recuperar-se...
— Isso mesmo. — Aliás — considerei a meu modo —, a mediunidade de hoje é, na essência, a profecia das religiões de todos os tempos.
— Sim — aprovou Áulus, prestimoso —, com a diferença de que a mediunidade hoje é uma concessão do Senhor à Humanidade em geral, considerando-se a madureza do entendimento humano, à frente da vida, O fenômeno mediúnico não é novo. Nova é tão-somente a forma de mobilização dele, porque o sacerdócio de várias procedências jaz, há muitos séculos, detido nos espetáculos do culto exterior, mumificando indebitamente o corpo das revelações celestiais. Notadamente o Cristianismo, que deveria ser a mais ampla e a mais simples das escolas de fé, há muito tempo como que se enquistou no superficialismo dos templos. Era preciso, pois, libertar-lhe os princípios, a benefício do mundo que, cientificamente, hoje se banha no clarão de nova era. Por esse motivo, o Governo oculto do Planeta deliberou que a mediunidade fosse trazida do colégio sacerdotal à praça pública, a fim de que a noção da eternidade, através da sobrevivência da alma, desperte a mente anestesiada do povo.
―É assim que Jesus nos reaparece, agora, não como fundador de ritos e fronteiras dogmáticas, mas sim em sua verdadeira feição de Redentor da Alma Humana. Instrumento de Deus por excelência, Ele se utilizou da mediunidade para acender a luz da sua Doutrina de Amor. Restaurando enfermos e pacificando aflitos, em muitas ocasiões esteve em contato com os chamados mortos, alguns dos quais não eram senão almas sofredoras a vampirizarem obsidiados de diversos matizes. E, além de surgir em colóquio com Moisés materializado no Tabor, Ele mesmo é o grande ressuscitado, legando aos homens o sepulcro vazio e acompanhando os discípulos com acendrado amor, para que lhe continuassem o apostolado de bênçãos.‖
Hilário esboçou o sorriso de um estudante satisfeito com a lição, e exclamou:
— Ah! Sim, tenho a impressão de começar a compreender...
Os trabalhos da reunião tocavam a fase terminal. Nosso orientador percebeu que Gabriel se dispunha a grafar a mensagem do encerramento e, respeitoso, pediu-lhe cunhar alguns conceitos em derredor da mediunidade, ao que o supervisor aquiesceu, gentil.
Dona Ambrosina entrara em pausa ligeira para alguns momentos de recuperação. O diretor da reunião rogou silêncio para o remate dos serviços, e, tão logo reverente quietação se fez na assembleia, o condutor da casa controlou o cérebro da medianeira e tomou-lhe o braço, escrevendo aceleradamente.
Em minutos rápidos, os apontamentos de Gabriel estavam concluídos. A médium levantou-se e passou a lê-los em voz alta:
— ―Meus amigos — dizia o mentor —, é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior.
―Compreendendo assim a verdade, é necessário renovar a nossa conceituação de médium, para que não venhamos a transformar companheiros de ideal e de luta em oráculos e adivinhos, com esquecimento de nossos deveres na elevação própria.
―O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo, convidando-nos ao aperfeiçoamento individual, por intermédio do trabalho construtivo e incessante.
―Dentro das leis da cooperação, será justo aceitar o braço amigo que se nos oferece para a jornada salvadora, entretanto é imprescindível não esquecer que cada qual de nós transporta consigo questões essenciais e necessidades intransferíveis.
―Desencarnados e encarnados, todos palmilhamos extenso campo de experimentações e de provas, condizentes com os impositivos de nosso crescimento para a imortalidade.
―Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem aguardemos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe.
―Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar, segundo os velhos hábitos que nos caracterizam a preguiça mental na Terra: — Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?
―Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos o pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos informes, quanto à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal, com as legítimas noções da consciência cósmica.
―Alcançadas semelhantes fórmulas de raciocínio, perguntaremos a vós outros por nossa vez: — Acreditais seja pouco revelar a excelsitude da Justiça? Admitis seja desprezível descortinar a vida em suas ilimitadas facetas de evolução e eternidade?
―Reverenciemos, pois, o Espiritismo e a Mediunidade como dois altares vivos no templo da fé, através dos quais contemplaremos, de mais alto, a esfera das cogitações propriamente terrestres, compreendendo, por fim, que a glória reservada ao espírito humano é sublime e infinita, no Reino Divino do Universo.‖
A comunicação psicográfica tratou de outros assuntos e, finda a sua leitura, breve oração de reconhecimento foi pronunciada. E, enquanto os assistentes tornavam à conversação livre, Hilário e eu, ante os conceitos ouvidos, passamos a profunda introversão para melhor aprender e meditar.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1) Que benefícios o intercâmbio mediúnico pode trazer para encarnados e desencarnados?

