quarta-feira, 30 de julho de 2014

Conclusão do Capítulo 15 - Forças Viciadas

1 - Faça a comparação entre os dois quadros: o do jovem jornalista e o do médico, explicando acerca da mediunidade existente entre ambos.
São duas realidades inteiramente opostas: o jovem jornalista, com sua dedicação ao consumo desregrado de alcoólicos e a escrever maledicências a cerca de terceiros, sintonizava-se com espírito de baixo nível vibratório, que o obsediava fortemente, incentivando a exacerbação dessas  práticas nocivas; o médico,  embora André Luiz não conhecesse detalhes de sua vida comportamental, demonstrava sintonia com entidade elevada, que se dedica à prática do bem. No capítulo, não se tem notícia de serem portadores de uma mediunidade mais ostensiva. Entretanto, ambos recebiam a inspiração do plano espiritual que mereciam e que buscavam pelo seu psiquismo, ainda que de modo inconsciente. Um, estava inspirado pelo plano espiritual inferior; outro, por espíritos de nível mais elevado.  Cada um recebendo conforme suas obras.


2 - Como podemos definir o caso de nosso infeliz irmão? Ele se encontra obsediado porque está embriagado ou está embriagado porque está obsediado? Conforme mencionado no texto: "Achava-se o pobre amigo abraçado por uma entidade da sombra, qual se um polvo estranho o absorvesse. Num átimo, reparamos que a bebedeira alcançava os dois, porquanto se justapunham completamente um ao outro, exibindo as mesmas perturbações.". Por que o obsessor também sente os efeitos do álcool em excesso, mesmo desencarnado? Quais os efeitos dos vícios para o espírito?
O Espiritismo nos ensina que, aquele que se deixa levar pelo vício do alcoolismo, perde a consciência e o domínio de suas ações. Torna-se presa fácil de espíritos ainda muito atrasados em sua evolução, viciados, que dele se utilizam como instrumento de satisfação de seus desejos. Como são atrasados espiritualmente, ainda sentem necessidade, mesmo fora da matéria, de consumir a bebida. Não podendo fazê-lo sem o concurso do corpo físico, utilizam-se do encarnado como instrumento para alcançar seus objetivos, num processo de vampirização.
Ensina-nos, ainda, que o processo de alcoolização causa danos não apenas no corpo físico atual como, também, no corpo perispiritual, gravando-o com lesões que serão levadas após a desencarnação. Os centros perispirituais ligados às funções hepáticas e digestivas são gravemente atingidos, restando danificados.  Em consequência, futuramente, com o perispírito lesionado, vai ser plasmado um corpo físico que irá apresentar lesões patológicas nesses organismos.
Para limpar o perispírito desses gravames, serão necessárias outras encarnações, em corpo doente, que funcionará como um exaustor a expelir as moléculas perispirituais enfermas.

3 - De acordo com esta passagem: "Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Algumas sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelo calor dos pulmões que as expulsavam, nisso encontrando alegria e alimento. Outras aspiravam ao hálito de alcoólatras impenitentes.", o que dizer das famosas danceterias com que nós mesmos e nossos filhos frequentam? Muitos fumantes reclamam quererem se livrar do vício, porém dizem ser muito difícil, qual o primeiro passo para se livrar do vício e como podemos ajudar um amigo viciado?
Todo ambiente onde impere o desregramento comportamental é nocivo. De toda sorte, qualquer que seja a atmosfera espiritual reinante, o espírito terá sempre o seu livre-arbítrio para agir e pensar e, por isto, responderá perante a lei de causa e efeito. É claro que, num planeta onde reencarnam espíritos ainda muito infantis e imperfeitos, a atmosfera espiritual exerce forte influência sobre esses espíritos. Um espírito elevado que, circunstancialmente, viesse frequentar um local semelhante a esse onde ocorreram os fatos narrados por André Luiz, não se deixaria contaminar pelo ambiente.
Como, porém, a quase totalidade da humanidade encarnada não se enquadra nesta classificação e, até, desconhece a ocorrência de influência espiritual, o mais prudente é que se abstenha de ir a esses locais.
 Quanto à questão da libertação de um vício, é realmente um processo demorado e penoso. Aliás, um dos objetivos da reencarnação é justamente impulsionarmos a nossa evolução espiritual, para cujo êxito a  libertação  dos  vícios  é  um requisito fundamental. No caso específica da viciação no tabagismo ou nos alcoólicos, o primeiro e indispensável  passo é que a pessoa envolvida nesse problema se conscientize da necessidade de se liberar do vício. Sem que ela tome uma decisão neste sentido, nada há a fazer. E é nesse sentido que mais podemos ajudar.

