quarta-feira, 23 de julho de 2014

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Mecanismo das comunicações

O capítulo 5º do livro ora comentado representa integral confirmação do que, a respeito do mecanismo das comunicações, escreveram os clássicos do Espiritismo, sob a inspiração de Mais Alto, particularmente Léon Denis.
Para que um Espírito se comunique, é mister se estabeleça a sintonia da mente encarnada com a desencarnada. Essa realidade é pacífica.
É necessário que ambos passem a emitir vibrações equivalentes; que o teor das circunvoluções seja idêntico; que o pensamento e a vontade de ambos se graduem na mesma faixa.
Esse o mecanismo das comunicações espíritas, mecanismo básico que se desdobra, todavia, em nuances infinitas, de acordo com o tipo de mediunidade, estado psíquico dos agentes — ativo e passivo —, valores espirituais, etc...
Sintonizado o comunicante com o medianeiro, o pensamento do primeiro se exterioriza através do campo físico do segundo, em forma de mensagem grafada ou audível.
Quanto mais evoluído o ser, mais acelerado o estado vibratório. Assim sendo, em face das constantes modificações vibratórias, verificar-se-á sempre, em todos os comunicados, o imperativo da redução ou do aumento das vibrações para que eles se deem com maior fidelidade.
Mais uma vez, pois, somos compelidos a nos referirmos ao fenômeno magnético das vibrações compensadas.
Mais uma vez, surge a necessidade de reportarmo-nos ao problema da sintonia.
Mais uma vez, enfim, a questão da afinidade tem que ser, de novo, comentada.
E se assim procedemos é porque não devemos esquecer que «a mente permanece na base de todos os fenômenos mediúnicos».
Recorramos, pois, a outros campos, em que a mesma lei de sintonia funciona para que os fenômenos se expressem.
A luz e o som são resultado de modificações vibratórias, que facultam a sua percepção por nós e por outros seres.
O ouvido humano é incapaz de perceber o som produzido por menos de vibrações por segundo.
Cinquenta vibrações, porém, produzem um som que o ouvido humano percebe, sente, ouve.
Trinta vibrações produzem um som que o ouvido humano não ouve, não sente, não percebe.
O mínimo, por conseguinte, de vibrações percebíveis é de quarenta por segundo, e o máximo de trinta e seis mil.
Trinta e cinco mil e quinhentas vibrações produzem um som que o nosso ouvido percebe.
Trinta e seis mil e duzentas vibrações produzem um som que ultrapassa os limites de nossa acústica.
Com a luz, o fenômeno é semelhante.
O mínimo de vibrações percebíveis é de quatrocentos e cinquenta e oito milhões e o máximo de setecentos e vinte e sete trilhões por segundo.
Assim sendo, a nossa capacidade visual não percebe a luz produzida por vibrações menores de quatrocentos e cinquenta e oito milhões, da mesma forma que nos escapará, à visão, a luz produzida por mais de setecentos e vinte e sete trilhões de vibrações. (1)[1]
Essa mesma lei, de equivalência, funciona e opera em todas as manifestações vibracionais da Natureza, inclusive, como não podia deixar de ser, nos fenômenos psíquicos ou mediúnicos.
Deixando à margem tais considerações, analisemos, agora, os fatores morais que, além de serem os de nosso maior interesse, motivam a publicação deste livro.
Se essa mesma lei de afinidade comanda inteiramente os fenômenos psíquicos, não há dificuldade em compreendermos porque as entidades luminosas ou iluminadas são compelidas a reduzir o seu tom vibratório a fim de, tornando mais densos os seus perispíritos, serem observadas pelos Espíritos menos evolvidos.
Os Espíritos, cujas vibrações se processam aceleradamente, devido à sua evolução, graduam o pensamento e densificam o perispírito quando desejam transmitir as comunicações, inspirar os dirigentes de trabalhos mediúnicos ou os pregadores e expositores do Evangelho e da Doutrina, como no caso de Raul Silva, que recebe a benéfica influenciação do instrutor Clementino, a fim de melhor conduzir a doutrinação de desventurado Espírito.
“Clementino graduou o pensamento e a expressão de acordo com a capacidade do nosso Raul e do ambiente que o cerca, ajustando-se-lhe às possibilidades.
Cada vaso recebe de conformidade com a estrutura que lhe é própria.”
