Conclusão do Capítulo 18 - Apontamentos à Margem
1) Que benefícios o intercâmbio mediúnico pode trazer
para encarnados e desencarnados?
A humanidade é uma só. Encarnação e desencarnação são
meros estados transitórios, fenômenos biológicos ainda necessários ao espírito
imortal em evolução. Ninguém evolui sozinho.
Todos temos de evoluir juntos, impulsionando ao progresso,
simultaneamente, o Planeta Terra que nos abriga. Fazendo parte de uma única e
grande coletividade, encarnados e desencarnados têm seus destinos atrelados uns
aos outros, influenciando-se mutuamente.
Neste contexto, o intercâmbio mediúnico possibilita
aos que se encontram encarnados colaborarem, como médiuns, com os benfeitores
do plano espiritual, no serviço de amparo e orientação aos que se encontram em
trânsito pelo mundo carnal. Colaborando com os Espíritos executores dos planos
de Jesus, estarão se creditando a, no futuro, quando retornarem ao plano
espiritual, receberem o amparo tão necessário nesse momento de transição entre
uma e outra forma de vida. Como explicou Áulus, "os homens, cooperando com
os Espíritos esclarecidos e benevolentes, atraem simpatias preciosas para a
vida espiritual, e as entidades amigas, auxiliando os reencarnados, estarão
construindo facilidades para o dia de amanhã, quando de volta à lide
terrestre."
Martins Peralva, no livro "Estudando a
Mediunidade", apresenta, no capítulo XXIX, um quadro em que sintetiza
"os principais benefícios da prática mediúnica com Jesus":
Para
os encarnados:
Cooperação com encarnados e desencarnados, no serviço
de reconforto e esclarecimento
Auto-educação, pela renovação dos sentimentos, com
aproveitamento das mensagens de elevado teor
Construção de afeições preciosas no plano espiritual,
consolidando, assim as bases da cooperação e da amizade superior.
Para
os desencarnados:
Preparação de facilidades para os que tiverem de
reiniciar o aprendizado, pela reencarnação, mediante o auxílio aos atuais
desencarnados.
Auxílio a reencarnados e desencarnados no esforço de
libertação das teias da ignorância e do sofrimento.
Transmissão, aos reencarnados, dos esclarecimentos
edificantes dos grandes Instrutores que operam com Jesus na redenção da
Humanidade.
2) Que lições podemos extrair das seguintes passagens
evangélicas mencionadas por Áulus:
" Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe
foi feita, sentiu-se constrangido a modificar
a sua conduta. Maria de Magdala,
que lhe recebeu carinhosa atenção, não ficou livre do dever de
sustentar-se no árduo combate da
renovação interior. Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, não foi exonerado
da obrigação de aceitar, mais tarde, o desafio da morte. Paulo de Tarso foi por
Ele distinguido com um apelo pessoal, às portas de Damasco, entretanto, por
isso, o apóstolo não obteve dispensa dos sacrifícios que lhe cabiam no
desempenho da nova missão."
Áulus quis demonstrar que mesmo aqueles que,
conhecendo os ensinamentos de Jesus, operaram transformações em suas vidas,
fizeram-no mediante esforço próprio, sem se isentarem de suas provas. O auxílio
do Alto sempre chegará, mas nunca nos carregará no colo. Os Espíritos amigos
não nos trazem uma solução pronta.
Como bem mencionou André Luiz, equivocamo-nos quando
"no mundo habituamo-nos a esperar do Céu uma solução decisiva e absoluta
para inúmeros problemas que se nos deparam...". Se os Espíritos pusessem termo às
dificuldades humanas que temos de experienciar na vida terrena, estariam
furtando-nos o trabalho que sustentará o nosso progresso e subtraindo a lição
que necessitamos como aprendizes ainda imaturos.
Portanto, o mentor quis deixar claro que os
desencarnados não podem oferecer uma solução concreta aos sofrimentos dos
encarnados, pois não é esse o papel que devem desempenhar na obra do Criador. O
papel do plano espiritual é de cooperação, de fortalecimento, de sustentação na
nossa fé, sem, contudo, eliminar uma prova que seja pela qual devamos nos submeter. Zaqueu, Maria de Magdala, Lázaro e mais
notadamente Paulo foram iluminados pelos ensinos de Jesus e souberam
assimilá-los, transformando-se profundamente.
No entanto, ainda assim, tiveram que passar por suas provas, como vemos
com o exemplo de Paulo, submetido a dolorosos flagelos até o sacrifício final,
impostos pela incompreensão e falta de sensibilidade dos poderosos de então,
enquanto desempenhava a missão que lhe fora confiada pelo Cristo, de levar o
Evangelho a todos os cantos do mundo onde as precárias condições materiais da
época o permitiam.
