terça-feira, 25 de agosto de 2015

Conclusão do Capítulo XIV – Itens 5 a 8
Piedade Filial

Os verdadeiros laços de família são os espirituais, não os da consanguinidade, uma vez que são os espíritos que se amam ou se odeiam e não os corpos que, temporariamente, habitam. Assim, a nossa família é o ambiente de purificação, para onde somos atraídos pelos laços estabelecidos em existências anteriores.


1 - Como se explica o vínculo que existe entre um pai e um filho?
O pai fornece ao filho, apenas o invólucro corporal, uma vez que o espírito já existia antes da formação do corpo. Se estão unidos, é em razão dos laços de simpatia ou de antipatia que já existiam anteriormente ao reencarne.
"O corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito."

2 - Como se formam as famílias aqui na Terra?
Pela união de espíritos, ligados por anteriores relações de simpatia, que se expressam por uma afeição recíproca, na vida terrena, ou pelo reencontro de espíritos afastados entre si, por antipatias anteriores, ou cumplicidade no mal, traduzidas por incompatibilidades entre os mesmos.
"Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família, e sim os da simpatia e da comunhão de ideias."

3 - Como definimos a parentela corporal e espiritual?
A corporal é aquela constituída pelos laços frágeis da consanguinidade e da matéria, que se extinguem com o tempo e, muitas vezes, dissolvem moralmente já na existência atual; a espiritual é aquele caracterizada pelos laços espirituais, fortalecida pela purificação, e se perpetua no mundo dos espíritos.
"Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais."




Capítulo XIV – Itens 5 a 8
Piedade filial

Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?

5. E, tendo vindo para casa, reuniu-se aí tão grande multidão de gente, que eles nem sequer podiam fazer sua refeição. - Sabendo disso, vieram seus parentes para se apoderarem dele, pois diziam que perdera o espírito.
Entretanto, tendo vindo sua mãe e seus irmãos e conservando-se do lodo de fora, mandaram chamá-lo. - Ora, o povo se assentara em torno dele e lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te chamam. - Ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, perpassando o olhar pelos que estavam assentados ao seu derredor, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; - pois, todo aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. (S. MARCOS. cap. III, vv. 20, 21 e 31 a 35 - S. MATEUS, cap. XII, vv. 46 a 50.)

6. Singulares parecem algumas palavras de Jesus, por contrastarem com a sua bondade e a sua inalterável benevolência para com todos. Os incrédulos não deixaram de tirar daí uma arma, pretendendo que ele se contradizia. Fato, porém, irrecusável é que sua doutrina tem por base principal, por pedra angular, a lei de amor e de caridade. Ora, não é possível que ele destruísse de um lado o que do outro estabelecia, donde esta consequência rigorosa: se certas proposições suas se acham em contradição com aquele princípio básico, é que as palavras que se lhe atribuem foram ou mal reproduzidas, ou mal compreendidas, ou não são suas.

7. Causa admiração, e com fundamento, que, neste passo, mostrasse Jesus tanta indiferença para com seus parentes e, de certo modo, renegasse sua mãe.
Pelo que concerne a seus irmãos, sabe-se que não o estimavam. Espíritos pouco adiantados, não lhe compreendiam a missão: tinham por excêntrico o seu proceder e seus ensinamentos não os tocavam, tanto que nenhum deles o seguiu como discípulo. Dir-se-ia mesmo que partilhavam, até certo ponto, das prevenções de seus inimigos. O que é fato, em suma, é que o acolhiam mais como um estranho do que como um irmão, quando aparecia à família. S. João diz, positivamente (cap. VII, v. 5), "que eles não lhe davam crédito".
Quanto à sua mãe, ninguém ousaria contestar a ternura que lhe dedicava. Deve-se, entretanto, convir igualmente em que também ela não fazia ideia muito exata da missão do filho, pois não se vê que lhe tenha nunca seguido os ensinos, nem dado testemunho dele, como fez João Batista. O que nela predominava era a solicitude maternal. Supor que ele haja renegado sua mãe fora desconhecer-lhe o caráter. Semelhante ideia não poderia encontrar guarida naquele que disse: Honrai a vosso pai e a vossa mãe. Necessário, pois, se faz procurar outro sentido para suas palavras, quase sempre envoltas no véu da forma alegórica.
Ele nenhuma ocasião desprezava de dar um ensino; aproveitou, portanto, a que se lhe deparou, com a chegada de sua família, para precisar a diferença que existe entre a parentela corporal e a parentela espiritual.

