Capítulo 11 - O templo e o parlatório
Terminada a
fase culminante do caso Antônio Olímpio e interessados na continuidade de
nossos estudos, Hilário e eu procuramos o Instrutor Druso, que aconselhou
solicitamente, após ouvir-nos:
– Compreendo
que a Mansão em si já lhes terá fornecido elementos básicos a graves conclusões
em torno da lei de causa e efeito... Aqui, na maioria dos problemas, quase
sempre encontramos os frutos concretos da ação. Junto de nós, é possível
verificar, de perto, a colheita do sofrimento em todas as suas fases difíceis e
dolorosas.
E, sorrindo,
acentuou:
– A região
infernal permanece superlotada de contas maduras. Aqui, a sovinice suporta o
azinhavre de atrozes padecimentos, o crime defronta com todas as espécies de
angústia no remorso tardio, e a delinquência responsável é surpreendida pelas
trevas que lhe agravam as amarguras, porque as coletividades dos lavradores culpados
pela plantação de tantos espinheiros não dispõem de coragem para recolher o
fruto envenenado da sementeira a que se afeiçoam. Desorientados e dementes,
sublevam-se contra as flagelações que geraram e caem nas profundezas da
rebelião e do desespero... Segundo é fácil de observar, em derredor da nossa casa
de reajuste e socorro, tudo, em quase todas as circunstâncias, é sombra e
conflito uniformes, assim como vasto campo incendiado por criaturas
imprevidentes, a tolerarem compulsoriamente o fogo e o fumo com que lesaram a
gleba das próprias vidas...
Druso
calou-se, caminhou na direção de larga janela que se abria para os nevoeiros
exteriores, mirou, compadecido, a triste paisagem que os nossos olhos
conseguiam descortinar e, em seguida, voltou para perto de nós, asseverando:
– Ainda assim,
será bom prolonguem o trabalho em que se empenham, anotando os princípios de
compensação em mais amplos setores. Nesse sentido, consideramos de suma
importância as realizações em andamento na esfera carnal, como fatores
determinantes de céu ou de inferno nas pessoas que os procuram, razão por que
auguramos aos dois o melhor aproveitamento nas atividades que venham a
empreender, na zona de relações entre nossa casa e o homem comum não distante.
Precisamos reconhecer que todos criamos o destino ou renovamo-lo, todos os
dias, e, aqui, o exame de semelhante lição é mais vagaroso, porquanto o nosso
instituto mais se nos afigura uma estação de chegada em que a culpa se
movimenta com lentidão. Entre os Espíritos encarnados, porém, mais facilmente
se nos revela o mecanismo da Lei, através da qual vive a alma nas suas próprias
edificações. No vaso da carne, a planta da existência se desenvolve, floresce e
frutifica. A morte fisiológica realiza a grande ceifa. Em nosso mundo, temos,
desse modo, a seleção natural dos frutos. Os raros que se mostram aprimorados
são conduzidos à lavoura da Luz Divina, nos planos celestiais, para mais ampla
ascensão ao grande futuro; todavia, a massa esmagadora dos que chegam
deteriorados ou imperfeitos estaciona nos celeiros de sombra das regiões
inferiores em que nos achamos, à espera de novo plantio nas leiras do mundo. É
que cada criatura transpõe os umbrais do túmulo com as imagens que em si mesma
plasmou, utilizando os recursos do sentimento, da ideia e da ação que a vida
lhe empresta, irradiando as forças que acumulou no espaço e no tempo
terrestres. Cremos, pois, seja oportuna a observação do assunto, entre as almas
encarnadas, para que se lhes enriqueça a experiência.
Aquelas ponderações,
ditas em tom paterno, comoviam-me intensamente. Druso pronunciava-as com
afabilidade e tristeza, não obstante sorrisse.