4 - Muitos dos espíritos que se apegam ao vício material, quando desencarnados continuam tendo as mesmas necessidades, e por isso se abraçam literalmente a amigos ainda encarnados e que possuem ao mesmo vício para poderem se satisfazerem de seus desejos em comum. Muitos destes espíritos se apegam tão cegamente que demoram por séculos para se regenerarem. Através da passagem a seguir elucide o que é a "prisão regeneratória":
"Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício.  Temos,  por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura, prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem..."
A "prisão regeneradora" a que se referiu o instrutor Áulus são os sofrimentos que o espírito recalcitrante tem de suportar nas reencarnações expiatórias, como consequência da incidência da lei de causa e efeito. A misericórdia divina concede ao espírito inúmeras chances para reencontrar o equilíbrio, através do fenômeno da reencarnação. No entanto, muitos, pode-se mesmo dizer a maioria, retornam à carne e dela saem  com  as  mesmas  imperfeições  e  os  mesmos vícios. São existências que resultam pouco úteis. Mas os desígnios de Deus têm que ser cumpridos. E a esses espíritos persistentes no vício, que se negam a aceitar a regeneração, serão, um dia, chamados à "prisão regeneradora" por meio de uma experiência física dolorosa. São os exemplos citados pelo Instrutor de mongolismo, hidrocefalia, paralisia e outros.
Não se trata de punição, mas, sim, de um remédio amargo, porém necessário. A reencarnação é o instrumento pedagógico de que Deus se utiliza para impulsionar o espírito à evolução.

5 - Costumamos ouvir por aí que a mediunidade é um dom, porém é mais válido dizer que a mediunidade é uma tarefa árdua e séria na qual o espírito encarnado se compromete servir como  ferramenta  para  o  plano  espiritual  em  prol  de  caridade  e benevolência. No caso do escritor, porque ele permitiu que um obsessor se aproximasse e se tornasse companheiro profissional? O que cabe a moça fazer para livrar-se das vibrações e intenções negativas da dupla? Através destas passagens, elucide sua resposta:
"Indiscutivelmente, a jovem e o infeliz que a persegue estão unidos um ao outro, desde muito tempo... Terão estado juntos nas regiões inferiores da vida espiritual, antes da reencarnação com que a menina presentemente vem  sendo  beneficiada. Reencontrando-a na experiência física, de cujas vantagens ainda não partilha, o desventurado companheiro tenta incliná-la, de novo, à desordem emotiva, com o objetivo de explora-la em atuação vampirizante."
Temos visto no estudo dessa obra o papel importante que a qualidade da sintonia entre os dois planos exerce na produção da manifestação mediúnica. Alimentando ideias da mesma natureza, dois ou mais espíritos, encarnados ou desencarnados, imantam-se pelo pensamento, vinculando-se magneticamente uns aos outros. Dessa maneira, situam-se numa mesma faixa vibratória, numa troca permanente de pensamentos, um influenciando o outro. Com sua antena mental ligada na maledicência, o escritor atraiu para junto de si o espírito obsessor, desafeto da moça que seria  vítima da infâmia jornalística que redigia, que o influenciava, visando provocar um fato que a fragilizasse moralmente, com o que a traria para "o charco vicioso" em que se situava.