A parentela corporal e a parentela espiritual

8. Os laços do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13.)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente expressa em a narração de São Marcos, que diz terem eles o propósito de se apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera o espirito. Informado da chegada deles, conhecendo os sentimentos que nutriam a seu respeito, era natural que Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do ponto de vista espiritual: "Eis aqui meus verdadeiros irmãos." Embora na companhia daqueles estivesse sua mãe, ele generaliza o ensino que de maneira alguma implica haja pretendido declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como Espírito, que só indiferença lhe merecia. Provou suficientemente o contrário em várias outras circunstâncias.


Questões para estudo

1 - Como se explica o vínculo que existe entre um pai e um filho?

2 - Como se formam as famílias aqui na Terra?


3 - Como definimos a parentela corporal e espiritual?

terça-feira, 18 de agosto de 2015

FILHOS

Emmanuel

"Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais, no Senhor, porque isto é justo." - Paulo. (EFÉSIOS, 6:1.)

Se o direito é campo de elevação, aberto a todos os espíritos, o dever é zona de serviço peculiar a todos os seres da Criação.
Não somente os pais humanos estão cercados de obrigações, mas igualmente os filhos, que necessitam vigiar a si mesmos, com singular atenção.
Quase sempre a mocidade sofre de estranhável esquecimento.
Estima criar rumos caprichosos, desdenhando sagradas experiências de quem a precedeu, no desdobramento das realizações terrestres, para voltar, mais tarde, em desânimo, ao ponto de partida, quando o sofrimento ou a madureza dos anos lhe restauram a compreensão.
Os filhos estão marcados por divinos deveres, junto daqueles aos quais foram confiados pelo Supremo Senhor, na senda humana.
É indispensável prestar obediência aos progenitores, dentro do espírito do Cristo, porque semelhante atitude é justa.
Se muitas vezes os pais se furtam à claridade do progresso espiritual, escolhendo o estacionamento em zonas inferiores, nem mesmo nas circunstâncias dessa ordem seria razoável relegá-los ao próprio infortúnio.
Claro está que os filhos não devem descer ao sorvedouro da insensatez ou do crime por atender-lhes aos venenosos caprichos, mas encontrarão sempre o recurso adequado para retribuírem aos benfeitores os inestimáveis dons que lhes devem.
Não nos esqueçamos de que o filho descuidado, ocioso ou perverso é o pai inconsciente de amanhã e o homem inferior que não fruirá a felicidade doméstica.
Livro: Vinha de Luz


Conclusão do Capítulo XIV - Itens 1 a 4
Piedade Filial

A piedade filial encerra todo o dever dos filhos em relação aos pais e se exprime pelo amor, respeito, amparo, obediência e tolerância para com eles, independente de terem ou não cumprido os seus deveres, como pais.

1 - Qual o verdadeiro sentido do mandamento "Honrai a vosso pai e a vossa mãe"?
Ele encerra toda a obrigação dos filhos perante os pais, traduzida pelo amor, respeito, atenção, submissão e condescendência para com eles.
É o dever da piedade filial.
Honrar pai e mãe é respeitá-los, assisti-los na necessidade, proporcionar-lhes repouso na velhice e cercá-los de todos os cuidados.

2 - O que devemos entender por "piedade filial"?
É a obrigação incondicional que temos, perante nossos pais, de cumprir para com ele os deveres impostos pela lei de caridade e amor, de modo mais rigoroso que o demonstrado ao próximo em geral.
"O termo "honrai" encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial."

