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Mecanismo das comunicações
O capítulo 5º do
livro ora comentado representa integral confirmação do que, a respeito do
mecanismo das comunicações, escreveram os clássicos do Espiritismo, sob a
inspiração de Mais Alto, particularmente Léon Denis.
Para que um Espírito
se comunique, é mister se estabeleça a sintonia da mente encarnada com a
desencarnada. Essa realidade é pacífica.
É necessário que
ambos passem a emitir vibrações equivalentes; que o teor das circunvoluções
seja idêntico; que o pensamento e a vontade de ambos se graduem na mesma faixa.
Esse o mecanismo das
comunicações espíritas, mecanismo básico que se desdobra, todavia, em nuances
infinitas, de acordo com o tipo de mediunidade, estado psíquico dos agentes —
ativo e passivo —, valores espirituais, etc...
Sintonizado o
comunicante com o medianeiro, o pensamento do primeiro se exterioriza através
do campo físico do segundo, em forma de mensagem grafada ou audível.
Quanto mais evoluído
o ser, mais acelerado o estado vibratório. Assim sendo, em face das constantes
modificações vibratórias, verificar-se-á sempre, em todos os comunicados, o
imperativo da redução ou do aumento das vibrações para que eles se deem com
maior fidelidade.
Mais uma vez, pois,
somos compelidos a nos referirmos ao fenômeno magnético das vibrações
compensadas.
Mais uma vez, surge
a necessidade de reportarmo-nos ao problema da sintonia.
Mais uma vez, enfim,
a questão da afinidade tem que ser, de novo, comentada.
E se assim
procedemos é porque não devemos esquecer que «a mente permanece na base de
todos os fenômenos mediúnicos».
Recorramos, pois, a
outros campos, em que a mesma lei de sintonia funciona para que os fenômenos se
expressem.
A luz e o som são
resultado de modificações vibratórias, que facultam a sua percepção por nós e
por outros seres.
O ouvido humano é
incapaz de perceber o som produzido por menos de vibrações por segundo.
Cinquenta vibrações,
porém, produzem um som que o ouvido humano percebe, sente, ouve.
Trinta vibrações
produzem um som que o ouvido humano não ouve, não sente, não percebe.
O mínimo, por
conseguinte, de vibrações percebíveis é de quarenta por segundo, e o máximo de
trinta e seis mil.
Trinta e cinco mil e
quinhentas vibrações produzem um som que o nosso ouvido percebe.
Trinta e seis mil e
duzentas vibrações produzem um som que ultrapassa os limites de nossa acústica.
Com a luz, o
fenômeno é semelhante.
O mínimo de
vibrações percebíveis é de quatrocentos e cinquenta e oito milhões e o máximo
de setecentos e vinte e sete trilhões por segundo.
Assim sendo, a nossa
capacidade visual não percebe a luz produzida por vibrações menores de
quatrocentos e cinquenta e oito milhões, da mesma forma que nos escapará, à
visão, a luz produzida por mais de setecentos e vinte e sete trilhões de
vibrações. (1)[1]
Essa mesma lei, de
equivalência, funciona e opera em todas as manifestações vibracionais da
Natureza, inclusive, como não podia deixar de ser, nos fenômenos psíquicos ou
mediúnicos.
Deixando à margem
tais considerações, analisemos, agora, os fatores morais que, além de serem os
de nosso maior interesse, motivam a publicação deste livro.
Se essa mesma lei de
afinidade comanda inteiramente os fenômenos psíquicos, não há dificuldade em compreendermos
porque as entidades luminosas ou iluminadas são compelidas a reduzir o seu tom
vibratório a fim de, tornando mais densos os seus perispíritos, serem
observadas pelos Espíritos menos evolvidos.
Os Espíritos, cujas
vibrações se processam aceleradamente, devido à sua evolução, graduam o
pensamento e densificam o perispírito quando desejam transmitir as
comunicações, inspirar os dirigentes de trabalhos mediúnicos ou os pregadores e
expositores do Evangelho e da Doutrina, como no caso de Raul Silva, que recebe
a benéfica influenciação do instrutor Clementino, a fim de melhor conduzir a
doutrinação de desventurado Espírito.
“Clementino graduou o pensamento e a expressão de acordo com a capacidade
do nosso Raul e do ambiente que o cerca, ajustando-se-lhe às possibilidades.
Cada vaso recebe de conformidade com a estrutura que lhe é própria.”