2) Que lições podemos extrair das seguintes passagens evangélicas mencionadas por Áulus:
" Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido  a  modificar  a  sua conduta. Maria de Magdala, que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de sustentar-se  no árduo combate da renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por Ele distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios que lhe cabiam no desempenho da nova missão."

3) André Luiz narra o comparecimento de um espírito suicida, em estado de grande desequilíbrio, que fora evocado pela mãe, presente à reunião. Quais as consequências ocasionadas pelo suicídio para o espírito?

4) Áulus explica que o fenômeno mediúnico não é novo e que "nova é tão somente a forma de mobilização dele." Que esninamento pretendeu transmitir o orientador com essa afirmação? Como o Espiritismo se enquadra nesse ensino?

5) André Luiz finaliza o presente capítulo com a transcrição de uma mensagem final de Gabrioel, dirigente espiritual da reunião. Vamos interpretar alguns trechos desta mensagem:
                                            
5.a) "...é indispensável procurar na mediunidade não a chave falsa para certos arranjos inadequados na Terra, mas sim o caminho direito de nosso ajustamento à vida superior."                                                                             

5.b) "O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que retorna ao mundo,..."

5.c) "Não atribuamos, assim, ao médium obrigações que nos competem, em caráter exclusivo, e nem aguardamos da mediunidade funções milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe."

5.d) "Diante de nossas assertivas, podereis talvez indagar,  segundo  os  velhos  hábitos  que  nos caracterizam a preguiça mental na Terra: - Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?
Responder-vos-emos, todavia, que neles reencontramos pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a compreensão para mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos informes, quanto à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser, do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima de tudo, a luz para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos, afinal,
com as legítimas noções da consciência cósmica."




Conclusão do Capítulo 17 - Serviço de Passes

1) Qual a importância da prece antes de se iniciar o serviço de passe?
A prece tem um papel de grande relevância como providência preliminar ao serviço de passe. Através da prece, como explica o orientador espiritual Conrado, o médium passista atrai "vigorosa corrente mental", fortalecendo-se, espiritualmente e expulsando de seu íntimo "sombrios remanescentes da atividade comum que trazem do círculo diário de luta". Em outras palavras, a prece funciona como um elemento isolante dos problemas terrenos, colocando o trabalhador em sintonia com o plano maior. Também por meio da prece, impregna-se de "substâncias renovadoras" hauridas no plano espiritual, que o auxiliarão ao trabalho eficiente em favor do próximo.
 Com as forças renovadas, o trabalhador passista é o primeiro beneficiado pela transfusão de energias que se opera através do passe. Por esse motivo, não sofre o passista qualquer desgaste físico ou mental, pois apenas transmite ao paciente o que recebe dos benfeitores espirituais.

2) E do estudo?
Em todo trabalho, como salienta o benfeitor, o estudo significa progresso. A sua ausência implica estagnação. Assim, embora o mais importante no trabalho de passe é que ele seja realizado com amor ao próximo e em sintonia com o Alto, o médium precisa "afeiçoar-se à instrução, ao conhecimento, ao preparo e à melhoria de si mesmo, a fim de filtrar para a vida e para os homens o que signifique luz e paz".