Como sempre
encantado com a sua personalidade dificilmente abordável no conjunto,
silenciei, acatando-lhe as manifestações, mas Hilário perguntou, irrequieto,
valendo-se da pausa que surgira:
– Que nos
sugere, porém, a fim de que atendamos aos estudos a que se reporta?
O Instrutor
respondeu, de pronto:
– Possuímos
sempre renovado material de consulta no templo e no parlatório exteriores de
nosso domicílio, usualmente frequentados por irmãos do plano físico,
provisoriamente desligados da habitação corpórea por influência do sono, bem
como pelos companheiros desencarnados que vagueiam em torno da Mansão, à caça
de reconforto. Muitos deles estão ligados ao nosso santuário pelos fios da
reencarnação, enquanto muitos outros chegam até nós em busca de socorro.
Dispomos aí de atendentes numerosos que lhes coletam as reclamações e registram
os problemas para orientarmos com segurança o nosso esforço de paz e
cooperação.
É
interessante, assim, que os amigos se incorporem, durante alguns dias, às
nossas equipes de serviço, colaborando conosco e relacionando apontamentos
diversos.
– Não
poderíamos contar com a ajuda de Silas? indagou meu colega, referindo-se ao
companheiro cuja presença para nós significava alegria e coragem.
O Instrutor
contemplou-nos de maneira expressiva e comentou, surpreendendo-nos:
– Não fosse o
objetivo das informações que coligem e, certo, não nos seria possível permitir
que o Assistente mencionado lhes tutelasse a recolta de ensinamentos. Sabemos,
contudo, que o trabalho em andamento se destina a instruções para a esfera dos companheiros
reencarnados e semelhante tarefa nos obriga a considerar-lhes a petição.
Realmente, não lhes convém qualquer perda de oportunidade ou de tempo. E embora
sejam atualmente enormes as responsabilidades de Silas em nossa casa, não vejo como
privá-los do companheiro que, sem dúvida, é aqui o depositário imediato de
nossa melhor confiança.
Logo após,
enquanto mergulhávamos em silenciosas considerações, acerca do seguro serviço
de inteligência com que o grande benfeitor nos seguia a meta, Silas foi chamado
à nossa presença, recebendo recomendações no sentido de prestar-nos a
assistência precisa.
Instrutor e
Assistente, em conversação íntima e rápida, permutaram impressões, cuja
significação total não nos foi possível perceber. Terminado o entendimento,
Silas marcou o horário exato em que nos cabia efetuar o reencontro e, com isso,
a nossa entrevista com o governador da Mansão fora praticamente encerrada.
No momento
previsto, o Assistente veio procurar-nos, solícito. Íamos visitar o Templo da Mansão.
Atravessamos
longas filas de corredores, até que, através de estreito postigo, tivemos
acesso a vasto recinto iluminado.
Assemelhava-se
o ambiente ao de grande capela, das que conhecemos no mundo. De face voltada
para o exterior, uma cruz de radiante material argênteo sobre alva e simples
mesa, encostada ao centro do fundo, era o único símbolo religioso ali
existente.
Mas de todas
as paredes laterais, a se caracterizarem por brancura de neve, distinguiam-se
pequenas reentrâncias insculpidas em forma de nichos.
A luz
dominante casava-se de encantadora maneira com a melodia cariciosa a ressoar
docemente no largo corpo da nave...
Que mãos
invisíveis produziam a música veludosa e terna que nos inclinava à reverência e
à meditação?
Mais de duas
centenas de entidades diversas, formando piedoso conjunto, em fileiras quase do
mesmo número, postavam-se em prece ante os nichos vazios.
Não sei que
estranha emotividade me tomou a alma toda. A fé simples da infância
reconquistara-me o intimo... Lembrei minha mãe, colocando a oração primeira em
meus lábios e, como se as vibrações daquela hora fossem abençoada chuva a
lavar-me todos os escaninhos do espírito, olvidei por instantes minhas velhas experiências
da vida para somente pensar no Supremo Senhor, nosso Deus e nosso Pai...
