segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Paixão e libertação psicológica

As tradições religiosas em torno da paixão de Jesus teimam por revestir-se da notícia trágica, na qual a ação autopunitiva sobressai no comportamento do fiel.
Trabalhando-lhe a mente, a fim de gerar-lhe consciência de culpa, com as consequências do medo em relação à justiça divina, intentam a lavagem cerebral para produzir o ódio pelo mundo, ao tempo em que mantêm os lamentáveis processos de cilícios físicos entre os fanáticos, e mentais ou emocionais naqueles que são constituídos por estrutura psicológica frágil.
Inegavelmente, as ocorrências dolorosas que assinalaram a última semana de Jesus, em Jerusalém, entre as criaturas, foram caracterizadas por ocorrências infelizes, que ainda se repetem na sociedade, embora guardadas as naturais proporções.
Recordar-se da pusilanimidade humana, da fragilidade dos caracteres de Judas e de Pedro, faz-se necessário quando os objetivos são educativos, evocando-se, porém, o estoicismo das mulheres piedosas, de João, de José de Arimateia que Lhe cedeu o sepulcro novo, de modo que a aprendizagem se faça plena, através da dicotomia existente no comportamento humano, buscando-se oferecer uma mensagem de confiança, de arrebatamento e de fé.
O ser humano é ainda muito fragmentário e dúbio, carecendo de amor e paciência, que são terapias excelentes para induzi-lo ao fortalecimento do caráter, da personalidade.
A constante condenação multimilenária deixou marcas profundas no inconsciente coletivo, de que ora se faz herdeiro natural, surgindo-lhe transformada em medo e desprezo por si mesmo ou indiferença pessoal e desleixo no culto dos valores morais.
A lição viva que ressalta em Jesus desde a entrada triunfal e o julgamento arbitrário, sem qualquer defesa, propõe uma releitura do comportamento individual e coletivo dos seres, oferecendo a contribuição de resultados positivos nas reflexões mentais.
As crenças ortodoxas satisfazem-se com as imolações e as atitudes condenatórias que, tomadas em consideração, reconduziriam à ignorância, à treva medieval tormentosa.
As conquistas do momento, nas mais diversas áreas, particularmente da psicologia, não mais facilitam atitudes alienadoras como essas, antes propõem a libertação dos conflitos, a fim de que a responsabilidade, que decorre da consciência lúcida, impulsione o indivíduo ao avanço, ao crescimento, à maturidade.
Toda ação impositiva-castradora ou liberativa-insensata trabalha em favor do desequilíbrio, da desintegração do homem.
Toda a vida de Jesus é um processo que facilita o crescimento e a dignidade do ser humano.
Seus conceitos, refertos de atualidade, prosseguem sendo uma linguagem dinâmica, desobsessiva, sem compulsão, abrindo elencos de alegria e facultando o desenvolvimento daqueles que os recebem.
Cada passo da Sua vida, leva-O a metas adredemente programadas. Sem rotina, mas, também, sem ansiedade, caracteriza-se pela vivência de cada momento, sem preocupação pelo amanhã, pois que, para Ele, a cada dia bastam as suas próprias preocupações.
A alegria é uma constante em Sua mensagem, apesar das advertências frequentes, das lutas abertas e de sempre O verem chorar...
A verdadeira alegria extrapola os sorrisos e se apresenta, não raro, como preocupação que não deprime nem fragiliza.
Torna-se uma constante busca de realizações contínuas, de vitória sobre as circunstâncias e os fenômenos que são naturais no processo da vida.
Sem paradigmas fixos, toda a Sua doutrina se constitui de otimismo e plenitude.
Quando os Seus seguidores marchavam para o holocausto, o martírio, o testemunho, faziam-no motivados pelo amor, sem fugas psicológicas, sem transferências, em manifestações de fidelidade, joviais e exultantes, sem ressentimentos nem ódios pelos perseguidores, por ser uma opção livre de utilização da vida.
A dinâmica das palavras de Jesus logrou conduzir inumeráveis criaturas à realidade transcendente.
Libertador por excelência, a ninguém impôs fardo, asseverando que o Seu é leve e suave é a Sua forma de julgar, analisar e compreender.
Enquanto ressumem na consciência da Terra as condutas punitivas e as evocações deprimentes na área das religiões, o pensamento de Jesus permanecerá em sombras, conflitos, perturbações.
A conquista de consciências para as fileiras da harmonia somente é possível mediante o estabelecimento de diretrizes saudáveis, nas quais, mesmo a dor assumiria a sua realidade de fenômeno degenerativo inevitável, no entanto, possível de ser superada, resistida, diluída através das reflexões e da renovação de energia que preserva o equilíbrio da existência.
A imposição temerária decorre do sentimento de culpa dos religiosos, que a transferem para aqueles que se lhes submetem, passando a depender das suas injunções psicológicas mórbidas.
Sem a semana ultrajante, sem os conteúdos da ingratidão humana em extremo, não Lhe teríamos a morte estóica, eloquente, grandiosa, demonstrando a Sua consciência de imortalidade.
Após a sua ocorrência, todo um solene hino à vida foi apresentado através da ressurreição, do retorno ao convívio com os amigos temerosos e com a humanidade arrependida que Ele veio libertar, amando, paciente e alegre, por conhecer os limites e deficiências daqueles que marcham na retaguarda, no entanto fitam expectantes e avançam no rumo do futuro.


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