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Sonhos
O Espiritismo
não podia deixar de interessar-se pelo problema dos sonhos, dando também, sobre
eles, a sua interpretação.
Não podia o
Espiritismo fugir a esse imperativo, eis que as manifestações oníricas têm
acentuada importância em nossa vida de relação, uma vez que os chamados «sonhos
espíritas» resultam, via de regra, das nossas próprias disposições, exercidas e
cultivadas no estado de vigília.
A Doutrina
Espírita não pode estar ausente de qualquer movimento superior, de fundo
espiritual, que vise a amparar o Espírito humano na sua rota evolutiva.
Não é a
Doutrina um movimento literário, circunscrito a gabinetes.
É um programa
para ajudar o homem a crescer para Deus, a fim de que, elevando-se, corresponda
ao imenso sacrifício daquele que, sendo o Cristo de Deus, se fez Homem para que
os homens se tornassem Cristos.
Os sonhos, em
sua generalidade, não representam, como muitos pensam, uma fantasia das nossas
almas, enquanto há o repouso do corpo físico.
Todos eles
revelam, em sua estrutura, como fundamento principal, a emancipação da alma,
assinalando a sua atividade extracorpórea, quando então se lhe associam, à
consciência livre, variadas impressões e sensações de ordem fisiológica e
psicológica.
Estudemos o
assunto, que se reveste de singular encanto, à luz do seguinte gráfico:
CLASSIFICAÇÃO DOS SONHOS
|
Comuns
|
Repercussão de nossas disposições físicas ou
psicológicas
|
Reflexivos
|
Exteriorização de impulsos e imagens arquivadas no
cérebro.
|
|
Espíritas
|
Atividade real e efetiva do Espírito durante o sono.
|
Feita a
classificação no seu tríplice aspecto, façamos, agora, a devida especificação:
Comuns
|
O
Espírito é envolvido na onda de pensamentos que lhe são próprios, bem assim
dos outros.
|
Reflexivos
|
A modificação
vibratória, resultante do desprendimento pelo sono, faz o Espírito entrar em
relação com fatos, imagens, paisagens e acontecimentos remotos, desta e de
outras vidas.
|
Espíritas
|
Por
«sonhos espíritas», situamos aqueles em que o Espírito se encontra, fora do
corpo, com:
a) —
parentes
b) —
amigos
c) —
instrutores
d) —
inimigos, etc.
|
Outras
denominações poderão, sem dúvida, ser-lhes dadas, o que, supomos, não alterará
a essência do fenômeno em si mesmo. Estamos ainda no plano muito relativo das
coisas. Assim sendo, tendo cada palavra o seu lugar e a sua propriedade,
cabia-nos o imperativo da nomenclatura.
Geralmente
temos sonhos imprecisos, desconexos, frequentemente interrompidos por cenas e
paisagens inteiramente estranhas, sem o mais elementar sentido de ordem e
sequência.
Serão esses os
sonhos comuns.
Aqueles em que
o nosso Espírito, desligando-se parcialmente do corpo, se vê envolvido e
dominado pela onda de imagens e pensamentos, seus e do mundo exterior, uma vez
que vivemos num misterioso turbilhão das mais desencontradas ideias. O mundo
psíquico que nos cerca reflete as vibrações de bilhões de pessoas encarnadas e
desencarnadas.
Deixando o
corpo em repouso, o Espírito ingressa no plano espiritual com apurada
sensibilidade, facultando ao campo sensório o recolhimento, embarafustado, de
desencontradas imagens antes não percebidas, em face das limitações impostas
pelo cérebro físico.
Ao
despertarmos, guardaremos imprecisa recordação de tudo, especialmente da
ausência de conexão nos acontecimentos que, em forma de incompreensível sonho,
povoaram a nossa vida mental.
A esses sonhos
chamaríamos sonhos comuns, por serem eles os mais frequentes.