3) De acordo com a narrativa de André Luiz, quais os requisitos que o trabalhador passista deve atender?
Podemos destacar como os principais atributos necessários ao trabalhador passista,  em  primeiro  lugar,  o  desejo sincero e ardente de servir ao próximo com amor; depois, a fé  e  confiança  no  Alto,  sem  as  quais  o  servidor estará restringindo a sua capacidade de transmissão dos recursos magnéticos e humildade para se reconhecer  como apenas um instrumento de que se utilizam os benfeitores espiritais, que lhe renovam as energias para que as possam transmitir.
Além desses requisitos de ordem interna, o trabalhador no passe deve atender a outros, relativos à vida de relação, como se abster de cultivar mágoas, ressentimentos e paixões exacerbadas; em dias de trabalho, praticar uma alimentação leve, com abstenção do uso de fumo e alcoólicos; procurar manter-se equilibrado e em harmonia interior, obedecer os horários e as normas de trabalho da casa espírita, enfim, fazer do seu modo de vida um exemplo de quem procura transformar-se conforme o ensinamento do Cristo.

4) E quanto ao beneficiário do passe? Que requisitos são necessários para se obter o resultado esperado?
Ao beneficiário do passe, o principal requisito é a fé. O paciente, no momento do passe, deve se manter em posição de recolhimento e respeito, o que, juntamente com a sua fé inabalável, torná-lo-á receptivo aos fluidos magnéticos que sobre si será derramado. Assim procedendo, o paciente se transforma em poderoso ímã que atrairá para si os fluidos regeneradores doados pela Espiritualidade Superior através do passe. Como foi dito durante o estudo, Jesus, em várias oportunidades narradas nos Evangelhos, após obter a cura de um enfermo destacava: "... tua fé te curou...", ensinando ser a fé um poderoso instrumento de cura. Aliás, hoje, a própria ciência humana já constatou esse fato por meio de pesquisas realizadas até com pacientes em estado terminal.

5) Que lições podemos extrair do caso da senhora que sofria de icterícia?
Como descreveu o benfeitor Conrado, a enfermidade foi adquirida devido ao estado colérico por que se deixou tomar a senhora em questão. Entregando-se à ira e à irritação, sentimentos de baixa natureza, a enferma provocou um desequilíbrio mental, vale dizer espiritual, sendo a doença a consequência natural desse fato. Como já vimos em estudos anteriores, a doença no corpo físico, nesses casos, funciona como um exaustor  que eliminará moléculas e  células malsãs, substituindo-as por outras, saudáveis, que propiciarão a restauração da saúde física.
No entanto, em determinados casos, como no presente, a lesão perispiritual provocada pelo desequilíbrio do espírito é tão extensa que será necessário o recurso do tempo para a recomposição dos organismos afetados. Além disso, será também absolutamente indispensável a renovação mental da enferma, para propiciar a renovação dos microorganismos da mente que atuam sobre o corpo físico, de modo a facultar a sua reconstrução.

6) Como se processa a cura mediante o tratamento de passe?
A cura de uma enfermidade física mediante o tratamento de passe se dá pela transfusão de energia que se opera no organismo enfermo. Essa energia, doada pelos espíritos benfeitores com a utilização do trabalhador passista como elemento intermediário, fornece princípios reparadores ao corpo, mediante a substituição de moléculas malsã por moléculas sadias, como dissemos anteriormente. O poder curativo está na razão direta da pureza da substância transfundida. Esse fenômeno se explica pelo fato de serem o corpo carnal e o perispírito constituídos  de  elementos extraídos do fluido cósmico  universal,  do  qual  são simples transformações e de onde também são tirados os fluidos curadores.

7) Enfim, como podemos conceituar o passe magnético?
Conforme explicou o benfeitor, o passe é uma transfusão de energias que altera o campo celular. Esclarece, ainda, que essas energias não são unicamente anímicas, ou seja, originadas do próprio médium, mas, também, espirituais, através dos fluidos doados pelos benfeitores.
A sua aplicação deve ser feita através da imposição de mãos sobre a cabeça do paciente, como ensinou Jesus.  Os fluidos doados pelos espíritos circularão, primeiro, na cabeça do médium (centro coronário), para depois escorrer pelas suas mãos. Atingirão, então, o centro coronário do assistido, que absorvirá essa energia e a distribuirá por todo o corpo.