3 - Que razão nos leva a cumprir os deveres que abarcam a piedade filial?
Nossos pais são nossos irmãos a quem Deus nos confiou, nesta existência terrena, como responsáveis importantes da nossa atual fase evolutiva.
A família é um cadinho de purificação onde aprendemos a legítima fraternidade.
Capítulo XIV - Itens 1 a 4
Piedade Filial
1. Sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis; não prestareis falso-testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso pai e a vossa mãe. (S. MARCOS, capítulo X, v. 19; S. LUCAS, cap. XVIII, v. 20; S. MATEUS, cap. XIX, vv. 18 e 19.)

2. Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará. (Decálogo: "Êxodo", cap. XX, v. 12.)

3. O mandamento: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe" é um corolário da lei geral de caridade e de amor ao próximo, visto que não pode amar o seu próximo àquele que não ama a seu pai e a sua mãe; mas, o termo honrai encerra um dever a mais para com eles: o da piedade filial. Quis Deus mostrar por essa forma que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de cumprir-se para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade ordena relativamente ao próximo em geral. Esse dever se estende naturalmente às pessoas que fazem às vezes de pai e de mãe, as quais tanto maior mérito têm, quanto menos obrigatório é para elas o devotamento. Deus pune sempre com rigor toda violação desse mandamento.
Honrar a seu pai e a sua mãe, não consiste apenas em respeitá-los; é também assisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco, na infância.
Sobretudo para com os pais sem recursos é que se demonstra a verdadeira piedade filial. Obedecem a esse mandamento os que julgam fazer grande coisa porque dão a seus pais o estritamente necessário para não morrerem de fome, enquanto eles de nada se privam, atirando-os para os cômodos mais ínfimos da casa, apenas por não os deixarem na rua, reservando para si o que há de melhor, de mais confortável? Ainda bem quando não o fazem de má vontade e não os obrigam a comprar caro o que lhes resta a viver, descarregando sobre eles o peso do governo da casa! Será então aos pais velhos e fracos que cabe servir a filhos jovens e fortes? Ter-lhes-á a mãe vendido o leite, quando os amamentava? Contou porventura suas vigílias, quando eles estavam doentes, os passos que deram para lhes obter o de que necessitavam? Não, os filhos não devem a seus pais pobres só o estritamente necessário, devem-lhes também, na medida do que puderem, os pequenos nadas supérfluos, as solicitudes, os cuidados amáveis, que são apenas o juro do que receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Unicamente essa é a piedade filial grata a Deus.
Ai, pois, daquele que olvida o que deve aos que o ampararam em sua fraqueza, que com a vida material lhe deram a vida moral, que muitas vezes se impuseram duras privações para lhe garantir o bem-estar. Ai do ingrato: será punido com a ingratidão e o abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, algumas vezes já na existência atual, mas com certeza noutra, em que sofrerá o que houver feito aos outros.
Alguns pais, é certo, descuram de seus deveres e não são para os filhos o que deviam ser; mas, a Deus é que compete puni-los e não a seus filhos. Não compete a estes censurá-los, porque talvez hajam merecido que aqueles fossem quais se mostram. Se a lei da caridade manda se pague o mal com o bem, se seja indulgente para as imperfeições de outrem, se não diga mal do próximo, se lhe esqueçam e perdoem os agravos, se ame até os inimigos, quão maiores não hão de ser essas obrigações, em se tratando de filhos para com os pais! Devem, pois, os filhos tomar como regra de conduta para com seus pais todos os preceitos de Jesus concernentes ao próximo e ter presente que todo procedimento censurável, com relação aos estranhos, ainda mais censurável se torna relativamente aos pais; e que o que talvez não passe de simples falta, no primeiro caso, pode ser considerado um crime, no segundo, porque, aqui, à falta de caridade se junta a ingratidão.

