Cap. IV – Itens 18 a 23
18. Os laços
de família não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como o pensam
certas pessoas. Ao contrário, tornam-se mais fortalecidos e apertados. O
princípio oposto, sim, os destrói.
No espaço, os
Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e
pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses
Espíritos se buscam uns aos outros. A encarnação apenas momentaneamente os
separa, porquanto, ao regressarem à erraticidade, novamente se reúnem como
amigos que voltam de uma viagem. Muitas vezes, até, uns seguem a outros na
encarnação, vindo aqui reunir-se numa mesma família, ou num mesmo círculo, a
fim de trabalharem juntos pelo seu mútuo adiantamento. Se uns encarnam e outros
não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento. Os que se conservam
livres velam pelos que se acham em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam
por fazer que os retardatários progridam. Após cada existência, todos têm
avançado um passo na senda do aperfeiçoamento. Cada vez menos presos à matéria,
mais viva se lhes torna a afeição recíproca, pela razão mesma de que, mais
depurada, não tem a perturbá-la o egoísmo, nem as sombras das paixões. Podem,
portanto, percorrer, assim, ilimitado número de existências corpóreas, sem que
nenhum golpe receba a mútua estima que os liga.
Está bem visto
que aqui se trata de afeição real, de alma a alma, única que sobrevive à
destruição do corpo, porquanto os seres que neste mundo se unem apenas pelos
sentidos nenhum motivo têm para se procurarem no mundo dos Espíritos. Duráveis
somente o são as afeições espirituais; as de natureza carnal se extinguem com a
causa que lhes deu origem. Ora, semelhante causa não subsiste no mundo dos
Espíritos, enquanto a alma existe sempre. No que concerne às pessoas que se
unem exclusivamente por motivo de interesse, essas nada realmente são umas para
as outras: a morte as separa na Terra e no céu.
19. A união e
a afeição que existem entre pessoas parentes são um índice da simpatia anterior
que as aproximou, Daí vem que, falando-se de alguém cujo caráter, gostos e
pendores nenhuma semelhança apresentam com os dos seus parentes mais próximos,
se costuma dizer que ela não é da família. Dizendo-se isso, enuncia-se uma
verdade mais profunda do que se supõe. Deus permite que, nas famílias, ocorram
essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo objetivo
de servir de prova para uns e, para outros, de meio de progresso. Assim, os
maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e por efeito dos cuidados
que se lhes dispensam. O caráter deles se abranda, seus costumes se apuram, as
antipatizas se esvaem. E desse modo que se opera a fusão das diferentes
categorias de Espíritos, como se dá na Terra com as raças e os povos.
20. O temor de
que a parentela aumente indefinidamente, em consequência da reencarnação, é de
fundo egoístico: prova, naquele que o sente, falta de amor bastante amplo para
abranger grande número de pessoas. Um pai, que tem muitos filhos, ama-os menos
do que amaria a um deles, se fosse único? Mas, tranquilizem-se os egoístas: não
há fundamento para semelhante temor. Do fato de um homem ter tido dez
encarnações, não se segue que vá encontrar, no mundo dos Espíritos, dez pais,
dez mães, dez mulheres e um número proporcional de filhos e de parentes novos.
Lá encontrará sempre os que foram objeto da sua afeição, os quais se lhe terão
ligado na Terra, a títulos diversos, e, talvez, sob o mesmo título.
21. Vejamos
agora as consequências da doutrina anti-reencarcionista. Ela, necessariamente,
anula a preexistência da alma. Sendo estas criadas ao mesmo tempo que os
corpos, nenhum laço anterior há entre elas, que, nesse caso, serão
completamente estranhas umas às outras. O pai é estranho a seu filho. A
filiação das famílias fica assim reduzida à só filiação corporal, sem qualquer
laço espiritual. Não há então motivo algum para quem quer que seja
glorificar-se de haver tido por antepassados tais ou tais personagens ilustres.
Com a reencarnação, ascendentes e descendentes podem já se terem conhecido,
vivido juntos, amado, e podem reunir-se mais tarde, a fim de apertarem entre si
os laços de simpatia.
22. Isso
quanto ao passado. Quanto ao futuro, segundo um dos dogmas fundamentais que decorrem
da não-reencarnação, a sorte das almas se acha irrevogavelmente determinada,
após uma só existência. A fixação definitiva da sorte implica a cessação de
todo progresso, pois desde que haja qualquer progresso já não há sorte
definitiva. Conforme tenham vivido bem ou mal, elas vão imediatamente para a
mansão dos bem-aventurados, ou para o inferno eterno. Ficam assim, imediatamente e para
sempre, separadas e sem esperança de tornarem a juntar-se, de forma que pais, mães e filhos,
mandos e mulheres, irmãos, irmãs e amigos jamais podem estar certos de se verem
novamente; é a ruptura absoluta dos laços de família.
Com a
reencarnação e progresso a que dá lugar, todos os que se amaram tornam a
encontrar-se na Terra e no espaço e juntos gravitam para Deus. Se alguns
fraquejam no caminho, esses retardam o seu adiantamento e a sua felicidade, mas
não há para eles perda de toda esperança. Ajudados, encorajados e amparados
pelos que os amam, um dia sairão do lodaçal em que se enterraram. Com a
reencarnação, finalmente, há perpétua solidariedade entre os encarnados e os
desencarnados, e, daí, estreitamento dos laços de afeição.
23. Em resumo,
quatro alternativas se apresentam ao homem, para o seu futuro de além-túmulo:
1ª, o nada, de acordo com a doutrina materialista; 2ª, a absorção no todo
universal, de acordo com a doutrina panteísta; 3ª, a individualidade, com
fixação definitiva da sorte, segundo a doutrina da Igreja; 4ª, a
individualidade, com progressão indefinita, conforme a Doutrina Espírita.
Segundo as duas primeiras, os laços de família se rompem por ocasião da morte e
nenhuma esperança resta às almas de se encontrarem futuramente. Com a terceira,
há para elas a possibilidade de se tornarem a ver, desde que sigam para a mesma
região, que tanto pode ser o inferno como o paraíso. Com a pluralidade das
existências, inseparável da progressão gradativa, há a certeza na continuidade
das relações entre os que se amaram, e é isso o que constitui a verdadeira
família.
Questões para estudo:
1 – Por que
podemos dizer que a reencarnação fortalece os laços de família?
2 – Extraia do
texto acima a frase ou parágrafo que mais gostou e justifique.
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