quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gigantes da alma

Envolto na pequenez das aspirações egóicas, o ser move-se sob as injunções das necessidades de projeção da imagem, por sentir-se incapaz de superar a sombra, manifestando a força do eu real, imagem e semelhança de Deus.
Gerado para alcançar o Infinito e a Consciência Cósmica, é deus em germe, que as experiências evolutivas desenvolvem e aprimoram.
O ego, projetando-se em demasia, compõe os quadros de aflição em que se refugia e, negando-se a lutar, desenvolve os fantasmas gigantes que o protegem, quais cogumelos venenosos que desabrocham em terrenos úmidos e férteis, medrando no seu psiquismo atormentado e passando ao domínio escravizador.
Entre os terríveis gigantes da alma, que têm predomínio em a natureza humana, destacam-se: os ressentimentos, os ciúmes e as invejas que entorpecem os sentimentos, açulam a inferioridade e terminam por vencer aqueles que os vitalizam, caso não se resolvam enfrentá-los com hercúlea decisão e pertinaz insistência.

Ressentimento

Entre os tormentos psicológicos alienadores, a presença do ressentimento na criatura humana tem lugar de destaque.
Injustificável, sob todos os pontos de vista, ele se instala, enraizando-se no solo fértil das emoções em descontrole do paciente, aí engendrando males que terminam por consumir aquele que lhe dá guarida.
A vida expressa-se em padrões sociais, resultado da condição evolutiva das criaturas que se inter-relacionam. Como é natural, porque há uma larga variedade de biótipos emocionais, culturais e religiosos ou não, as suas são reações compatíveis com os níveis de consciência em que se encontram, exteriorizando ideias e comportamentos que lhes correspondem ao estado no qual se demoram.
A convivência humana é feita por meio de episódios conflitivos, por falta de maturação geral que favoreça o entendimento e a transação psicológica em termos de bem-estar para todos os parceiros. Predominando a natureza animal em detrimento dos valores espirituais e éticos, a competição e o atrevimento armam ciladas, nas quais tombam os temperamentos mais confiantes e ingênuos, que se deixam, logo após, mortificar.
Descobrindo-se em logro, acreditando-se traído, o companheiro vitimado recorre ao ego e equipa-se de ressentimento, instalando, nos painéis da emotividade, cargas violentas que terminarão por desarmonizar-lhe os delicados equipamentos e se refletirão na conduta mental e moral.
O ressentimento, por caracterizar-se como expressão de inferioridade, anela pelo desforço, consciente ou não, trabalhando por sobrepor o ego ferido ao conceito daquele que o desconsiderou.
No importante capítulo da saúde mental, indispensável ao equilíbrio integral, o ressentimento pode ser comparado a ferrugem nas peças da sensibilidade, transferindo-se para a organização somática, refletindo-se como distúrbios gástricos e intestinais de demoradas consequências.
Gastrites e diarreias inexplicáveis procedem dos tóxicos exalados pelo ressentimento, que deve ser banido das paisagens morais da vida. As pessoas são, normalmente, competitivas, no sentido negativo da palavra, desejando assenhorear-se dos espaços que lhes não pertencem e, por se encontrarem em faixas primitivas da evolução, fazem-se injustas, perseguem, caluniam. É um direito que têm, na situação que as caracterizam. Aceitar-lhes, porém, os petardos, vincular-se-lhes às faixas vibratórias de baixo teor, no entanto, é opção de quem não se resolve por preservar a saúde ou não deseja crescer emocionalmente.
Quando o ressentimento exterioriza as suas manifestações, deve ser combatido, mental e racionalmente, eliminando a ingerência do ego ferido e ensejando a libertação do eu profundo, invariavelmente esquecido, relegado a plano secundário.
O indivíduo, através da reflexão e do auto encontro, deve preocupar-se com o desvelamento do si, identificando os valores relevantes e os perniciosos, sem conflito, sem escamoteamento, trabalhando aqueles que são perturbadores, de modo a não facultar ao ego doentio o apoio psicológico neles, para esconder-se sob o ressentimento na justificativa de buscar ajuda para a autocompaixão.
O processo de evolução é incessante, e as mudanças, as transformações fazem-se contínuas, impulsionando à conquista dos recursos adormecidos no imo, o Deus interno que jaz em todos os seres.
A liberação do ressentimento deve ser realizada através da racionalização, sem transferências nem compensações egóicas. À medida que a experiência fixa aprendizados, esse terrível gigante da alma se apequena e se dilui, desaparece, a partir do momento em que deixa de receber os alimentos de manutenção pela ideia fixa e mediante o desejo de revidar, de sofrer, de ser vítima...


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