6 - "À frente, ao lado do condutor, sentava-se um homem de grisalhos cabelos a lhe emoldurarem  a  fisionomia  simpática  e preocupada. Junto dele, porém, abraçando-o com naturalidade e doçura, uma entidade em roupagem lirial lhe envolvia a cabeça  em suaves e calmantes irradiações de prateada luz.".
"... Aqui, tanto quanto lá, seria lícito ver a mediunidade em ação?
- Sem qualquer dúvida - confirmou o orientador -; recursos psíquicos nesse  ou  naquele  grau  de  desenvolvimento,  são peculiares a todos, tanto quanto o poder de locomoção  ou  a  faculdade  de  respirar,  constituindo  forças  que  o  Espírito  encarnado  ou desencarnado pode empregar no bem ou no mal de si mesmo. Ser médium não quer dizer que a alma seja agraciada por privilégios ou conquistas feitas. Muitas vezes, é possível encontrar pessoas altamente favorecidas com o dom da mediunidade, mas dominadas, subjugadas por entidades sombrias ou delinquentes, com as quais se afinam de modo perfeito, servindo ao escândalo e à perturbação, em vez de cooperarem na extensão do bem. Por isso é que não basta à mediunidade para a concretização dos serviços que nos competem. Precisamos da Doutrina do Espiritismo, do Cristianismo Puro, a fim de controlar a energia medianímica, de maneira a mobilizá-la em favor da sublimação espiritual na fé religiosa, tanto quanto disciplinamos a eletricidade,  a  benefício  do  conforto da civilização."                                                                                                          
."... faculdades medianímicas e cooperação do mundo espiritual surgem por toda parte. Onde há pensamento, há correntes mentais e onde há correntes mentais existe associação. E toda associação é interdependência e influenciação reciproca..."
Como explica-nos muito bem as passagens, neste mundo nem tudo são forças viciadas, há também aqueles espíritos que procuram evoluir espiritualmente servindo no caminho do bem, como no caso do médico.  Como podemos nos proteger das obsessões?
Os fluidos espirituais se combinam pela semelhança de suas naturezas. Os semelhantes se agregam; os diferentes se repelem mutuamente, pois há incompatibilidade entre fluidos de naturezas distintas. A terapia espírita para evitar a instalação de um processo obsessivo recomenda impregnar a atmosfera espiritual à nossa volta de fluidos sadios, onde atuam os espíritos bons. Para tanto, devemos procurar cumprir as leis morais trazidas pelo Cristo e que o Espiritismo veio relembrar e explicar, principalmente a lei de adoração a Deus e a de justiça, de amor e de caridade. Sintonizando-nos com o bem, estaremos nos rodeando de fluidos de natureza salutar, que repeliram os maus fluidos, onde transitam os espíritos atrasados, que com eles se identificam. Sendo o pensamento o veículo de ação sobre os fluidos, temos em nós mesmos o remédio para evitarmos as más influências espirituais.

7 - Comente as seguintes assertivas:
a)  " - Muitos de nossos irmãos, que já se desvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar.(...)
-  Hilário - (...)  - o que a vida começou, a morte continua... Esses nossos companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos do mundo, alimentando-se com um tipo de emoções que os localiza na vizinhança da animalidade. Não obstante haverem frequentado santuários religiosos, não  se  preocuparam  em  atender  aos  princípios  da  fé  que  abraçaram, acreditando que a existência devia ser para eles o culto de satisfações menos dignas, com a exaltação dos mais astuciosos e dos mais fortes. O chamamento da morte encontrou-os na esfera de impressões delituosas e escuras e, como é da Lei que cada alma receba da vida de conformidade com aquilo que dá, não encontram interesse senão nos lugares onde podem nutrir as ilusões que lhes são peculiares, porquanto, na posição em que se veem, temem a verdade e abominam-na, procedendo como a coruja que foge à luz."
"O que a vida começou, a morte continua...". Esta frase de Áulus é incisiva e não deixa margem a dúvidas. A morte do corpo físico tão somente promove a desencarnação do espírito, que muda de dimensão. A sua natureza moral, o seu psiquismo, no entanto, não sofrem quaisquer modificações.  Suas conquistas, seus vícios, suas imperfeições permanecem intocados, até que o espírito, usando de seu livre-arbítrio, decida-se por sua renovação. Aqueles espíritos encontrados no restaurante visitado por André Luiz e seus companheiros mantinham, mesmo após a desencarnação, os mesmos hábitos viciosos cultivados durante a vida física. Seu psiquismo continuava com os mesmos valores. Não conseguiram se despojar de seus vícios, que eram a única  coisa  lhes  trazia  alguma satisfação.  Por isso, ali se encontravam, comprazendo-se com o consumo desregrado de álcool por parte dos encarnados presentes. A sintonia mental comum a todos os juntava pela afinidade.