4. Deus disse: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará." Por que promete ele como recompensa a vida na Terra e não a vida celeste? A explicação se encontra nestas palavras: "que Deus vos dará" , as quais, suprimidas na moderna fórmula do Decálogo, lhe alteram o sentido. Para compreendermos aqueles dizeres, temos de nos reportar à situação e às ideias dos hebreus naquela época. Eles ainda nada sabiam da vida futura, não lhes indo a visão além da vida corpórea. Tinham, pois, de ser impressionados mais pelo que viam, do que pelo que não viam. Fala-lhes Deus então numa linguagem que lhes estava mais ao alcance e, como se se dirigisse a crianças, põe-lhes em perspectiva o que os pode satisfazer. Achavam-se eles ainda no deserto; a terra que Deus lhes dará e a Terra da Promissão, objetivo das suas aspirações. Nada mais desejavam do que isso; Deus lhes diz que viverão nela longo tempo, isto é, que a possuirão por longo tempo, se observarem seus mandamentos.
Mas, ao verificar-se o advento de Jesus, já eles tinham mais desenvolvidas suas ideias. Chegada a ocasião de receberem alimentação menos grosseira, o mesmo Jesus os inicia na vida espiritual, dizendo: "Meu reino não é deste mundo; lá, e não na Terra, é que recebereis a recompensa das vossas boas obras." A estas palavras, a Terra Prometida deixa de ser material, transformando-se numa pátria celeste. Por isso, quando os chama à observância daquele mandamento: "Honrai a vosso pai e a vossa mãe", já não é a Terra que lhes promete e sim o céu. (Caps. II e III.)







Questões para estudo

1 - Qual o verdadeiro sentido do mandamento "Honrai a vosso pai e a vossa mãe"?

2 - O que devemos entender por "piedade filial"?


3 - Que razão nos leva a cumprir os deveres que abarcam a piedade filial?

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Conclusão Capítulo XIII - Item 10
A caridade material e a caridade moral

A caridade não consiste apenas na doação de bens materiais. Uma prece por quem sofre, um gesto de consolo, um sorriso de esperança, são aspectos morais da caridade, que não tem preço.


1 - Como se pratica a caridade por pensamento?

Orando por todos os sofredores, encarnados e desencarnados; desejando sempre o bem do próximo.

"Uma prece, feita de coração, os alivia."

2 - Como se pode praticar a caridade por palavras?

Dando aos nossos familiares e àqueles que convivem conosco um bom conselho, palavras de consolo, estímulo, fé em dias melhores e esperança na misericórdia de Deus.

A boca fala do que está cheio o coração. Aquele que tem amor dentro de si o deixa escapar através de palavras fraternas.

3 - E a caridade moral, por meio de ações, como podemos praticar?

Oferecendo ao nosso irmão um sorriso; tendo para com ele um gesto afetuoso; dispensando-lhe singelas atenções; prestando-lhe pequenos favores; enfim, buscando tratá-lo como gostaríamos de ser tratados.

A caridade moral nada custa, materialmente falando, mas é a mais difícil de se praticar.


Capítulo XIII - Item 10
A caridade material e a caridade moral

Meus amigos, a muitos dentre vós tenho ouvido dizer: Como hei de fazer caridade, se amiúde nem mesmo do necessário disponho? Amigos, de mil maneiras se faz a caridade. Podeis fazê-la por pensamentos, por palavras e por ações. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem se acharem sequer em condições de ver a luz. Uma prece feita de coração os alivia.
Por palavras, dando aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos, dizendo aos que o desespero, as privações azedaram o ânimo e levaram a blasfemar do nome do Altíssimo: "Eu era como sois; sofria, sentia-me desgraçado, mas acreditei no Espiritismo e, vede, agora, sou feliz." Aos velhos que vos disserem: "É inútil; estou no fim da minha jornada; morrerei como vivi", dizei: "Deus usa de justiça igual para com todos nós; lembrai-vos dos obreiros da última hora." As crianças já viciadas pelas companhias de que se cercaram e que vão pelo mundo, prestes a sucumbir às más tentações, dizei: "Deus vos vê, meus caros pequenos", e não vos canseis de lhes repetir essas brandas palavras. Elas acabarão por lhes germinar nas inteligências infantis e, em vez de vagabundos, fareis deles homens. Também isso é caridade.
Dizem, outros dentre vós: "Ora! somos tão numerosos na Terra, que Deus não nos pode ver a todos." Escutai bem isto, meus amigos: Quando estais no cume da montanha, não abrangeis com o olhar os bilhões de grãos de areia que a cobrem? Pois bem: do mesmo modo vos vê Deus. Ele vos deixa usar do vosso livre-arbítrio, como vós deixais que esses grãos de areia se movam ao sabor do vento que os dispersa. Apenas, Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no fundo do coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutai-a, que somente bons conselhos ela vos dará. As vezes, conseguis entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do mal. Ela, então, se cala. Mas, ficai certos de que a pobre escorraçada se fará ouvir, logo que lhe deixardes aperceber-se da sombra do remorso. Ouvi-a, interrogai-a e com frequência vos achareis consolados com o conselho que dela houverdes recebido.
Meus amigos, a cada regimento novo o general entrega um estandarte. Eu vos dou por divisa esta máxima do Cristo: "Amai-vos uns aos outros." Observai esse preceito, reuni-vos todos em torno dessa bandeira e tereis ventura e consolação. - Um Espírito protetor. (Lião, 1860.)


