Gigantes da alma
Envolto
na pequenez das aspirações egóicas, o ser move-se sob as injunções das
necessidades de projeção da imagem, por sentir-se incapaz de superar a sombra,
manifestando a força do eu real, imagem e semelhança de Deus.
Gerado
para alcançar o Infinito e a Consciência Cósmica, é deus em germe, que as
experiências evolutivas desenvolvem e aprimoram.
O ego,
projetando-se em demasia, compõe os quadros de aflição em que se refugia e,
negando-se a lutar, desenvolve os fantasmas gigantes que o protegem, quais
cogumelos venenosos que desabrocham em terrenos úmidos e férteis, medrando no
seu psiquismo atormentado e passando ao domínio escravizador.
Entre
os terríveis gigantes da alma, que têm predomínio em a natureza humana,
destacam-se: os ressentimentos, os ciúmes e as invejas que entorpecem os
sentimentos, açulam a inferioridade e terminam por vencer aqueles que os
vitalizam, caso não se resolvam enfrentá-los com hercúlea decisão e pertinaz
insistência.
Ressentimento
Entre
os tormentos psicológicos alienadores, a presença do ressentimento na criatura
humana tem lugar de destaque.
Injustificável,
sob todos os pontos de vista, ele se instala, enraizando-se no solo fértil das
emoções em descontrole do paciente, aí engendrando males que terminam por
consumir aquele que lhe dá guarida.
A vida
expressa-se em padrões sociais, resultado da condição evolutiva das criaturas
que se inter-relacionam. Como é natural, porque há uma larga variedade de
biótipos emocionais, culturais e religiosos ou não, as suas são reações compatíveis
com os níveis de consciência em que se encontram, exteriorizando ideias e
comportamentos que lhes correspondem ao estado no qual se demoram.
A
convivência humana é feita por meio de episódios conflitivos, por falta de maturação
geral que favoreça o entendimento e a transação psicológica em termos de
bem-estar para todos os parceiros. Predominando a natureza animal em detrimento
dos valores espirituais e éticos, a competição e o atrevimento armam ciladas,
nas quais tombam os temperamentos mais confiantes e ingênuos, que se deixam,
logo após, mortificar.
Descobrindo-se
em logro, acreditando-se traído, o companheiro vitimado recorre ao ego e
equipa-se de ressentimento, instalando, nos painéis da emotividade, cargas
violentas que terminarão por desarmonizar-lhe os delicados equipamentos e se
refletirão na conduta mental e moral.
O
ressentimento, por caracterizar-se como expressão de inferioridade, anela pelo
desforço, consciente ou não, trabalhando por sobrepor o ego ferido ao conceito
daquele que o desconsiderou.
No
importante capítulo da saúde mental, indispensável ao equilíbrio integral, o
ressentimento pode ser comparado a ferrugem nas peças da sensibilidade,
transferindo-se para a organização somática, refletindo-se como distúrbios
gástricos e intestinais de demoradas consequências.
Gastrites
e diarreias inexplicáveis procedem dos tóxicos exalados pelo ressentimento, que
deve ser banido das paisagens morais da vida. As pessoas são, normalmente,
competitivas, no sentido negativo da palavra, desejando assenhorear-se dos
espaços que lhes não pertencem e, por se encontrarem em faixas primitivas da
evolução, fazem-se injustas, perseguem, caluniam. É um direito que têm, na
situação que as caracterizam. Aceitar-lhes, porém, os petardos,
vincular-se-lhes às faixas vibratórias de baixo teor, no entanto, é opção de
quem não se resolve por preservar a saúde ou não deseja crescer emocionalmente.
Quando
o ressentimento exterioriza as suas manifestações, deve ser combatido, mental e
racionalmente, eliminando a ingerência do ego ferido e ensejando a libertação
do eu profundo, invariavelmente esquecido, relegado a plano secundário.
O
indivíduo, através da reflexão e do auto encontro, deve preocupar-se com o
desvelamento do si, identificando os valores relevantes e os perniciosos, sem
conflito, sem escamoteamento, trabalhando aqueles que são perturbadores, de
modo a não facultar ao ego doentio o apoio psicológico neles, para esconder-se
sob o ressentimento na justificativa de buscar ajuda para a autocompaixão.
O
processo de evolução é incessante, e as mudanças, as transformações fazem-se
contínuas, impulsionando à conquista dos recursos adormecidos no imo, o Deus
interno que jaz em todos os seres.
A
liberação do ressentimento deve ser realizada através da racionalização, sem
transferências nem compensações egóicas. À medida que a experiência fixa
aprendizados, esse terrível gigante da alma se apequena e se dilui, desaparece,
a partir do momento em que deixa de receber os alimentos de manutenção pela ideia
fixa e mediante o desejo de revidar, de sofrer, de ser vítima...
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