b) "- No entanto - comentei -, e se os nosso irmão encarnados resolvessem reconsiderar o próprio caminho?!... se voltassem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem?!...
- AH! isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando com segurança os amigos desencarnados... Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres... Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heroico."
A cura dos nossos males, sejam físicos ou morais, encontra-se dentro nós próprios. O espírito traz no seu íntimo todas as potencialidades da Divindade. Por isso se diz criado à imagem e semelhança de Deus. Entretanto, nem todos sabem disso e, mesmo os que o sabem, defrontam-se com grandes dificuldades para potencializar esses atributos. Ocaso dos espíritos encontrados naquele restaurante é um exemplo claro disso. Ao invés de assumirem a potência divina que trazem em si, preferem a porta fácil dos falsos prazeres do vício. Se optassem pela reforma interior, não apenas se adiantariam na evolução como influenciariam positivamente os desencarnados que os acercavam, arrastando-os para o caminho da transformação moral.

c) "E se não puder combater com a força precisa?
- Será mais justo dizer "se não quiser", porque a Lei não nos confia problemas de trabalho superiores à nossa capacidade de solução.(...)"
Áulus ensina que não há justificativa para a permanência no erro. Somente ao espírito, usando seu livre-arbítrio, cabe a decisão pelo processo de reajuste. E não há fardo superior às nossas forças. Ninguém pode se esquivar do cumprimento da Lei, pois Deus não exige de nós nada superior às nossas forças, à nossa capacidade de cumprimento. Como ensinou Jesus, "porque o meu jugo é suave e leve o meu fardo".


