QUARTA
PARTE
FATORES
DE DESINTEGRAÇÃO DA PERSONALIDADE
Autocompaixão
Psicologicamente,
o homem que cultiva a auto piedade desenvolve tormentos desnecessários que o
deprimem na razão direta em que a eles se entrega.
Reflexões
sobre dificuldades pessoais constituem fenômeno auxiliar para ações
dignificadoras, facultando a identificação dos recursos disponíveis, bem como
avaliação das atitudes que redundaram em insucesso ou desequilíbrio, a fim de
as evitar no futuro ou corrigi-las quanto antes.
Toda
aprendizagem assenta-se nos critérios do erro e do acerto, selecionando as
experiências consideradas saudáveis, benéficas, que se fixam pela natural
repetição.
Desse
modo, os insucessos são patamares que propiciam avanços para que se alcancem
degraus mais elevados.
Quando,
porém, o indivíduo elege a posição de vítima da vida, assumindo a lamentável
condição de infelicidade, encontra-se a um passo de perturbações emocionais
graves, logo derrapando em psicopatologias devastadoras.
A
mente, conforme seja acionada pela vontade, torna-se cárcere sombrio ou asas de
libertação, e ninguém se lhe exime à influência.
Conduzida
pelos escuros corredores da lamentação, desatrela condicionamentos que
aprisionam o ser demoradamente.
Por
isso mesmo, o cultivo da autocompaixão, mediante a insistente reclamação em
torno dos acontecimentos da vida, demonstrando insatisfação sistemática,
transforma-se em mecanismo masoquista de perturbadora presença no psiquismo. A
pseudo-aflição mantida converte-se em motivo de alegria, realizando um
mecanismo de valorização pessoal, cujo desvio comportamental plenifica o ego.
Todo
aquele que se faculta a autocompaixão neurótica é portador de insegurança e de
complexo de inferioridade, que disfarça, recorrendo, inconscientemente, às
transferências da piedade por si mesmo, sem qualquer respeito pelas demais
pessoas. Desenvolve os sentimentos de indiferença pelos problemas dos outros,
fechando-se no círculo diminuto da personalidade mórbida.
No seu
atormentado ponto de vista, somente a sua é uma situação dolorosa, digna de
apoio e solidariedade. E, quando essas expressões de socorro lhe são dirigidas,
reage, recusando-as, a fim de permanecer na postura de infelicidade que o torna
feliz.
Aquele
que se entrega à autocompaixão nunca se satisfaz com o que tem, com o que é,
com os valores de que dispõe e pode movimentar. Não raro, encontra-se mais bem
aquinhoado do que a maioria das pessoas no seu grupo social; no entanto,
reclama e convence-se da desdita que imagina, encarcerando-se no sofrimento e
exteriorizando mal-estar à volta, com que contamina as pessoas que o cercam ou
que se lhe acercam.
Os
grandes vitoriosos do mundo lutaram com tenacidade para romper os limites, os
problemas, as enfermidades, os desafios. Não nasceram fortes; tornaram-se
vigorosos no fragor das batalhas travadas. Não se detiveram na lamentação,
porque investiram na ação todo o tempo disponível.
Milton,
o poeta cego, prosseguiu escrevendo excelentes poemas, ao invés de lamentar-se;
Beethoven continuou compondo, e com mais beleza, após a surdez total; Chopin,
tuberculoso, deu seguimento às músicas ricas de ternura, entre crises de
hemoptises, e Mozart, na miséria, sofrendo competições ultrizes, traduziu para
os ouvidos humanos as belas melodias que lhe vibravam na alma...
Epícteto,
escravo e doente, filosofava, estóico; Demóstenes, gago, recorreu a seixos da
praia, colocando-os sobre a língua, para corrigir a dicção; Steinmetz,
aleijado, contribuiu para o engrandecimento da Quimica...
Franklin
D. Roosevelt, vitimado pela poliomielite, tornou-se presidente da América do
Norte e colaborou grandemente para a paz mundial durante a Segunda Guerra;
Helen Keller, cega, surda e muda, comoveu o mundo com a sua coragem, cultura, e
amor a Deus, ao próximo, à vida e a si própria...
A
galeria é expressiva e iluminada pelo gênio e pela coragem desses homens e
mulheres extraordinários.
Quando
se mantém a autocompaixão, extermina-se o amor, não se amando, nem tampouco a
ninguém.
O homem
tem o dever de aprofundar meditações em torno das aflições e dos seus
problemas, a fim de os superar.
A
desenvolvimento saudável do ser psicológico impele-o à confiança e o induz à
atividade para a aquisição do sentido da vida, da sua finalidade.
Quem de
si se compadece, recusa-se a crescer e não luta, estagiando na amargura com a
qual se compraz.
Fator
de desintegração da personalidade, a autocompaixão deve ser rechaçada sempre e
sem qualquer consideração, cedendo espaço mental para os tentames que levam à
vitória, à saúde emocional e à harmonia íntima.
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