Capítulo XII – Itens
1 e 3
Fazer o bem sem ostentação
Fazer o bem sem ostentação
1. Tende cuidado em não praticar as boas obras
diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis
recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não
trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem
louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua
recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que
faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai,
que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI,
vv. 1 a 4.)
2. Tendo Jesus descido do monte, grande
multidão o seguiu. - Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o
adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. - Jesus, estendendo a
mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante desapareceu a
lepra. - Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que
seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés,
a fim de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)
3. Em fazer o
bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a mão que
dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral, porquanto,
para encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna
abstrair da vida presente e identificar-se com a vida futura; numa palavra,
colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que advém do
testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de
Deus o sufrágio dos homens prova que mais fé deposita nestes do que na Divindade
e que mais valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário,
procede como se não cresse no que diz.
Quantos há que
só dão na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício
recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às
ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: "Os que
fazem o bem ostentosamente já receberam sua recompensa." Com efeito,
aquele que procura a sua própria glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já
se pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só lhe resta receber a punição do
seu orgulho.
Não saber a
mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza
admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a
falsa modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá,
tendo, porém, o cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para
verificar se alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do
Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não
será perante Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram
vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que terão.
E qual poderá
ser a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os
recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe
faz sentir a sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para
beneficiá-lo? Oh! para esse, nem mesmo a recompensa terrestre existe, porquanto
ele se vê privado da grata satisfação de ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o
primeiro castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca por vaidade, em vez de
subirem ao Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do bem que
praticou nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício
deplorado é moeda falsa e sem valor.
A beneficência
praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é
caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe
aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe
a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de
receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de
prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre
orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa
no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de
melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da
necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o
beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade
orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade,
quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como
beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras:
"Não saiba a mão esquerda o que dá a direita."
Questões para estudo:
1 - Que
significam as palavras de Jesus "...não
saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita"?
2 - Por que
Jesus afirma que os que alardeiam a caridade praticada já receberam sua
recompensa?
3 - Como
devemos agir para auxiliar o próximo?
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