3) André Luiz narra o comparecimento de um espírito
suicida, em estado de grande desequilíbrio, que fora evocado pela mãe, presente
à reunião. Quais as consequências ocasionadas pelo suicídio para o espírito?
Como é comum aos casos de suicídio, o rapaz evocado
pela mãe apresentou-se na reunião em deplorável estado de desequilíbrio,
afirmando encontrar-se em grande sofrimento. Como demonstra o infeliz rapaz, a
primeira grande decepção com que se depara o suicida é constatar que continuava
vivo e que o ato praticado de nada adiantou.
Experimentava o rapaz um sentimento de frustração,
consciente que se encontrava de que o fim da vida física resultou absolutamente
inútil. Já demonstrava arrependimento pelo desatinado ato e absorvia os efeitos
da condenação imposta sua consciência, ao declarar-se envergonhado. Ao invés de
se livrar de um problema, adquiriu outro, provavelmente ainda mais graves, com
sofrimentos futuros indescritíveis. A vida física nos é concedida por Deus e
somente a Ele assiste o direito de definir o momento de dela nos retirar,
conforme as leis cósmicas que comanda o Universo.
Uma vez mais recorremos a Martins Peralva, que, na
obra acima citada, apresenta, no capítulo XXX, um breve resumo das
consequências que o ato do suicídio acarreta para o espírito infrator:
- Visão, pela própria
alma, do corpo em decomposição;
- Flagelações nos planos
inferiores;
- Frustrações de
tentativas para a reencarnação;
- Reencarnações dolorosas,
com agravamento das provas.
4) Áulus explica que o fenômeno mediúnico não é novo e
que "nova é tão somente a forma de mobilização dele." Que ensinamento
pretendeu transmitir o orientador com essa afirmação? Como o Espiritismo se
enquadra nesse ensino?
A mensagem do mentor é no sentido de que a mediunidade
existe de todo o sempre. Vem de épocas remotas. É uma faculdade inerente à
condição humana. Todas as criaturas a possuem, umas, em estado de latência,
quase imperceptível; outras, de modo permanente e ostensivo. Conforme explicou,
as castas sacerdotais de antigamente a guardavam como um privilégio seu,
utilizando-a em demonstrações nos culto exteriores, como forma de impor seu
domínio sobre as classes menos esclarecidas. Os profetas do passado, que
aparecem com frequência tanto no Antigo como no Novo Testamento, eram
inspirados por Espíritos Superiores. Tanto um como outro livro são obras de
origem mediúnica.
O uso da mediunidade, então, não tinha o mesmo caráter
de ajuda, de comunhão espiritual, de intercâmbio com os espíritos
desencarnados, como hoje se pratica nos centros espíritas. Os portadores de
mediunidade eram tidos como pessoas especiais, dotadas de poderes sobrenaturais
e a prática mediúnica se dava em ambientes fechados, restritos a determinados
grupos e com objetivos nem sempre nobres. Com o advento do Espiritismo, o
fenômeno mediúnico ganhou nova dimensão e seriedade, passando a ser uma
conquista de toda a humanidade. O Espiritismo libertou os seus princípios em
benefício de todos, trazendo-os ao seio do povo. Tirou a mediunidade do campo
do sobrenatural, transformando-a num instrumento de comprovação da
sobrevivência do espírito e da eternidade da Criação.
Para trazer esses novos conceitos à humanidade, Deus
enviou ninguém menos que o próprio Jesus, Governador Espiritual do Planeta, o
Cristo Planetário, para que, com seus ensinamentos e, principalmente, com seu
exemplo, viesse conduzir a humanidade a ingressar numa nova era. Para tanto,
legou-nos seu ensino moral, curou enfermos, pacificou aflitos, fez paralíticos
andarem, cegos enxergarem, aliviou obsediados e terminou por deixar o sepulcro
vazio, como forma de demonstrar a continuação da vida.
5) André Luiz finaliza o presente capítulo com a
transcrição de uma mensagem final de Gabriel, dirigente espiritual da reunião.
Vamos interpretar alguns trechos desta mensagem:
5.a) "...é indispensável procurar na mediunidade
não a chave falsa para certos arranjos inadequados na Terra, mas sim o caminho
direito de nosso ajustamento à vida superior."
R - A mediunidade deve ser usada para a prática da
caridade. É uma oportunidade preciosa que é concedida ao espírito como meio de impulsionar a sua
evolução. Não nos é concedida para a busca de soluções para os problemas do dia
a dia, para as questões corriqueiras que a vida na matéria se nos apresenta e
que temos de resolver por nós mesmos. Tampouco deve ser exercitada com outra finalidade
que não a prática da caridade. O médium que a utiliza como meio de obter alguma
vantagem pessoal, seja ela material ou não, ao invés de
encontrar "o caminho direito de nosso ajustamento à vida
superior", como ensinou o Instrutor, estará encontrando o duro caminho da
queda. "Dai de graça o que de graça
recebeste", como disse Jesus, é o mandamento primeiro do medianeiro.