Lágrimas
quentes rorejaram-me a face. Quis algo perguntar ao Assistente bondoso;
contudo, naquele primeiro contato com o santuário externo da Mansão, nada
consegui fazer senão orar e chorar copiosamente. E, por isso mesmo, embora
pudesse controlar a expressão verbalista, para que a palavra me não escapasse desordenadamente
da boca, contemplava a luminosa cruz, entre respeitoso e comovido... Recordei o
Mensageiro Divino que a utilizara em sacrifício para traçar-nos o caminho da
vitoriosa ressurreição, e repetia no imo dalma:
– ”Pai Nosso que estás nos Céus, santificado
seja o Teu nome.
“Venha a nós o Teu reino.
“Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu.
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos
nossos devedores.
“Não nos deixes cair em tentação e livra-nos do mal,
porque são Teus o reino, o poder e a glória para sempre.
“Assim seja.”
Reparei que
Silas me acompanhava os menores movimentos interiores, porque, ao terminar a
prece dominical, disse-me, afetuoso:
– É verdade,
André, raros conseguem penetrar este ambiente sem se escudarem na oração.
E relanceando
o olhar sobre Hilário, que igualmente enxugava lágrimas espontâneas, como a
incluí-lo no carinho das observações que exteriorizava, continuou:
– Este pequeno
campo de pensamento está sublimado pela compunção e pela dor de milhares...
Incontáveis legiões de almas edificadas no sofrimento e na fé por aqui hão
passado, em pranto de arrependimento ou de esperança, de gratidão ou de
angústia... Nosso templo interno, de cujos serviços vocês já participaram, funciona
qual se fora o vivo coração de nossa casa, enquanto que este santuário exterior
é o símbolo das nossas mãos em prece.
Apontando as
criaturas que oravam em silêncio, ante os altares despovoados, ousei perguntar
ao irmão prestimoso:
– Que
significam no recinto a imagem da cruz e estes nichos vazios?
O Assistente
esclareceu, sem demora:
– A cruz
recorda a todos os visitantes que o Espírito de Nosso Senhor Jesus-Cristo aqui
se encontra presente, não obstante estejamos nos abismos infernais. E os nichos
vazios dão oportunidade a que todos se dirijam aos Céus, segundo a fé que
abraçam. Até que a alma obtenha a Sabedoria Infinita é indispensável caminhe na
longa estrada dos símbolos de alfabetização e cultura que a dirigem na senda de
elevação intelectual, e, até que atinja o Infinito Amor, é necessário palmilhe
as longas rotas da caridade e da fé religiosa, nos múltiplos departamentos da
compreensão que lhe assegura o acesso à Vida Superior. Os Poderes Divinos, que
nos regem, determinam que toda classe de fé sincera e respeitável aqui encontre
amorosa veneração.
Observando que
a reduzida comunidade de almas em prece se alinhava em posições diversas, de
vez que algumas se mantinham de pé ou comodamente sentadas, enquanto que a
maioria se punha de joelhos, Hilário ensaiou algumas indagações a que Silas
respondeu, condensando os assuntos:
– Sim, desde
que o respeito mútuo seja necessariamente guardado, todos aqui podem orar como
melhor lhes pareça.
E,
amparando-nos a curiosidade sadia, indicou certa matrona que chorava,
pacientemente genuflexa, diante de nicho próximo, e falou:
–
Acompanhemos, por exemplo, aquela nossa irmã em súplica. Postar-nos-emos na
retaguarda, de modo a não na incomodar com a nossa presença. E, envolvendo-a
nas vibrações de nossa simpatia, assimilar-lhe-emos a faixa mental, percebendo,
com clareza, as imagens que ela cria em seu processo pessoal de oração.
Obedecemos
maquinalmente e, de minha vez, à medida que concentrava a atenção naquela
cabeça grisalha e pendente, mais se alterava o estreito espaço do nicho aos
meus olhos...