Questões para estudo

1 - Como se pratica a caridade por pensamento?

2 - Como se pode praticar a caridade por palavras?


3 - E a caridade moral, por meio de ações, como podemos praticar?
Conclusão do Capítulo XIII - Item 9
A caridade material e a caridade moral


O preceito de Jesus, amai-vos uns aos outros, manifesta-se na prática da caridade material e moral, sendo que maior valor tem esta última, porque exige de quem a pratica verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância.


1 - Qual a diferença entre caridade material e caridade moral?

Enquanto a primeira ocupa-se em atender o necessitado com bens materiais, a segunda, que nada custa materialmente falando, consiste em se conviver com o próximo, dispensando-lhe o tratamento e as atenções que gostaríamos nos fossem dispensados.

Quando se pratica a caridade material, dá-se do que se tem. Quando se pratica a caridade moral, dá-se do que se é.

"Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles."

2 - Por que a caridade moral é mais difícil de se praticar do que a caridade material?

Porque nos exige verdadeiro sentimento de fraternidade, espírito de renúncia e tolerância, princípios tão contrários ao egoísmo, a que ainda estamos presos.

"A caridade moral, que todos podem praticar, nada custa (...) porém é a mais difícil de exercer-se."

3 - Como podemos exercitar a caridade moral?

Pelas pequeninas ações de cada dia, como tolerar o semelhante, não desejar mal ao próximo, não revidar as ofensas, saber calar, ignorar a má palavra e o mau procedimento, começando sempre pelos nossos familiares.

"Grande mérito há (...) em um homem saber calar, deixando fale outro mais tolo do que ele."


"Não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral."
Capítulo XIII - Item 9
A caridade material e a caridade moral

"Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que quereríamos nos fizessem eles." Toda a religião, toda a moral se acham encerradas nestes dois preceitos. Se fossem observados nesse mundo, todos seríeis felizes: não mais aí ódios, nem ressentimentos. Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam e não mais veríeis, nos quarteirões sombrios onde habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava.
Ricos! pensai nisto um pouco. Auxiliai os infelizes o melhor que puderdes. Dai, para que Deus, um dia, vos retribua o bem que houverdes feito, para que tenhais, ao sairdes do vosso invólucro terreno, um cortejo de Espíritos agradecidos, a receber-vos no limiar de um mundo mais ditoso.
Se pudésseis saber da alegria que experimentei ao encontrar no Além aqueles a quem, na minha última existência, me fora dado servir!... Amai, portanto, o vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, pois já sabeis, agora, que, repelindo um desgraçado, estareis, quiçá, afastando de vós um irmão, um pai, um amigo vosso de outrora. Se assim for, de que desespero não vos sentireis presa, ao reconhecê-lo no mundo dos Espíritos!
Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais difícil de exercer-se. A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral.
Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra. Tende, porém, cuidado, principalmente em não tratar com desprezo o vosso semelhante. Lembrai-vos de tudo o que já vos tenho dito: Tende presente sempre que, repelindo um pobre, talvez repilais um Espírito que vos foi caro e que, no momento, se encontra em posição inferior à vossa. Encontrei aqui um dos pobres da Terra, a quem, por felicidade, eu pudera auxiliar algumas vezes, e ao qual, a meu turno, tenho agora de implorar auxílio.
Lembrai-vos de que Jesus disse que todos somos irmãos e pensai sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus: pensai nos que sofrem e orai. Irmã Rosália. (Paris, 1860.)