Referindo-se à densificação do perispírito do irmão Clementino, atento ao imperativo de cooperar com o dirigente dos trabalhos, para que as suas palavras obedecessem à inspiração superior, transcrevemos a observação de André Luiz:
“Nesse instante, o irmão Clementino pousou a destra na fronte do amigo que comandava a assembléia, mostrando-se-nos mais humanizado, quase obscuro.“
Os grifos são nossos e objetivam levar a atenção do leitor para o fato da redução do tom vibratório, a fim de ajustar-se ao calibre mediúnico» de Raul Silva.
Com a palavra, o Assistente Áulus explicou o fenômeno, que surpreendia André Luiz e Hilário:
«O benfeitor espiritual, que ora nos dirige, afigura-se-nos mais pesado porque amorteceu o elevado tom vibratório em que respira habitualmente, descendo à posição de Raul, tanto quanto lhe é possível, para benefício do trabalho começante. »
Ainda com a palavra o Assistente, para fazer uma comparação que atende à compreensão geral:
«Influencia agora a vida cerebral do condutor da casa, à maneira dum musicista emérito manobrando, respeitoso, um violino de alto valor, do qual conhece a firmeza e a harmonia. »
Esse quadro é de extraordinária beleza espiritual e de profundo conteúdo
moral.
Mostra-nos que um dirigente de trabalhos mediúnicos deve ser pessoa de responsabilidade, amável, sincera, dedicada, harmonizada consigo mesma, através de uma consciência reta e de um coração puro, e com muito boa vontade para ajudar em nome do Senhor Jesus.
Imaginemos quantos obstáculos encontram os Espíritos Superiores, quando buscam inspirar um dirigente pretensioso e autossuficiente e que desliga as (antenas psíquicas», guardando o único objetivo de atirar sobre o Espírito sofredor ou endurecido, a pretexto de doutrinamento, uma sequência de palavras vazias de bondade.
Quanto mais evangelizado o dirigente, maior receptividade oferecerá aos instrutores, deles exigindo menor sacrifício.
Quanto mais esclarecido e bondoso o médium, maior a sintonia com os Espíritos elevados, reduzindo, igualmente, a quota de sacrifício dos abnegados instrutores.
Sem Evangelho no coração, todo trabalho ressentir-se-á de deficiência. Mesmo que dirigente e médiuns «conheçam» a Doutrina, sem que, entretanto, o sentimento cristão lhes tenha lançado à alma o perfume da caridade, os frutos serão bem precários.
A prática evangélica aprimora o coração.
O conhecimento doutrinário ilumina a inteligência, alargando o raciocínio.
Evangelho no coração e doutrina no entendimento, eis o tipo ideal do cooperador de Jesus no cenário terrestre.
Aplicando, portanto, aos problemas mediúnicos as considerações relativas à percepção do som e da luz, de acordo com os sentidos físicos do homem, entenderemos porque os nossos ouvidos não registram, ainda, as maravilhosas sinfonias que enchem de beleza a vida universal.
Saberemos porque não sentimos, ainda, os magníficos odores da vida extraterrena.
Saberemos, enfim, porque os nossos olhos corporais não veem os quadros de luz que, algumas vezes, estão formados em torno de nós.
Ouvimos, sentimos e vemos, apenas, o que se manifesta dentro da incipiente órbita das nossas possibilidades.
O nosso tom vibratório, inferior e lento, circunscreve, limita as nossas percepções.
Retornando o assunto relativo à equivalência vibracional, acentuaremos esse detalhe de suma importância: o médium de boa moral e caridoso assegura a si próprio, graças ao seu elevado tom vibratório, a companhia de entidades elevadas.
Além disso, estará sempre apto a merecer a valiosa cooperação dos amigos espirituais superiores, uma vez que estes não encontram dificuldade no estabelecimento da sintonia.
Já o médium descuidado, ante o problema da própria renovação interior, é sempre um instrumento que dificulta o intercâmbio.
A exemplo do que fizemos com o som e a luz, recorramos a alguns algarismos elucidativos.
Para tanto, demos a palavra a Léon Denis:
«Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1.000 por segundo as vibrações do cérebro humano. No estado de transe, ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1.500 por segundo. Se o Espírito, livre no Espaço, vibra à razão de 2.000 no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número a 1.500. Os dois organismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer-se relações, e o ditado do Espírito será percebido e transmitido pelo médium em transe sonambúlico. »