Pouco a pouco,
qual se emergisse da parede lirial, linda tela se me desdobra à visão, tomada
de espanto. Era a reprodução viva da formosa escultura de Teixeira Lopes[1],
representando a Mãe Santíssima chorando o Divino Filho morto...
E as frases
inarticuladas da veneranda irmã em prece ressoavam- me nos ouvidos:
– “Mãe Santíssima, Divina Senhora da Piedade,
compadece-te de meus filhos que vagueiam nas trevas!...
Por amor de teu filho sacrificado na cruz, ajuda-me o
espírito sofredor para que eu possa ajudá-los...
Bem sei que por sinistro apego às posses materiais, não
vacilaram em abraçar o crime.
Em verdade, Senhora, são eles homicidas infortunados
que a justiça terrestre não conheceu... Por isso mesmo, padecem com mais
intensidade o drama das próprias consciências, enleadas à culpa...”
Nesse ponto da
petição, Silas tocou-nos, de leve, os ombros, convidando-nos ao ensinamento
devido e explicou:
– É uma pobre
mãe desencarnada que roga pelos filhos transviados nas sombras. Invoca a
proteção de nossa Mãe Santíssima, sob a representação de Senhora da Piedade,
segundo a fé que o seu coração pode, por enquanto, albergar, no âmbito das
recordações trazidas do mundo...
– Isso quer
dizer que a imagem de nossa visão...
Esta
observação ficou, porém, no ar, porque Silas completou, presto:
– É uma
criação dela mesma, reflexo dos próprios pensamentos com que tece a rogativa,
pensamentos esses que se ajustam à matéria sensível do nicho, plasmando a
imagem colorida e vibrante que lhe corresponde aos desejos.
E respondendo
automaticamente às indagações que o problema nos sugeria, continuou:
– Isso,
contudo, não significa que a prece esteja sendo respondida por ela mesma.
Petições semelhantes a esta elevam-se a planos superiores e aí são acolhidas
pelos emissários da Virgem de Nazaré, a fim de serem examinadas e atendidas,
conforme o critério da verdadeira sabedoria.
Espraiando o
olhar pelos circunstantes, prosseguiu esclarecendo:
Francisco
Cândido Xavier – Ação e Reação – pelo Espírito André Luiz 151
– Encontram-se
aqui devotos de vários grandes heróis do Cristianismo, em diversos cultos de
fé.
E olhando em
torno, com a sua ampla experiência apontou outra senhora em oração,
acrescentando:
– Ali temos
nobre matrona exorando a proteção de Teresinha de Lisieux[2],
a doce monja do Carmelo, desencarnada na França.
– E a mensagem
dela alcança o coração da famosa freira? Indagou Hilário com o otimismo de
sempre.
– Como não? –
respondeu o interlocutor. – Depois da morte do corpo, as criaturas efetivamente
santificadas encontram as mais altas quotas de serviço, na expansão da luz ou
da caridade, do conhecimento ou da virtude, de que se fizeram a fonte viva de inspiração,
quando no aprendizado humano. O céu beatífico e estanque existe apenas na mente
ociosa daqueles que pretendem progresso sem trabalho e paz sem esforço. Tudo é
criação, beleza, aprimoramento, alegria e luz incessantes na obra de Deus, a
expressar-se, divina e infinita, através daqueles que se elevam para o Infinito
Amor. Assim pois, o coração que deixe na Terra uma sementeira de fé e abnegação
passa a nutrir, do plano espiritual, a lavoura das ideias e dos exemplos que
legou aos irmãos de luta evolutiva, lavoura essa que se expande naqueles que
lhe continuam o ministério sagrado, crescendo, assim, em trabalho e influência para
o bem, no setor de ação iluminativa e santificante que o Senhor lhe confia.
Meu
companheiro, que assinalava o esclarecimento com tanta atenção quanto eu mesmo,
obtemperou:
– E na
hipótese de a alma julgada santa entre os homens não ser realmente santa no
Plano da Verdade? as preces que lhe sejam dirigidas atingem os objetivos
visados, ainda mesmo quando o suposto santo permaneça em duras experiências nas
regiões das sombras?