Questões para estudo

1 - Qual a diferença entre caridade material e caridade moral?

2 - Por que a caridade moral é mais difícil de se praticar do que a caridade material?


3 - Como podemos exercitar a caridade moral?
Conclusão do Capítulo XIII - Itens 7 e 8
Convidar os pobres e os estropiados
Dar sem esperar retribuição


O convite à participação nos bens de que desfrutamos deve ser inspirado na mais pura fraternidade. Se for motivado pelo desejo de retribuição é mero comércio e demonstração de orgulho e vaidade.

1 - Quem são os pobres e estropiados referidos no texto?

São os nossos irmãos mais necessitamos, que não têm condições de retribuir o nosso convite, a nossa doação, a nossa visita, enfim, as nossas atenções.

"E sereis ditosos por não terem eles meios de vô-lo retribuir..."

2 - Como deve ser a atitude do cristão, quando auxilia o irmão necessitado?

Fraterna e discreta, movida pelo sentimento da verdadeira caridade, que nos manda fazer o bem tão somente pelo prazer de o praticar, sem esperar retribuição alguma.

"... praticam a máxima de Jesus se o fazem por benevolência, sem ostentação, e sabem dissimular o benefício, por meio de uma sincera cordialidade."

3 - Como exercitar esta lição em nossa vivência diária?

Convidando para nossa mesa os irmãos, amigos e parentes menos felizes, e atendendo-os fraternalmente em suas necessidades, ao invés de buscarmos apenas o convívio daqueles que nos podem beneficiar com a retribuição de nossos favores.


Encontramos os pobres e os estropiados no seio de nossa própria família.
Capítulo XIII - Itens 7 e 8
Convidar os pobres e os estropiados
Dar sem esperar retribuição

Disse também àquele que o convidara: Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem a seu turno e assim retribuam o que de vós receberam. - Quando derdes um festim, convidai para ele os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos. - E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos.
Um dos que se achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do pão no reino de Deus! (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 12 a 15.)

"Quando derdes um festim, disse Jesus, não convideis para ele os vossos amigos, mas os pobres e os estropiados." Estas palavras, absurdas, se tomadas ao pé da letra, são sublimes, se lhes buscarmos o espírito. Não é possível que Jesus haja pretendido que, em vez de seus amigos, alguém reúna à sua mesa os mendigos da rua. Sua linguagem era quase sempre figurada e, para os homens incapazes de apanhar os delicados matizes do pensamento, precisava servir-se de imagens fortes, que produzissem o efeito de um colorido vivo. O âmago do seu pensamento se revela nesta proposição: "E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo retribuir." Quer dizer que não se deve fazer o bem tendo em vista uma retribuição, mas tão-só pelo prazer de o praticar. Usando de uma comparação vibrante, disse: Convidai para os vossos festins os pobres, pois sabeis que eles nada vos podem retribuir. Por festins deveis entender, não os repastos propriamente ditos, mas a participação na abundância de que desfrutais.

Todavia, aquela advertência também pode ser aplicada em sentido mais literal. Quantos não convidam para suas mesas apenas os que podem, como eles dizem, fazer-lhes honra, ou, a seu turno, convidá-los! Outros, ao contrário, encontram satisfação em receber os parentes e amigos menos felizes. Ora, quem não os conta entre os seus? Dessa forma, grande serviço, às vezes, se lhes presta, sem que o pareça. Aqueles, sem irem recrutar os cegos e os estropiados, praticam a máxima de Jesus, se o fazem por benevolência, sem ostentação, e sabem dissimular o benefício, por meio de uma sincera cordialidade.

Questões para estudo

1 - Quem são os pobres e estropiados referidos no texto?

2 - Como deve ser a atitude do cristão, quando auxilia o irmão necessitado?


3 - Como exercitar esta lição em nossa vivência diária?