Capítulo 17 - Serviço de Passes
Atravessamos a porta e fomos defrontados por ambiente balsâmico e luminoso.
Um cavalheiro maduro e uma senhora respeitável recolhiam apontamentos em pequeno livro de notas, ladeados por entidades evidentemente vinculadas aos serviços de cura. Indicando os dois médiuns, o Assistente informou:
São os nossos irmãos Clara e Henrique, em tarefa de assistência, orientados pelos amigos que os dirigem.
Como compreender a atmosfera radiante em que nos banhamos? aventurou Hilário, curioso.
Nesta sala explicou Áulus, amigavelmente se reúnem sublimadas emanações mentais da maioria de quantos se valem do socorro magnético, tomados de amor e confiança. Aqui possuímos uma espécie de altar interior, formado pelos pensamentos, preces e aspirações de quantos nos procuram trazendo o melhor de si mesmos.
Não dispúnhamos, todavia, de muito tempo para a conversação isolada. Clara e Henrique, agora em prece, nimbavam-se de luz. Dir-se-ia estavam quase desligados do corpo denso, porque se mostravam espiritualmente mais livres, em pleno contato com os benfeitores presentes, embora por si mesmos não no pudessem avaliar. Calmos e seguros, pareciam haurir forças revigorantes na intimidade de suas almas. Guardavam a ideia de que a oração lhes mantinha o espírito em comunicação com invisível e profundo manancial de energia silenciosa.
Ante a porta ainda cerrada, acotovelavam-se pessoas aflitas e bulhentas, esperando o término da preparação a que se confiavam. Os dois médiuns, porém, afiguravam-se-nos espiritualmente distantes. Absortos, em companhia das entidades irmãs, registravam-lhes as instruções, através dos recursos intuitivos.
Pelas irradiações da personalidade magnética de Henrique, reconhecia-se-lhe, de imediato, a superioridade sobre a companheira. Era ele, dentre os dois, o ponto dominante. Por isso, decerto, ao seu lado se achava o orientador espiritual mais categorizado para a tarefa.
Áulus abraçou-o e no-lo apresentou, gentil.
O irmão Conrado, nosso novo amigo, enlaçou-nos acolhedor. Anunciou que o serviço estaria à nossa disposição para os apontamentos que desejássemos. E o nosso instrutor, colocando-nos à vontade, autorizou-nos dirigir a Conrado qualquer indagação que nos ocorresse.
Hilário, que nunca sopitava a própria espontaneidade, começou, como de hábito, a inquirição, perguntando respeitosamente:
O amigo permanece frequentemente aqui?
Sim, tomamos sob nossa responsabilidade os serviços assistenciais da instituição, em favor dos doentes, duas noites por semana.
Dos enfermos tão-somente encarnados?
Não é bem assim. Atendemos aos necessitados de qualquer procedência.
Conta com muitos cooperadores?
Integramos um quadro de auxiliares, de acordo com a organização estabelecida pelos mentores da Esfera Superior.
Quer dizer que, numa casa como esta, há colaboradores espirituais devidamente fichados, assim como ocorre a médicos e enfermeiros num hospital terrestre comum?
Perfeitamente. Tanto entre os homens como entre nós, que ainda nos achamos longe da perfeição espiritual, o êxito do trabalho reclama experiência, horário, segurança e responsabilidade do servidor fiel aos compromissos assumidos. A Lei não pode menosprezar as linhas da lógica.
E os médiuns? São invariavelmente os mesmos?
Sim, contudo, em casos de impedimento justo, podem ser substituídos, embora nessas circunstâncias se verifiquem, inevitavelmente, pequenos prejuízos resultantes de natural desajuste.
Meu colega passeou o olhar inquieto pelos dois companheiros encarnados, em oração, e continuou:
Preparam-se nossos amigos, à frente do trabalho, com o auxílio da prece?
Sem dúvida. A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai. Por ela, Clara e Henrique expulsam do próprio mundo interior os sombrios remanescentes da atividade comum que trazem do círculo diário de luta e sorvem do nosso plano as substâncias renovadoras de que se repletam, a fim de conseguirem operar com eficiência, a favor do próximo. Desse modo, ajudam e acabam por ser firmemente ajudados.