Capítulo 15 - Forças Viciadas
Caía a noite...
Após o dia quente, a multidão desfilava na via pública, evidentemente buscando o ar fresco. Dirigíamo-nos a outro templo espírita, em companhia de Áulus, segundo o nosso plano de trabalho, quando tivemos nossa atenção voltada para enorme gritaria. Dois guardas arrastavam, de restaurante barato, um homem maduro em deploráveis condições de embriaguez. O mísero esperneava e proferia palavras rudes, protestando...
— Observem o nosso infeliz irmão! — determinou o orientador.
E porque não havia muito tempo entre a porta ruidosa e o carro policial, pusemo-nos em observação. Achava-se o pobre amigo abraçado por uma entidade da sombra, qual se um polvo estranho o absorvesse. Num átimo, reparamos que a bebedeira alcançava os dois, porquanto se justapunham completamente um ao outro, exibindo as mesmas perturbações.
Em breves instantes, o veículo buzinou com pressa e não nos foi possível dilatar anotações.
— O quadro daria ensejo a valiosos apontamentos...
Ante a alegação de Hilário, o Assistente considerou que dispúnhamos de tempo bastante para a colheita de alguns registros interessantes e convidou-nos a entrar. A casa de pasto regurgitava...
Muita alegria, muita gente. Lá dentro, certo recolheríamos material adequado a expressivas lições. Transpusemos a entrada. As emanações do ambiente produziam em nós indefinível mal-estar. Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Algumas sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelo calor dos pulmões que as expulsavam, nisso encontrando alegria e alimento. Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes.
Indicando-as, informou o orientador:
— Muitos de nossos irmãos, que já se desvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar.
— Mas por que mergulhar, dessa forma, em prazeres dessa espécie?
— Hilário — disse o Assistente, bondoso —, o que a vida começou, a morte continua... Esses nossos companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos do mundo, alimentando-se com um tipo de emoções que os localiza na vizinhança da animalidade. Não obstante haverem frequentado santuários religiosos, não se preocuparam em atender aos princípios da fé que abraçaram, acreditando que a existência devia ser para eles o culto de satisfações menos dignas, com a exaltação dos mais astuciosos e dos mais fortes. O chamamento da morte encontrou-os na esfera de impressões delituosas e escuras e, como é da Lei que cada alma receba da vida de conformidade com aquilo que dá, não encontram interesse senão nos lugares onde podem nutrir as ilusões que lhes são peculiares, porquanto, na posição em que se veem, temem a verdade e abominam-na, procedendo como a coruja que foge à luz.
Meu colega fez um gesto de piedade e indagou:
— Entretanto, como se transformarão?
— Chegará o dia em que a própria Natureza lhes esvaziará o cálice — respondeu Áulus, convicto. — Há mil processos de reajuste, no Universo Infinito em que se cumprem os Desígnios do Senhor, chamem-se eles aflição, desencanto, cansaço, tédio, sofrimento, cárcere...
— Contudo — ponderei —, tudo indica que esses Espíritos infortunados não se enfastiarão tão cedo da loucura em que se comprazem...
— Concordo plenamente — redarguiu o instrutor —, todavia, quando não se fatiguem, a Lei poderá conduzi-los a prisão regeneradora.
— Como?
A pergunta de Hilário ecoou, cristalina, e o Assistente deu-se pressa em explicar:
— Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício. Temos, por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem...
— No entanto — comentei —, e se os nossos irmãos encarnados, visivelmente confiados à devassidão, resolvessem reconsiderar o próprio caminho?... se voltassem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem?...
— Ah! Isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando com segurança os amigos desencarnados... Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres... Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heróico.
Observando os beberrões, cujas taças eram partilhadas pelos sócios que lhes eram invisíveis, Hilário recordou:
— Ontem, visitamos um templo, em que desencarnados sofredores se exprimiam por intermédio de criaturas necessitadas de auxílio, e ali estudamos algo sobre mediunidade... Aqui, vemos entidades viciosas valendo-se de pessoas que com elas se afinam numa perfeita comunhão de forças superiores... Aqui, tanto quanto lá, seria lícito ver a mediunidade em ação?
— Sem qualquer dúvida — confirmou o orientador —; recursos psíquicos, nesse ou naquele grau de desenvolvimento, são peculiares a todos, tanto quanto o poder de locomoção ou a faculdade de respirar, constituindo forças que o Espírito encarnado ou desencarnado pode empregar no bem ou no mal de si mesmo. Ser médium não quer dizer que a alma esteja agraciada por privilégios ou conquistas feitas. Muitas vezes, é possível encontrar pessoas altamente favorecidas com o dom da mediunidade, mas dominadas, subjugadas por entidades sombrias ou delinquentes, com as quais se afinam de modo perfeito, servindo ao escândalo e à perturbação, em vez de cooperarem na extensão do bem. Por isso é que não basta a mediunidade para a concretização dos serviços que nos competem. Precisamos da Doutrina do Espiritismo, do Cristianismo Puro, a fim de controlar a energia medianímica, de maneira a mobilizá-la em favor da sublimação espiritual na fé religiosa, tanto quanto disciplinamos a eletricidade, a benefício do conforto na Civilização.
Nisso, Áulus relanceou o olhar pelos aposentos reservados mais próximos, qual se já os conhecesse, e, fixando certa porta, convidou-nos a atravessá-la.
Seguimo-lo, ombro a ombro. Em mesa lautamente provida com fino conhaque, um rapaz, fumando com volúpia e sob o domínio de uma entidade digna de compaixão pelo aspecto repelente em que se mostrava, escrevia, escrevia, escrevia...
— Estudemos — recomendou o orientador.
O cérebro do moço embebia-se em substância escura e pastosa que escorria das mãos do triste companheiro que o enlaçava. Via-se-lhes a absoluta associação na autoria dos caracteres escritos. A dupla em trabalho não nos registrou a presença.
— Neste instante — anunciou Áulus, atencioso —, nosso irmão desconhecido é hábil médium psicógrafo. Tem as células do pensamento integralmente controladas pelo infeliz cultivador de crueldade sob a nossa vista. Imanta-se-lhe à imaginação e lhe assimila as ideias, atendendo-lhe aos propósitos escusos, através dos princípios da indução magnética, de vez que o rapaz, desejando produzir páginas escabrosas, encontrou quem lhe fortaleça a mente e o ajude nesse mister.
Imprimindo à voz significativa expressão, ajuntou:
— Encontramos sempre o que procuramos ser.
Finda a breve pausa que nos compeliu à reflexão, Hilário recomeçou:
— Todavia, será ele um médium na acepção real do termo? Será peça ativa em agrupamento espírita comum?