Referindo-se à
densificação do perispírito do irmão Clementino, atento ao imperativo de
cooperar com o dirigente dos trabalhos, para que as suas palavras obedecessem à
inspiração superior, transcrevemos a observação de André Luiz:
“Nesse instante, o irmão Clementino pousou a destra na fronte do
amigo que comandava a assembléia, mostrando-se-nos mais humanizado, quase obscuro.“
Os grifos são nossos
e objetivam levar a atenção do leitor para o fato da redução do tom vibratório,
a fim de ajustar-se ao calibre mediúnico» de Raul Silva.
Com a palavra, o
Assistente Áulus explicou o fenômeno, que surpreendia André Luiz e Hilário:
«O benfeitor espiritual, que ora nos dirige, afigura-se-nos mais
pesado porque amorteceu o elevado tom vibratório em que respira habitualmente, descendo
à posição de Raul, tanto quanto lhe é possível, para benefício do trabalho
começante. »
Ainda com a palavra o
Assistente, para fazer uma comparação que atende à compreensão geral:
«Influencia agora a vida cerebral do condutor da casa, à maneira
dum musicista emérito manobrando, respeitoso, um violino de alto valor, do qual
conhece a firmeza e a harmonia. »
Esse quadro é de
extraordinária beleza espiritual e de profundo conteúdo
moral.
Mostra-nos que um
dirigente de trabalhos mediúnicos deve ser pessoa de responsabilidade, amável,
sincera, dedicada, harmonizada consigo mesma, através de uma consciência reta e
de um coração puro, e com muito boa vontade para ajudar em nome do Senhor
Jesus.
Imaginemos quantos
obstáculos encontram os Espíritos Superiores, quando buscam inspirar um
dirigente pretensioso e autossuficiente e que desliga as (antenas psíquicas»,
guardando o único objetivo de atirar sobre o Espírito sofredor ou endurecido, a
pretexto de doutrinamento, uma sequência de palavras vazias de bondade.
Quanto mais
evangelizado o dirigente, maior receptividade oferecerá aos instrutores, deles
exigindo menor sacrifício.
Quanto mais
esclarecido e bondoso o médium, maior a sintonia com os Espíritos elevados,
reduzindo, igualmente, a quota de sacrifício dos abnegados instrutores.
Sem Evangelho no
coração, todo trabalho ressentir-se-á de deficiência. Mesmo que dirigente e
médiuns «conheçam» a Doutrina, sem que, entretanto, o sentimento cristão lhes
tenha lançado à alma o perfume da caridade, os frutos serão bem precários.
A prática evangélica
aprimora o coração.
O conhecimento
doutrinário ilumina a inteligência, alargando o raciocínio.
Evangelho no coração
e doutrina no entendimento, eis o tipo ideal do cooperador de Jesus no cenário
terrestre.
Aplicando, portanto,
aos problemas mediúnicos as considerações relativas à percepção do som e da
luz, de acordo com os sentidos físicos do homem, entenderemos porque os nossos
ouvidos não registram, ainda, as maravilhosas sinfonias que enchem de beleza a
vida universal.
Saberemos porque não
sentimos, ainda, os magníficos odores da vida extraterrena.
Saberemos, enfim,
porque os nossos olhos corporais não veem os quadros de luz que, algumas vezes,
estão formados em torno de nós.
Ouvimos, sentimos e
vemos, apenas, o que se manifesta dentro da incipiente órbita das nossas
possibilidades.
O nosso tom
vibratório, inferior e lento, circunscreve, limita as nossas percepções.
Retornando o assunto
relativo à equivalência vibracional, acentuaremos esse detalhe de suma
importância: o médium de boa moral e caridoso assegura a si próprio, graças ao
seu elevado tom vibratório, a companhia de entidades elevadas.
Além disso, estará
sempre apto a merecer a valiosa cooperação dos amigos espirituais superiores,
uma vez que estes não encontram dificuldade no estabelecimento da sintonia.
Já o médium
descuidado, ante o problema da própria renovação interior, é sempre um
instrumento que dificulta o intercâmbio.
A exemplo do que
fizemos com o som e a luz, recorramos a alguns algarismos elucidativos.