Isso significa que não precisam recear a sua exaustão...
De modo algum. Tanto quanto nós, não comparecem aqui com a pretensão de serem os senhores do benefício, mas sim na condição de beneficiários que recebem para dar. A oração, com o reconhecimento de nossa desvalia, coloca-nos na posição de simples elos de uma cadeia de socorro, cuja orientação reside no Alto. Somos nós aqui, neste recinto consagrado à missão evangélica, sob a inspiração de Jesus, algo semelhante à singela tomada elétrica, dando passagem à força que não nos pertence e que servirá na produção de energia e luz.
A explicação não podia ser mais clara. E enquanto Hilário sorria satisfeito, Conrado afagou os ombros de Henrique, como a recordar-lhe o horário estabelecido, e o médium, apesar de não lhe assinalar o gesto no campo das sensações físicas, obedeceu, de pronto, encaminhando-se para a porta e descerrando-a aos sofredores.
Pequena multidão de encarnados e desencarnados aglomerou-se à entrada, todavia, companheiros da casa controlavam-lhes os movimentos. Conrado entregou-se ao trabalho que lhe competia e, em razão disso, tornamos à intimidade do Assistente.
Ambos os médiuns atacaram a tarefa.
Enfermos de variada expressão entravam esperançosos e retiravam-se, depois de atendidos, com evidentes sinais de reconforto. Das mãos de Clara e Henrique irradiavam-se luminosas chispas, comunicando-lhes vigor e refazimento. Na maioria dos casos, não precisavam tocar o corpo dos pacientes, de modo direto. Os recursos magnéticos, aplicados a reduzida distância, penetravam assim mesmo o halo vital ou a aura dos doentes, provocando modificações subitâneas. Os passistas afiguravam-se-nos como duas pilhas humanas deitando raios de espécie múltipla, a lhes fluírem das mãos, depois de lhes percorrerem a cabeça, ao contato do irmão Conrado e de seus colaboradores.
O quadro era efetivamente fascinador pelos jogos de luz que apresentava.
Hilário sondou o ambiente e, em seguida, indagou de nosso orientador:
Por que motivo a energia transmitida pelos amigos espirituais circula primeiramente na cabeça dos médiuns?
Ainda aqui disse Áulus , não podemos subestimar a importância da mente. O pensamento influi de maneira decisiva, na doação de princípios curadores. Sem a ideia iluminada pela fé e pela boa-vontade, o médium não conseguiria ligação com os Espíritos amigos que atuam sobre essas bases.
Entretanto ponderei , há pessoas tão bem dotadas de força magnética perfeitamente despreocupadas do elemento moral!...
Sim redarguiu o Assistente , refere-se você aos hipnotizadores comuns, muita vez portadores de energia excepcional. Fazem belas demonstrações, impressionam, convencem, contudo, movimentam-se na esfera de puro fenômeno, sem aplicações edificantes no campo da espiritualidade. É imperioso não esquecer, André, que o potencial magnético é peculiar a todos, com expressões que se graduam ao infinito.
Mas semelhantes profissionais podem igualmente curar! frisou meu companheiro, completando-me as observações.
Sim, podem curar, mas acidentalmente, quando o enfermo é credor de assistência espiritual imediata, com a intervenção de amigos que o favorecem. Fora disso, os que abusam dessa fonte de energia, explorando-a a seu bel-prazer, quase sempre resvalam para a desmoralização de si mesmos, porque interferindo num campo de forças que lhes é desconhecido, guiados tão-somente pela vaidade ou pela ambição inferior, fatalmente encontram entidades que com eles se afinam, precipitando-se em difíceis situações que não vêm à baila comentar. Se não possuem um caráter elevado, suscetível de opor um dique à influenciação viciosa, acabam vampirizados por energias mais acentuadas que as deles, porquanto, se considerarmos o assunto apenas sob o ponto de vista da força, somos constrangidos a reconhecer que há imenso número de vigorosos hipnotizadores espirituais, nas linhas atormentadas da ignorância e da crueldade, de onde se originam os mais aflitivos processos de obsessão.