— Não. Não está sob qualquer disciplina espiritualizante. É um moço de inteligência vivaz, sem maior experiência da vida, manejado por entidades perturbadoras.
Após inclinar-se alguns momentos sobre os dois, o instrutor elucidou com benevolência:
— Entre as excitações do álcool e do fumo que saboreiam juntos, pretendem provocar uma reportagem perniciosa, envolvendo uma família em duras aflições. Houve um homicídio, a cuja margem aparece a influência de certa jovem, aliada às múltiplas causas em que se formou o deplorável acontecimento, O rapaz que observamos, amigo de operoso lidador da imprensa, é de si mesmo dado à malícia e, com a antena mental ligada para os ângulos mais desagradáveis do problema, ao atender um pedido de colaboração do cronista que lhe é companheiro, encontrou, no caso de que hoje se encarrega, o concurso de ferrenho e viciado perseguidor da menina em foco, interessado em exagerar-lhe a participação na ocorrência, com o fim de martelar-lhe a mente apreensiva e arrojá-la aos abusos da mocidade...
— Mas como? — indagou Hilário, espantadiço.
— O jornalista, de posse do comentário calunioso, será o veículo de informações tendenciosas ao público. A moça ver-se-á, de um instante para outro, exposta às mais desapiedadas apreciações, e decerto se perturbará, sobremaneira, de vez que não se acumpliciou com o mal, na forma em que se lhe define a colaboração no crime, O obsessor, usando calculadamente o rapaz com quem se afina, pretende alcançar o noticiário de sensação, para deprimir a vida moral dela e, com isso, amolecer-lhe o caráter, trazendo-a, se possível, ao charco vicioso em que ele jaz.
— E conseguirá? — insistiu meu colega, assombrado.
— Quem sabe?
E, algo triste, o orientador acrescentou:
— Naturalmente a jovem teria escolhido o gênero de provações que atravessa, dispondo-se a lutar, com valor, contra as tentações.
— E se não puder combater com a força precisa?
— Será mais justo dizer se não quiser, porque a Lei não nos confia problemas de trabalho superiores à nossa capacidade de solução. Assim, pois, caso não delibere guerrear a influência destrutiva, demorar-se-á por muito tempo nas perturbações a que já se encontra ligada em princípio.
— Tudo isso por quê?
A pergunta de Hilário pairou no ar por aflitiva interrogação, todavia, Áulus asserenou-nos o ânimo, elucidando:
— Indiscutivelmente, a jovem e o infeliz que a persegue estão unidos um ao outro, desde muito tempo... Terão estado juntos nas regiões inferiores da vida espiritual, antes da reencarnação com que a menina presentemente vem sendo beneficiada. Reencontrando-a na experiência física, de cujas vantagens ainda não partilha, o desventurado companheiro tenta incliná-la, de novo, à desordem emotiva, com o objetivo de explorá-la em atuação vampirizante.
Áulus fez ligeiro intervalo, sorriu melancólico e acentuou:
— Entretanto, falar nisso seria abrir as páginas comoventes de enorme romance, desviando-nos do fim que nos propomos atingir. Detenhamo-nos na mediunidade.
Buscando aliviar a atmosfera de indagações que Hilário sempre condensava em torno de si mesmo, ponderei:
— O quadro sob nossa análise induz à meditação nos fenômenos gerais de intercâmbio em que a Humanidade total se envolve sem perceber...
— Ah! sim! — concordou o orientador —faculdades medianímicas e cooperação do mundo espiritual surgem por toda parte. Onde há pensamento, há correntes mentais e onde há correntes mentais existe associação. E toda associação é interdependência e influenciação recíproca. Daí concluímos quanto à necessidade de vida nobre, a fim de atrairmos pensamentos que nos enobreçam. Trabalho digno, bondade, compreensão fraterna, serviço aos semelhantes, respeito à Natureza e oração constituem os meios mais puros de assimilar os princípios superiores da vida, porque damos e recebemos, em espírito, no plano das ideias, segundo leis universais que não conseguiremos iludir.
Em silencioso gesto com que nos recordava o dever a cumprir, o Assistente convidou-nos à retirada.
Retomamos a via pública. Mal recomeçávamos a avançar, quando passou por nós uma ambulância, em marcha vagarosa, sirenando forte para abrir caminho. A frente, ao lado do condutor, sentava-se um homem de grisalhos cabelos a lhe emoldurarem a fisionomia simpática e preocupada. Junto dele, porém, abraçando-o com naturalidade e doçura, uma entidade em roupagem lirial lhe envolvia a cabeça em suaves e calmantes irradiações de prateada luz.
— Oh! — inquiriu Hilário, curioso — quem será aquele homem tão bem acompanhado?
Áulus sorriu e esclareceu:
— Nem tudo é energia viciada no caminho comum. Deve ser um médico em alguma tarefa salvacionista.
— Mas, é espírita? — Com todo o respeito que devemos ao Espiritismo, é imperioso lembrar que a Bênção do Senhor pode descer sobre qualquer expressão religiosa — afirmou o orientador com expressivo olhar de tolerância.
— Deve ser, antes de tudo, um profissional humanitário e generoso que por seus hábitos de ajudar ao próximo se fez credor do auxílio que recebe. Não lhe bastariam os títulos de espírita e de médico para reter a influência benéfica de que se faz acompanhar. Para acomodar-se tão harmoniosamente com a entidade que o assiste, precisa possuir uma boa consciência e um coração que irradie paz e fraternidade.
— Contudo, podemos qualificá-lo como médium? — perguntou meu companheiro algo desapontado.
— Como não? — respondeu Áulus, convicto. — É médium de abençoados valores humanos, mormente no socorro aos enfermos, no qual incorpora as correntes mentais dos gênios do bem, consagrados ao amor pelos sofredores da Terra.
E, com significativa inflexão de voz, acrescentou:
— Como vemos, influências do bem ou do mal, na esfera evolutiva em que nos achamos, se estendem por todos os lados e por todos os lados registramos a presença de faculdades medianímicas, que as assimilam, segundo a direção feliz ou infeliz, correta ou indigna em que cada mente se localiza. Estudando, assim, a mediunidade, nos santuários do Espiritismo com Jesus, observamos uma força realmente peculiar a todos os seres, de utilidade geral, se sob uma orientação capaz de discipliná-la e conduzi-la para o máximo aproveitamento no bem. Recordemos a eletricidade que, pouco a pouco, vai transformando a face do mundo. Não basta ser dono de poderosa cachoeira, com o potencial de milhões de cavalos-vapor. É preciso instalar, junto dela, a inteligência da usina para controlar-lhe os recursos, dinamizá-los e distribuí-los, conforme as necessidades de cada um... Sem isso, a queda d’água será sempre um quadro vivo de beleza fenomênica, com irremediável desperdício.
O tempo, contudo, não nos permitia maior delonga na conversação e rumamos, desse modo, para um agrupamento em que os nossos estudos da véspera encontrariam o necessário prosseguimento.

