Condições de progresso e harmonia
Na
estrutura profunda da individualidade humana, encontram-se as experiências
milenárias do ser, nem sempre harmonizadas entre si, geradoras de conflitos e
complexos negativos que a atormentam.
Atavicamente
vinculada ainda às sensações decorrentes da faixa primária por onde transitou,
a líbído exerce-lhe poder preponderante no comportamento, conforme as
constatações de Freud, que a considerou fator essencial na vida humana.
Observando os diversos fenômenos de conduta e as terríveis angústias, como
exacerbações da emotividade das criaturas, o mestre de Viena organizou todo o
edifício da psicanálise na manifestação sexual castradora ou liberada, bem como
na complexa influência maternopaternal, que desde a infância conduziu o ser sob
os tabus perniciosos e as constrições dos desejos irrealizados, das
consciências de culpa, dos implementos perturbadores da personalidade
patológica.
Estamos,
sem dúvida, diante de fatores incontestáveis, todavia adstritos às áreas
fenomenológicas e não causais, em se considerando que, herdeiro de si mesmo, o
Espírito é o autor do seu destino — nunca será demasiado repeti-lo — renascendo
em lares nos quais mantém vínculos afetivos e familiares, conforme a sua
conduta anterior.
Face à
variedade de renascimentos, nem sempre consegue diluir as lembranças que
permanecem em forma de tendências e aptidões, de desejos e necessidades. Não
digeridas, as frustrações, eis que se impõem mais graves, ao ressurgirem, na
sucessão das ocorrências comportamentais, em forma de distúrbios psicológicos
de variada catalogação.
Preocupada
com o ser-máquina, a psicologia não tem ensejado uma compreensão maior da
criatura, que fica, na visão reducionista, limitada a um feixe de desejos e
paixões primitivas.
Em uma
análise transpessoal, o ser enriquece-se de valores que lhe cumpre multiplicar
cada vez mais, autoconhecendo-se e autodisciplinando -se, à medida que a sua
consciência adquire lucidez e torna-se ótima.
Abrem-se-lhe
então as perspectivas antes cerradas, e facultam-se-lhe as oportunidades de
dilatação do campo intelecto-emocional, passando a vencer as sequelas das
existências anteriores, ainda predominantes no psiquismo, que se exteriorizam
em forma de desarmonia.
A
desidentificação com os graves compromissos que ainda o atormentam torna-se
factível, mediante a impregnação com outros ideais e aspirações mais abrangentes
quão agradáveis, que passam a povoar-lhe a paisagem mental.
Nesse
esforço, faz-se viável o autoconhecimento, como primeiro tentame de crescimento
psicológico.
A
necessidade de tornar a mente um espelho, e postar-se defronte dela desnudo, é
inadiável. Somente através de um exame da própria realidade, observando-se sem
emoção — o que impede os sentimentos de autocompaixão como os de autopromoção,
de justificação ou culpa — consegue-se um retrato fiel do que se é, e do que
cumpre fazer-se para mais amar-se e ajudar-se como segmento imediato do
esforço.
Enquanto
a criatura não se despoja dos artifícios com que se oculta, evitando
desnudar-se em uma atitude infantil repressiva, qualquer tentame exterior para
o progresso e a harmonia resulta inócuo, quando se não torna perturbador.
Ninguém
é culpado conscientemente de ser frágil, fragmentário, ocorrências naturais do
processo de evolução. Não obstante, a permanência na postura denota imaturidade
psicológica ou manifestação patológica do comportamento.
Quando
alguém aspira por mudanças para melhor, irradia energias saudáveis, do campo
mental, que contribuem para a realização da meta. Através de contínuos
esforços, direcionados para o objetivo, cria novos condicionamentos que levam
ao êxito, como decorrência normal do querer. Nenhum milagre ou inusitado
ocorre, nessa atitude que resulta do empenho individual.
O
autodescobrimento tem por finalidade conscientizar a pessoa a respeito do que
necessita, de como realizá-lo e quando dar início à nova fase. Acomodada aos
estados habituais, não se dá conta das incalculáveis possibilidades que lhe
estão ao alcance, bastando-lhe apenas dispor-se a desdobrá-las.
O auto
encontro pode ser logrado através da meditação reflexível, do esforço para
fixar a mente nas ideias positivas, buscando saber quem se é, e qual a
finalidade da sua existência corporal e do futuro que a aguarda.
Equipada
de honesto desejo de equacionar-se, a esfinge perturbadora atira-se ao mar do
discernimento e desaparece, deixando o indivíduo livre seguir, sem a maldita
fatalidade de ser desditoso.
A
consciência liberta-o das heranças paterno-maternais, produzindo o conhecimento
lúcido e benéfico, que se torna filho capaz de conduzi-lo pelos caminhos da
vida, sem a imposição caprichosa do deus-destino.
Ao lado
da meditação, encontra-se a ação solidária no concerto social, que alarga as
possibilidades no campo onde se movimenta e promove o ser profundo, limpando-o
dos caprichos do ego e liberando-o das arbitrárias injunções limitadoras,
angustiantes.
O
intercâmbio social com objetivos fraternais rompe as amarras do medo, dando
outra dimensão à afetividade — sem apego, sem paixão, sem desejo, sem neurose
—, facultando a harmonia pessoal — sem ansiedade, sem conflito, sem culpa —,
ensejando saúde mental e emocional indispensáveis à física.
As
condições do progresso e harmonia do eu real propõem um estudo das virtudes
evangélicas, uma releitura dos seus fundamentos e posterior aplicação na
conduta pessoal.
Amor
indistinto, manifestando-se em todas as expressões e começando por si próprio,
com segurança de propósitos, metas e realizações, é o passo inicial da fase
nova, ao lado do perdão liberador de ressentimentos, desgosto e inferioridade
geradora de reações de violência ou de depressão com caráter autopunitivo.
Na
visão transpessoal, o progresso e a harmonia são conquistas internas do ser
humano, que se exteriorizam como entendimento da vida e atração por ela, num
empenho incessante de crescer e jamais cansar-se, saturar-se ou desistir.
O
progresso é fatalidade da vida, e a harmonia resulta da consciência desperta
para a conquista da sua plenificação.
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