E, sorrindo, acrescentou:
Recordemos a Natureza. A serpente é um dos maiores detentores de poder hipnótico.
Então disse Hilário , para curar, serão indispensáveis certas atitudes do espírito...
Indiscutivelmente não prescindimos do coração nobre e da mente pura, no exercício do amor, da humildade e da fé viva, para que os raios do poder divino encontrem acesso e passagem por nós, a benefício dos outros. Para a sustentação de um serviço metódico de cura, isso é indispensável.
Entretanto, para o esforço desse tipo precisaremos de pessoas escolhidas, com a obrigação de efetuarem estudos especiais?
Importa ponderar disse Áulus, convicto que em qualquer setor de trabalho a ausência de estudo significa estagnação. Esse ou aquele cooperador que desistam de aprender, incorporando novos conhecimentos, condenam-se fatalmente às atividades de subnível, todavia, em se tratando do socorro magnético, tal qual é administrado aqui, convém lembrar que a tarefa é de solidariedade pura, com ardente desejo de ajudar, sob a invocação da prece. E toda oração, filha da sinceridade e do dever bem cumprido, com respeitabilidade moral e limpeza de sentimentos, permanece tocada de incomensurável poder. Analisada a questão nestes termos, todas as pessoas dignas e fervorosas, com o auxílio da prece, podem conquistar a simpatia de veneráveis magnetizadores do Plano Espiritual, que passam, assim, a mobilizá-las na extensão do bem. Não nos achamos à frente do hipnotismo espetacular, mas sim num gabinete de cura, em que os médiuns transmitem os benefícios que recolhem, sem a presunção de doá-los de si mesmos. É importante não esquecer essa verdade para deixarmos bem claro que, onde surjam a humildade e o amor, o amparo divino é seguro e imediato. O ministério da cura, porém, a desdobrar-se eficiente e pacífico, reclamava-nos atenção.
Os doentes entravam dois a dois, sendo carinhosamente atendidos por Clara e Henrique, sob a providencial assistência de Conrado e seus colaboradores. Obsidiados ganhavam ingresso no recinto, acompanhados de frios verdugos, no entanto, com o toque dos médiuns sobre a região cortical, depressa se desligavam, postando-se, porém, nas vizinhanças, como que à espera das vítimas, com a maioria das quais se reacomodavam, de pronto.
Alinhando apontamentos, começamos a reparar que alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria. As irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico. Registrando o fenômeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.
Por quê? Falta-lhes o estado de confiança esclareceu o orientador.
Será, então, indispensável a fé para que registrem o socorro de que necessitam?
Ah! Sim. Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz. No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa tensão favorável. Essa tensão decorre da fé. Certo, não nos reportamos ao fanatismo religioso ou à cegueira da ignorância, mas sim à atitude de segurança íntima, com reverência e submissão, diante das Leis Divinas, em cuja sabedoria e amor procuramos arrimo. Sem recolhimento e respeito na receptividade, não conseguimos fixar os recursos imponderáveis que funcionam em nosso favor, porque o escárnio e a dureza de coração podem ser comparados a espessas camadas do gelo sobre o templo da alma.
A lição fora simples e bela. Hilário calou-se, talvez para refletir sobre ela, em silêncio.
Sem descurar dos nossos objetivos de estudo, Áulus considerou a conveniência de nosso contato direto com o serviço em ação. Seria interessante para nós a auscultação de algum dos casos em foco. Para isso, aproximou-se de idosa matrona que acabava de entrar, à cata de auxilio e, com permissão de Conrado, convidou-nos a examiná-la com cuidado possível.