– Sim, Hilário
– aclarou o Assistente –; as orações podem não encontrar, de imediato, o
Espírito a que se destinam, mas alcançam-lhe o grupo de companheiros a que
deveria ajustar-se e que, amorosamente, o substituem na obra assistencial do
bem, em nome do Senhor, visto que, na realidade, todo amor na Criação Eterna é
de Deus. Imaginemos, para exemplificar, que a referida monja não estivesse,
temporariamente, em condições de prestar auxílio... Se isso acontecesse, as
grandes almas, acrisoladas na disciplina da instituição em que tanto se
distinguiu, se encarregariam de fazer por ela o trabalho necessário e justo,
até que pudesse tomar sobre os ombros o apostolado que lhe compete.
– Todavia –
ponderou meu colega –, será de crer que o espírito das congregações religiosas
ainda permaneça vivo nas Esferas Mais Altas?
O Assistente
sorriu e ajuntou:
– Não no
sentido estreito do sectarismo terrestre. Quanto mais se eleva aos cimos da
vida, mais se despe a alma das convenções humanas, aprendendo que a Providência
é luz e amor para todas as criaturas. Entretanto, até que a alma se identifique
com os fatores sublimes da consciência cósmica, os círculos de estudo e fé,
aperfeiçoamento e solidariedade, pelo bem que realizam, estejam onde estiverem,
merecem o maior acatamento das Inteligências Superiores que atendem à execução
dos Planos Divinos.
Logo após,
como se quisesse fixar em nosso espírito os méritos da lição, dirigiu o olhar
para certa senhora que se mantinha em prece, não distante de nós, e, depois de
ligeira observação, conduziu-nos até ela, recomendando-nos atenção.
Procuramos
assimilar-lhe a faixa mental e, estabelecida a sintonia, surpreendemos no nicho
a imagem viva e simpática do nosso abnegado Dr. Bezerra de Menezes[3],
ao mesmo tempo que ouvíamos a súplica de nossa companheira desolada:
– ”Doutor
Bezerra, por amor de Jesus, não abandones meu pobre Ricardo nas trevas da
desesperação!... Meu esposo infeliz atravessa rudes provas!... O generoso
amigo, socorre-nos! Não permitas que ele desça ao abismo do suicídio... Dá-lhe
coragem e paciência, sustenta-lhe o bom ânimo!... As dificuldades e as lágrimas
que o afligem no mundo caem sobre minhalma como chuva de fel!...”
Silas
interrompeu-nos a reflexão, acentuando:
– Segundo
reconhecemos, o santuário serve à oração digna, sem cultos especiais. Ali,
alguém recorre ao amparo da monja de Lisieux, aqui um coração infortunado pede
socorro ao notável companheiro dos espíritas no Brasil.
Antes de
desviar a minha atenção, fitei o semblante do grande médico, segundo as
recordações da irmã que orava, confiante, anotando o primor da fotografia
mental que ela exteriorizava. Víamos, ali, o retrato do Dr. Bezerra, qual o
conhecemos, sereno, simples, bondoso, paternal...
Precedendo-nos
as interrogações costumeiras, o Assistente informou:
– Com mais de cinquenta
anos consecutivos de serviço à Causa Espírita, depois de desencarnado, Adolfo
Bezerra de Menezes fez jus à formação de extensa equipe de colaboradores que lhe
servem à bandeira de caridade. Centenas de Espíritos estudiosos e benevolentes
obedecem-lhe às diretrizes na lavoura do bem, na qual opera ele em nome do
Cristo.
– Desse modo –
alegou Hilário –, é fácil compreendê-lo agindo em tantos lugares ao mesmo
tempo...