QUESTÕES PARA ESTUDO

1 - Faça a comparação entre os dois quadros: o do jovem jornalista e o do médico, explicando acerca da mediunidade existente entre ambos.

2 - Como podemos definir o caso de nosso infeliz irmão? Ele se encontra obsediado porque está embriagado, ou está embriagado porque está obsediado? Conforme mencionado no texto: "Achava-se o pobre amigo abraçado por uma entidade da sombra, qual se um polvo estranho o absorvesse. Num átimo, reparamos que a bebedeira alcançava  os dois, porquanto se justapunham completamente um ao outro, exibindo as mesmas perturbações.", por que o obsessor também sente os efeitos do álcool em excesso, mesmo desencarnado? Quais os efeitos dos vícios para o espírito?

3 - De acordo com esta passagem: "Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Algumas sorviam as baforadas de fumo arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelo calor dos pulmões que as expulsavam, nisso encontrando alegria e alimento. Outras aspiravam ao hálito de alcoólatras impenitentes.", o que dizer das famosas danceterias com que nós mesmos e nossos filhos frequentam? Muitos fumantes reclamam quererem se livrar do vício, porém dizem ser muito difícil, qual o primeiro passo para se livrar do vício e como podemos ajudar um amigo viciado?

4 - Muitos dos espíritos que se apegam ao vício material, quando desencarnados continuam tendo as mesmas necessidades, e por isso se abraçam literalmente a amigos ainda encarnados e que possuem ao mesmo vício para poderem se satisfazerem de seus desejos em comum. Muitos destes espíritos se apegam tão cegamente que demoram por séculos para se regenerarem. Através da passagem a seguir elucide o que é a "prisão regeneratória":
"Há dolorosas reencarnações que significam tremenda luta expiatória para as almas necrosadas no vício.  Temos,  por exemplo, o mongolismo, a hidrocefalia, a paralisia, a cegueira, a epilepsia secundária, o idiotismo, o aleijão de nascença e muitos outros recursos, angustiosos embora, mas necessários, e que podem funcionar, em benefício da mente desequilibrada, desde o berço, em plena fase infantil. Na maioria das vezes, semelhantes processos de cura, prodigalizam bons resultados pelas provações obrigatórias que oferecem..."

