Paixão e
libertação psicológica
As
tradições religiosas em torno da paixão de Jesus teimam por revestir-se da
notícia trágica, na qual a ação autopunitiva sobressai no comportamento do fiel.
Trabalhando-lhe
a mente, a fim de gerar-lhe consciência de culpa, com as consequências do medo
em relação à justiça divina, intentam a lavagem cerebral para produzir o ódio
pelo mundo, ao tempo em que mantêm os lamentáveis processos de cilícios físicos
entre os fanáticos, e mentais ou emocionais naqueles que são constituídos por
estrutura psicológica frágil.
Inegavelmente,
as ocorrências dolorosas que assinalaram a última semana de Jesus, em
Jerusalém, entre as criaturas, foram caracterizadas por ocorrências infelizes,
que ainda se repetem na sociedade, embora guardadas as naturais proporções.
Recordar-se
da pusilanimidade humana, da fragilidade dos caracteres de Judas e de Pedro,
faz-se necessário quando os objetivos são educativos, evocando-se, porém, o estoicismo
das mulheres piedosas, de João, de José de Arimateia que Lhe cedeu o sepulcro
novo, de modo que a aprendizagem se faça plena, através da dicotomia existente
no comportamento humano, buscando-se oferecer uma mensagem de confiança, de
arrebatamento e de fé.
O ser
humano é ainda muito fragmentário e dúbio, carecendo de amor e paciência, que
são terapias excelentes para induzi-lo ao fortalecimento do caráter, da
personalidade.
A
constante condenação multimilenária deixou marcas profundas no inconsciente
coletivo, de que ora se faz herdeiro natural, surgindo-lhe transformada em medo
e desprezo por si mesmo ou indiferença pessoal e desleixo no culto dos valores
morais.
A lição
viva que ressalta em Jesus desde a entrada triunfal e o julgamento arbitrário,
sem qualquer defesa, propõe uma releitura do comportamento individual e
coletivo dos seres, oferecendo a contribuição de resultados positivos nas
reflexões mentais.
As
crenças ortodoxas satisfazem-se com as imolações e as atitudes condenatórias
que, tomadas em consideração, reconduziriam à ignorância, à treva medieval
tormentosa.
As
conquistas do momento, nas mais diversas áreas, particularmente da psicologia,
não mais facilitam atitudes alienadoras como essas, antes propõem a libertação
dos conflitos, a fim de que a responsabilidade, que decorre da consciência
lúcida, impulsione o indivíduo ao avanço, ao crescimento, à maturidade.
Toda
ação impositiva-castradora ou liberativa-insensata trabalha em favor do
desequilíbrio, da desintegração do homem.
Toda a
vida de Jesus é um processo que facilita o crescimento e a dignidade do ser
humano.
Seus
conceitos, refertos de atualidade, prosseguem sendo uma linguagem dinâmica,
desobsessiva, sem compulsão, abrindo elencos de alegria e facultando o
desenvolvimento daqueles que os recebem.
Cada
passo da Sua vida, leva-O a metas adredemente programadas. Sem rotina, mas,
também, sem ansiedade, caracteriza-se pela vivência de cada momento, sem
preocupação pelo amanhã, pois que, para Ele, a cada dia bastam as suas próprias
preocupações.
A
alegria é uma constante em Sua mensagem, apesar das advertências frequentes,
das lutas abertas e de sempre O verem chorar...
A
verdadeira alegria extrapola os sorrisos e se apresenta, não raro, como preocupação
que não deprime nem fragiliza.
Torna-se
uma constante busca de realizações contínuas, de vitória sobre as
circunstâncias e os fenômenos que são naturais no processo da vida.
Sem
paradigmas fixos, toda a Sua doutrina se constitui de otimismo e plenitude.
Quando
os Seus seguidores marchavam para o holocausto, o martírio, o testemunho,
faziam-no motivados pelo amor, sem fugas psicológicas, sem transferências, em
manifestações de fidelidade, joviais e exultantes, sem ressentimentos nem ódios
pelos perseguidores, por ser uma opção livre de utilização da vida.
A
dinâmica das palavras de Jesus logrou conduzir inumeráveis criaturas à realidade
transcendente.
Libertador
por excelência, a ninguém impôs fardo, asseverando que o Seu é leve e suave é a
Sua forma de julgar, analisar e compreender.
Enquanto
ressumem na consciência da Terra as condutas punitivas e as evocações
deprimentes na área das religiões, o pensamento de Jesus permanecerá em
sombras, conflitos, perturbações.
A
conquista de consciências para as fileiras da harmonia somente é possível
mediante o estabelecimento de diretrizes saudáveis, nas quais, mesmo a dor
assumiria a sua realidade de fenômeno degenerativo inevitável, no entanto,
possível de ser superada, resistida, diluída através das reflexões e da renovação
de energia que preserva o equilíbrio da existência.
A
imposição temerária decorre do sentimento de culpa dos religiosos, que a
transferem para aqueles que se lhes submetem, passando a depender das suas
injunções psicológicas mórbidas.
Sem a
semana ultrajante, sem os conteúdos da ingratidão humana em extremo, não Lhe
teríamos a morte estóica, eloquente, grandiosa, demonstrando a Sua consciência
de imortalidade.
Após a
sua ocorrência, todo um solene hino à vida foi apresentado através da
ressurreição, do retorno ao convívio com os amigos temerosos e com a humanidade
arrependida que Ele veio libertar, amando, paciente e alegre, por conhecer os
limites e deficiências daqueles que marcham na retaguarda, no entanto fitam
expectantes e avançam no rumo do futuro.
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