–
Perfeitamente – concordou Silas. – Como acontece na radiofonia, em que uma
estação emissora está para os postos de recepção, assim qual uma só cabeça
pensante para milhões de braços, um grande missionário da luz, em ação no bem,
pode refletir-se em dezenas ou centenas de companheiros que lhe acatam a
orientação no trabalho ajustado aos desígnios do Senhor. Bezerra de Menezes,
invocado carinhosamente, em tantas instituições e lares espíritas, ajuda em
todos eles, pessoalmente ou por intermédio das entidades que o representam com
extrema fidelidade.
– Para isso –
aduziu meu colega – terá o seu campo próprio de atividade, assim como um chefe
de serviço humano possui a sede administrativa da qual distribui com os
comandados o pensamento diretor da organização...
– Como não? –
falou-nos o Assistente, sorrindo – o Senhor, que tem meios de instalar
condignamente qualquer dirigente de trabalho humano, ainda mesmo nas mais
ínfimas experiências da vida social no Planeta, não relegaria à intempérie os
missionários da luz no Plano Espiritual.
Assim dizendo,
Silas discretamente nos compelia a caminhar na direção da porta de acesso ao
pátio exterior do templo. Alcançando a saída, notamos que a claridade ambiente
se apagava quase que de chofre, a poucos metros do pórtico, dando-nos a ideia
de sofrer tremendo impacto das sombras circundantes.
No enorme
átrio, adensava-se turba imensa... Grupos diversos conversavam em alta voz...
Havia quem chorasse, quem deprecasse, quem gemesse... Nossa visão, ainda não
adaptada, mal registrava os contornos da grande multidão que ali se aglomerava;
entretanto, podíamos ouvir com precisão palavras e gritos, rogativas ardentes e
desconsoladores apelos...
Notando-nos a
estranheza, o Assistente observou, comovido:
– Aqui temos o
parlatório da Mansão, ao qual comparecem grandes fileiras de almas sinceras e
sofredoras, mais habitualmente em profundo desespero, a inibir-lhes as
vantagens da oração pacífica...
E, com
expressivo gesto, ajuntou:
– Neste grande
recinto, dedicado à palavra livre, encontramos realmente a nossa divisa
vibratória... Além dele, é a dor inconformada e terrível, gerando
monstruosidade e desequilíbrio a exprimirem o inferno da interpretação
religiosa comum; no entanto, muros a dentro de nossa casa, é a dor paciente e
compreensiva, criando renovação e reajuste para o caminho dos Céus...
Diante dos
quadros deprimentes sob nossa vista, não dispúnhamos de expressão para
qualificar o estupor de que nos sentíamos dominados. Foi por isso que nos
calamos, de maneira instintiva, perante a quietação do Assistente que, a nosso
ver, recorria, silencioso, ao favor da oração.
Questões para estudo
1 - Por que
ele se refere à região em estudo como sendo uma região infernal, se a doutrina
espírita nos ensina que Inferno é um estado de nossa consciência?
2 - Ao que ele
se refere ao utilizar a expressão "contas maduras" ( 4º parágrafo)?
3 - O que
podemos compreender como sendo o templo a que se refere André Luiz? E qual a
ligação que podemos fazer com os templos religiosos do mundo físico,
especialmente no aspecto espiritual?
4 - André Luiz
nos fala da fé de sua infância. Será que ele usou essa lembrança por algum
motivo específico? Teria isso alguma relação com as palavras de Jesus:
"Deixai vir a mim as criancinhas"?
5 - O que é o
parlatório? Qual sua finalidade?
6 - O que mais
lhe chamou a atenção, em termos de aprendizado pessoal nesse capítulo?
[2]
Santa Teresa do
Menino Jesus, na Igreja Católica, desencarnada no Carmelo de Lisleux, França,
em 30 de setembro de 1897. – (Nota do Autor espiritual.)
[3]
Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes, apóstolo do Espiritismo Cristão no Brasil, desencarnado no
Rio de Janeiro, em 11 de abril de 1900. (Nota do Autor espiritual.)
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