5 - Costumamos ouvir por aí que a mediunidade é um dom, porém é mais válido dizer que a mediunidade é uma tarefa árdua e séria na qual o espírito encarnado se compromete servir como  ferramenta  para  o  plano  espiritual  em  prol  de  caridade  e benevolência. No caso do escritor, porque ele permitiu que um obsessor se aproximasse e se tornasse companheiro profissional? O que cabe a moça fazer para livrar-se das vibrações e intenções negativas da dupla? Através destas passagens, elucide sua resposta:
"Indiscutivelmente, a jovem e o infeliz que a persegue estão unidos um ao outro, desde muito tempo... Terão estado juntos nas regiões inferiores da vida espiritual, antes da reencarnação com que a menina presentemente vem  sendo  beneficiada. Reencontrando-a na experiência física, de cujas vantagens ainda não partilha, o desventurado companheiro tenta incliná-la, de novo, à desordem emotiva, com o objetivo de explora-la em atuação vampirizante."

6 - "À frente, ao lado do condutor, sentava-se um homem de grisalhos cabelos a lhe emoldurarem  a  fisionomia  simpática  e preocupada. Junto dele, porém, abraçando-o com naturalidade e doçura, uma entidade em roupagem lirial lhe envolvia a cabeça  em suaves e calmantes irradiações de prateada luz.".
"... Aqui, tanto quanto lá, seria lícito ver a mediunidade em ação?
- Sem qualquer dúvida - confirmou o orientador -; recursos psíquicos nesse  ou  naquele  grau  de  desenvolvimento,  são peculiares a todos, tanto quanto o poder de locomoção  ou  a  faculdade  de  respirar,  constituindo  forças  que  o  Espírito  encarnado  ou desencarnado pode empregar no bem ou no mal de si mesmo. Ser médium não quer dizer que a alma seja agraciada por privilégios ou conquistas feitas. Muitas vezes, é possível encontrar pessoas altamente favorecidas com o dom da mediunidade, mas dominadas, subjugadas por entidades sombrias ou delinquentes, com as quais se afinam de modo perfeito, servindo ao escândalo e à perturbação, em vez de cooperarem na extensão do bem. Por isso é que não basta à mediunidade para a concretização dos serviços que nos competem. Precisamos da Doutrina do Espiritismo, do Cristianismo Puro, a fim de controlar a energia medianímica, de maneira a mobilizá-la em favor da sublimação espiritual na fé religiosa, tanto quanto disciplinamos a eletricidade,  a  benefício  do  conforto da civilização."                                                                                                          
."... faculdades medianímicas e cooperação do mundo espiritual surgem por toda parte. Onde há pensamento, há correntes mentais e onde há correntes mentais existe associação. E toda associação é interdependência e influenciação reciproca..."
Como explica-nos muito bem as passagens, neste mundo nem tudo são forças viciadas, há também aqueles espíritos que procuram evoluir espiritualmente servindo no caminho do bem, como no caso do médico.  Como podemos nos proteger das obsessões?


7 - Comente as seguintes assertivas:
a)  " - Muitos de nossos irmãos, que já se desvencilharam do vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar.(...)
-  Hilário - (...)  - o que a vida começou, a morte continua... Esses nossos companheiros situaram a mente nos apetites mais baixos do mundo, alimentando-se com um tipo de emoções que os localiza na vizinhança da animalidade. Não obstante haverem frequentado santuários religiosos, não  se  preocuparam  em  atender  aos  princípios  da  fé  que  abraçaram, acreditando que a existência devia ser para eles o culto de satisfações menos dignas, com a exaltação dos mais astuciosos e dos mais fortes. O chamamento da morte encontrou-os na esfera de impressões delituosas e escuras e, como é da Lei que cada alma receba da vida de conformidade com aquilo que dá, não encontram interesse senão nos lugares onde podem nutrir as ilusões que lhes são peculiares, porquanto, na posição em que se veem, temem a verdade e abominam-na, procedendo como a coruja que foge à luz."

 b) "- No entanto - comentei -, e se os nosso irmão encarnados resolvessem reconsiderar o próprio caminho?!... se voltassem à regularidade, através da renovação mental com alicerces no bem?!...
- AH! isso seria ganhar tempo, recuperando a si mesmos e amparando com segurança os amigos desencarnados... Usando a alavanca da vontade, atingimos a realização de verdadeiros milagres... Entretanto, para isso, precisariam despender esforço heroico."

c) "E se não puder combater com a força precisa?
- Será mais justo dizer "se não quiser", porque a Lei não nos confia problemas de trabalho superiores à nossa capacidade de solução.(...)"