Ainda Léon Denis:
«...o Espírito, libertado pela morte, se impregna de matéria sutil e atenua suas radiações próprias, a fim de entrar em uníssono com o médium. »
Conclui-se, das palavras do filósofo francês, que os Espíritos dispõem de recursos para reduzir ou elevar o tom vibratório, da seguinte forma:
a) — Para reduzir o seu próprio padrão vibratório, o Espírito superior impregna-se de matéria sutil colhida no próprio ambiente.
b) — Para elevar o tom vibratório do médium, o Espírito encontrará na própria concentração ou transe, daquele, os meios de ativar as vibrações.
O êxtase dos grandes santos é oriundo, sem dúvida, da profunda alteração vibracional a possibilitar-lhes meios de relação com as altas esferas e com o que nelas se desenrola: visões maravilhosas, celestes harmonias, cenários deslumbrantes ou vozes cheias de sabedoria.
A ignorância de tais fatos leva muitas vezes o médium não evangelizado a cometer lastimáveis enganos, comprometendo, assim, o nome e a reputação de abnegados companheiros.
Há médiuns que discordam de que estejam no recinto determinados Espíritos, por outrem observados, somente porque não os viram»...
Se estudassem a Doutrina e cultivassem sinceramente os preceitos do Evangelho, não formulariam esses temerários juízos, pois saberiam que, se não viram, nem ouviram, aquilo que outros ouviram e viram, é porque, no momento, não respiravam psiquicamente na mesma faixa vibratória.
Tais observações levaram Hilário a formular interessantes indagações, inclusive se o fenômeno de absoluta sintonia, durante a comunicação, dificultaria, no médium, a faculdade de distinguir, dos seus, os pensamentos do Espírito.
O esclarecimento do Assistente Áulus é notável. Os médiuns, especialmente aqueles que se deixam dominar pelo fantasma da dúvida, muito se beneficiarão com a palavra orientadora do bondoso instrutor.
Estudemos, com ele, o assunto:
a) — O pensamento que nos é próprio flui incessantemente de nosso campo cerebral. É intrínseco. É realização nossa.
b) — O pensamento do Espírito é extrínseco. Vem de fora para dentro, alcançando-nos O campo interior, primeiramente pelos poros, que são miríades de antenas».
Os nossos pensamentos são, via de regra, semelhantes no conteúdo moral e intelectual. Refletem o nosso estado evolutivo, traduzem as inclinações que nos são peculiares.
Os pensamentos dos Espíritos são, de modo geral, variáveis.
Divergem sempre, quanto à forma e à substância, uma vez que diversas são as Inteligências que se comunicam.
Se estamos sendo acionados por um Espírito Superior, os conceitos expendidos, verbal ou psicograficamente, serão luminosos, sublimes, misericordiosos.
Se agimos sob o comando de um Espírito menos esclarecido ou maldoso, os conceitos serão inconfessáveis.
Lembremo-nos, a propósito, de Pedro, o venerando apóstolo.
O Evangelho no-lo mostra a refletir, em alternativas de luz e sombra, ideias de Espíritos superiores ou inferiores, em várias circunstâncias de sua vida.
O mundo conheceu um médium que sempre refletiu a Luz Divina: Jesus-Cristo — O MÉDIUM DE DEUS.
Após tais considerações, formulemos a pergunta final:
— «Como saberá o médium se o pensamento é seu ou do Espírito?»
Com o estudo edificante, a meditação e o discernimento, adquiriremos a capacidade de conhecer a nossa frequência vibratória.
Saberemos comparar o nosso próprio estilo, pontos de vista, hábitos e modos, com os revelados durante o transe ou a simples inspiração, quando pregamos ou expomos a Doutrina.
Não será problema tão difícil separar o nosso do pensamento dos Espíritos.
A aplicação aos estudos espíritas, com sinceridade, dar-nos-á, sem dúvida, a chave de muitos enigmas.


Este capítulo faz referência ao Capítulo 5 (Assimilação de correntes mentais) do livro Nos domínios da Mediunidade pelo espírito André Luis e psicografia de Francisco Cândido Xavier.



[1] Nota do Autor — Esses números extraímo-los do livro Narrações do Infinito”, de Camilo Flammarion, edição da FEB, pág. 98.

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