A senhora, aguardando o concurso de Clara, sustentava-se dificilmente de pé, com o ventre volumoso e o semblante dolorido.
Observem o fígado!
Utilizamo-nos dos recursos ao nosso alcance passamos a analisar. Realmente, o órgão mencionado demonstrava a dilatação característica das pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca. As células hepáticas pareceram-me vasta colmeia, trabalhando sob enorme perturbação. A vesícula congestionada impeliu-me a imediata inspeção do intestino. A bile comprimida atingira os vasos e assaltava o sangue. O colédoco interdito facilitava o diagnóstico. Ligeiro exame da conjuntiva ocular confirmava-me a impressão. A icterícia mostrava-se insofismável.
Após ouvir-me, Conrado reafirmou:
Sim, é uma icterícia complicada. Nasceu de terrível acesso de cólera, em que nossa amiga se envolveu no reduto doméstico. Rendendo-se, desarvorada, à irritação, adquiriu renitente hepatite, da qual a icterícia é a consequência.
E como será socorrida?
Conrado, impondo a destra sobre a fronte da médium, comunicou-lhe radiosa corrente de forças e inspirou-a a movimentar as mãos sobre a doente, desde a cabeça até o fígado enfermo. Notamos que o córtex encefálico se revestiu de substância luminosa que, descendo em fios tenuíssimos, alcançou o campo visceral.
A senhora exibiu inequívoca expressão de alívio, na expressão fisionômica, retirando-se visivelmente satisfeita, depois de prometer que voltaria ao tratamento. Hilário fixou os olhos interrogadores no Assistente que nos acompanhava, solícito, e indagou:
Nossa irmã estará curada?
Isso é impossível acentuou Áulus, paternal ; temos aí órgãos e vasos comprometidos. O tempo não pode ser desprezado na solução.
E em que bases se articula semelhante processo de curar?
O passe é uma transfusão de energias, alterando o campo celular. Vocês sabem que na própria ciência humana de hoje o átomo não é mais o tijolo indivisível da matéria que, antes dele, encontram-se as linhas de força, aglutinando os princípios subatômicos, e que, antes desses princípios, surge a vida mental determinante... Tudo é espírito no santuário da Natureza. Renovemos o pensamento e tudo se modificará conosco. Na assistência magnética, os recursos espirituais se entrosam entre a emissão e a recepção, ajudando a criatura necessitada para que ela ajude a si mesma. A mente reanimada reergue as vidas microscópicas que a servem, no templo do corpo, edificando valiosas reconstruções. O passe, como reconhecemos, é importante contribuição para quem saiba recebê-lo, com o respeito e a confiança que o valorizam.
E pode, acaso, ser dispensado à distância?
Sim, desde que haja sintonia entre aquele que o administra e aquele que o recebe. Nesse caso, diversos companheiros espirituais se ajustam no trabalho do auxílio, favorecendo a realização, e a prece silenciosa será o melhor veículo da força curadora. O serviço, em torno, prosseguia intenso.
Áulus considerou que a nossa presença talvez sobrecarregasse as preocupações de Conrado, e que não seria lícito permanecer junto dele por mais tempo, já que havíamos recolhido os apontamentos rápidos que nos propúnhamos obter e, à vista disso, despedimo-nos do supervisor, buscando o salão central para a continuidade de nossas abençoadas lições.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1) Qual a importância da prece antes de se iniciar o serviço de passe?

2) E do estudo?

3) De acordo com a narrativa de André Luiz, quais os requisitos que o trabalhador passista deve atender?

4) E quanto ao beneficiário do passe? Que requisitos são necessários para se obter o resultado esperado?

5) Que lições podemos extrair do caso da senhora que sofria de icterícia?
                                            
6) Como se processa a cura mediante o tratamento de passe?

7) Enfim, como podemos conceituar o passe magnético?