Para tanto, demos a
palavra a Léon Denis:
«Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1.000 por segundo
as vibrações do cérebro humano. No estado de transe, ou de desprendimento, o
invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações
atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o Espírito, livre no Espaço, vibra à
razão de 2.000 no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma
materialização parcial, baixar esse número a 1.500. Os dois organismos vibram
então simpaticamente; podem estabelecer-se relações, e o ditado do Espírito
será percebido e transmitido pelo médium em transe sonambúlico. »
Ainda Léon Denis:
«...o Espírito, libertado pela morte, se impregna de matéria sutil
e atenua suas radiações próprias, a fim de entrar em uníssono com o médium. »
Conclui-se, das
palavras do filósofo francês, que os Espíritos dispõem de recursos para reduzir
ou elevar o tom vibratório, da seguinte forma:
a) — Para reduzir o
seu próprio padrão vibratório, o Espírito superior impregna-se de matéria sutil
colhida no próprio ambiente.
b) — Para elevar o
tom vibratório do médium, o Espírito encontrará na própria concentração ou
transe, daquele, os meios de ativar as vibrações.
O êxtase dos grandes
santos é oriundo, sem dúvida, da profunda alteração vibracional a
possibilitar-lhes meios de relação com as altas esferas e com o que nelas se
desenrola: visões maravilhosas, celestes harmonias, cenários deslumbrantes ou
vozes cheias de sabedoria.
A ignorância de tais
fatos leva muitas vezes o médium não evangelizado a cometer lastimáveis
enganos, comprometendo, assim, o nome e a reputação de abnegados companheiros.
Há médiuns que
discordam de que estejam no recinto determinados Espíritos, por outrem
observados, somente porque não os viram»...
Se estudassem a
Doutrina e cultivassem sinceramente os preceitos do Evangelho, não formulariam
esses temerários juízos, pois saberiam que, se não viram, nem ouviram, aquilo
que outros ouviram e viram, é porque, no momento, não respiravam psiquicamente
na mesma faixa vibratória.
Tais observações
levaram Hilário a formular interessantes indagações, inclusive se o fenômeno de
absoluta sintonia, durante a comunicação, dificultaria, no médium, a faculdade
de distinguir, dos seus, os pensamentos do Espírito.
O esclarecimento do
Assistente Áulus é notável. Os médiuns, especialmente aqueles que se deixam
dominar pelo fantasma da dúvida, muito se beneficiarão com a palavra
orientadora do bondoso instrutor.
Estudemos, com ele,
o assunto:
a) — O pensamento
que nos é próprio flui incessantemente de nosso campo cerebral. É intrínseco. É
realização nossa.
b) — O pensamento do
Espírito é extrínseco. Vem de fora para dentro, alcançando-nos O campo
interior, primeiramente pelos poros, que são miríades de antenas».
Os nossos
pensamentos são, via de regra, semelhantes no conteúdo moral e intelectual.
Refletem o nosso estado evolutivo, traduzem as inclinações que nos são
peculiares.
Os pensamentos dos
Espíritos são, de modo geral, variáveis.
Divergem sempre,
quanto à forma e à substância, uma vez que diversas são as Inteligências que se
comunicam.
Se estamos sendo
acionados por um Espírito Superior, os conceitos expendidos, verbal ou psicograficamente,
serão luminosos, sublimes, misericordiosos.
Se agimos sob o
comando de um Espírito menos esclarecido ou maldoso, os conceitos serão
inconfessáveis.
Lembremo-nos, a
propósito, de Pedro, o venerando apóstolo.
O Evangelho no-lo
mostra a refletir, em alternativas de luz e sombra, ideias de Espíritos
superiores ou inferiores, em várias circunstâncias de sua vida.
O mundo conheceu um
médium que sempre refletiu a Luz Divina: Jesus-Cristo — O MÉDIUM DE DEUS.
Após tais
considerações, formulemos a pergunta final:
— «Como saberá o médium se o pensamento é seu ou do Espírito?»
Com o estudo
edificante, a meditação e o discernimento, adquiriremos a capacidade de
conhecer a nossa frequência vibratória.
Saberemos comparar o
nosso próprio estilo, pontos de vista, hábitos e modos, com os revelados
durante o transe ou a simples inspiração, quando pregamos ou expomos a
Doutrina.
Não será problema
tão difícil separar o nosso do pensamento dos Espíritos.
A aplicação aos
estudos espíritas, com sinceridade, dar-nos-á, sem dúvida, a chave de muitos
enigmas.
Este capítulo faz
referência ao Capítulo 5 (Assimilação de correntes mentais) do livro Nos
domínios da Mediunidade pelo espírito André Luis e psicografia de Francisco
Cândido Xavier.
[1]
Nota do Autor —
Esses números extraímo-los do livro Narrações do Infinito”, de Camilo
Flammarion, edição da FEB, pág. 98.
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