.
5.b) "O Espiritismo, simbolicamente, é Jesus que
retorna ao mundo,..."
Pouco antes de deixar a vida física, Jesus prometeu-nos
que retornaria. As religiões que se formaram em torno de seus ensinamentos
interpretam essa promessa literalmente, como, aliás, desse modo interpretam
todo o ensinamento do Mestre. E estão aí, a aguardar uma nova vinda do Cristo à
carne. Jesus, na realidade, nunca nos deixou.
Está e sempre esteve no meio de nós, como o guia e modelo da humanidade
terrena, governando os destinos do Planeta e nos enviando seus emissários, de
tempos em tempos, para nos impulsionar o progresso.
O retorno prometido pelo Cristo não tem natureza
material. É um retorno de natureza espiritual, como o foi todo o seu
ensinamento. É o retorno de sua Doutrina, que não foi até hoje assimilada
corretamente pelos homens. O Espiritismo, como a Terceira Revelação das Leis de
Deus, veio para relembrar os ensinamentos e o exemplo do Cristo, esclarecendo
sobre coisas que a humanidade, á época de sua passagem pela vida material, não
estava ainda evoluída o suficiente para compreender. Cumpre-se, com o seu
advento, a promessa de Jesus de que retornaria ao mundo.
5.c) "Não atribuamos, assim, ao médium obrigações
que nos competem, em caráter exclusivo, e nem aguardamos da mediunidade funções
milagreiras, porquanto só a nós cabe o serviço árduo da própria ascensão, na
pauta das responsabilidades que o conhecimento superior nos impõe."
R - Como temos visto, a mediunidade não é salvação
para ninguém. Aliás, o Espiritismo nos ensina que ninguém salva ninguém, nem
mesmo os Espíritos amigos, que através do fenômeno mediúnico tanto nos
auxiliam. A lei é de evolução e a chamada "salvação", tão utilizada
por alguns segmentos religiosos, nada mais é do que o alcance da perfeição relativa a que estamos
irreversivelmente destinados e da felicidade definitiva. No entanto, estas são
conquistas próprias do espírito imortal, que somente as alcançará através do
árduo trabalho em busca da ascensão.
O médium é uma ferramenta preciosa de que os Espíritos
benfeitores se utilizam para nos orientarem. São nossos parceiros de luta
evolutiva. Não são os nossos salvadores nem a mediunidade nosso porto
milagroso. Mais uma vez recordemos a lição de Jesus: "Porque o Filho do
homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e
então retribuirá a cada um segundo as suas obras."
5.d) "Diante
de nossas assertivas, podereis talvez indagar,
segundo os velhos
hábitos que nos caracterizam a preguiça mental na Terra:
- Se o Espiritismo e a Mediunidade não nos solucionam os enigmas de maneira
absoluta, que estarão ambos fazendo no santuário religioso da Humanidade?
Responder-vos-emos,
todavia, que neles reencontramos pensamento puro do Cristo, auxiliando-nos a
compreensão para mais amplo discernimento da realidade. Neles recolhemos exatos
informes, quanto à lei das compensações, equacionando aflitivos problemas do ser,
do destino e da dor e deixando-nos perceber, de alguma sorte, as infinitas
dimensões para as quais evolvemos. E a eles deveremos, acima de tudo, a luz
para vencer os tenebrosos labirintos da morte, a fim de que nos consorciemos,
afinal,
com as
legítimas noções da consciência cósmica."
No Espiritismo e na Mediunidade encontramos os
ensinamentos que, se colocados em prática, nos conduzirão ao caminho da
felicidade. Trazem-nos os ensinamentos de Jesus em espírito e verdade, o
conhecimento de leis cósmica que regem a matéria e a vida espiritual e que eram
até então desconhecidas. Mostram-nos a nossa realidade existencial, como os
seres inteligentes do Universo, espíritos imortais em evolução. No entanto,
como vimos nas questões anteriores, o Espiritismo nem a mediunidade
solucionam nossas dificuldades. Dificuldades temos que vencer, usando o nosso
livre-arbítrio. Ajudam-nos a nos transformar, mediante o consolo e o
esclarecimento. Mas quem opera essa transformação imprescindível somos nós. Com
a certeza na vida futura que o Espiritismo comprova de modo tão claro, o homem
adquire força para seguir sua caminhada, certo de que um dia esse Deus interno
que existe dentro de nós resplenderá inteiramente e ofuscará de vez o homem
velho que ainda trazemos conosco.
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