Por reflexivos,
categorizamos os sonhos em que a alma, abandonando o corpo físico, registra as
impressões e imagens arquivadas no subconsciente e plasmadas na organização
perispiritual.
Tal registro é
possível de ser feito em virtude da modificação vibratória, que põe o Espírito
em relação com fatos e paisagens remotos, desta e de outras existências.
Ocorrências de
séculos e milênios gravam-se indelevelmente em nossa memória, estratificando-se
em camadas superpostas.
A modificação
vibratória, determinada pela liberdade de que passa a gozar o Espírito, no
sono, fá-lo entrar em relação com acontecimentos e cenas de eras distantes,
vindos à tona em forma de sonho.
A esses
sonhos, na esquematização de nosso singelo estudo, daremos a denominação de
«reflexivos», por refletirem eles, evidentemente, situações anteriormente
vividas.
Cataloguemos,
por último, os sonhos espíritas.
Esses se
revestem de maior interesse para nós, por atenderem com mais exatidão e justeza
à finalidade deste livro, qual seja a de, sem fugir à feição evangélica, fazer
com que todos os capítulos nos sejam um convite à reforma interior, como base
para a nossa felicidade e meio para, em nome da fraternidade cristã, melhor
servirmos ao próximo.
Nos sonhos
espíritas a alma, desprendida do corpo, exerce atividade real e afetiva,
facultando meios de encontrarmo-nos com parentes, amigos, instrutores e,
também, com os nossos inimigos, desta e de outras vidas.
Quando os
olhos se fecham, com a visitação do sono, o nosso Espírito parte em disparada,
por influxo magnético, para os locais de sua preferência.
O viciado
procurará os outros.
O religioso
buscará um templo.
O sacerdote do
Bem irá ao encontro do sofrimento e da lágrima, para assisti-los
fraternalmente.
Enquanto
despertos, os imperativos da vida contingente nos conservam no trabalho, na
execução dos deveres que nos são peculiares.
Adormecendo, a
coisa muda de figura.
Desaparecem,
como por encanto, as conveniências.
A atividade
extracorpórea passará a refletir, sem dissimulações ou constrangimentos, as
nossas reais e efetivas inclinações, superiores ou inferiores.
Buscamos
sempre, durante o sono, companheiros que se afinam conosco e com os ideais que
nos são peculiares.
Para quem
cultive a irresponsabilidade e a invigilância, quase sempre os sonhos revelarão
convívio pouco lisonjeiro, cabendo, todavia, aqui a ressalva doutrinária,
exposta na caracterização dos sonhos reflexivos, de que, embora tendo no
presente uma vida mais ou menos equilibrada, poderemos, logicamente, reviver
cenas desagradáveis, que permanecem virtualmente gravadas em nosso molde
perispiritual.
Quem exercite,
abnegadamente, o gosto pelos problemas superiores, buscará durante o sono a
companhia dos que lhe podem ajudar, proporcionando-lhe esclarecimento e
instrução.
O tipo de vida
que levarmos, durante o dia, determinará invariavelmente o tipo de sonhos que a
noite nos ofertará, em resposta às nossas tendências.
As companhias
diurnas serão, quase sempre, as companhias noturnas, fora do vaso físico.
O esforço de
evangelização das nossas vidas e a luta incessante pela modificação dos nossos
costumes, objetivando a purificação dos nossos sentimentos, dar-nos-ão, sem
dúvida, o prêmio de sonhos edificantes e maravilhosos, expressando trabalho e
realização.
Com
instrutores devotados nos encontraremos e deles ouviremos conselhos e
reconforto.
Dessas sombras
amigas, que acompanham a migalha da nossa boa vontade, receberemos estímulo
para as nossas sublimes esperanças.
Este
capítulo faz referência ao Capítulo 8 (Psicofonia sonambúlica) do livro
Nos domínios da Mediunidade pelo espírito André Luís e psicografia de Francisco
Cândido Xavier.
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